Capítulo 287

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◈ Eu Sou um Regressor Infinito, Mas Tenho Histórias Para Contar

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O Hipócrita VI

Quando as pessoas ouvem o nome “Schopenhauer”, muitas vezes pensam no filósofo — o ancestral do Velho Scho — que certa vez deixou uma analogia:

Cada pessoa é semelhante a uma espécie distinta.

É uma verdade maravilhosamente simples que cães e gatos são espécies diferentes. Em um nível similar, a Santa e Yu Ji-won são praticamente espécies diferentes.

Vamos usar um exemplo.

[Bom dia, Sr. Coveiro. Como está hoje?]

Uma simples saudação. No entanto, mesmo que a mesma frase exata seja dita, ela carrega significados ligeiramente diferentes entre a Santa e eu.

— Sr. Coveiro não dorme.

— E nem eu. Eu pauso o tempo, durmo e acordo em um segundo.

— Em nossos dias, “manhã” tem pouca importância.

— Para os outros, a manhã marca um começo, mas para nós, é meramente um segmento em um contínuo interminável.

— Ainda assim, eu o saúdo com um “Bom dia” quando a luz do sol toca o céu.

— Porque, por aquele breve momento, eu quero compartilhar o começo de um dia com você como um companheiro humano vivendo neste mundo.

Camadas sobre camadas de significado. Desejos e esperanças escondidos sob as palavras. Contexto e subtexto entrelaçados em estratos de entendimento.

E assim:

[Bom dia, Sr. Coveiro. Como está hoje?]

De pé no topo dessas muitas camadas, encontramos um terreno comum finalmente, como velhos amigos trocando uma única frase carregada de sentimentos não ditos.

A Santa e eu, tendo compartilhado o maior tempo juntos na Terra, dificilmente precisávamos de palavras entre nós. Nesse sentido, ela e eu provavelmente éramos uma espécie única nossa. Afinal, quem mais poderia usar as simples frases “Bom dia” e “Como está?” para transmitir tanto?

“Bom dia, Vossa Excelência.”

Mesmo Yu Ji-won pertencia à sua própria espécie. Para a líder de cabelos prateados da equipe de operações do Corpo Nacional de Gerenciamento de Estradas, a frase “Bom dia” carregava um peso inteiramente diferente.

— Nada de incomum aconteceu durante a noite.

— A partir desta manhã, não há sinais observáveis de ameaças às nossas forças.

— Internamente, o Corpo Nacional de Gerenciamento de Estradas permanece estável. Como o senhor já deve saber, eu relatarei imediatamente quaisquer desenvolvimentos significativos.

— Eu também estou em perfeitas condições. Estou preparada para começar qualquer operação sob o seu comando.

— Minha prontidão é demonstrada pelo meu traje perfeitamente ajustado, minha voz clara e inabalável, e minha saudação impecável que qualquer um admiraria.

Assim:

“Bom dia, Vossa Excelência.”

Ao lidar com a espécie conhecida como Yu Ji-won, eu tinha que abandonar a linguagem convencional em favor do dialeto único do Yu Ji-wonês.

“Use-me, Vossa Excelência.”

“Eu, sem dúvida, nasci para assumir este papel.”

“E então descarte-me.”

Essas foram as palavras dela.

Por anos, ela tinha me evitado, tanto a mim quanto a Noh Do-hwa, sequestrando civis, encarcerando-os na Oficina da Desgraça, sujeitando-os a tortura implacável e produzindo Despertos artificialmente — tudo com uma expressão desprovida de emoção. ᚱåɴỒ𝖇ÈⱾ

Minha resposta a tal Ji-won foi simples.

“Ji-won.”

“Sim, Vossa Excelência?”

“Vamos começar com uma surra.”

Como a humanidade antiga demonstrou, os punhos sempre foram a última linguagem universal.

Eu plantei meu pé de trás e agarrei o braço de Ji-won, puxando-a para frente.

“Hm.”

Ela não mostrou surpresa, nem resistiu. Como se sempre tivesse antecipado uma emboscada repentina, ela calmamente estendeu seu antebraço para mim.

Eu a levantei sem esforço e a joguei no chão.

Boom!

O túnel subaquático tremeu. Os gritos e gemidos dos prisioneiros ainda presos nos dispositivos de tortura tremeram junto com ele.

Uma cratera se formou no chão onde, quando a poeira baixou, Ji-won estava deitada no fundo, esticada, mas impassível enquanto olhava para mim.

“Minhas desculpas, Vossa Excelência.”

“Pelo que?”

“Eu não conseguia decidir se usava minha Aura para me defender ou desativá-la e suportar a violência de Vossa Excelência. O que o senhor teria preferido?”

“Desligue sua Aura.”

“Entendido.”

Szzzzzt.

Uma fraca Aura cinza-azulado se dissipou ao redor dela. Curiosamente, a cor da Aura de Ji-won tinha uma leve semelhança com minha própria tonalidade preta como tinta.

“No entanto, sem usar Aura para bloquear um golpe desta magnitude, minha sobrevivência não pode ser garantida. Talvez devêssemos convocar Sim Ah-ryeon?”

“Não precisa se preocupar com isso.” Eu tirei meu casaco e coloquei minha sempre presente bengala-espada, Do-hwa, cuidadosamente em cima dele. Então, eu afrouxei meus pulsos. “Eu também não vou usar Aura.”

Ji-won inclinou a cabeça, levando um momento para formular sua resposta. “Vossa Excelência, o senhor está zangado?”

“Você não estaria?”

“Hm.”

Um murmúrio suave.

“Isso é... preocupante.”

“Eu confio que você não negligenciou seu treinamento confiando apenas na Aura”, eu disse. “Venha para cima de mim com tudo o que você tem, Líder da Equipe de Operações Ji-won. Se você não quiser sentir uma dor infernal.”

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Antes que ela pudesse responder, eu avancei para cima dela novamente. Embora minha velocidade fosse notavelmente mais lenta sem Aura, o mesmo era verdade para ela. Com as condições agora iguais, os movimentos de Ji-won estavam tão lentos quanto.

Eu simulei um uppercut em direção ao abdômen dela—

Bam!

—antes de acertar meu punho em seu ombro esquerdo.

“Urgh.”

Um gemido curto.

O fato de ter sido breve foi quase milagroso. Eu tinha sentido claramente seu osso fraturar ligeiramente sob meus nós dos dedos.

Ji-won cambaleou um passo para trás e lançou um soco próprio. Eu desviei com uma simples inclinação de cabeça.

“Como...? Sua força de soco, é—”

“Se você não vier para cima de mim com força total, isso vai acabar rápido, Líder da Equipe.”

Meu aviso mal terminou quando ela recuperou algo de seu bolso — um machado. Ji-won agarrou o machado em uma mão e o arremessou, enquanto sua outra mão balançava outro machado diretamente para mim.

Clang!

Eu peguei o cabo do machado voador no ar, contra-atacando seu golpe. Os olhos tipicamente estoicos de Ji-won se arregalaram pela primeira vez.

“Incrível.”

“Você está usando armas reais em um sparring? Ainda sem vestígios de esportividade, eu vejo.”

“Como o senhor...? Sem Aura para aprimorar seus reflexos, como o senhor poderia pegar um machado voador...?”

“Suas pernas estão abertas.”

Eu pressionei o machado para baixo, interrompendo sua postura, e balancei minha perna como um chicote para atingir sua canela.

Crack!

Desta vez, o osso quebrou definitivamente. Ji-won mordeu o lábio, soltando um gemido abafado de dor.

“Você precisa trabalhar na força da parte inferior do corpo, Líder da Equipe.”

“Ugh, huff, urgh...!”

Mesmo em tal estado, ela alcançou outra arma escondida e puxou um dispositivo semelhante a um cigarro eletrônico. Ela exalou bruscamente nele, fazendo com que um pico afiado saísse disparado, perfurando meu antebraço.

“Tch.”

Pego de surpresa pela arma não convencional, eu falhei em desviar a tempo. Se eu não tivesse me movido, teria se alojado em minha garganta.

“Isso não é da Seita Tang.[1] O que é isso?”

“Eu não posso carregar armas de fogo abertamente. Esta é minha arma secreta.”

“Secreta, hein? Você pediu para Do-hwa fazer isso? Ela tem uma curiosa habilidade para criar coisas como esta.” Eu puxei o pico para fora, sangue escorrendo pelo meu braço enquanto eu brincava com ele, torcendo-o entre meus dedos. “Vamos esperar que ela não tenha revestido com algum veneno obscuro que eu não conheço.”

Sem resposta.

“Só para você saber, eu alcancei imunidade quase completa a venenos há aproximadamente 800 anos.”

“Monstro.”

Ji-won cuspiu e limpou o canto da boca. Seu braço e perna fraturados deviam estar agonizantes, mas sua voz carregava uma estranha excitação — uma alegria quase semelhante ao prazer.

“O senhor realmente é uma ferra— arma humana, Vossa Excelência.”

“Sua pronúncia acabou de arrastar o suficiente para soar como ‘vaso humano’. Estou enganado?”

“Calúnia sem fundamento, Vossa Excelência. Sua audição deve estar falhando em sua velhice.”

Naquele momento, Ji-won pressionou a palma da mão em uma seção específica do piso de azulejos. O teto acima de mim desabou, enviando detritos caindo. Eu me assustei surpreso com a visão.

“Desculpas, mas este é meu domínio.”

Eu desviei dos escombros caindo por um triz, mas Ji-won usou a distração para ganhar distância.

Click. Click. Click.

Ela começou a puxar várias alavancas e gatilhos embutidos nas paredes e pisos, recuando enquanto ia.

Sua perna quebrada fez com que seus movimentos parecessem quase com os de uma aranha — distorcidos, mas estranhamente eficazes.

“Se formos continuar abrindo mão do uso da Aura, Vossa Excelência, as chances naturalmente mudam a meu favor.”

“Fugindo quando desafiada para uma luta?!”

“Esta é minha força total, afinal.”

O túnel subaquático começou a mudar com um estrondo. Uma série de armadilhas ganharam vida: voleios de flechas disparadas das paredes, seções do chão desmoronaram e divisórias desceram, liberando nuvens de gás estranho e opaco.

‘Conhecendo-a, ela provavelmente libertou os prisioneiros apenas para atraí-los para essas armadilhas, dando-lhes falsas esperanças antes de esmagá-los.’

Clássico Ji-won, com seus hobbies distorcidos.

Assim que eu evadi um conjunto de armadilhas, uma explosão de chamas saiu com um fwoosh, irrompendo da parede. Eu rolei para evitar, mas não antes que meu antebraço ficasse chamuscado. A pele queimada fumegava dolorosamente.

“Argh! Você acha que esses truques mesquinhos vão me parar, Ji-won?!”

“Eu não tenho tal confiança. Mas o senhor me ordenou que lutasse, não foi? A menos que o senhor rescinda esse comando, eu continuarei obedecendo.”

“Que se dane se eu voltaria atrás!”

“Como esperado.”

Quando o gás se dissipou, Ji-won reapareceu, agora apoiada por uma muleta. O absurdo me deixou sem palavras. Onde ela tinha conseguido uma muleta neste lugar?

‘Ela provavelmente quebrou os membros dos prisioneiros e distribuiu muletas depois, não foi? Típico de Ji-won.’

“Minhas desculpas por recorrer a tais medidas.”

Sua preparação meticulosa não parou por aí.

A essa altura, ela tinha colocado uma máscara de gás — um acessório indispensável para qualquer entusiasta do apocalipse. Sua respiração ecoava ameaçadoramente, como um Darth Vader de baixo custo.

“Já que o senhor se recusa a sucumbir às minhas armadilhas, eu não tenho escolha. Para atender às expectativas de Vossa Excelência, eu agora vou implantar minha medida final.”

“Medida final?”

“Como o senhor deduziu, minhas armas escondidas estavam de fato misturadas com veneno. Enquanto uma pessoa normal sucumbiria à paralisia em 40 segundos, Vossa Excelência parece não ser afetado. Assim, eu vou escalar.”

Ji-won bateu sua muleta contra o chão, ativando outro mecanismo com um toque duplo e, em seguida, pressionando seu comprimento. As aberturas no teto começaram a assobiar, liberando uma mistura peculiar de gás marrom e rosa.

“O que é isso agora?”

“Um coquetel de estimulantes, narcóticos e afrodisíacos. Embora chamá-lo assim seja uma desserviço”, ela comentou, sua voz filtrada carregava uma calma arrepiante. “Esta substância, desenvolvida com a assistência de Uehara Shino, revela os desejos mais profundos e os instintos mais brutos da psique humana.”

Por um momento, eu fiquei sem palavras.

“Extensos testes nos prisioneiros provaram que é eficaz. O sujeito médio perde a racionalidade em 15 segundos e se transforma em um aberração sem mente em um minuto. Naturalmente, Vossa Excelência não sucumbirá tão facilmente.”

Sua voz ecoou de todas as direções, amplificada por um sistema de microfone oculto.

“Eu o verei em 20 minutos, Vossa Excelência. Enquanto isso, eu vou me refrescar e voltar com uma roupa mais limpa.”

Aquela mulher maldita.

Notas de rodapé:

[1] Seita Tang, de histórias de artes marciais, é famosa por usar métodos ocultos não convencionais para vencer batalhas por qualquer meio possível, incluindo venenos.