A Rainha da Máfia Quer Me Reivindicar Para Si (Em um Mundo Reverso)

Capítulo 39

A Rainha da Máfia Quer Me Reivindicar Para Si (Em um Mundo Reverso)

O SUV para suavemente na sarjeta, o motor ronronando até parar em frente à Princess Pizza. Através dos vidros fumês, consigo ver a Torre Inclinada de Pizza se projetando do telhado do restaurante, sua inclinação caricatural e pintura desbotada, uma visão nostálgica que envia uma estranha onda de emoção através de mim. A torre parece menor do que me lembro, ainda mais cafona. Mas é real, um pedaço da minha vida antes de Caterina que de alguma forma ainda existe nesta nova realidade distorcida.

— Ok, antes se chamava Prince Pizza, mas isso é bem parecido.

— Chegamos, Chefe — Lara anuncia.

Caterina examina o restaurante com um desdém mal disfarçado, seus olhos carmesins se estreitando ligeiramente para o letreiro de neon piscando na luz do início da noite. O estacionamento está meio cheio, ocupado principalmente por minivans e sedãs sensatos, pessoas normais e regulares tendo jantares normais com suas famílias regulares.

— Vocês duas fiquem com o carro — Caterina instrui, seu tom não deixando espaço para discussão. — Não devemos demorar.

Maddy acena profissionalmente enquanto Lara se joga no assento com um suspiro dramático. — O que você mandar, Chefe. Estaremos aqui se precisar de alguma coisa.

A expressão de Caterina se suaviza naquela ternura praticada que ainda me faz ter arrepios. — Pronta, querida? — ela pergunta, sua mão já alcançando a maçaneta da porta.

Eu aceno, incapaz de esconder a fagulha de excitação genuína que surge no meu peito. Por um momento, me sinto quase como meu antigo eu, como Adam Evans indo comer pizza em uma noite de sexta-feira, não o brinquedo quebrado de Caterina De Luca em um passeio supervisionado.

A porta se abre e o cheiro me atinge imediatamente, molho de tomate, massa assando, alho e orégano. O cheiro da normalidade. Caterina sai primeiro. Ela se vira para mim, estendendo a mão com aquele sorriso carnívoro.

— Vamos, querido — ela diz com afeto. — Deixe-me te ajudar.

Eu manobro desajeitadamente para fora do SUV, meus gessos enormes batendo na moldura da porta. O movimento envia uma dor forte através de minhas mãos quebradas, e eu sibilio com os dentes cerrados. O braço de Caterina envolve minha cintura, me firmando com uma força surpreendente.

— Cuidado — ela murmura, me puxando contra seu lado. — Eu te protejo.

Quando entramos, a atmosfera familiar me invade, o piso de linóleo gasto, as luzes fluorescentes zumbindo, a conversa constante das famílias e o barulho distante da equipe da cozinha gritando os pedidos. O balcão está sem atendente, uma pequena placa manuscrita dizendo "Por favor, aguarde para ser acomodado" encostada em uma pilha de cardápios plastificados.

Eu inspiro profundamente, deixando o cheiro de pizza e queijo encher meus pulmões.

— É, esse lugar é foda — eu digo com entusiasmo inesperado, a gíria escapando naturalmente.

Caterina ri ao meu lado, seus olhos carmesins examinando o restaurante com um distanciamento clínico. — Claro, claro — ela responde, claramente me agradando.

Uma garçonete adolescente se aproxima, seus olhos se arregalando ligeiramente ao notar a altura imponente e as roupas caras de Caterina, tão fora de lugar entre as famílias de jeans e camisetas. Seu olhar cai sobre meus gessos, a curiosidade lampejando em seu rosto antes que a cortesia profissional a mascare.

— Apenas dois hoje à noite? — ela pergunta, já pegando os cardápios.

— Sim — Caterina responde antes que eu possa falar. — Algum lugar privado, se possível.

A garçonete acena, nos guiando através do labirinto de mesas em direção a uma cabine no canto. Eu vislumbro a vida normal enquanto passamos, crianças colorindo jogos americanos de papel, casais compartilhando fatias, amigos rindo com jarras de refrigerante.

— Aqui está — diz a garçonete, colocando os cardápios na mesa. — Posso trazer algo para beber?

Antes que eu possa responder, Caterina desliza para dentro da cabine e dá um tapinha no espaço ao lado dela. Não do outro lado dela, ao lado dela. Seu significado é claro. Estamos sentados juntos como amantes. Meu estômago se revira com uma mistura de resignação e humilhação, mas eu obedeço, manobrando desajeitadamente minhas mãos engessadas enquanto me acomodo ao lado dela.

— Eu vou querer água — Caterina diz, sem se incomodar em olhar o cardápio de bebidas. — Engarrafada, de preferência.

A garçonete acena, rabiscando em seu bloco de notas antes de se virar para mim com um sorriso simpático. — E para você, senhor?

— Coca, por favor — eu digo.

Enquanto a garçonete se afasta, o braço de Caterina desliza ao redor dos meus ombros, seus dedos traçando padrões ociosos contra a parte superior do meu braço. Seus olhos carmesins examinam o restaurante com o interesse distante de um antropólogo observando uma cultura primitiva.

— O padrão de tabuleiro de xadrez vermelho e branco para as mesas é um pouco simples, não é? — ela observa, passando a mão livre sobre a toalha de mesa de plástico. — Muito... pitoresco.

Eu olho para ela, o aborrecimento surgindo quente e repentino no meu peito. Por um momento, considero dizer algo cortante, algo para perfurar seu ar perpétuo de superioridade. Mas a dor surda em minhas mãos engessadas me lembra o preço da desobediência, e eu engulo as palavras antes que elas possam escapar.

Em vez disso, dou de ombros e olho para o cardápio, embora eu já saiba o que quero. A mesma coisa que peço desde os cinco anos de idade, uma pizza grande de queijo.

“Eu sou um homem simples.”

Eu examino as paredes, observando as fotografias desbotadas de times esportivos locais e recortes de jornal amarelados com a idade. Lá, acima da entrada da cozinha, está pendurada a mesma camisa autografada do Red Sox que está lá desde que eu era pequeno o suficiente para precisar de um assento elevado.

A garçonete retorna com nossas bebidas, colocando um copo de Coca suando na minha frente e uma garrafa de água para Caterina. Ela olha para meus gessos com simpatia.

— Isso parece ruim — ela comenta. — Acidente de esqui?

— Escalada — Caterina interrompe suavemente, seu braço apertando meus ombros. — Ele ainda está aprendendo seus limites.

— Eita. — A garçonete acena, pegando seu bloco de notas. — Prontos para pedir?

— Pizza grande de queijo — eu digo ansiosamente.

A garota rabisca em seu bloco. — Ótima escolha.

Caterina acena com a mão desdenhosamente. — Isso será suficiente.

A garçonete se afasta, aparentemente feliz por estar longe de Caterina, seu olhar assustador.

— Este lugar é o meu favorito — eu digo, minha voz suavizando com emoção genuína. — Minha mãe me trazia aqui quando eu era criança antes que ela, bem... — Eu paro, a lembrança de sua morte ainda dolorosa depois de todos esses anos.

Caterina me observa intensamente, seus olhos carmesins não perdendo nada.

— E então Jessica me trazia aqui — eu continuo, perdido na recordação. — Nós nunca tivemos um pai para vir conosco. Eu não sei como explicar. Eu simplesmente amo muito este lugar. — Eu olho ao redor para as mesas movimentadas, as famílias compartilhando refeições juntas. — Connor e eu vínhamos aqui o tempo todo na faculdade.

Os olhos carmesins de Caterina parecem brilhar na iluminação fraca do restaurante enquanto ela estuda meu rosto com aquela intensidade predatória que nunca a abandona completamente, mesmo em momentos de aparente ternura. Seus dedos traçam padrões delicados no meu ombro, cada toque um lembrete sutil de propriedade.

— Você já teve encontros aqui? — ela pergunta de repente, sua voz enganosamente casual enquanto toma um gole de sua água engarrafada.

A pergunta me pega de surpresa, e eu me vejo revirando memórias que parecem cada vez mais distantes, como se pertencessem a outra pessoa.

— Acho que não — eu respondo com um encolher de ombros, observando a condensação se formar no meu copo de Coca intocado. — Eu realmente não me lembro.

As sobrancelhas perfeitas de Caterina se arqueiam ligeiramente. — Nunca com Claire?

— Não — eu digo, balançando a cabeça. — Eu nunca namorei Claire.

Algo muda na expressão de Caterina, um endurecimento sutil ao redor dos olhos, um aperto de seus lábios perfeitos. Sua mão para sua carícia gentil no meu ombro, em vez disso, segurando-o com uma frustração mal disfarçada.

— Tudo bem — ela diz, sua voz caindo naquele tom maternal que lentamente está se tornando excitante. — Eu sei que você tem suas falsas memórias. Parece que você nunca vai recuperar suas memórias reais.

Eu olho para ela, lembrando que ela não acredita que eu sou de um mundo diferente. E isso é justo.

Eu olho para Caterina, este monstro lindo que destruiu sistematicamente cada parte da minha vida, e tomo a única escolha disponível para mim. Eu minto.

— Sim, isso é verdade — eu digo, forçando um sorriso pequeno e derrotado.

Ela olha para mim com seus olhos carmesins se estreitando ligeiramente, a cabeça inclinada em curiosidade. — Então este lugar significa tudo para você?

Eu olho ao redor para as cabines gastas, as luzes suspensas zumbindo, os pôsteres desbotados de antigos times esportivos. Tudo aqui é barato, datado e comum, o oposto exato do mundo de luxo e violência de Caterina. No entanto, de alguma forma, parece mais real do que qualquer coisa que eu tenha experimentado em semanas.

— Sim — eu respondo simplesmente, surpreso com a emoção genuína na minha voz. — Significa.

Algo muda na expressão de Caterina, um suavização sutil ao redor das bordas de seus traços predatórios. Ela passa os dedos ao longo da toalha de mesa de plástico, examinando o padrão de tabuleiro de xadrez vermelho e branco que ela havia descartado momentos antes.

— Então, sinto muito por ter sido indelicada sobre isso — ela diz, as palavras saindo desajeitadamente, como se ela não tivesse prática em um pedido de desculpas genuíno. — Estou feliz que você me levou a um lugar especial na sua primeira chance.

Eu estudo seu rosto, procurando pela manipulação, o cálculo que deve estar escondido atrás daqueles olhos carmesins. Mas tudo o que encontro é o que parece ser sinceridade.

Ela me puxa para perto, seu braço deslizando ao redor dos meus ombros com facilidade praticada. Apesar de tudo, as mãos quebradas, as drogas, a tortura, as ameaças, eu me sinto surpreendentemente seguro neste momento. A contradição disso faz meu estômago se revirar mais do que qualquer medicamento que ela tenha me forçado a engolir.

Eu me inclino em seu abraço, respirando seu cheiro. Sabonete caro e um toque de suor, limpo e de alguma forma primitivo ao mesmo tempo. Eu respiro mais fundo sem pensar, meu nariz roçando seu pescoço enquanto eu inspiro novamente.

— Você está me cheirando? — ela pergunta, o divertimento colorindo sua voz.

Eu rio, não me importando com o que eu faço, desde que eu não quebre suas regras. — Sim — eu admito, me sentindo estranhamente tonto pela proximidade, da ilusão momentânea de normalidade.

Seus lábios se curvam naquele sorriso possessivo que simultaneamente me aterroriza e me cativa. — Bom — ela diz simplesmente, pressionando um beijo na minha têmpora.


A bandeja de pizza vazia está entre nós, nada além de migalhas e algumas manchas de queijo restantes do que tinha sido, devo admitir, uma pizza perfeita.

Caterina limpa o canto da boca com um guardanapo de papel, de alguma forma conseguindo fazer até mesmo este gesto mundano parecer elegante. Apesar de seu desdém inicial, ela comeu três fatias, sua compostura perfeita escorregando o suficiente para revelar um prazer genuíno.

— Devo admitir — ela diz, dobrando o guardanapo em um quadrado perfeito — que isso foi realmente muito bom. Não é estrela Michelin, obviamente, mas há algo... autêntico sobre isso.

Eu sorrio, um sorriso real que atinge meus olhos pela primeira vez no que parece uma eternidade. — Te disse — eu digo, incapaz de manter a satisfação fora da minha voz. — A melhor pizza de Massachusetts.

Ela estende a mão pela cabine, seus dedos roçando suavemente minha bochecha em um gesto terno que parece quase normal. — Eu gosto de te ver feliz — ela diz suavemente, seus olhos carmesins estudando meu rosto com aquela intensidade perturbadora. — Seu rosto todo se ilumina.

A garçonete se aproxima com nossa conta, colocando-a na mesa com um sorriso praticado. — Como estava tudo? — ela pergunta, olhando entre nós.

— Perfeito — eu respondo antes que Caterina possa falar.

Caterina desliza seu cartão preto na pasta de couro sem nem mesmo olhar o total. A garçonete o leva rapidamente, retornando momentos depois com o recibo para Caterina assinar.

— Obrigado por virem — ela diz, pegando o recibo assinado.

Enquanto a garçonete se afasta, Caterina se vira para mim, sua expressão suavizando em algo quase humano. — Pronta para ir, querida?

Eu aceno, de repente exausto do simples ato de estar em público, de fingir que tudo está normal quando nada jamais voltará a ser normal. A medicação para a dor está passando. A dor está latejando, mas pior do que isso, estou começando a me sentir um pouco suado e um pouco irritado.

Caterina me ajuda a sair da cabine, seu braço envolvendo meu cós de forma solidária.

Enquanto caminhamos em direção à saída, noto um jovem casal perto da entrada, suas cabeças juntas sobre uma sobremesa compartilhada. A garota é alta e loira. Sua postura irradia desafio. O cheiro de cigarros me atinge apesar da distância entre nós. Do outro lado dela está sentado um garoto de cabelos castanhos com olhos cor de avelã que parecem gentis demais para a estética cuidadosamente cultivada da garota.

Eles estão nos observando, nem mesmo tentando ser sutis sobre isso. O garoto se inclina para frente, seus olhos fixos em meus gessos enormes e no aperto protetor de Caterina na minha cintura.

— Viu aquele casal com o cara assustado? — ele diz, alto o suficiente para nós ouvirmos enquanto passamos por sua mesa. — Isso é o objetivo, Erica.

A garota loira, Erica, joga a cabeça para trás em uma gargalhada, o som brilhante e descuidado de uma forma que me faz ansiar com nostalgia por um tempo em que eu podia rir assim.

— Jason, eu não quero que você tenha medo de mim — ela protesta, dando um soco brincalhão em seu braço.

O garoto, Jason, balança a cabeça seriamente, seus olhos cor de avelã nos seguindo com algo como admiração. — Você não está entendendo. Eu quero ter medo de você.

A conversa deles desaparece enquanto passamos, mas eu pego os olhos revirados da garota e o suspiro sonhador do garoto enquanto eles retornam à sua sobremesa, alheios à realidade do que estão romantizando.

“Garoto, você não quer minha vida. Você nunca conseguiria nem um dia no meu lugar.”

Eu rio apesar de mim mesmo, olhando para Caterina enquanto passamos pelas portas de vidro para o ar fresco da noite. — Você ouviu isso? — eu pergunto, acenando de volta para os adolescentes. — Nós somos "objetivos" para aquele garoto.

Os olhos carmesins de Caterina brilham com divertimento. Seu braço aperta possessivamente minha cintura enquanto ela me guia em direção ao SUV esperando.

— Como deveríamos ser — ela responde com confiança casual, seus lábios perfeitos curvados em um sorriso que não atinge seus olhos. — Todo homem deveria querer ser mantido cativo por uma mulher tão amorosa.

Princess Pizza: