Meus 14 Anos Como Um Gato

Capítulo 6

Meus 14 Anos Como Um Gato

A filha estava mais ocupada que nunca desde que começou o ensino médio. 

Desde as suas atividades de clube até todas as coisas que ela precisava estudar, sair com os amigos e suas obrigações como estudante, esses últimos dois anos passaram voando.

Por outro lado, o homem parece ter diminuído o ritmo do trabalho. Ele parou de ficar trancado em seu escritório o dia todo e, com exceção das manhãs, passava um tempo valioso com a filha. A mulher também deixou de trabalhar e se tornou dona de casa e começou a receber a filha quando ela ia e voltava do colégio, além de conversar com as outras donas de casa, passando alegremente seus dias fora.

Nesses últimos dois anos, a filha cresceu ainda mais. O cabelo que a filha começou a deixar crescer há um ano estava arrumado de um jeito fofo como sempre, e talvez seja porque ela ficou mais feminina, mas ela estava começando a cuidar mais do rosto. Até colocando um pouco de maquiagem ultimamente.

— Ah, puxa! Esqueci meu blazer!

— Ei, ei, você tem certeza de que vai ficar bem?

Ao ver a filha se levantar de repente da mesa de jantar e sair correndo, o homem resmungou em choque. Haviam olheiras em seu rosto e ele parecia estar caindo de sono.

Hoje era a cerimônia de abertura do último ano da filha no ensino médio. Eu também fui arrastada pela filha ontem e estava exausta. A filha, que tinha jogado bastante durante as férias de primavera, não estava exatamente preparada para hoje, e nós três, o homem, a filha e eu, ficamos acordados até tarde, na noite passada.

Ontem à noite, a mulher saiu para comprar as coisas que a filha precisava levar para o colégio hoje, e o homem estava verificando com a filha os deveres que ela precisava entregar. Quando fui verificar a bolsa para ver se ela não tinha esquecido nada, me envolvi num acidente onde fui enterrada sob seu uniforme regular e roupas esportivas.

— Queria ter feito eu mesma o dever de casa… Assim, ficaria com a consciência limpa.

O homem disse à filha:

— Não sou bom em matemática e física. 

Mesmo assim ele a ajudou até tarde da noite. Eu não podia deixá-los sozinhos e fiquei lá, torcendo por elas, principalmente para o homem. 

A filha, com seu blazer na mão, correu de volta para a mesa de jantar, enfiando o que restava do sanduíche na boca. Eu podia ver suas pernas lindamente bronzeadas saindo de sua saia azul marinho que ficava mais curta conforme ela ficava mais velha.

— Yuuka, você não esqueceu de nada, esqueceu?

— Não! Eu acho!

A filha respondeu enquanto tentava engolir rapidamente sua comida.

Oi, oi. Se recomponha, filha.

Eu segurei a gravata que tinha sido jogada no sofá com minha boca e a coloquei em cima dos sapatos, no chão. O homem que me viu fazer isso sorriu amargamente, dizendo: 

— Bom trabalho, Kuro.

O homem também revelava um olhar de exaustão total. A filha olhou para cá ao ouvir as palavras do homem.

— Ah! Isso mesmo, minha gravata!

A filha, tendo acabado de admitir que tinha esquecido completamente, colocou seu blazer sob as axilas quando se aproximou. Pegando a gravata rosa, ela acariciou o topo da minha cabeça com força.

— Obrigada, Kuro~!

De nada, não foi grande coisa. Não esqueceu de mais nada? — perguntei, abanando meu belo rabo preto.

Enquanto calçava os sapatos, a filha olhou para a bolsa que continha seu uniforme esportivo e depois para a outra bolsa com sabonete e lenços de papel.

— Certo! Estou toda preparada e pronta para ir!

Ao sinal da filha, a mulher saiu da cozinha, tirou o avental, pegou a bolsa e as chaves do carro.

— Nesse caso, eu te levo. Aí você pode tirar um cochilo no carro, ok?

— Acho que vou aceitar essa oferta.

A garota deu um meio sorriso ao pai que respondeu com outro sorriso suave. Então, pega a bolsa e diz:

— Mãe, vamos rápido. — E sai correndo.

A mulher exclamou:

— Sim, sim. Eu sei. — E a segue.

As duas saem de casa, fazendo muito barulho. Houve o som da porta da frente batendo e parecia que a calmaria tinha voltado. Soltei um pequeno suspiro e me deitei no sofá, enquanto o homem começou a limpar a mesa. 

Pouco depois, ele veio se sentar ao meu lado e ligou a TV. Ele mudou os canais sem parar antes de finalmente decidir pelo da previsão do tempo.

— Parece que o tempo vai continuar firme amanhã…

Parece que sim.

Eu disse casualmente enquanto olhava para a TV, sentada ao lado do homem. A luz do sol quente entrava pela grande janela da varanda à nossa direita. Além da tela da janela, um vento refrescante também soprava, e a roupa que a mulher pendurou no início da manhã dançava, enchendo o quarto com uma fragrância suave.

Assim que a previsão do tempo estava terminando, o homem bocejou sonolento. Eu também bocejei uma vez, embora tenha sido mais pelo calor confortável e pela sensação do vento refrescante.

— Oh, você está se sentindo cansada, Kuro?

Não, pelo menos não tanto quanto você.

Eu respondi honestamente. Foi porque ontem à noite eu abandonei a filha e o homem de frente para ela em sua mesa de estudo, e dormi um pouco em um canto da cama da filha. No entanto, sinto como se tivesse sido atingida por uma onda de sonolência.

O fato de que “os gatos eram uma espécie que conseguia dormir em qualquer lugar, a qualquer hora” foi algo que experimentei pessoalmente nos últimos anos.

O homem deitou-se no sofá, me pegando em seu peito.

— Vou dormir um pouco. Boa noite, Kuro~

O homem se interrompeu bem no final, dando um suspiro de sono e eu sou abraçada como uma almofada. Desde que o conheço, descobri que o homem poderia adormecer em segundos. Pessoalmente, acho que é um tipo de habilidade. No entanto, se ele estivesse determinado a não dormir, ele era alguém que se manteria acordado a qualquer custo.

Lembro-me da época em que ouvia o som dele digitando sem parar por dois dias inteiros. Ele não dormiu nada e, quando saiu do escritório, parecia um fantasma. Fiquei tremendamente assustada. Era um horror estar em uma casa silenciosa e escutar o som do teclado no meio da noite.

Enquanto pensava: “por favor, não faça aquilo de novo”, me enrolei em uma bola. Fechando os olhos, ouvi a respiração rítmica e os batimentos cardíacos do homem e adormeci imediatamente.




Depois de um tempo, acordei do meu leve sono. Pois, ouvi o som da porta da frente abrindo e fechando, seguido pelos passos familiares da mulher se aproximando.

Abandonando o homem que não parecia que iria acordar tão cedo, pulei do sofá e caminhei em direção à mulher. A mulher carregava uma pequena bolsa.

— Oh, Kuro-chan. Vejo que ele está dormindo.

A mulher diz, pega minha tigela e coloca o conteúdo de uma das latas dentro da bolsa dela.

Ontem à noite, a mulher me disse: 

— Vou comprar algumas latas para você amanhã de manhã pelo seu trabalho árduo.

E parece que ela se lembrou da sua promessa. Aquilo que eu tinha comido tantas vezes desde que conheci o homem, aquele aroma suave e perfumado, despertou meu apetite que deveria ter sido saciado no café da manhã.

— Aqui está, Kuro-chan. Coma.

Mm, obrigada. — Aceitei graciosamente.

Comecei a comer a comida que tinha sido colocada na minha tigela. Estava deliciosa como sempre.

A mulher se agachou, apenas me observando comer com seus olhos gentis. Seu cabelo castanho, preso atrás da cabeça, balançava levemente com o vento.

— Ela cresce tão rápido, não é? Ela já está falando sobre a universidade.

— Sim, é verdade — respondi enquanto comia.

Parece que foi ontem que ela fez a prova para entrar no ensino médio, mas o tempo passou voando.

— Estávamos falando sobre isso no carro. Como os exames da universidade dela estão quase chegando. E depois disso, ela iria para uma faculdade. E que ela queria ser professora de escola primária…

Em um piscar de olhos, aquela criança também vai crescer. Essa é uma possibilidade.

Depois de responder, um par de passos se aproximou de mim.

— Você voltou. O que você acabou de dizer era verdade?

— Ah, você acordou. Sim, é verdade. Embora, as únicas universidades que ela poderia frequentar nesta área para conseguir sua licença seriam a Uni K ou a Universidade Feminina F, certo? — diz a mulher, e então solta uma risada elegante —, Fufu.

Vendo que eu tinha terminado minha refeição, ela pega minha tigela e se levanta, me dizendo:

— Vou lavar isso.

Foi por ela limpar minha tigela tão bem todos os dias que eu também pude comer todos os tipos de comidas deliciosas.

Enquanto eu lavava meu rosto, eu podia ouvir o homem fazendo um barulho de estalo com o pescoço atrás de mim. A mulher que estava na minha frente riu da situação.

— Isso é verdade. Ela está quase nessa idade, hein…

— Isso só enfatiza o quanto envelhecemos, querido. Eu me pergunto quando um homem virá a esta casa e pedirá: “Por favor, quero casar com sua filha.”

Ouvindo a mulher dizer isso de forma provocativa, o homem franze a testa, preocupado.

— Pare com isso, ainda não é muito cedo?

— Olha quem fala. Eu não tinha acabado de me formar no ensino médio quando registramos nosso casamento? Quando você ainda estava começando sua carreira de escritor, você veio à minha casa e disse: “Por favor, deixe-me casar com sua filha quando ela se formar!” Papai ficou chocado, vendo você de joelhos.

— Ugh, é porque achei que precisava ser honesto sobre as minhas intenções.

— Mesmo assim, dizer: “eu não a toquei”, “eu a trouxe de volta antes do toque de recolher”, “às vezes dou uns beijinhos, desculpe”, precisava confessar tudo isso? Bem, graças à isso, conseguimos permissão para namorar — disse a mulher, relembrando o passado.

O homem, que parecia ter se lembrado daquele momento específico, virou a bochecha, envergonhado. Sendo olhado pela mulher com um sorriso furtivo, ele confessou com um: 

— Não posso competir com isso… 

Depois o homem acrescentou:

— Sim, começamos a namorar e, muitas vezes, fui convidado para jantar… Mas eu era mais velho que seu irmão, então ele não gostava muito de mim…

— Não é como se ele odiasse você. Meu irmão simplesmente não gosta de homens que não são muito másculos.

— O quê!?

— Quero dizer, até então, você era considerado fraco.

A mulher ri, limpa a minha tigela e a deixa escorrer na toalha de sempre.

Eu conhecia o irmão dela. Várias vezes no ano, ele e os pais dela vinham visitar esta casa. Eles eram amigáveis e bem humorados. Tanto o irmão quanto o pai da mulher eram grandes e fortes.

Eu gosto de você mesmo que você seja fraco. Não se sinta tão mal — eu disse ao homem, tentando encorajá-lo.

Como se ouvisse isso, o homem me pegou e me deu um tapinha na cabeça, mas ele não parecia muito bem por algum motivo.

— Casamento, hein… —  Ao dizer isso, ele me apertou. — Ficarei sozinho quando isso acontecer.

O homem soltou um suspiro profundo. Eu me deitei gentilmente nos braços do homem enquanto imaginava o dia em que a filha deixaria o ninho.

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