Capítulo 5
Meus 14 Anos Como Um Gato
Os dias que passei na casa Itou passaram rapidamente.
Depois que o homem terminava seu café-da-manhã todas as manhãs, ele se fechava num quarto chamado escritório, e a mulher deixava a casa com a filha usando seu uniforme azul marinho, e não voltaria até a noitinha.
Quanto a mim, eu normalmente dormiria tomando um banho de sol. Se eu tivesse fome, eu comeria a comida que eles deixavam pronta para mim, e se eu estivesse entediada, eu andaria pela casa, e às vezes, brincava com o homem que deixava seu escritório de vez em quando.
Eu sabia que o mundo tinha uma coisa chamada estações.
Primavera e outono eram as estações que eu gostava. Todas as estações e suas atividades passavam rapidamente e, em todas elas, eu comia algumas comidas deliciosas.
A filha cresceu surpreendentemente rápido, mas meu corpo cresceu e amadureceu pelo menos o dobro disso e, em algum momento, o crescimento do meu corpo alcançou minha idade mental.
Na terceira primavera, a filha entrou no ensino médio.
Seu cabelo, repartido no meio, ficou mais curto e ela ficou ainda mais fofa, parecendo uma mulher. Depois de começar o colégio, ela rapidamente se juntou em algo chamado “atividades extracurriculares” e, na maioria das vezes, ela chegava em casa depois da mulher, que estava fora trabalhando.
Talvez ela também estivesse ficando mais forte, já que sempre que ela ia me abraçar, com sua pele bronzeada, da cor da palha, eu sentia dor e, sem pensar, soltava um “gya!” esganiçado.
Ela sorria alegremente, dizendo:
— Desculpa, desculpa. — E esfregava o rosto na minha cabeça.
— Tênis é divertido? — Sentada à mesa de jantar, a mulher pergunta à filha.
Enquanto eu bocejava no colo do homem, a filha relaxa seu olhar enérgico e responde:
— É claro! Eu quero comprar uns sapatos novos, então pode me buscar amanhã?
— Hehe, tudo bem. E no caminho, também podemos comprar um terno para seu pai.
Assim que a mulher disse isso, a sopa de misô que o homem bebia engasgou na sua garganta e ele começou a tossir vigorosamente.
Na hora, já que meu lugar, as pernas do homem, começou a tremer vigorosamente, desci, pois meu descanso foi perturbado. O homem pareceu desapontado quando me viu levantar e descansar na minha almofada favorita. Tanto mãe quanto filha começaram a rir alegremente.
— Pai, você tem um jantar com seus colegas escritores, certo? Acho que já é hora de comprar um terno novo.
— Yuuka tem razão, querido. Sagami-sensei e os outros estarão lá também, não é?
— Sim, é verdade. Mas não precisa comprar um terno novo…
— Você é muito descuidado com a sua aparência. Por favor, você também precisa de roupas boas.
— Um… tá…
O homem encerrou a conversa com um murmúrio e voltou a comer.
‘Como sempre, nem o homem ou a mulher cresceram um centímetro sequer, hein’, pensei comigo mesma enquanto via o espetáculo diante de mim. ‘Se continuar assim, em alguns anos, a filha vai ultrapassá-los, sabiam?’
— A propósito, eu quero um autógrafo~. Afinal, eu sou fã do Sagami-sensei.
A filha disse ao comer um camarão frito. Ouvindo isso, o homem parecia desolado.
— Umm… E o autógrafo do pai?
— Não quero. Nós estamos sempre juntos mesmo.
Ouvindo as palavras da filha, o homem parecia que tinha levado um choque imenso. Eu olhei da minha almofada e suspirei para o homem.
— Um dia, a filha deixará o ninho, meu jovem.
— Não me olhe assim, pai. Mesmo que eu diga isso, você é alguém de quem tenho muito orgulho, sabia? Fui ver aquela história que virou filme com meus amigos e foi incrível. Mas eu achei o livro melhor, já que é mais fácil entender os sentimentos da personagem principal.
A filha sabia muito bem como lidar com o pai.
— Acho que sim — disse o homem timidamente, com uma expressão feliz.
O homem parecia ter voltado ao normal enquanto movia seus pauzinhos. A mulher e a filha olharam uma para a outra e riram. Ele perguntou confuso:
— Por que estão rindo?
Elas balançaram a cabeça e responderam juntas:
— Nada.
E a mesa de jantar onde eles se sentavam estava cercada por um calor confortável. Não havia nada que eu gostasse mais do que ver aquilo. Toda vez que eu pensava que eu era um deles, alguém da família, eu sentia um calor no peito.
— Kuro, venha aqui.
Depois de terminar o seu jantar, o homem diz isso e dá uns tapinhas no joelho, enquanto ainda estava sentado.
Levantei da almofada e, graciosamente, pulei no colo do homem. Deitei confortavelmente enquanto ele acariciava minha cabeça, e fechei meus olhos como que querendo aproveitar aquele calor ao máximo.
Quando eu fui adotada, não poderia imaginar que isso aconteceria. Passei a gostar tanto dele que até eu me surpreendi.
Depois disso, dois meses se passaram e o terceiro junho desde que conheci o homem chegou.
A filha, que tinha chego em casa cedo, sentou no sofá da sala e espalhou diversos livros e cadernos na mesa à sua frente. Por um tempo, ela fez uma expressão complicada enquanto segurava sua caneta.
— O que foi, filha? — eu a chamo e sento ao seu lado. — Tarefas, de novo?
Olhando para as coisas espalhadas na mesa, percebi que eram materiais de estudo que ela recebeu no colégio. Lembrei-me de outras ocasiões parecidas e percebi que era a época das provas.
— Caramba, por que esta prova está cobrindo tanto assunto? E é uma chatice não ter nenhuma atividade do clube nessa semana… até o colégio da Eri-chan permite atividades do clube até um dia antes das provas~
Após seu suspiro, ela afundou no sofá. Pulando no sofá com um “bong”, meu corpo pulou um pouco.
A mulher que estava preparando o jantar chamou a filha enquanto limpava a mesa de jantar.
— É uma escola preparatória para a universidade, então não tem jeito, certo? Vamos lá, se você está livre o suficiente para reclamar, então vá estudar. Se suas notas forem baixas, você terá que sair do seu clube, certo?
— Argh, eu sei.
A filha sentou-se novamente parecendo insatisfeita e olhou para a mesa. Ela tirou seu lápis do estojo e gritou para a mãe:
— Me chama quando o jantar estiver pronto.
— Filha, se esforce e dê o seu melhor. Definitivamente, o seu esforço não será em vão. Isso vai ajudá-la no futuro.
Eu a encorajo e me aninho ao lado dela. A filha olha para mim surpresa e, de repente, relaxa, dando tapinhas na minha cabeça.
— Você está certa, isso é algo que eu decidi fazer. Eu vou dar o meu melhor, Kuro.
— Sim. Eu estarei ao seu lado durante esse tempo.
Eu digo a mim mesmo, sem olhar para a filha enquanto fecho meus olhos e sinto o calor fluindo pela minha cabeça. Ela era filha do homem e da mulher, e então, nos últimos três anos, decidi chamá-la de “filha”.
Não sei quando começou, mas passei a pensar nela como se fosse minha própria filha.
Minha mente começou a amadurecer muito antes do meu corpo, e agora estava começando a superá-los.