Capítulo 76

A trilha até a montanha não era tão fácil de percorrer quanto ele esperava. Diferente do vale das texugos, ele não encontrou nenhum caminho de acesso fácil.

Em vez disso, deparou-se com uma parede de pedra – um penhasco íngreme. Tentou escalá-lo algumas vezes, mas logo percebeu que suas habilidades de escalada, somadas à superfície lisa da pedra, tornavam improvável que conseguisse subir ali. Tentou usar suas armas para escalar, mas era um tanto complicado… A PresaVenenosa era muito forte, e o frio de sua espada fazia a pedra quebrar ao resfriar.

Depois de andar de um lado para outro por alguns minutos, tentando encontrar um lugar para escalar, teve uma ideia. Será que poderia usar seus fios de mana?

Ele havia criado vários fios ao longo do tempo e até os usara para recuperar armas e outras coisas que caíam. Na teoria, ele deveria ser capaz de fazer uma corda com seus fios e escalar o penhasco.

Achando que era uma tentativa no escuro, ficou surpreso ao rapidamente tecer uma corda invisível de mana. Depois de praticar por alguns minutos, conseguiu torná-la mais longa e resistente, e até conseguiu içar-se em uma árvore usando-a.

Putz, sou bom, Jake pensou consigo mesmo enquanto se maravilhava com o imenso progresso que havia feito no controle de sua mana. Ele tinha relaxado um pouco recentemente, mas com o crescimento de seus atributos e a melhora de suas habilidades de alquimia, ele havia ficado muito bom sem nem perceber.

Ainda não havia se materializado como uma habilidade, desconsiderando a Mão Espectral. Lembrou-se de que seu foco na prática veio daquelas poucas palavras que lhe foram dadas pela Víbora Maléfica durante seu primeiro encontro. Aquelas palavras o haviam aberto à possibilidade de que o controle de mana era possível fora do uso em habilidades.

Agora, ele tinha certeza de que muitos outros também haviam percebido, mas ainda sentia que tinha uma vantagem de quem começou cedo em comparação com muitos outros.

Com essa nova corda de mana, Jake conseguiu prendê-la em pequenas saliências no penhasco. Escalando até essas saliências, fez outra corda presa mais acima e lentamente subiu o penhasco.

Claro, provavelmente teria sido mais rápido voltar pelo caminho que veio e encontrar um caminho mais direto, mas ele acreditava que não havia perdido tempo no grande esquema das coisas.

Finalmente, chegando ao topo, sorriu triunfante. As cordas já haviam se dissipado, pois se transformavam em nada sempre que perdiam contato com seu corpo. Ele sentia que controlar a mana fora do corpo, sem tocá-la, deveria ser totalmente possível. Ele só não tinha certeza de como fazer isso ainda.

Tendo saído do vale, não demorou e correu para a entrada da masmorra.

A disposição era incrivelmente semelhante à outra montanha, e ele rapidamente chegou à longa passagem que levava ao vulcão oco. Ele tinha uma forte suspeita de que o esperava outra montanha repleta de longas passagens sempre que entrasse na própria masmorra.

Apenas alguns raptores estavam em seu caminho, mas foram rapidamente despachados com algumas rajadas de Flecha Divisor.

Chegando ao interior da montanha, ele rapidamente avistou a porta da masmorra e não perdeu tempo correndo até ela, colocando a mão nela.

Masmorra Tutorial Descoberta!

Masmorras por todo o universo oferecem a grupos e indivíduos a chance de perseguir força e tesouros explorando as dimensões de bolso conhecidas como masmorras. Esta variante só é encontrada nos Tutoriais fornecidos pelo sistema para raças recém-integradas.

Requisitos para entrar: N/A

Requisitos para entrar atendidos.

AVISO: Apenas 5 desafiantes permitidos por grupo tentando entrar na masmorra. Apenas um grupo permitido por vez. Observe que as masmorras podem ser acessadas e deixadas a seu critério.

Entrar na Masmorra?

S/N

A mensagem era exatamente a mesma de quando ele entrou na masmorra dos texugos. Ele aceitou o pedido e sentiu sua visão e corpo se moverem.

Vai ser outra caverna porcaria, Jake brincou consigo mesmo.

Sua esfera foi a primeira a registrar seu novo ambiente, e isso o fez perceber que estava em um espaço aberto bastante grande. A próxima coisa que ele sentiu foi… uma brisa? Em uma caverna? Mas quando sua visão voltou, ele se viu não em uma caverna como esperava, mas em uma pequena colina cercada por uma vasta planície.

Você entrou na masmorra: Planícies de Lucenti

Objetivo: Derrotar o Grande Cervo Branco

Ele ficou, honestamente, surpreso. A mudança de cenário foi muito mais extrema do que ele havia previsto.

Toda masmorra em que ele havia entrado até agora havia sido em espaços fechados – uma um templo antigo e outra uma caverna. Mas isso… isso era uma maldita planície aberta – o céu acima, com um grande espaço aberto à sua frente.

Em sua pequena colina, ele podia ver um grande número de feras correndo por aí. Eram grupos de veados com um ou dois cervos geralmente liderando cada pequeno grupo.

As próprias planícies eram uma mistura de grama alta e terreno aberto. A grama tinha facilmente três metros de altura, onde era mais alta.

Olhando para trás, ele percebeu que talvez esse espaço não fosse tão grande quanto ele havia imaginado inicialmente. Embora parecesse enorme, logo ficou claro que, de fato, era bastante limitado. Ele viu que a apenas cem metros atrás dele, as planícies paravam de repente e viravam um terreno pedregoso.

Ativando a Visão do Caçador, ele espiou ao longe e só viu o nada. Era como se ele estivesse em um oásis no meio de um mundo desolado – um oásis consistindo em uma planície com rebanhos de veados correndo por aí.

Voltando sua atenção para as feras, ele usou Identificar em um dos grupos.

[Cervo de Lucenti – nível 61]

[Cervo de Lucenti – nível 60]

[Cervo de Lucenti – nível 62]

[Cervo de Lucenti – nível 65]

Assim como a Toca dos Texugos, eram as mesmas feras, mas com níveis mais altos. Os próprios níveis eram apenas um pouco mais altos do que os dos texugos haviam sido, fazendo Jake se sentir bastante confiante.

Mas ele rapidamente identificou alguns problemas. O maior deles logo entrou em sua visão.

[Grande Cervo Branco – nível ??]

A fera era… majestosa. Honestamente, ele não tinha outra maneira de descrevê-la. Estava bebendo em uma lagoa no meio das planícies. Tinha chifres que pareciam ser feitos do marfim mais delicado, a cor branca pura cobrindo todo o seu corpo, fazendo-o parecer albino.

Um pouco mais longe estavam dezenas de veados, todos divididos em grupos menores. Cada grupo tinha algumas corças e um ou dois cervos. Todos pareciam manter uma distância razoável do Grande Cervo Branco.

Mas isso não significava que estava sozinho. Ao seu redor estavam três criaturas quase igualmente belas.

Também puramente brancas, mas sem os chifres. Pareciam quase emanar uma aura de gentileza enquanto ficavam perto do cervo.

Identificando-as, ficou claro que elas também estavam longe de serem feras comuns.

[Corça Branca – nível ??]

[Corça Branca – nível 72]

[Corça Branca – nível ??]

Os níveis eram mais altos do que qualquer outra das feras, além do próprio cervo.

Como observação, essa identificação ajudou a confirmar uma teoria que ele tinha sobre a habilidade Identificar. Ele havia se perguntado onde a linha entre ela mostrar pontos de interrogação e o nível real aparecia.

Ele observou que conseguia ver o nível 72, mas nenhum dos outros. Isso o fez adivinhar que esse provavelmente era o máximo. Seu nível atual em sua raça era 48, fazendo aqueles com matemática rápida perceberem isso com bastante facilidade. Ele já havia teorizado isso antes, mas agora tinha certeza.

Jake acreditava que podia identificar coisas até 50% acima de seu nível. Significando que 72 era seu limite atual. Mas ele teria que testar mais para confirmar totalmente. Se tivesse sorte, uma das outras corças seria de nível 73. Claro, ele precisava subir de nível para isso fazer diferença.

O que não deveria ser um problema, considerando as muitas bolsas de experiência povoando as planícies.

Essa abundância de presas, no entanto, o levou a um segundo problema. Ou bem, a quantidade em si não era o problema; a questão era o que elas estavam fazendo.

Como ele viu imediatamente, esses veados não eram estacionários como na Toca dos Texugos. Em vez disso, eles corriam por aí, tornando muito difícil prender um grupo. Para piorar as coisas, havia uma boa chance de ele ser atacado por um segundo grupo depois de atacar o primeiro.

Cada grupo de veados não lhe pareceu particularmente poderoso. Eram os mesmos veados e cervos que ele havia caçado muitos antes, exceto por seu nível mais alto, e mesmo sem suas novas Escalas da Víbora Maléfica, ele sentia que era mais do que capaz de caçá-los.

Mas isso não significava que ele estava ansioso para enfrentar um exército das feras.

Ele decidiu levar seu tempo para observar de onde estava. Não demorou muito para perceber que parecia haver um padrão em seus movimentos. As mesmas rotas eram seguidas, pois caminhos haviam sido feitos na grama alta.

De onde estava, ele não conseguia ver exatamente para onde e de onde eles estavam correndo por causa da maldita grama.

Ele tentou marcar um deles com a Marca do Caçador Ambicioso enquanto o seguia. Ele percebeu que ele estava indo para uma área que ele não conseguia ver devido à grama alta, onde parou. Não se moveu por uns bons vinte minutos antes de Jake ficar impaciente. Ele sentiu que estava perdendo tempo apenas sentado ali.

Esgueirando-se da colina, ele decidiu colocar sua Furtividade Básica à prova enquanto entrava na grama alta.

Ele se esgueirou em direção ao veado que havia marcado, enquanto se esforçava para evitar os outros grupos enquanto corriam. No entanto, essa foi uma jornada relativamente curta, pois ele percebeu que essas feras tinham uma área de alcance muito maior do que os texugos. Um mal havia entrado em sua esfera antes que parecesse ficar alerta e virar sua atenção para ele.

O resto de seu grupo também parou enquanto olhavam para a grama alta onde ele estava escondido. Jake tentou se tornar menor enquanto ficava completamente parado. Em sua esfera, ele podia ver o veado mover as orelhas para frente e para trás enquanto o nariz cheirava o ar.

Jake controlou sua respiração enquanto as feras ficavam ali, ainda a bons dezenove ou vinte metros dele. Quando o cervo caminhou até a beira da grama alta, ele fechou os olhos enquanto se concentrava em acalmar seu coração batendo e prendeu a respiração enquanto, ao mesmo tempo, tentava suprimir sua própria aura.

Abaixando-se lentamente no chão, ele certificou-se de não sacudir nenhum dos caules de grama enquanto se deitava de bruços. Isso acabou sendo a decisão certa, pois um raio de luz cortou o ar onde seu peito estivera apenas segundos antes.

Por pura força de vontade, ele conseguiu até mesmo não piscar enquanto o ataque inesperado varreu a grama acima dele, cortando a metade superior. A grama cortada caiu enquanto desabava, cobrindo o Jake completamente imóvel.

O fato de não ter atingido nada pareceu satisfazer o cervo que havia disparado o raio, pois ele soltou um rugido para seus seguidores, fazendo-os seguir em frente.

Jake, agora totalmente coberto pela grama caída, não se mexeu, mas um pequeno sorriso pôde ser visto em seu rosto. Não apenas porque ele havia evitado uma situação potencialmente ruim, mas por causa da mensagem do sistema que acabara de receber.

*Habilidade Aprimorada*: [Furtividade Básica (Inferior)] --> [Furtividade Avançada (Comum)]

Ele honestamente não sentia que havia feito muito para merecer a atualização. Mas, novamente, sua arqueria teve uma atualização semelhante só porque ele pensou em como fazer arqueria por um tempo.

Olhando para a nova descrição, não havia mudado muito.

[Furtividade Avançada (Comum)] – O golpe mais mortal é aquele que não se vê chegando. Um artesão comprovado nas artes da furtividade, você aprendeu a permanecer indetectável muito melhor do que um mero novato. Agora você acha ainda mais fácil se misturar ao ambiente, esperando o momento certo para atacar. Adiciona um pequeno bônus ao efeito de agilidade e percepção enquanto permanece indetectável com sucesso.

Ficou claro para ele que era apenas uma atualização direta. Aprimorar a furtividade não estava em sua lista de tarefas, mas era bem-vinda com certeza.

Pensando bem, ele realmente havia feito muita espreita no tutorial. Ele havia se esgueirado pelas montanhas cheias de dinossauros, e seu tempo na área externa havia consistido em ele tentar não ser encontrado por outros humanos.

Ele também tinha uma teoria de que o conhecimento prévio desempenhava um papel considerável. Assim como com sua arqueria, Jake, inadvertidamente, tinha alguma experiência em como se esgueirar. Algo que ele suspeitava que a maioria das pessoas que gostam de ficar acordadas até muito tarde na casa dos pais tinham.

No entanto, os pensamentos de Jake sobre as implicações da atualização foram interrompidos quando ele foi trazido de volta à realidade. O cervo que ele havia marcado anteriormente havia começado a se mover novamente.

Considerando isso como seu sinal para parar de perder tempo, ele começou a se esgueirar em direção ao local onde ele havia ficado parado por uma boa meia hora.

Conseguindo permanecer indetectável pelo resto da viagem, ele logo se viu olhando para uma pequena encosta descendente em um mini-vale de algum tipo. O meio do vale continha uma nascente e uma lagoa não muito diferente daquela em que o Grande Cervo Branco estava.

De onde ele estava escondido, nenhum veado estava perto o suficiente para avistá-lo. Ele, no entanto, tinha uma visão clara da lagoa e dos animais ao redor. O cervo que quase o descobrira estava atualmente bebendo um pouco da água junto com seus companheiros.

Jake brevemente considerou atacá-los, mas decidiu contra isso. Era muito arriscado com os grupos correndo por aí. Em vez disso, ele fez uma viagem ao redor da clareira, descobrindo para sua surpresa que nenhum veado estava a poucos metros de distância.

Ao mesmo tempo, ele sentiu que sua marca havia parado mais uma vez. Era cerca de um quilômetro ao norte da lagoa em que ele estava atualmente, fazendo Jake arriscar e correr em direção a ela, ainda escondido na grama alta.

Não demorou muito para ele chegar lá, descobrindo outro vale e lagoa quase idênticos. Seu veado marcado estava alegremente bebendo a água, assim como os veados na outra lagoa.

Mais uma vez, ele decidiu esperar um pouco quando uma ideia do que estava acontecendo ocorreu. O que se mostrou a ideia certa, pois o grupo parou de beber e saiu mais uma vez – desta vez em direção à grande lagoa no centro com o Cervo Branco.

Menos de um minuto depois, um novo grupo de veados apareceu, desta vez vindo do norte. O que significava que não era o mesmo que quase o havia avistado antes.

Jake decidiu voltar para a lagoa em que estava antes, onde descobriu um novo grupo de veados. Alguns minutos depois, eles também partiram, correndo de volta para a lagoa central. E esperando cinco minutos ou mais, um novo grupo apareceu.

É, acho que entendi, Jake pensou consigo mesmo.

Era bem simples. A qualquer momento, apenas um único grupo estaria em uma lagoa, e a cada vez que eles ficariam lá por uns bons 20 a 30 minutos. Depois, eles seguiriam para a próxima lagoa ou retornariam ao centro e, então, um novo grupo apareceria em poucos minutos.

Com cada lagoa isolada, este era sem dúvida o design pretendido. As lagoas eram a área de abate, e Jake estava com um cronômetro para derrubar cada grupo antes que o próximo chegasse. Pelo menos essa era a teoria com a qual Jake estava seguindo.

Quando o grupo saiu da lagoa, Jake esperou pacientemente pelo próximo chegar. Era hora de colocar sua teoria à prova.