
Volume 1 - Capítulo 8
O Amante Proibido do Assassino
Zi Han estava caído no chão, incapaz de se levantar. Para ser franco, ele via estrelas e provavelmente imagens duplas. Metade do rosto latejava, e um líquido quente escorria da narina e da orelha.
Yi Chen, ereto, respirava fundo, enquanto abaixava as mangas e abotoava os punhos da camisa. Ajeitou uma mecha de cabelo solta e caminhou lentamente até o rapaz caído no chão.
“Parabenizo sua coragem, mas você já devia ter percebido a estupidez da sua decisão. Você tem potencial, mas, infelizmente, quebrou a lei e terá que arcar com as consequências…”, disse ele, parando ao ver o rosto do rapaz, que o olhava atordoado, com um sorriso irônico nos lábios.
Ele queria prender aquele sujeito por vender uma substância ilegal, crime punido com a morte na federação, mas, ao ver aquele rosto que parecia não ter mais que a sua própria idade, congelou.
Não era só a aparência jovem que chamava sua atenção. Algo naquele rapaz o deixava tonto. Pela primeira vez, sua mente ficou em branco, seu QI simplesmente desligou, e ele esqueceu o que ia dizer.
O olhar desfocado de Zi Han aos poucos voltou ao normal, encontrando dois pares de olhos escuros o encarando. Certo, ele estava vendo tudo em dobro por causa do soco, mas isso não o impedia de ser sarcástico.
“O que você está olhando?”, disse ele, o sorriso desaparecendo em um instante. A hostilidade entre eles se intensificou. Yi Chen ficou sem saber o que dizer por um segundo.
…
Olhando para aqueles olhos que o fuzilavam, ele percebeu que a raiva e a frustração anteriores haviam sumido, como se alguém tivesse jogado um balde de água fria, apagando a fúria que o consumia.
“Considere isso uma segunda chance na vida e pare de vender essas coisas…”, disse ele, olhando para a maleta preta que havia tirado da mão do primo, mas a fúria recém-apagada voltou com força. Tanto a maleta, quanto o seu conteúdo e seu primo haviam desaparecido.
Sem pensar duas vezes, Yi Chen saiu em sua busca. Se Yi Feng fosse pego com material ilegal, o pai deles os mataria e os enterraria em covas rasas.
Zi Han, sozinho e sujo, levantou-se com uma expressão séria. Que o diabo levasse aquele babaca. O cara nem respeitou o código da luta de rua, que proíbe atingir o rosto.
Agora que tinha levado um soco na cara, seria impossível esconder da mãe. Foi por isso que ele havia rido de si mesmo antes. Era um sorriso irônico, porque ele sabia que estava ferrado.
Fazendo uma careta de dor, ele mancou pela viela. Quando chegou à plataforma, os dois sóis já haviam se posto no horizonte, embora ainda houvesse alguma claridade.
Se soubesse que aquele cara era tão mais forte que ele, não teria o provocado. Para alguém acostumado a vencer lutas, aquilo era extremamente desanimador.
Menos mal que o certinho não o denunciou, senão sua mãe tentaria uma fuga da prisão só para surrá-lo. Resmungando, ele passou a mão pelos cabelos e reclinou a cabeça, pensando em como acalmar a mãe quando ela visse seu rosto.
Assim que chegou ao distrito dez, correu para a banca do velho Yuang antes que fechasse para comprar um pastel de nata para a mãe. Ele só comprava a sobremesa preferida dela no aniversário, mas, como havia cometido uma infração, podia muito bem usá-lo para acalmá-la.
Zi Han bateu no balcão, abaixando ainda mais o capuz antes de dizer: “Velho Yuang, pode me dar um pastel de nata, por favor.”
O velho, que estava arrumando as coisas, virou-se e sorriu: “Mas não é o aniversário dela ainda?”
Zi Han não podia dizer que estava usando isso para acalmá-la. Apenas abaixou a cabeça, abrindo seu terminal para fazer o pagamento. O velho embrulhou o pastel em um saco e disse: “Ah, entendi por que você está comprando. É para animá-la, não é?”
Bip!
O som do pagamento bem-sucedido abafou as últimas palavras do velho. Zi Han levantou a cabeça, pegou o pacote e perguntou: “O quê?”
“Tsc, tsc… algumas pessoas foram incomodá-la agora pouco. Ouvi a dona Lee dizendo. Talvez sua mãe devesse pensar em arranjar um marido… Xiao Han!”, gritou o velho, mas Zi Han já havia disparado, com o capuz levado pelo vento.
Assim que chegou ao seu prédio, encontrou uma multidão, e no centro dela, uma mulher perto de um hovercar luxuoso, cercada por seguranças. Ela apontava para o quarto andar, gritando para outra mulher na varanda.
Palavras como “vagabunda” e “cafetina” [1] voavam misturadas a outros palavrões. Cafetina era o apelido para amante de chefes da máfia do distrito dois, e sua mãe estava sendo acusada de ser amante de Morano Gambino pela sexta esposa dele.
[1] Goomar: termo coloquial para amante de chefão mafioso.
Você entende por que Zi Han precisava de uma arma? As acusações não vinham de donas de casa comuns sem influência, mas de pessoas como essas, que tinham exércitos inteiros. “Tsc…”, resmungou Zi Han, empurrando a multidão e subindo as escadas. Alguns vizinhos o notaram, mas como ele passou rápido, não conseguiram dizer nada.
Ele subiu as escadas apressadamente, pois o elevador estava quebrado há muito tempo. Provavelmente nunca tinha funcionado desde que o prédio foi construído. Chegou ao quarto andar em segundos, mas, em vez de seu apartamento, bateu na porta do lado.
Após um ou dois minutos, a porta abriu e a cabeça de uma senhora apareceu. Ao ver o rosto de Zi Han, ela sorriu alegremente e abriu a porta. “Xiao Han, você chegou na hora certa. Acabei de encher a bacia, mas está muito pesada, muito pesada… não consigo carregar”, disse ela, caminhando lentamente para o centro da sala.
Havia sinais evidentes de demência na idosa, mas ela não tinha mais ninguém para cuidar dela. Com medo de se afogar na banheira grande do banheiro, ela colocava uma mangueira na pia da cozinha e enchia uma bacia. Mas o problema era esvaziá-la. Por isso, sempre pedia ajuda a Zi Han.
“Tudo bem, dona Cheng. Vou esvaziar para a senhora.” Ao dizer isso, ele pegou a bacia cheia da água do banho dela, mas, em vez de levá-la para o banheiro, foi para a porta. A dona Cheng queria dizer que aquele não era o caminho para o banheiro, mas o rapaz era muito rápido.
Zi Han abriu a porta do lado, assustando sua mãe, que vinha da varanda com um cigarro antigo entre os dedos.
“Han Han, yo-…”, ela disse, mas parou ao ver o rosto dele. Antes que ela pudesse dizer algo, ele saiu para a varanda e… PLÁFT! A água do banho da dona Cheng caiu sobre a esposa do chefão da máfia e quaisquer curiosos que deveriam estar em suas casas em vez de assistir a esse espetáculo público.
Antes de ouvir os gritos e os xingamentos lá de baixo, ele puxou o capuz e entrou, certificando-se de fechar bem a porta da varanda. Antes que sua mãe pudesse dizer algo, ele deu a ela o pacote da banca do velho Yuang e saiu para devolver a bacia da velha.