Volume 2 - Capítulo 134

A habilidade de Dandenion, segundo Revlin, era enrijecer o corpo de qualquer um que cruzasse seu olhar. Como ele não conseguia enrijecer todos ao mesmo tempo, vencer Ever seria um desafio e tanto.

Apesar da condição debilitada de Dandenion, após longo período preso e drogado, ele poderia ser convencido, ou talvez até mesmo dominado, se Ever estivesse envolvida. Essa era a razão pela qual Kishiar a designara para essa missão.

"O que faremos, Yuder, se houver mais evidências subterrâneas do que esperamos? Depois de pensar bem, não consigo decidir o que é mais importante", perguntou Gakane, como se estivesse esperando a oportunidade para isso.

Yuder, sem hesitar, respondeu prontamente: "Priorize papéis, livros ou quaisquer pertences que Kanna ache úteis para ler. Se não puder levar tudo, use seu clone de sombra para esconder o restante adequadamente."

"Papéis, certo. Ok, entendi."

Gakane meteu a mão no casaco do uniforme e tirou uma bolsa de couro que ele havia escondido, dobrada várias vezes. Superficialmente, parecia uma bolsa comum, mas na realidade, era encantada para diminuir o peso de qualquer coisa que contivesse.

Logo, eles viram uma casa separada com telhado branco. Os três trocaram olhares silenciosos antes de se dirigirem para a entrada dos fundos, normalmente usada pelos empregados. Essa entrada, que dava direto para a cozinha da casa separada, era o ponto de acesso mais fácil, fato ensinado a eles por ninguém menos que Revlin.

'Um servo que eu subornei deveria ter deixado essa porta aberta hoje', pensou Yuder.

Sem hesitar, Yuder aproximou-se da pequena porta e puxou a maçaneta em formato de argola. A porta abriu-se suavemente, sem resistência.

'Apesar de a cozinha ainda ter toda a comida intacta, não há sinal de ninguém... as previsões de Kishiar devem ter estado certas', deduziu Yuder.

Ele olhou em volta da cozinha, notando as pilhas de pratos que provavelmente haviam sido lavados há apenas algumas horas, e frutas e grãos arrumados com capricho. A única explicação para a ausência de quaisquer empregados, apesar desses claros sinais de atividade recente, era que todos haviam sido deliberadamente mandados embora, excluindo aqueles necessários para movimentar os Despertos experimentais presos no subsolo.

'Mesmo tendo feito isso com medo de Kishiar aparecer, provavelmente eles não esperavam que isso também facilitasse nosso trabalho', ponderou.

Kishiar havia previsto que mesmo que a casa de Apeto mandasse todos os empregados da casa separada embora, Dandenion, confinado no terceiro andar, ainda estaria cativo. Dandenion não era um sujeito experimental, mas um escolta oficial de Revlin, que estava tecnicamente preso para cumprir uma punição. Não haveria razão para escondê-lo, já que eles não tinham nada a temer mesmo que sua presença fosse descoberta.

Será que os humanos da casa de Apeto imaginavam estar tão firmemente sob o controle de Kishiar? Yuder fez um gesto para Ever e Gakane seguirem para dentro enquanto os olhava.

"..."

Saudações eram desnecessárias entre o trio. Assim que confirmou que Ever e Gakane haviam entrado pela porta aberta e se movimentado em direções opostas, Yuder fechou a porta da cozinha. Seu destino não era mais fundo no prédio, mas o galpão ao lado de um poço lá fora.

De acordo com o mapa de Revlin, aquele lugar era a entrada para a passagem do porão da casa separada. Sem hesitar, Yuder entrou, inspecionando o chão. Ele logo encontrou uma porta, não totalmente fechada, escondida entre os sacos de comida empilhados ao seu redor.

Um leve cheiro de sangue parecia pairar no ar, junto às fracas pegadas espalhadas aleatoriamente ao seu redor. Yuder respirou fundo, então abriu a porta e desceu. As palavras de Kishiar, que falara sobre aquele lugar na noite anterior, surgiram vividamente em sua mente.

'O destino final provavelmente será a floresta no extremo oeste dos terrenos da mansão. É densa em árvores, fora da vista de qualquer um, e com um santuário e uma casa de oração montados, é considerada ideal para esconder pessoas.'

A passagem subterrânea era grande o suficiente para uma carroça passar, e pedras mágicas estavam incrustadas nas paredes, impedindo que ficasse muito escura. Como um lugar originalmente usado para entregar mantimentos de fora para a Mansão Apeto ao amanhecer, estava de fato bem conservado para o seu propósito.

Yuder caminhou, finalizando as tarefas que tinha a fazer.

'Primeiro, assim que os Despertos, padres e servos, incluindo o Sumo Sacerdote de Beltrail, forem encontrados, devem ser imediatamente contidos e deixados inconscientes. Depois, após levar os Despertos que estão cativos, retornar por esta passagem para completar a missão e encontrar Ever e Gakane. Depois disso, ir para fora e entrar em contato com os Cavaleiros Peletta que estão esperando. É isso.'

Para conduzir os Despertos, que se dizia serem cerca de 20, muita gente devia ter sido mobilizada da Mansão Apeto. Para conter todas essas pessoas com uma única mensagem antes que elas compreendessem a situação, um poder considerável seria necessário para respaldá-la. Yuder olhou para sua própria mão, envolvida em luvas pretas, e apertou e desapertou o punho levemente.

'A condição está... boa. Eu consigo fazer isso.'

No entanto, pouco depois de reunir sua resolução, Yuder sentiu de repente um odor forte. A princípio, ele achou que era apenas imaginação, mas não era. A fonte daquele cheiro familiar e intenso ficou mais clara enquanto ele seguia em frente.

'Isso é...'

Yuder parou em seus rastros diante de um cadáver caído morto no meio do corredor. O homem sem nome jazia morto com a boca aberta, exibindo uma expressão de terror, agarrando firmemente o cabo de uma adaga fincada em seu peito.

Um arrepio prenúncio percorreu sua espinha. Yuder instantaneamente correu para frente. Mais cadáveres apareceram em seu caminho. Ele correu além de todos os outros corpos, mas não conseguiu ignorar o corpo de um homem vestido com vestes sacerdotais brancas.

O homem com as vestes sacerdotais estava deitado em uma posição ligeiramente diferente dos outros cadáveres. Yuder notou que o padre devia ter morrido por ter batido a própria cabeça na parede do corredor.

Ele cautelosamente estendeu a mão e puxou o cadáver pelo ombro. O corpo rígido caiu para o lado. O rosto ensanguentado não era diferente dos outros cadáveres que ele vira. Seus olhos estavam bem abertos e sua boca entreaberta, uma expressão que refletia claramente um medo intenso.

Todos os corpos jazem mortos com expressões de puro terror. O padre morrera esmagando a própria cabeça, mas todos os outros tinham o peito perfurado por uma arma, agarrando o cabo ao caírem.

Será que tudo isso poderia ser mesmo coincidência?

Yuder deixou o corpo do padre e se virou para correr novamente. Seu coração começou a bater ainda mais forte do que antes, talvez por causa da crescente sensação de pavor. Logo, a saída que levava à floresta oeste apareceu. Um som ruidoso veio da saída escancarada. Diminuindo o passo e eliminando sua presença, Yuder se escondeu contra a parede e espiou a paisagem além.

"Quem diabos você é? Um subordinado do Duque Peletta?"

A primeira coisa que seus olhos encontraram foram as costas de um homem, usando um chapéu e capa grandes, e inúmeros corpos estendidos diante dele. Os olhos de Yuder se arregalaram quando ele notou entre os caídos, aquele que lutava para permanecer de pé e uivava de dor era ninguém menos que o Sumo Sacerdote Beltrail Shand Apeto.

"Como você ousa fazer tal coisa... Se eu soubesse, se eu soubesse que você era um Desperto, eu teria... eu...tosse...!"

Beltrail, com a testa rachada e metade do rosto encharcado de sangue, ergueu seus olhos vermelhos de sangue para uivar em desespero. Então, ele tossiu de repente, cuspindo sangue. Ele continuou tossindo sangue até que seu rosto ficou vermelho-escuro e, finalmente, caiu para frente, ofegante.

O homem encapuzado que o observava silenciosamente finalmente riu e virou o chapéu para trás para tirá-lo.

"Para alguém que dizia saber mais sobre os Despertos do que qualquer outra pessoa, você parece bastante surpreso. Isso não é nada divertido, Padre."

"…"

Um arrepio percorreu sua espinha no momento em que ouviu aquela voz fria. Yuder instintivamente apertou o punho, depois o relaxou lentamente. Ele tinha uma sensação, vendo os cadáveres a caminho, mas confrontar a realidade era outra coisa.

Era Nahan, o Desperto com habilidade de ilusão que deixara uma forte impressão em Yuder no Leste e desde então desaparecera. Ele estava na propriedade Apeto, passando despreocupadamente por cima dos corpos, rindo.

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Beltrail Shand Apeto, que vivera toda a sua vida como um Sumo Sacerdote reverenciado, tremia de choque ao olhar para o rosto horrível do homem parado sobre ele, meio distorcido e meio intacto, rindo. Ele havia pesquisado os Despertos desde sua primeira aparição neste mundo e sempre achara que os conhecia melhor do que qualquer outra pessoa. Essa situação atual estava além de sua crença.

'Ele era apenas um servo comum há pouco tempo. Ele não mostrou sinais de usar seu poder, e os Despertos mercenários não disseram nada também. Como isso... quando esse homem se infiltrou no meu lado e enfeitiçou a todos...?'

Beltrail lembrou-se da primeira vez que reconhecera o homem, não, o servo como o qual ele estivera disfarçado, muito tempo atrás. Ele sabia que havia um servo se movendo entre a casa de hóspedes e o salão principal. Mas naquela época, aquele servo não era diferente de outros comuns. Ele temia Beltrail e nunca se aproximava dele sem motivo.

Aquele servo entregara a Beltrail uma carta dois dias atrás. Não era incomum que aqueles que desejassem enviar mensagens ao salão principal por meio de Beltrail enviassem cartas à propriedade Apeto, então ele não achou isso estranho. Mas o conteúdo da carta era um pouco peculiar.

O autor da carta se apresentou como um emissário que viera para o festival do exterior. Ele expressara seu interesse pessoal na pesquisa sobre os Despertos que Beltrail vinha publicando e educadamente pedira para se encontrar e conversar, se possível. Para Beltrail, que estava buscando um caminho para continuar sua pesquisa além de Lenore e da família Apeto, essa carta chegara em um momento muito oportuno.