Turning

Volume 1 - Capítulo 76

Turning

Tendo obtido a resposta que queria, Yuder escoltou os três que haviam se fartado até a exaustão para um quarto de hóspedes decente, um contraste gritante com suas acomodações anteriores.

— Eles disseram que tudo o mais tinha queimado completamente, e só aquele quarto, tipo depósito, tinha sobrado. Mas foi uma mentira deslavada. — disse um deles.

— É mesmo! Nem sinal de fumaça, tudo parece estar em perfeito estado! — exclamou outro.

Ouvindo as vozes indignadas de Gakane e Jimmy, Yuder se voltou para a janela. De sua posição privilegiada, ele tinha uma visão geral da maior parte do território de Hartan.

O pequeno feudo, que deveria ser encantador e pacífico, carregava cicatrizes negras e nítidas sob a luz do sol, revelando a crueldade que havia sofrido.

‘Eles não disseram que quase não houve vítimas?’

Nahan de fato havia dito isso, mas ver a vila repleta dos restos de um incêndio o fez duvidar dessa informação.

‘Claro, das pessoas que conheci aqui, a mais suspeita é Zakail Hartan.’

Yuder se virou de costas para a janela e lembrou-se da conversa que acabara de ter com Zakail Hartan. Embora Zakail tivesse concordado relutantemente ao ouvir o nome de Kishiar, ele não hesitou muito em aceitar o pedido de Yuder.

Se houvesse algo para se preocupar, seria que um forasteiro da capital estivesse tão disposto a bisbilhotar os assuntos da vila. Zakail não respondeu tão facilmente a isso. Considerando o comportamento de Zakail, ele parecia muito orgulhoso e não muito bom em esconder suas emoções, o que só aumentou as suspeitas de Yuder.

Será que ele não tinha propositalmente perturbado a compostura de Zakail para dar uma espiada em suas intenções, pedindo a seus companheiros que demonstrassem falta de educação durante a refeição?

Apesar de tudo isso, se Zakail ainda se comportasse assim, só poderia haver uma resposta plausível: Zakail tinha a certeza de que, não importava o que Yuder e sua cavalaria fizessem, eles não descobririam seu segredo.

No entanto, nem tudo no mundo sai conforme o planejado. Yuder, lembrando-se do pombo-correio que já teria chegado à capital, formulou seu próximo plano.


— Haha. É a primeira vez que ouço tanta reclamação desde a morte do Imperador. Parece que não ganhei muita confiança. — disse Kishiar.

— ...A quem você se refere? — perguntou Nathan.

— A quem você acha? — respondeu Kishiar, com um sorriso enigmático.

Kishiar agitou a carta em sua mão com um sorriso lento e elegante. Seu ajudante, Nathan Zuckerman, olhou para a carta com o cenho franzido.

— Meu assistente. — disse Kishiar.

No momento em que Kishiar acordou de sua soneca matutina, ele foi saudado pelo pombo-correio.

O pequeno pássaro que voou de Hartan teve a honra de beber água diretamente do Duque após entregar a carta. O pombo, atualmente empoleirado em uma pequena estátua na mesa e arrumando suas penas, parecia extremamente confortável e contente.

— O que ele escreveu para você dizer essas coisas? — perguntou Nathan.

— Curioso, não é? — respondeu Kishiar.

— Que tal dar uma olhada por si mesmo? Especialmente você, Nathan, vou deixar você ver. — Entregando a carta a seu ajudante com uma voz leve, Kishiar observou Nathan examinar os caracteres marrons que preenchiam a pequena folha de papel, franzindo levemente as sobrancelhas.

— A cor da tinta é incomum. — observou Nathan.

— Não é tinta. — disse Kishiar.

— Desculpe? — questionou Nathan.

— Olhe mais de perto. Não está escrito, foi levemente queimado no papel. Uma habilidade e tanto, não acha? — disse Kishiar.

De fato, era como Kishiar havia dito. Nathan esfregou os caracteres com o dedo, percebendo que eles não borravam, e percebeu que seu senhor estava correto. A técnica era incrível e quase inacreditável.

— Sua taxa de aprimoramento é monstruosa. — disse Nathan.

Nathan Zuckerman havia alcançado o auge da Maestria com a Espada em idade muito jovem. Era uma posição elevada que só aqueles que se gabavam de poder realizar qualquer coisa com uma espada podiam alcançar.

No entanto, mesmo ele achava difícil escrever com precisão uma carta em um papel do tamanho da palma da mão com a ponta de sua espada. O desafio não era apenas de força, mas a capacidade de dividir e controlar delicadamente esse poder.

E Yuder Aile realizou tal feito com facilidade. Seu controle era assustador o suficiente para causar arrepios na espinha de qualquer um que soubesse que ele era um aliado.

Esquivando-se do olhar de seu senhor, que parecia não ter nenhum senso de precaução e apenas sorria, Nathan lançou seus olhos mais uma vez na carta. Embora a escrita fosse pequena, não era ilegível.

Um momento depois, Nathan, que havia estado lendo rapidamente a carta, olhou para cima com uma expressão confusa.

— O Lorde Hartan e o herdeiro já estão mortos, e o membro que precisamos salvar está preso, enfrentando a execução por incendiar uma vila... e a caminho, eles encontraram um grupo de bandidos composto por Despertos... você não deveria enviar mais pessoas? — perguntou Nathan.

— Ele disse que não precisa deles. — respondeu Kishiar, de forma direta.

— Apesar de todos esses problemas, ele está confiante de que pode resolver tudo em três dias, então ele não precisa de pessoas extras. Não posso fazer nada se ele me disser para me concentrar em investigar a Pedra Vermelha aqui e não esquecê-la. — explicou Kishiar.

— ...Ele não escreveu tão grosseiramente, porém. — disse Nathan.

Se alguém tirasse todas as cortesias que poderiam ser encontradas em um livro que ensina os princípios básicos da escrita de cartas e resumisse, essa era aproximadamente a mensagem na segunda metade da carta.

— Mesmo que o membro desaparecido ainda esteja vivo, como eles podem possivelmente resgatar um prisioneiro que está prestes a ser executado? Não deveria ir lá eu mesmo nesse ponto? — questionou Nathan.

— Se ele sentisse que a situação era urgente, ele não teria dito isso. Ele teria pedido para destruir tudo primeiro e então nos pedido para limpar depois. Ou ele teria recuado e entrado em contato conosco de outro lugar. — respondeu Kishiar, tranquilamente, como se pudesse ler os pensamentos do escritor.

— Mas, a julgar pelo fato de que ele escolheu acompanhar o líder de bandidos que conheceu lá e até mesmo enviou o nome, está claro que Yuder Aile acha que essa pessoa é extraordinária. Acho que é um pseudônimo, no entanto... o que você acha? — perguntou Kishiar.

— Se for um pseudônimo, é possível que ele seja do mesmo país que eu. — disse Nathan, com estranha certeza.

— Sim. O nome, afinal, significa 'vingança' na língua do Reino do Sul. Parece que há uma intenção por trás disso. — disse Kishiar.

O império sabia pouco sobre o Reino do Sul, que era separado dele por um deserto. No entanto, Nathan, que era do Sul, e Kishiar, que havia estado com ele por muito tempo, sabiam mais sobre a língua e a cultura do Sul do que os outros.

O Reino do Sul tinha um sistema de língua e cultura completamente diferente dos países vizinhos, incluindo o império. Como resultado, suas convenções de nomenclatura também eram significativamente diferentes.

Um breve sorriso de interesse surgiu no belo rosto de Kishiar antes de desaparecer.

— De qualquer forma, investigue o grupo de bandidos. E descubra mais sobre Zakail Hartan, o filho mais novo do Lorde Hartan, que atualmente assumiu a autoridade total. E… — disse Kishiar, aumentando a pilha de tarefas.

Enquanto Kishiar casualmente adicionava tarefas adicionais, seus olhos vermelhos perderam o sorriso e ficaram calmos pela primeira vez.

— Se não houver mais contato após três dias, Nathan, você pega o selo e procede conforme o planejado. — ordenou Kishiar.

— Sim, senhor. — respondeu Nathan.

— Embora se possa rapidamente limpar o lixo que se acumula na frente, ninguém sabe que tipo de bagunça pode se desdobrar por baixo. — disse Kishiar.

Enquanto Nathan abaixou a cabeça, a expressão de Kishiar se transformou mais uma vez em sua habitual tranquilidade.

— E os magos? Eles não disseram que precisavam de ajuda? — perguntou Kishiar.

— Até agora, não. Eles passaram o dia inteiro escrevendo e observando de longe. — respondeu Nathan.

Kishiar havia pessoalmente movido a Pedra Vermelha para o porão do prédio ontem para facilitar as investigações dos magos.

Era um espaço enorme e aberto, facilitando a manutenção de uma distância do poder da Pedra Vermelha, e também conveniente para armazenar itens necessários. Como ninguém sabia que havia espaço embaixo do prédio, não poderia haver lugar melhor para investigação.

Tendo ouvido o relatório de Nathan, Kishiar assentiu, recostando-se profundamente em sua cadeira.

— Bom. Cautela é uma virtude. E os membros? — perguntou Kishiar.

— Como de costume, eles são dedicados ao seu treinamento. Não há nada em particular para você se preocupar. — respondeu Nathan.

— Entendo. Continue observando. — disse Kishiar.

Kishiar, tendo terminado a conversa, estendeu suavemente a mão.

— Me devolva esse relatório. — pediu Kishiar.

Tendo provavelmente memorizado ao ler, ele deve ter algo mais para examinar. Kishiar começou a olhar o papel recuperado novamente. Para não incomodar seu senhor, Nathan se retirou silenciosamente.

O olhar do ajudante franco, mas leal, se desviou para uma escritura sendo meticulosamente organizada, depois para o céu pela janela.


— Ah, bem, eu realmente não sei. — disse um morador.

— O incêndio foi um evento tão grande, mal consigo me lembrar do que aconteceu naquele dia. — disse outro.

— Eu não sei. Eu estava... eu estava muito preocupado em proteger minha família. — disse um terceiro.

Depois de obter a permissão de Zakail, Yuder se aventurou para fora do castelo para explorar os arredores. Todos os moradores que ele encontrou estavam em guarda, recuando nervosamente ao se aproximar. Sempre que ele conseguia encurralar alguém e perguntar sobre o dia do incêndio, suas respostas eram todas as mesmas: eles não conseguiam se lembrar ou não sabiam.

— É como se tivéssemos nos tornado uma praga para eles, evitando-nos a todo custo. As pessoas são tão desconfiadas. — disse Gakane.

Gakane murmurou um comentário autodepreciativo enquanto olhava ao redor dos arredores desertos. A desconfiança dos moradores era tão profunda que até mesmo seu rosto bonito e sua maneira amável não conseguiram romper.

As pessoas se viravam e corriam como se tivessem visto um monstro, criando uma fila de pessoas fugindo dele. Deveria ter sido uma experiência que Gakane Bolunwald havia encontrado apenas algumas vezes em sua vida.

— Nem sempre foi assim, não foi? — perguntou Yuder.

Yuder perguntou calmamente a Nahan, que os seguia. Nahan ofereceu um sorriso fraco e um encolher de ombros indiferente.

— Claro que não a esse ponto. Parece que o senhor deve ter emitido alguma diretiva. — respondeu Nahan.

— O que devemos fazer? Se as pessoas continuarem se recusando a responder e nos evitando… — disse Yuder.

Yuder voltou seu olhar para Jimmy, que parecia preocupado enquanto examinava os arredores. Talvez porque não tivesse dormido bem e tivesse sido exposto ao frio da manhã enquanto vagava, as bochechas do menino pareciam um pouco mais ruborizadas que o normal.

Percebendo isso, Yuder tocou levemente a testa de Jimmy com o dorso da mão.

— Uh, Yuder? Por que você está fazendo isso? — perguntou Jimmy.

— Você parece ter um pouco de febre. — respondeu Yuder.

— Febre? — perguntou Jimmy.