Capítulo 171
Pai, Eu Não Quero Me Casar
A expressão de Max não era das melhores quando ele se aproximou do Imperador.
— O que aconteceu?
Eu sorri, olhando fixamente para Max.
— Por que está me olhando assim?
— Ah, bom, achei que alguém tivesse dito algo desagradável.
Quando pensei no Palácio Imperial e falei disso, ele sorriu.
— Foi algo bom, mais do que algo ruim. Só que quem disse é que era um problema.
— Como assim?
— Disse para marcarmos a data do nosso casamento.
— O quê?
Surpreso com o comentário inesperado, ele segurou minha mão com força, como se não fosse soltá-la.
— Por quê? Não quer?
Não é que eu não queira. Só não esperava que falassem de casamento assim, do nada.
“Eu só queria um casamento mais tranquilo…”
Mas, para ser sincera, não queria que ele ficasse desapontado, então me virei e disse:
— Não, não é isso. Só achei estranho ele ter dito isso.
Ele então tocou minha mão, sorrindo enquanto a segurava.
— Não se preocupe, eu vou te proteger.
Max inclinou-se e beijou as costas da minha mão. Surpresa com o gesto inesperado, estremeci.
— Ei, Max, espera um pouco.
Afinal, estamos no Palácio Imperial. Mesmo que pareça deserto, alguém pode estar nos observando, como antes.
— Por quê?
Ele perguntou em um tom intrigado, parecendo achar meu receio estranho. Suspirei.
— Juvelian, acho que alguém estava nos observando. Provavelmente minha mãe enviou um cavaleiro para me vigiar.
“Trice me disse para não falar sobre isso, mas me incomoda.”
Sir Victor é um cavaleiro excepcional, muito renomado. Me ocorreu que alguém tão habilidoso estaria de olho em Trice sem levantar suspeitas.
— No quarto…
Os olhos de Max ficaram sombrios quando contei o que havia acontecido.
— Entendo.
Pelo tom frio de sua expressão, pude deduzir alguma coisa.
— Só por precaução, Max, não diga nada a Sir Victor, ok?
Ele estremeceu e balançou a cabeça em concordância.
— Está bem.
Quando chegamos ao carro, Max segurou minha mão para me ajudar a subir. Eu o puxei para cima e entrei, sem soltar sua mão. Ele fez uma expressão curiosa, e eu sorri, sussurrando:
— Hoje você trabalhou bastante, então vou te dar uma recompensa antes de eu ir.
Diante da minha provocação, Max me olhou sério e então abriu um sorriso atraente.
— Assim você me dá ainda mais vontade de trabalhar.
Logo a porta do carro se fechou, e ele entrou apressado, como alguém faminto.
— Hoje, Sua Alteza Imperial a Princesa passou um tempo com a jovem Duquesa Floyen.
Ao ouvir o relatório do cavaleiro designado para Beatrice, a Imperatriz franziu a testa e perguntou:
— Você não sabe sobre o que eles conversaram?
— Não, Sua Alteza Imperial. Além disso, o cavaleiro que guarda o Príncipe Herdeiro é extremamente habilidoso, impossível de espiar.
A Imperatriz cerrou os dentes.
“Maximillian, você é uma pedra no meu caminho!”
O Imperador a enganou com anticoncepcionais, e sua filha, que sempre foi obediente, agora estava fora de controle. Pensando bem, nada disso teria acontecido sem Maximillian.
“Por sua culpa, eu…”
Nesse momento, lembrou-se de uma repreensão que tinha ouvido certa vez.
— Isabelle, você sempre culpa os outros.
Isabelle recordou o que Latisha, a falecida Imperatriz, havia dito e cerrou os dentes.
“Ela é igual à mãe, que sempre me atormentou!”
A Imperatriz, não conseguindo lidar com as lembranças, lançou ao chão uma boneca de porcelana vestida com roupas luxuosas.
Crash!
Ela olhou para os cacos da boneca com os olhos avermelhados e, então, sorriu com os lábios feridos.
“Mas eu fui a vencedora.”
Assim como aquela boneca frágil e destruída, Latisha, que sempre a provocou, terminou como um corpo frio. Ela também bebeu o veneno que Isabelle ofereceu.
“Depois de enviar o assassino para a residência de Maximillian.”
— É minha derrota, vou beber o veneno que me deu. Apenas, por favor, poupe a vida do meu filho.
Antes de o Imperador escolher a Imperatriz, o pai de Isabelle, o Conde Meissen, havia dado um grande apoio à Guarda Imperial, o Cavaleiro do Dragão. Isso permitiu que Isabelle controlasse a guarda do jovem Príncipe, e, por isso, o assassino pôde se infiltrar nos aposentos do Príncipe.
— Substituam todos os Cavaleiros da Guarda do Príncipe!
Latisha, ao descobrir a verdade, tentou agir, mas não era possível eliminar o poder que Isabelle já tinha fincado na Família Imperial. Por fim, admitiu sua derrota diante de Isabelle e escolheu a morte, implorando pela vida de seu filho.
“É irônico pensar nisso. Não acredito que você bebeu veneno para salvar seu filho, que um dia morreria pelas minhas mãos.”
Isabelle riu ao lembrar da mulher ingênua que riu naquele momento.
“Esse seu sangue é um fardo incômodo, Maximillian. Sorte sua que sobreviveu ao campo de batalha.”
“Teve sorte até agora, mas quando a filha do Duque Floyen estiver em perigo, você estará disposto a sacrificar sua vida. Igual à sua mãe tola.”
Isabelle sorriu de lado, seus olhos cheios de veneno.
Hoje, Max mordeu meus lábios como se fossem uma refeição. Perguntei se ele não estava satisfeito, e ele riu alto e respondeu:
— Você ainda não me deixou ir a lugar nenhum além daqui. Então, não tenho escolha.
Por fim, depois de tropeçar um pouco, ele deu um beijo em minha bochecha e encerrou sua “caçada”. Em seguida, mordeu de leve meu lóbulo da orelha e disse:
— Para ser sincero, as palavras do Imperador me emocionaram.
Olhei para Max, surpresa, e ele me encarou, dizendo:
— Juvel, estou ansioso pelo dia em que você me permita tudo.
Envergonhada com o que ele disse, empurrei Max.
— Casamento… então teremos que passar a primeira noite, não é?
Por um instante, suspirei enquanto olhava pela janela a paisagem que passava, lembrando-me do olhar de expectativa de Max. Naquele momento, o incômodo em meus lábios me irritava.
“Ah, meus lábios devem estar inchados. Como vou encarar meu pai estando assim?”
Me sentia embaraçada por parecer tão diferente da pessoa que fui no passado.
“Então ele sabia que eu recuperei minha memória, e simplesmente agiu como se fosse algo natural… Mas por quê?”
Havia ainda outro detalhe que não fazia sentido.
“Sim, agora que penso, isso é mesmo estranho.”
Na história original que li, as pessoas só tinham duas reações ao lidar com “Juvelian”: hostilidade ou desdém.
Entendo que Trice e Max, meus antigos inimigos na história, se tornaram próximos de mim agora. De fato, consegui evitar os eventos trágicos mencionados no livro, mas o caso do meu pai era diferente. Não houve uma razão clara para que nossa relação mudasse.
“Eu nem o cumprimentei primeiro. Na história, era ele quem me ignorava, mesmo quando eu o procurava.”
No começo, ele era frio comigo a ponto de eu me sentir abandonada, como dizia o enredo da história, depois que recuperei a memória da minha vida passada.
“Claro que agora sei que a frieza dele na história original era para me manter segura, mas…”
Entendo a postura do meu pai original, sei o porquê de ele precisar ser cruel comigo, mas não consigo entender o que o fez mudar de ideia tão repentinamente e se aproximar. Recentemente, inclusive, eu havia planejado morrer em segredo.
“Por quê? Se ele tinha esse plano, deveria ter mantido distância, como na história original, mas ele fez tudo às escondidas…”
Então, quando me dei conta de algo, dei uma risada vazia.
“Hoje é o Dia da Fundação.”
Na história original, no Dia da Fundação, eu sou presa, acusada de ter envenenado a taça de Trice naquele mesmo dia.
“Bom, isso não vai acontecer agora…”
Mesmo assim, não consegui deixar de me preocupar. Se a história original seguir o curso, Trice será envenenada nesse dia.
“Como Trice é uma maga na história original, o veneno deve ser forte. Mas quem teria feito isso?”
Minha mente estava a mil.
“Quem ganharia com a morte de Trice?”
Pensei, num primeiro momento, que poderia ser Max, mas agora sei que ele não tem motivos para isso. Então, quem teria feito algo assim? Suspeitos não faltam, como o Imperador e a Imperatriz, mas nada está claro, já que o enredo ainda não aconteceu. No entanto, “eu” conheço bem a história porque li a novela original, que é a base deste mundo.
“Sim, desta vez vou proteger Trice e revelar quem está por trás disso.”
“Espero que nada aconteça, de verdade…”
Regis, que aguardava a filha para seguirem ao palácio, suspirou.
— Agora eu a protegerei.
Mesmo disposta a sacrificar a própria vida, o desejo de viver ressurgiu nela.
— Nunca pensou em outra saída? Talvez eu devesse seguir seus passos…
“Não posso morrer pensando nisso.”
Regis deu um sorriso cansado.
“Mas fazer isso…”
Pouco tempo depois, Regis fechou os olhos com uma expressão preocupada.
— Pai, eu realmente não fiz isso!
Ele sabia que precisaria se preparar mais do que imaginava para evitar que aquele pesadelo se concretizasse.
“O problema é que ainda estou preso às garras do Imperador.”
Regis suspirou e retirou uma adaga que carregava junto ao corpo.
“Preciso entregar isso a Juvelian…”
Era um tesouro inestimável, capaz de superar qualquer ataque. Muitos o cobiçariam, mas ele não tinha coragem de entregar o objeto a Juvelian. Por algum motivo, ao lembrar-se de um certo “pesadelo”, temia que Juvelian tomasse uma decisão extrema. Com o tempo, Regis balançou a cabeça.
“Não, é diferente dos meus sonhos, então vai ficar tudo bem.”
[Ah, você pretende entregá-la à sua filha?]
De repente, uma voz telepática de Paphnil ressoou em sua mente, e Regis franziu a testa, se pondo em alerta.
— Pare de se preocupar.
Diante da resposta fria, Paphnil evocou uma imagem de si mesmo diante de Regis, sorrindo.
[Isso é rude demais. Eu lhe dei a preciosa Espada da Proteção e nem mesmo um obrigado?]
“Na verdade, ela pertence à minha filha.”
Paphnil sorriu de maneira irônica e falou com uma leveza irritante.
[Mas você não precisa ser tão sério sobre os efeitos da espada.]
Regis olhou para a imagem de Paphnil com desconfiança.
— O que você está planejando?
Pouco depois, Paphnil diluiu o brilho de seus olhos em um sorriso malicioso.
[Kirke, o Deus da Magia, criou esta espada para proteger seu sacerdote.]