Capítulo 167
Pai, Eu Não Quero Me Casar
Quando abri os olhos de novo, estava na minha cama.
“Será que eu voltei?”
Olhei ao redor, querendo voltar para o meu mundo original, mas, por um momento, meu corpo pequeno se mexeu sem que eu quisesse.
“Continua sendo o passado…”
Ao perceber isso, comecei a observar meu comportamento de criança. Olhei por todos os cantos do quarto, procurando o sangue que vi naquele dia.
“Nada.”
Com um suspiro aliviado, corri imediatamente para o quarto da minha mãe.
— Mamãe!
No entanto, no quarto amplo, quem estava lá era a senhora Pérez, vestida de preto e prata, chorando no lugar da minha mãe.
— Oh, senhorita… quando foi que você acordou?
Ela estendeu a mão para mim e disse:
— Vamos nos despedir de sua mãe.
Eu nem sabia o que significava “despedir-se”, mas, ao ouvir que podia ver minha mãe, a segui. Quando chegamos ao templo da nossa região, vi várias pessoas conhecidas reunidas, e elas mostraram sinais de desconforto assim que me viram.
— Onde está minha mãe?
Minha pergunta fez o rosto de todos se fechar. Algo parecia estranho, então fui até onde havia muitas caixas com lírios brancos. Quando vi minha mãe cercada pelas flores, fiquei confusa.
— Por que você está dormindo aqui?
Como uma criança, me aproximei dela, e o toque frio me deixou apavorada.
Pensando bem, fazia bastante frio naquele dia.
“Ela vai pegar um resfriado…”
Apressei-me em tirar meu casaco e cobri o corpo da minha mãe. Foi nesse momento que…
— Quem trouxe Juvelian aqui?
Uma voz fria e assustadora me fez congelar. Ao virar a cabeça, vi o rosto do meu pai, enrugado. Sua expressão abatida era muito parecida com a que eu tinha visto no pesadelo sangrento.
— Ahhhh! Não!
Sem me dar conta, comecei a gritar. Papai tentou se aproximar de mim, visivelmente envergonhado.
— Juvel…
Mas a imagem dele se sobrepôs à do pesadelo terrível, onde ele segurava a espada ensanguentada. Fiquei aterrorizada e lutei para me afastar.
— Não chega perto, eu tenho medo!
“Quantos sustos mais eu vou levar?”
Meu pai, com o rosto pálido, virou-se de costas.
— Desculpa…
Perdi a consciência depois de tanto me debater.
Regis sorriu tristemente ao ver o olhar tremido de sua filha.
“Finalmente você está prestes a acordar.”
Logo, sua voz, amarga como sua expressão, saiu.
— Quando você abrir os olhos, vai me rejeitar e me odiar. Pra você, eu sou o monstro que matou sua mãe.
Ele já havia decidido. Assim que sua filha o rejeitasse, ele desistiria de tentar ficar perto dela por mais tempo.
Então, os dedos de Juvelian começaram a se mexer. Com essa pequena mudança, Regis sentiu ao mesmo tempo o medo de que sua filha tivesse descoberto a verdade e a alegria de vê-la acordar. Pouco depois, suas pálpebras tremeram e seus olhos se abriram.
— Ah…
Assim que a viu, Regis esboçou um sorriso triste, enquanto lágrimas brotavam de seus olhos azul-escuros.
“Como eu temia, você agora me odeia.”
— Não… não chega perto!
Do ponto de vista de sua filha, ele devia parecer assustador e terrível. O único favor que Regis podia fazer por ela naquele momento era desaparecer o mais rápido possível.
Foi quando Regis tentava se levantar que Juvelian, com lágrimas nos olhos, segurou sua mão.
— Papai, agora… está tudo bem.
— Do que você está falando?
O rosto do meu pai, sempre tão sério e impassível, me olhava como se nada tivesse acontecido. Mas, se prestasse atenção, dava para notar que ele estava mais pálido do que o normal e seus olhos tremiam. Nossos olhares se encontraram, e eu falei diretamente:
— Não vou mais te entender mal.
— Onde você escondeu a pessoa que mais ama?
Naquele dia, ficou claro que papai estava sendo controlado por alguém.
“E essa pessoa provavelmente é…”
Olhei fixamente para meu pai e perguntei:
— Papai, eu tenho uma pergunta.
Em vez de responder, ele virou o rosto. Segurei a mão dele com força, esperando que ele recusasse a pergunta.
— Como o Imperador conseguiu te manipular?
Como eu esperava, ele riu, como se fosse algo absurdo.
— O quê? Que bobagem é essa…?
— Eu sei de tudo, pai. Você também foi manipulado durante a competição de caça.
Com minhas palavras, papai me olhou com os olhos trêmulos e baixou a cabeça, sem forças.
— Como você descobriu?
Segurei a mão dele mais firme e respondi:
— Os seus olhos… eles estavam diferentes dos olhos do meu pai. Então eu entendi.
— É verdade…
O rosto do meu pai ficou sério, como se o segredo que ele guardava há tanto tempo tivesse sido revelado. Continuei olhando para ele.
— Mas o importante não é como eu descobri. O que importa é como vamos superar isso.
— O quê?
Eu disse, envolvendo as mãos dele com as minhas:
— Não se preocupe sozinho. Vamos resolver isso juntos, pai.
Os olhos do meu pai se arregalaram de surpresa, e ele baixou a cabeça lentamente.
— Você não me odeia?
Ao ouvir isso, lembrei da minha vida como “Juvelian”. Quando o visitava, eu esperava que ele não viesse ao meu baile de debutante, e a indiferença dele me machucava. Eu nunca tentei curar essa ferida porque tinha medo de perdê-lo.
Mas agora, decidi mostrar meus verdadeiros sentimentos, em vez de evitá-los.
— Sim, eu te odeio.
Meu pai me olhou fixamente com seus olhos azuis, como se estivesse chocado com a minha resposta, e depois abaixou o olhar de novo.
— Entendi…
A mão que eu segurava estava trêmula, mas não me importei.
“Agora eu entendo…”
— Minha princesinha, você gostava tanto assim de um docinho?
Diferente de quando ele me rejeitava, eu era amada por ele como uma criança em uma lembrança perdida. Por fora, parecíamos muito felizes, mas a realidade era bem diferente. Tínhamos tanto medo de nos machucar que não nos tocávamos. E a relação que deixamos estagnada se tornou como uma fome, gerando desconfiança entre nós.
“E agora é hora de abrir as feridas e tirar a infecção.”
Olhei para papai e disse:
— Eu quero entender agora. Por que papai foi tão duro comigo?
Meu pai suspirou diante das minhas palavras e assentiu lentamente.
— Acho que vai ser uma história longa.
Seus olhos azuis ainda estavam cheios de angústia. Segurei sua mão com mais firmeza para encorajá-lo e respondi:
— Não tem problema. Eu já estava esperando por isso.
Erramos por tanto tempo que seria difícil que essa conversa não fosse longa.
Aos 15 anos, Regis foi o primeiro a se tornar cavaleiro em tempo integral. Era natural que ele fosse promovido rapidamente, sendo um gênio sem precedentes capaz de controlar o maná.
— Você é o herdeiro do Duque de Floyen?
Diante da pergunta do jovem Imperador, Regis assentiu, sentindo seu corpo tremer de nervosismo.
O Imperador sorriu gentilmente e deu um tapinha no ombro de Regis.
— Relaxe. Pensei em chamá-lo para ser meu cavaleiro pessoal.
Essas palavras lembraram Regis do conselho de seu pai.
“Ele me disse para ficar longe do Imperador.”
Embora a família Floyen fosse uma espada de prestígio, existia para servir como um escudo, protegendo a Família Imperial geração após geração. Por isso, Regis tentou recusar, usando sua falta de experiência como desculpa.
— Ainda não sou bom o suficiente para servir Vossa Majestade.
Embora fosse jovem, o Imperador, que havia sobrevivido à disputa com seus irmãos, não era uma pessoa fácil de lidar.
— Digo isso porque me sentiria mais tranquilo tendo alguém como você ao meu lado. Há muitas pessoas que não gostam de mim.
Como disse o Imperador, ele estava isolado e sem aliados significativos. O jovem Regis, ainda ingênuo nas interações sociais, acabou simpatizando com aquelas palavras.
— Está bem.
Assim, Regis se tornou o guarda de honra do Imperador, que passou a confiar nele, cultivando sua lealdade. Contudo, tanto sua família quanto a Imperatriz o aconselharam a ser cauteloso.
— Sir Floyen, se possível, evite ficar sozinho com Sua Majestade Imperial.
Regis, porém, ignorou o aviso, achando que a Imperatriz desconfiava de sua casa. Então, um dia, o Imperador o chamou para beberem juntos.
— Vossa Majestade Imperial, ainda não sou maior de idade.
— Hahaha! A lei imperial é rigorosa, mas não se aplica a mim, o Imperador. Vamos, não hesite em brindar.
Com a insistência do Imperador, Regis aceitou o convite. No entanto, a bebida era forte, e sua mente ficou cada vez mais confusa.
“Estou encrencado se cometer algum erro.”
Ele tentava se manter consciente quando o Imperador estendeu a mão.
— Regis.
O anel no dedo do Imperador emitia uma luz estranha, mas Regis achou que era apenas efeito da bebida.
— Acho que você é meu amigo.
— É uma honra — respondeu Regis, apertando a mão do Imperador.
Então, o Imperador fez uma pergunta cautelosa.
— Se não se importar, você assinaria um contrato comigo?
— Contrato…? Que tipo de contrato?
— Nada demais, apenas algo para me ajudar de vez em quando.
Como o Imperador nunca havia feito pedidos irracionais, Regis aceitou de bom grado.
— Tudo bem.
O Imperador ergueu o anel e disse:
— Muito bem, o contrato está feito. Agora você será meu “leal” guarda.
— Glo… ria… — murmurou Regis, já meio inconsciente, batendo a cabeça na mesa.
“Não acredito que estou fazendo esse papelão na frente de Sua Majestade…”
— Só soube depois — disse meu pai com voz cheia de arrependimento. — Aquele anel tinha magia que manipulava as pessoas, e a condição para ativá-la era o meu consentimento.
O rosto de meu pai, tomado pela culpa, ficou sombrio.
— Depois disso, tive que cometer um assassinato sob as ordens do Imperador. Fui forçado a me tornar um vilão que precisava desaparecer do mundo.
Franzi o cenho ao ouvir a palavra “vilão”.
— O verdadeiro vilão é o Imperador, que enganou e manipulou meu pai por pura ganância. Você sempre foi um homem bom, que se sacrificava por muitos.
Meu pai arregalou os olhos, surpreso, e então abaixou a cabeça lentamente. Logo, sua voz saiu trêmula.
— Todos dizem que sou um herói de guerra, mas, na verdade, não foi por escolha minha.
— Não me diga que o Imperador…
Olhei para meu pai, incrédula, com os olhos trêmulos. Um sorriso amargo se formou em seu belo rosto.
— O Imperador me usou como bode expiatório para escapar. Não imaginava que eu sobreviveria.
Essa revelação fez minha raiva pelo Imperador crescer ainda mais.
“Eu nunca vou perdoá-lo.”
Meu pai continuou, com uma expressão de dor.
— Minha família querida também foi ferida por minha culpa, por eu ter obedecido às ordens do Imperador. Meu pai, que correu para apoiar o filho rejeitado pelo Império, foi emboscado pelo exército tegeriano e ficou com sequelas do ataque. Minha mãe, que cuidava de mim, ficou tão abalada que partiu pouco depois dele. E sua mãe…
Essa era uma ferida que nunca se curou completamente. Abri a boca em nome de meu pai, que mal conseguia falar.
— Mamãe foi atacada pelos assassinos enviados pelo Imperador, não foi?
Meu pai me olhou, chocado, com as palavras tremendo em meus lábios.
— Como você sabe?
Uma mãe sangrando, dois corpos no chão e meu pai segurando uma espada ensanguentada. No passado, essa cena parecia uma confusão, mas, ao pensar melhor, havia muitas coisas estranhas.
“Naquele dia, minha mãe segurava uma espada torta. De onde veio a outra espada?”
Talvez as respostas estivessem nas mãos daqueles que vestiam as roupas da cidade.
“Sim, eu não ouvi direito, mas a conversa deles parecia estranha. A atmosfera ao meu redor era estranhamente tensa.”
Quando eu era criança, meu pai me amava muito, e os criados da nossa família sempre foram gentis comigo. Mas, naquela situação, ninguém reagiu com tanta frieza enquanto eu chorava.
“Na época, achei que era um assassino ou um espião do Imperador, mas nunca imaginei que as coisas fossem assim.”
E a última pista estavam nos olhos de meu pai. Quando ele olhou para minha mãe, seus olhos estavam cheios de tristeza. Mordi meus lábios e, então, falei, olhando para ele.
— Agora eu sou grande o suficiente para entender, mesmo que você esteja segurando uma espada ensanguentada, pai.
“Quanto tempo você sofreu?”
Ver meu pai, incapaz de derramar lágrimas, com olhos tão secos, partiu meu coração.
“Sinto muito por você. Você sofreu a vida toda pelas ações terríveis que os outros o forçaram a fazer.”
Quando não consegui segurar as lágrimas, meu pai as enxugou com sua manga.
— Desculpe. É tudo culpa minha…
Sem me controlar, abracei meu pai enquanto ele se culpava, distorcendo a situação. Ele se encolheu e falou novamente.
— Juvelian, você não quer que eu me afaste de você?
Balancei a cabeça.
— Não tem problema.
“Agora eu entendo sem você me dizer. Suas ações vêm do medo de me perder. Então…”
Coloquei minhas mãos nas bochechas de meu pai e deixei as lágrimas caírem.
— Eu vou te proteger.
Logo, uma lágrima escorreu de seus olhos azuis, tão secos até então.
Max, que ouvia tudo do outro lado da porta, apertou o punho com força.
— Às vezes, as pessoas se tornam mais fortes para proteger suas fraquezas.
Ele havia ouvido dizer que seu mestre se tornou um ser transcendental após se casar.
Agora, Max finalmente entendia por que seu mestre dissera isso.
“Mestre, você tentou se tornar mais forte para proteger sua esposa e sua filha. E queria que eu me tornasse um transcendental também…”
Maximillian era a espada que Regis havia forjado. Uma espada para impedi-lo, caso ele fosse manipulado pelo Imperador e atacasse sua filha. Max apertou o punho com ainda mais força, ouvindo o som fraco do outro lado da porta.
“Isso nunca vai acontecer. E eu com certeza matarei o Imperador que a fez sofrer.”