Pai, Eu Não Quero Me Casar

Capítulo 166

Pai, Eu Não Quero Me Casar

Quando meu pai ficava alguns dias sem voltar para casa, minha mãe se isolava no quarto e não queria a minha companhia. Quem cuidava de mim eram os servos da família, meus tios maternos.

— Ah, dizer que a Amelia ainda sofre com um delírio tão ridículo… Ela está tomando a medicação?

A senhora Pérez respondeu com uma expressão de desânimo.

— Sim.

— Não se esqueça, certifique-se de dar o remédio à noite. Vai ser um grande problema se ela tiver uma recaída.

Foi aí que notei a seriedade no rosto dela, diferente da minha tia, que costumava ser sempre sorridente e amigável. Quando nossos olhares se cruzaram, ela fez um sinal para a senhora Pérez se afastar e, com um sorriso alegre, disse:

— Minha querida, tem que ir dormir cedo, para crescer mais. Se dormir tarde, vai ficar baixinha.

Eu fiz um bico ao ouvir minha tia falar isso.

— Não mente, tia. O Ger dorme cedo, mas nem é tão alto!

De repente, eu comecei a provocar meu primo, e vi Geraldine se encher de raiva.

— Ei, minha altura é mediana em comparação com os meus amigos. E quando eu crescer, vou ser maior!

— Mas você é menor que o Todd.

Gerald ficou vermelho quando mencionei Todd, que era apenas um aprendiz na época.

— Você… você! Nunca vai se casar se continuar falando desse jeito!

Eu respondi mostrando a língua.

— Tudo bem, não vou me casar e vou viver com meu pai! E o Ger não vai casar porque é baixinho e fraco.

Foi então que Gerald chorou e correu para a minha tia.

— Mãe, a Juvelian disse que não vai se casar!

Minha tia riu e respondeu:

— Pff, hahahaha! Já te falei da última vez que primos não podem se casar por causa da Lei Imperial! Acho que você foi rejeitado, hein?

Gerald, que se parecia tanto com a mãe, logo ficou emburrado, chateado com a situação.

— Mãe, eu te odeio! Buááá!

Ele começou a chorar e eu o olhei com pena por um tempo, até que me ocorreu algo e eu suspirei.

“Meu Deus, eu sou o primeiro amor do Gerald.”

Eu estava prestes a tentar esquecer isso, achando que seria uma memória embaraçosa para ambos.

— Vou botar nosso bebê chorão para dormir. Leve a Juvelian para o quarto dela — disse minha tia.

Seguindo suas ordens, a empregada me pegou pela mão e disse:

— Venha comigo, senhorita.

Quando cheguei ao meu quarto, ela me ajudou a colocar o pijama.

— O papai não vai voltar hoje de novo?

A empregada sorriu e respondeu:

— Ele disse que viria hoje ou amanhã, então deve estar aqui em breve.

— Que bom.

Ela colocou meu gorro de dormir e disse:

— Não se preocupe, tenha bons sonhos, senhorita.

— Sim, boa noite, Becky.

Me deitei e tentei dormir, mas, por algum motivo, não conseguia.

“Está muito escuro.”

De repente, ouvi uma voz suave.

— Esconda-se.

Era a voz da minha mãe. Rapidamente me escondi no armário. Logo depois, ouvi passos e, espiando pela fresta da porta, vi quem entrou.

— É o papai.

Instintivamente, abri a porta do armário e quase saí correndo.

“Não, prometi ficar quieta até minha mãe dizer que me encontrou.”

Pouco tempo depois, meu pai se aproximou da cama. A pequena eu olhava para o rosto dele, tentando segurar o riso. Mas eu não conseguia rir.

“Aquela expressão… é a mesma daquele dia.”

Durante a caçada, meu pai olhou para a cama onde eu estava dormindo com aqueles olhos estranhamente distantes.

“Será por causa do Imperador…?”

Enquanto eu pensava nisso, uma mulher com a voz trêmula e o cabelo bagunçado gritou, apontando uma espada para ele.

— Quem é você?

Apesar da voz tremida, seus olhos estavam claros. Eu engoli em seco, observando os dois. Meu pai, como sempre, parecia distante, quase robótico, e aquilo me confundia.

“O que ele vai fazer agora?”

Enquanto eu assistia à cena, meu pai finalmente falou.

— Onde você está?

A voz dele parecia de um robô, a ponto de me causar arrepios. Minha mãe, em vez de responder, apenas pressionou mais a lâmina contra o pescoço dele.

— Saia do quarto da minha filha agora.

Ele olhou para minha mãe com uma expressão perdida, sem demonstrar qualquer emoção.

— Onde você escondeu a minha “pessoa mais querida”?

Diante dele, minha mãe gritou, desesperada.

— Regis! Por favor, volte pra mim! Você me ouve?

Havia um tom de desespero em sua voz. Foi então que a mão do meu pai brilhou em um tom azulado.

(Crack!)

A lâmina da espada foi destruída pela mão dele, sem deixar nenhum arranhão. Quando minha mãe arregalou os olhos, ele puxou a espada para si e a segurou.

— Me solte!

Ela tentou se soltar, mas meu pai apenas a encarava com aqueles olhos frios, sem emoção.

— Perguntei onde ela está.

A cena era mais assustadora que qualquer briga entre eles.

“Alguém, por favor, venha detê-los!”

Mas nenhum dos criados apareceu, talvez porque já estavam acostumados com as brigas dos meus pais.

“Não pode ser assim.”

Eu, ainda pequena, queria que meus pais se dessem bem. Não consegui resistir e saí correndo do armário.

— Papai, pare. Por favor?

Eu pensei que, se o parasse, ele voltaria ao normal. Mas meu pai apenas me olhou com o rosto inexpressivo. E então, o canto de sua boca se levantou levemente.

— Achei.

Eu já havia visto meu pai muitas vezes, mas aquele rosto me deu medo. Parecia que ele usava uma máscara. Nesse momento, minha mãe, pálida, gritou desesperada.

— Juvelian! Não! Corre!

Eu nem percebi o que estava acontecendo. Meu pai me agarrou pela gola da camisa e me levantou como se não pesasse nada.

— Papai, está doendo!

Eu chorava e tentava me soltar, mas ele apenas murmurou, me encarando com aqueles olhos perturbadores.

— De acordo com a ordem, um ser precioso…

Eu fiquei apavorada com a cena e, com lágrimas nos olhos, chamei por ele:

— Papai!

Naquele momento, meu pai me encarou, com a testa franzida.

— Juvel… lian?

Foi quando percebi a confusão em seus olhos.

(Clang!)

O vaso que atingiu a cabeça dele se espatifou com um barulho estrondoso. Ele começou a sangrar, mas sua única reação foi afrouxar um pouco a mão que segurava minha roupa. Aproveitando o momento, minha mãe correu, me puxou e gritou:

— Fuja!

Naquela hora, eu, ainda muito jovem, fui dominada por um medo inexplicável e corri sem pensar duas vezes. Apesar do tumulto, nenhum dos empregados apareceu. Isso já era meio que esperado, pois as brigas dos duques eram comuns na casa. O medo crescia, e eu me via sozinha sem ninguém para ajudar.

“Como assim, ninguém está aqui?”

Então, avistei dois empregados conversando como se nada estivesse acontecendo.

— O que vamos fazer?

— Bem, é só esperar. Logo nos livraremos do Duque, de qualquer jeito.

Assim que eles me viram, pararam de falar. O olhar deles era frio, mas, na minha cabeça de criança, só conseguia pensar na briga entre meu pai e minha mãe.

— Meu pai está brigando com a minha mãe. Vão, ajudem eles!

Eles acenaram com a cabeça e sorriram, como se fosse uma piada o que eu estava dizendo, chorando.

— Fique aqui quietinha, tá bom?

As lágrimas de Juvelian desceram pelo rosto, e, observando-a, Max suspirou e limpou seu rosto molhado.

— O que você está sonhando?

Ele tentou falar com ela, mas não houve resposta. Enquanto Max acariciava sua bochecha, soltou um sorriso triste.

— Você ainda não se lembrou?

No dia em que recebeu a notícia e correu para lá, o mestre dele disse que Juvelian estava presa em um longo sonho, tentando recuperar suas memórias, e, desde então, Max ficou ali, esperando pacientemente que ela acordasse. No entanto, já fazia cinco dias que Juvelian estava desacordada. Agora, sem nenhum sinal de despertar, um medo incômodo começou a se instalar dentro dele.

“Mesmo sendo seu noivo, não há nada que eu possa fazer para ajudar.”

E se ela nunca mais abrir os olhos? Max se pegou encarando-a, incapaz de colocar em palavras o que sentia.

— Eu vou ficar de olho nela, então tente descansar um pouco.

Com a voz calma de seu mestre, Max se levantou, sem desviar o olhar dela.

— Eu volto logo, então, por favor, cuide dela.

Regis sorriu ao ver que seu aluno entendeu o recado e deixou o quarto.

“Eu achava que ele não se preocupava com mais ninguém além de si mesmo…”

Logo, Regis olhou para o rosto pálido da filha e sorriu levemente.

“Você mudou ele.”

Com um gesto suave, ele afastou o cabelo do rosto de Juvelian.

— Papai… não… mamãe… por quê?

Ao ouvir a voz fraca de sua filha, Regis suspirou, cansado. Com a mão trêmula, ele lentamente abaixou o braço, com uma sensação de desespero.

“Eu queria que você esquecesse isso para sempre, mas, no final, você se lembrou.”

Ela sempre tinha esperança de que as coisas se resolvessem.

“Vocês dois não estão mais brigando, né?”

Por mais que ela tivesse medo da mãe às vezes, ainda era sua mãe. Ela desejava que, de algum jeito, seus pais se reconciliassem.

“Se eu só ficar de olho neles em segredo, talvez fique tudo bem.”

Mas quando ela voltou para o quarto, o que viu foi um cenário assustador.

— Juvel… lian…

Dois corpos estavam ali: sua mãe, caída no chão, sangrando, e seu pai, em pé, segurando uma espada ensanguentada. A visão me apavorou, e, naquele momento, minha mãe estendeu a mão para mim, chamando:

— Querida…

Aquele estado dela, e tudo ao redor, me apavoraram tanto que comecei a chorar. Ela me encarou e disse:

— Esqueça.

Logo em seguida, ela fechou os olhos, derrotada.

— Mamãe, mamãe!

Eu a chamei, mas não houve resposta. Nesse momento, vi meu pai, coberto de sangue, lamentando e chorando. O grito dele, como o de uma fera, fez com que eu me encolhesse ainda mais. Aquilo era insuportável, e meu corpo começou a fraquejar.

“Isso só pode ser um pesadelo.”

Foi quando, mesmo de olhos fechados, vi o rosto do meu pai claramente.

— Juvel!

E então, tudo se apagou. A visão daquela “eu” também desapareceu.

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