Pai, Eu Não Quero Me Casar

Capítulo 165

Pai, Eu Não Quero Me Casar

Depois que meu pai foi chamado ao Palácio Imperial, a minha versão mais jovem estava sentada no quarto, sem ânimo.

“Quando papai vai voltar?”

Assim como agora, o Imperador parecia estar segurando meu pai por lá. Desenhei um monstro carrancudo e feio no papel, como se já o conhecesse desde criança. O monstro tinha uma coroa na cabeça. Estava sentada no chão, rabiscando, quando…

— O que você está fazendo aqui?

A voz do meu pai soava tão suave que me arrastei até a porta. Foi então que ouvi.

— Regis, hoje você precisa estar certo.

Diferente do habitual, pude ouvir um tom de alívio na voz da minha mãe. Meu pai suspirou e respondeu com calma.

— Amelia, volta pro seu quarto e tenta dormir.

Ela, surpresa, perguntou:

— O quê?

— Já te disse, até seus sintomas melhorarem…

Nesse momento, a voz da minha mãe caiu bruscamente.

— Eu não estou louca! Por que você não acredita em mim?

Então a voz do meu pai saiu num tom calmo e reconfortante.

— Amelia, não é isso que eu quis dizer. Você sabe…

Mas minha mãe, tomada pela febre, gritou.

— Não, eu não sei. E você não lembra do que aconteceu antes? Você disse que eu estou louca! É culpa sua!

Logo meu pai respondeu, com a voz desesperada.

— Me desculpa, mesmo que você me odeie, eu entendo…

— Entende o quê? Você foi indiferente comigo. Sabe o que eu senti quando você não veio ver nosso bebê recém-nascido?

— Eu te disse que havia uma situação.

— Então, qual era a situação?

Meu pai abriu a boca com cautela.

— Não posso falar sobre isso. Mas eu te prometo, minha esposa é você, e Juvelian será minha sucessora…

Foi quando ouvi um estrondo. Assustada, olhei para a porta e me encolhi. As palmas da minha mãe estavam vermelhas, e as bochechas do meu pai, ardendo.

— Por que você não pode me contar? Eu sou ou não sua esposa? Você diz que minha filha é a sucessora, mas quem sabe? Você pode passar tudo para o filho de outra mulher!

— Amelia, juro que nunca…

— Não se aproxime da minha filha! É você quem é perigoso para ela agora, Regis!

Com isso, meu pai suspirou e respondeu.

— Parece que nós dois estamos exaltados demais, vamos conversar em outro momento. Vamos descansar por hoje.

— Não, não vou sair até você ir embora. Se for sair, vai com ela.

Ao ouvir a voz da minha mãe, me escondi no armário e me agachei. Mesmo sendo tão nova, pensei:

“Quando mamãe e papai vão se reconciliar? Eu queria que a gente se desse bem.”

E eu, que já sabia a resposta, me senti amargurada.


Quantos dias se passaram desde a briga de mamãe e papai? Minha mãe veio até mim, sorrateiramente, e disse:

— Vamos brincar de esconde-esconde?

Eu fiquei olhando para ela, sem entender o motivo.

— Por que a gente vai brincar de esconde-esconde?

Pensando no passado, consegui perceber algumas coisas que antes eu não sabia. A mais surpreendente era que, quando minha mãe estava deprimida, ela costumava me bater e me ignorar quando eu era mais nova. Talvez seja por isso que eu ainda me sentia incomodada por isso até hoje.

Mas o estranho era que, ultimamente, ela parecia obcecada por mim, tentando ficar ao meu lado à noite.

— Por quê?

A pequena perguntou inocentemente, e minha mãe respondeu, tranquila.

— Porque agora eu quero brincar. Então, se eu mandar você se esconder, você tem que se esconder, ok?

A voz dela, dizendo que queria brincar comigo, soava seca. Mesmo assim, eu imaginava que ela me amava. O interesse que ela demonstrava parecia tão bom. Abracei minha mãe e disse, acenando com a cabeça.

— Sim! Vou obedecer direitinho, mamãe.

Ela me olhou com olhos trêmulos e mordeu os lábios. Depois murmurou, de forma direta.

— Não saia até eu dizer que te encontrei. Combinado?

Sua voz carregava um leve tom de choro. Eu a observei atentamente, com meu olhar jovem. Ao contrário do que eu imaginava, seus olhos eram claros e decididos.

“Por que você está tão obcecada comigo?”

De repente, senti vontade de entendê-la.

— Você está aqui?

De volta ao Palácio, Beatrice suspirou ao ver quem a aguardava em seu quarto.

— Mãe, o que faz no meu quarto?

— Não é estranho uma mãe visitar o quarto da filha.

Beatrice riu, amargamente, diante da resposta da Imperatriz.

— Minha mãe sabe muito bem que não viria aqui sem um motivo.

Mas antes que as palavras terminassem de sair, Beatrice abriu a boca novamente.

— Mas hoje estou um pouco cansada, mãe.

— Sim, por isso vamos falar rapidamente.

Como esperado, Beatrice assentiu lentamente ao ouvir a palavra “rapidamente”.

— Sim, pode falar.

— Estou falando sobre o Príncipe Herdeiro. Quanto tempo você achou que ele ficaria lá?

Ao ouvir o nome de Maximillian vindo da boca da mãe, o rosto de Beatrice endureceu.

— Por que pergunta isso?

— Você não tem estado próxima de Maximillian ultimamente? Estou preocupada…

Beatrice respondeu firme, cortando as palavras da mãe como se já não valesse a pena escutá-las.

— Não, minha mãe fez o que achou melhor, mas não é dele que deve se preocupar. Por favor, me diga o que realmente pensa.

A Imperatriz franziu a testa, irritada.

— Você o conhece tão bem a ponto de confiar nele?

— Sim, meu irmão não pretende me usar.

As palavras da Princesa soaram sarcásticas, fazendo a Imperatriz semicerrar os olhos.

— Você vai se arrepender. Mas se eu estiver errada agora, por favor, me perdoe.

Beatrice respondeu sem hesitar.

— Já estou me arrependendo. Por ter errado e machucado meu irmão, confiando na minha mãe. E eu não quero mais tentar entender minha mãe.

A Imperatriz saiu do quarto, encarando a filha sem resposta.

— Que vergonha… como você cresceu assim? Como pode dizer essas coisas?

Ao voltar para seu quarto, a Imperatriz tocou o próprio ventre, pronta para arremessar algo. Mas, em pouco tempo, deixou o objeto de lado, em silêncio, e apertou os dentes.

“Sim, eles não podem me descartar assim.”

O Imperador, que a enganou por tanto tempo, sua filha, que agora se tornara espinhosa, e Maximillian, o responsável por tudo isso. Ela ainda não havia tomado sua vingança contra esses três. E, dentre eles, Maximillian era quem mais odiava.

“Bem, primeiro, eu preciso jogá-la contra Maximillian.”

Era uma ideia absurda que ela jamais colocaria em prática, mas, confinada num canto, a Imperatriz não conseguia pensar de forma racional.

— Envie um assassino para o Duque de Floyen. E espalhe a história de que o Príncipe Herdeiro matou sua noiva em coma porque estava com raiva. Entendeu?

— Sim!

Enquanto os cavaleiros se afastavam, a Imperatriz acariciou o ventre e murmurou…

— Não se preocupe, querido. Esta mãe vai fazer de você o Imperador.

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