Pai, Eu Não Quero Me Casar

Capítulo 130

Pai, Eu Não Quero Me Casar

De volta ao meu assento, perguntei olhando para Trice.

— Trice, você trouxe as flores?

Ela tirou as flores murchas das mangas do casaco e me mostrou.

“Finalmente, duas flores, isso deve ser o suficiente.”

Eu as olhava satisfeito.

— A flor estava estragada, não pude evitar. Se não fosse assim, não teria como passar com elas.

Ela devia ter sido tão bonita que Trice fez de tudo para que eu gostasse. Balancei a cabeça, sorrindo da desculpa.

— Não, muito obrigado por ter feito isso por mim, Trice.

— Se você quiser algo, me avise. Eu consigo pra você.

Será que ela sabe que estou saindo com o irmão dela? Sua atitude realmente parece me tratar como parte da família.

— Obrigado. Avise-me também se precisar de ajuda.

Ela respondeu corando e acenando humildemente com a cabeça.

— Ahã.

Enquanto eu olhava para o palco imperial, vi Mikhail, que me chamou atenção com seu olhar fixo.

“Não é possível, ele estava nos observando?”

Por um momento, um pensamento sombrio me passou pela cabeça, e segurei as flores na mão como se fossem um amuleto.

“Está tudo bem. Com esta flor, eu conseguirei parar a fera.”

Disse, segurando a mão de Trice.

— Vamos voltar.

Mikhail, que observava Juvelian e a Princesa, franziu levemente o cenho.

“Isto é irritante.”

Apesar de ser algo tentador, ver a Princesa andando por aí com Juvelian o deixava incomodado.

“Sorrindo desse jeito… para alguém que não sou eu…”

O Imperador abriu a boca enquanto Mikhail cerrava os punhos.

— A Princesa está junto da filha de Regis, deve ser desconfortável para você.

Mikhail fixou o olhar no Imperador.

“Ele está tentando me sondar?”

Aos olhos de muitos, Mikhail parecia uma vítima da obsessão unilateral da Princesa Floyen, mas, se o Imperador fosse esperto, já teria percebido algo estranho e tentado explorar a situação. Como de costume, Mikhail vestiu sua máscara de indiferença e respondeu calmamente.

— É uma relação que já acabou. Não há nada de desconfortável. Além disso, com a presença de Sua Majestade, não há o que temer.

O Imperador riu alto.

— Sim! Por isso eu gosto de você.

Depois de um tempo, Mikhail lembrou-se de que o Imperador anterior não havia discutido certos detalhes.

— Por falar nisso, nossa conversa foi interrompida com a chegada de Sua Alteza Imperial.

O Imperador parou de rir.

— Sim, você me perguntou antes. Além da vitória, como o Príncipe Herdeiro expressará seus sentimentos pela filha de Regis?

— Exatamente.

Os olhos do Imperador brilharam enquanto ele começava a falar.

— Muito simples. Enquanto os participantes da caça perseguem as feras, você terá que lidar com as que invadirem o território especial do Duque de Floyen.

— Está falando do Lobo Terrível que você mencionou antes?

— Sim.

— Mas como a fera poderia atacar o Duque de Floyen?

O Imperador sorriu com malícia ao ouvir a pergunta de Mikhail.

— É simples. Coloquei um revestimento na cadeira com a pele de um coelho das neves, que a fera adora. Regis, mesmo sendo sensível, vai achar que é só uma cadeira confortável.

Enquanto admirava a resposta astuta do Imperador, Mikhail sentiu raiva.

“Esse desgraçado vai continuar colocando minha Juvelian em perigo?”

O Imperador riu.

— Pelo seu olhar atrevido, vejo que você gosta muito da minha filha.

Só então Mikhail percebeu que não estava controlando bem sua expressão.

“Conquistei a confiança do Imperador, não posso arruinar isso agora!”

Mikhail se ajoelhou e abaixou a cabeça.

— Fui desrespeitoso com Vossa Majestade, mas estava preocupado com a natureza imprevisível da fera…

“Havia algo errado?”

O Imperador, que parecia prestes a se irritar, começou a rir depois de um breve silêncio.

— Eu duvidava da sinceridade dos seus sentimentos pela minha filha, já que você nunca demonstrava nada, mas agora me sinto aliviado vendo que está revelando suas emoções.

Naquele momento, Mikhail olhou diretamente para o Imperador. Ele sorriu e se aproximou da grade.

— Seus sentimentos serão recompensados hoje.

Mikhail sorriu enquanto o Imperador o encarava.

“Eu sou muito sortudo. Fui o primeiro.”

Então o Imperador entregou a Mikhail algo que estava segurando. Era uma flor de prata que enfeitava a grade do palco.

— O que é isso?

O Imperador sorriu diante do olhar surpreso de Mikhail.

— Pegue.

Mikhail pegou a flor, sem poder recusar. Logo, o Imperador falou novamente.

— É assim que se controla a fera. Mesmo com ela, a fera não desiste.

“Um bônus inesperado.”

Mikhail inclinou a cabeça em agradecimento.

— Certamente retribuirei a gentileza de Sua Majestade.

O Imperador, satisfeito com as palavras de Mikhail, respondeu animado.

— Isso mesmo!

Mikhail ergueu lentamente a cabeça. Havia uma pergunta que ainda não tinha sido respondida.

— A propósito, como o Príncipe Herdeiro…?

O Imperador assentiu e explicou seus planos.

— Ah, a fera. Pretendo resolver isso quando o Príncipe Herdeiro voltar.

— Mas então, se até os outros unirem forças…

— Mesmo que Maximillian seja um espadachim de primeira, não seria impossível derrotar a fera sozinho?

No Império, havia poucos espadachins capazes de usar mana. Entre eles, estavam o Marquês de Hessen, o Conde de Pyrex e Maximillian. Alguns não estavam presentes naquele evento. O Imperador riu.

— Deixarei que o Príncipe Herdeiro cerque a fera, assim ele poderá capturá-la logo. Pense bem! Não é desesperador saber que a mulher que você ama está em perigo?

Por um momento, convencido pelas palavras do Imperador, Mikhail refletiu sobre uma variável que poderia mudar tudo.

— Mas se for o Duque de Floyen, ele pode derrotar a fera sozinho.

O Imperador sorriu enquanto mexia no anel da mão esquerda.

— Se for o Duque de Floyen, não se preocupe. Vou encarregá-lo de uma missão especial. Você só precisa derrotar a fera.

Mikhail, confuso com a tal “missão especial”, olhou para a flor em sua mão.

“Se eu der essa flor para Juvelian, ela estará segura, certo? Mas…”

Se fosse assim, ele não poderia caçar a fera e conquistar méritos. Mikhail apertou o punho, decidindo o que fazer.

“Sim, ela pode até rejeitar o presente. Prefiro salvá-la de uma crise. E talvez…”

Ele sabia que era uma ideia egoísta, mas queria impressioná-la ao ser o único salvador. O Imperador interrompeu seus pensamentos, batendo levemente em seus ombros.

— A competição vai começar em breve, então vá se preparar.

Quando eu e Trice voltamos aos nossos assentos, uma voz me chamou:

— Juvelian, estávamos te esperando!

Fiquei um pouco confusa ao ver Rose e meus amigos fazendo todo aquele barulho. Verônica sorriu de canto e disse:

— Juvelian, vimos tudo mais cedo.

— O quê?

— Você estava conversando com o Príncipe Elios!

— Ah, isso…

Tentei disfarçar e mudar de assunto.

— Aposto que você nos escondeu algo.

Não tinha como contar que desafiei o príncipe para um duelo. Eles têm uma visão idealizada demais dele. Enquanto tentava me esquivar com palavras vagas, a curiosidade deles só aumentava.

— Pareciam bem íntimos. Qual é o relacionamento de vocês?

Íntimos? A gente só estava conversando, mas pelo jeito, não deu para entender de longe.

— Não temos nenhum tipo de relacionamento.

Catherine fez uma careta diante da minha resposta.

— É a primeira vez que ele mostra tanto interesse.

Antes que ela continuasse, Rose interrompeu.

— Ah, acho que a competição está prestes a começar! Vamos prestar atenção!

Olhei para os cavaleiros que estavam se alinhando. Parecia que a cerimônia estava mesmo para começar.

— Finalmente, vai começar a cerimônia de abertura?

Dei uma olhada para Max e os outros cavaleiros que estavam longe do centro do estádio.

“Tomara que eles façam um bom trabalho hoje…”

Nesse momento, ouvi Rose novamente.

— Juvelian, você não vai se sentar?

Corada, percebi que estava em pé o tempo todo.

“Ah, estava tão focada no Max que nem percebi…”

Virei para Trice e segurei sua mão.

— Sua Alteza, venha sentar-se.

— Claro.

Me sentei ao lado do meu pai, e Trice se acomodou ao meu lado. O assento especial era incrivelmente confortável, muito mais que os lugares comuns.

“Poder também tem seu lado bom…”

Enquanto pensava nisso, notei meu pai me encarando fixamente.

— O que foi?

Ele suspirou antes de responder.

— Parece que ninguém é páreo para eles.

Com esse comentário repentino, entendi o que ele queria dizer.

— Ah, está se referindo ao nível dos cavaleiros?

De fato, mesmo em um lugar cheio, meu pai é alguém incomparável. Respondi com um sorriso.

— Claro, ninguém é tão forte quanto você, pai.

— Você acha mesmo?

Assenti com firmeza, e ele me retribuiu com um olhar satisfeito.

— Sim! Você é o melhor, pai!

Ele abriu um sorriso, claramente animado com o elogio.

— Fico feliz em ouvir isso.

Será que ele gostou tanto assim de ser chamado de o melhor espadachim? Pensando nisso, me dei conta de como meu pai realmente valorizava esses momentos.

“Vou ter que elogiá-lo mais vezes…”

Nesse momento, o som de uma trombeta ecoou pelo estádio.

— Sua Majestade Imperial, o Imperador, está entrando!

Logo depois, o Imperador apareceu no centro do estádio, subindo em uma plataforma circular. Meu olhar imediatamente foi para Max, cheio de apreensão.

— Será que ele vai ficar bem?

De acordo com a história original, a besta era tão poderosa que seria impossível derrotá-la sozinho, a menos que o cavaleiro já tivesse alcançado o nível de um mestre da espada. Se o Imperador trouxesse a besta como eu estava imaginando, não dava para prever de que lado ela atacaria.

“Talvez ele esteja querendo acabar com Max e os nobres que são contra ele. Se atacarem pelas costas durante a caçada, eles estarão perdidos.”

Inquieta, toquei a flor de prata no meu bolso. O toque frio da flor me trouxe um estranho conforto.

“Pode ser arriscado, mas…”

Desde a inesperada confissão do Príncipe Elios até as recentes vitórias de Max, tudo na história original havia mudado drasticamente. E agora, com o apoio que Max conquistou, ele poderia até tentar derrubar o Imperador ambicioso.

“Mas eu não posso ter certeza disso.”

Olhei para Sir Victor, que estava parado atrás de Trice. Quando nossos olhares se cruzaram, tentei fazer um sinal para ele, mas ele rapidamente desviou o olhar.

“Por que ele está agindo assim?”

Chamei por ele, ainda surpresa com sua atitude.

— Sir Victor, pode vir aqui um instante?

Ele se aproximou com uma expressão tensa.

— Para que me chamou?

Sua voz, repentinamente insegura, me deixou desconfortável.

“O que? Ele está com medo por causa dos rumores? Tenho me comportado bem ultimamente…”

Respirei fundo enquanto sentia Trice me observar com curiosidade.

“Se eu der essa flor que Trice trouxe para Max, pode protegê-lo.”

Quando Sir Victor chegou ao meu lado, tirei discretamente a flor de prata e a entreguei a ele, de maneira que ninguém pudesse ver.

— Isso é…

Ele me olhou sem entender, mas ao perceber o que eu estava fazendo, seus olhos tremularam por um momento.

— Não posso aceitar isso!

Sua voz alta chamou a atenção de todos ao redor, e eu franzi a testa.

“Esses cavaleiros não percebem nada rápido demais…”

Felizmente, ninguém parecia ter visto o que havíamos trocado.

“Será que posso confiar nele?”

Se Max confiava em Sir Victor para proteger Trice, ele deveria ser de confiança. Mas por algum motivo, eu ainda hesitava em dar essa flor a ele. Ignorando suas palavras, continuei.

— Pode ir até a carruagem da minha família e pegar um par de luvas para mim? Estou incomodada por estar sem luvas extras.

Rapidamente, sussurrei para ele de modo que só ele pudesse ouvir.

— E entregue essa flor ao seu mestre.

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