Volume 3 - Capítulo 8
O Príncipe Problemático
Juntos, caminhavam, apenas os dois, sem servos, atendentes ou damas de companhia, só ela e Bjorn. Aventuravam-se mais fundo no jardim, longe do palácio. Erna se sentia como uma criança travessa, escapando dos olhares atentos dos pais para fazer algo proibido.
Dirigiram-se para a cidade, onde o Festival da Primavera estava em pleno vigor. A rua, ladeada por laranjeiras de ambos os lados, era ainda mais realçada por um fascinante desfile de vibrantes flores tropicais. Muros embelezados com trepadeiras floridas pintavam uma tapeçaria infinita de flores. A descrição do livro de viagens sobre a capital de Lorca se transformando em um paraíso floral na primavera realmente capturava a realidade.
Erna sentiu um arrepio de expectativa ao ouvir os gritos e risos das pessoas. Ela se deleitava no esplendor da estação.
O afluxo de turistas para celebrar o Festival da Primavera de Lorca, que coincidia com o 50º aniversário do reinado do rei, lotou as ruas, os jardins e os parques, tornando mais fácil para Bjorn e Erna se misturarem e aproveitarem as festividades.
Ela se maravilhou com as lojas cheias de tapetes e lâmpadas coloridas, se deliciou com lanches e guloseimas oferecidas em carrinhos e barracas. Tomou chás doces e quentinhos enquanto passeavam por vielas adornadas com vasos de plantas intrincadas e azulejos requintados. O tempo todo, de mãos dadas com Bjorn.
Ela insistia em se alertar para não ultrapassar nenhum limite. Mas, onde estavam os limites do amor deles? Talvez fosse o encanto sedutor da primavera exótica, com sua fragrância deliciosa e cores vibrantes, que fazia com que os limites que ela havia estabelecido ficassem nebulosos.
“Vamos fazer uma pausa?”, sugeriu Bjorn, acariciando a bochecha corada de Erna.
Erna conteve sua resposta habitual de “Estou bem” e simplesmente acenou com a cabeça. O sol da primavera estava intenso e Erna não conseguia imaginar como seria no auge do verão. Estava ficando cada vez mais difícil de suportar.
Observando os arredores, Bjorn levou Erna para um parque do outro lado da rua, onde muitos viajantes procuravam sombra sob as árvores.
“Ei, Bjorn”, chamou Erna, seus olhos fixos em um banco próximo.
Um jovem casal, pouco mais velho que Bjorn e Erna, acabara de se sentar perto da fonte. O rapaz tirou um lenço e o estendeu no banco para a esposa se sentar.
Bjorn reprimiu uma risada e a vontade de xingar o homem, enquanto tirava seu próprio lenço e o colocava no banco para Erna se sentar. O sorriso radiante no rosto de Erna fez Bjorn se sentir vulnerável e, ainda assim, ele não pôde deixar de sentir alegria na alegria de Erna.
Com um floreio exagerado, Bjorn fez questão de colocar o pedaço de pano no banco. Com a graça de uma pétala levada pela brisa, Erna inclinou-se e sentou-se, com as costas retas e as mãos apoiadas nos joelhos. Bjorn não pôde deixar de rir.
“Confortável, Sua Alteza?”, perguntou Bjorn.
“Confortável o suficiente, seu lenço está um pouco amassado”, disse Erna, séria, embora Bjorn pudesse ver que ela desejava tirar o chapéu e as luvas.
Bjorn sentou-se ao lado de Erna e observaram a água da fonte borbulhando e brilhando ao sol, a sombra da árvore acalmando a pele beijada pelo sol. As bochechas coradas de Erna lentamente voltaram à sua palidez normal.
“O que é aquilo?”, disse Erna de repente. Ela apontou para um prédio no outro extremo do parque. “Tem tanta gente na fila, podemos ir dar uma olhada?”
“Se você quiser.”
Embora sua pergunta parecesse gentil, Bjorn sentiu que era mais uma ordem. O aspecto mais assustador da astúcia cada vez maior de sua esposa era sua falta de consciência de suas próprias maquinações. Bjorn não se importava, ele preferia a ousadia dela à sua anterior mansidão.
“Vamos, vamos lá”, ele incentivou.
“Você está mesmo bem?”, ela disse, esperando que Bjorn fosse um pouco mais teimoso. “Nós só fizemos o que eu queria fazer até agora.”
“Vamos, Erna”, disse ele brincando, “Eu não posso fazer nada do que eu quero aqui de qualquer jeito.” Ele deu a Erna uma piscadela maliciosa e sua sinceridade fez Erna rir.
Sua sinceridade a fez rir, um sorriso radiante iluminando seu rosto. Por um momento, Bjorn se contentou em ser mais uma vez um bobo apaixonado.
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Apesar da variedade de crenças mantidas por inúmeros indivíduos ao redor do globo, suas ações compartilhadas são surpreendentemente semelhantes. Tomemos, por exemplo, aqueles que destemidamente sobem torres sagradas sem intenção de prestar homenagem ao Divino, como o nobre casal Grão-Ducal de Schuber, vindo de Lechen.
Parecia que a busca de muitos era encontrar um campanário e subir até o topo. Parecia que o mundo estava cheio dessas pessoas malucas, um rosto que Bjorn se lembrou ao subir a Torre do Sino de Lorca com Erna.
“Se você estiver cansada, pode descansar um pouco”, disse Bjorn. Teimosamente, ela sacudiu a cabeça, apesar do rosto corado e da respiração ofegante.
“Em breve estaremos no topo”, disse Erna.
“E então?”
“A gente espera o sino.” Era uma razão boba, mas Erna tinha uma determinação séria.
Bjorn olhou para a distância restante. Se estivesse sozinho, poderia chegar ao topo bem rápido, mas no ritmo de Erna, eles perderiam o próximo toque. Então, sem dúvida, teriam que esperar pelo próximo. Uma perspectiva desagradável.
Depois de pensar, Bjorn abraçou sua esposa sem dizer uma palavra. Assustada, Erna soltou um grito que ecoou pela escadaria da torre.
“Espera, não, e se alguém ver?”
“Escuta, Erna.” Bjorn disse, ignorando seus protestos. “Eu não quero ficar preso na torre do sino por uma hora, enquanto esperamos o próximo toque. Essa é a nossa melhor opção.”
Bjorn começou a subir os antigos degraus de pedra com longas passadas.
A primavera de Lorca era como um vinho perfumado e envenenado, Erna pensou em transe enquanto olhava para o rosto de Bjorn enquanto ele a carregava. Sem dúvida, quando ela acordasse do estupor, haveria sérias repercussões, e ainda assim, seu coração queria encher aquela taça repetidas vezes.
Quando ela ficará esperta?
Erna fechou os olhos com força. Ela sabia que era inútil, mas era difícil imaginar a si mesma em qualquer outro lugar com qualquer outra pessoa. Rindo baixinho, Bjorn acelerou sua ascensão. Sua respiração ficou pesada e a luz da saída ficou mais próxima.
Eles emergiram de volta para o sol da primavera, a brisa fresca se sentiu refrescante no rosto suado de Bjorn. Erna exclamou de alegria e sorriu.
Cerveja louca, selvaticamente encantadora, pensou Bjorn enquanto gentilmente colocava Erna em seus próprios pés. Apressadamente, ela ajustou sua roupa e foi para o observatório. Bjorn observou cada passo dela, parecendo mais animada.
“Bjorn, venha aqui, rápido”, Erna o chamou para olhar sobre a paisagem urbana.
Bjorn se juntou a ela, olhando além da torre do sino. Erna indicou vários pontos da cidade, o palácio, os pomares de laranjeiras, o pátio do templo. Era evidente de cima a obsessão de Lorca por laranjeiras.
“É quase como uma cena de inverno”, disse Erna, comentando sobre o mar de flores brancas.
Bjorn olhou mais para o horizonte, onde podia ver edifícios de paredes brancas com telhados de telhas laranjas. Um céu sem nuvens. Enquanto os olhos de Bjorn percorriam a paisagem serena e pitoresca, ele sentia que eles se moviam constantemente para olhar para Erna.
Sua mão agarrava a grade, silenciosamente, ele agarrou sua mão delicada quando o sino começou a badalar. Erna se virou para ele e seus olhos se encontraram. Ele não disse nada e apenas apertou sua mão com força.
Ele havia ferido a mulher que amava e, ainda assim, milagrosamente, ela havia voltado para ele. Enquanto estava diante dela, ele sabia que qualquer hesitação e medo restantes no coração de Erna eram dele para carregar. Naturalmente, momentos de impaciência surgiriam.
“Bjorn”, Erna murmurou, “Se você quiser me beijar, pode. Eu vou permitir dessa vez.” Um leve sorriso adornou seus lábios enquanto ela concedia seu favor.
“Essa torre do sino realiza desejos de amantes?”
“Não tenho certeza, espero que sim.”
Quando seu sussurro gentil e tímido tocou seus ouvidos, Bjorn soube sem dúvida. Esse ser cativante era realmente uma corça selvagem.
Se rendendo ao seu comando, Bjorn colocou uma mão nas bochechas de Erna e gentilmente pressionou seus lábios nos dela. Erna soltou um suspiro suave e quase pareceu ficar mole em seus braços.
Enquanto o sino badalava melodiosamente, eles se perderam em um beijo terno e sincero, como que concedendo uma bênção amorosa à cidade, encantada pela chegada da primavera.