Volume 3 - Capítulo 7
O Príncipe Problemático
“Onde está Erna?”, perguntou Bjorn ao entrar no anexo, sua pergunta ecoando a mesma de ontem. Os serviçais já consideravam aquilo uma saudação costumeira.
“Sua Alteza está no quarto”, respondeu Karen, apressando-se para cumprimentar o Príncipe que havia retornado mais cedo que o esperado.
Bjorn fez um aceno de cabeça em sinal de agradecimento e subiu as escadas. O Palácio Lorca parecia um deslumbrante espetáculo de cores vibrantes, com a luz do sol entrando pelas janelas e refletindo nos azulejos brancos e dourados.
“Erna?”, chamou Bjorn ao chegar perto da porta do quarto, mas não houve resposta.
Franzindo a testa, Bjorn hesitou ao entrar no quarto e olhou ao redor. Assim que teve certeza de que Erna não estava por perto, sua paciência se esgotou.
Com um suspiro irritado, Bjorn tocou a campainha de serviço antes de sair para a varanda do quarto, o charuto já nos lábios. Ele avistou Erna no jardim exótico lá embaixo. Seu chapéu de aba larga escondia o rosto, mas ele sabia que era ela.
Erna movia-se cautelosamente pela alameda, antes de parar cansada e continuar. Bjorn percebeu a ausência de Lisa e deduziu que Erna devia ter escapado enquanto ela não estava olhando.
Bjorn soltou uma lenta exalação de fumaça enquanto se apoiava na grade, observando sua esposa. Ele riu baixinho ao ver Erna andando pelo jardim. Uma batida fez Bjorn se afastar, como se não quisesse ser pego em seu voyeurismo.
“Entre”, disse Bjorn suavemente, descartando seu charuto meio fumado no cinzeiro.
Karen entrou no quarto e apressou-se para a varanda com Bjorn. Ela inclinou a cabeça, sua expressão séria e impassível.
“Minhas desculpas, meu Príncipe, não conseguimos encontrar Sua Alteza.”
“Ah, sério? Ela está bem ali”, Bjorn apontou para o jardim.
Os olhos de Karen se arregalaram enquanto ela esticava o pescoço para olhar para o jardim e viu Erna olhando para cima, se perguntando qual era a confusão. Vendo Bjorn e Karen, Erna voltou sua atenção para os pavões.
“Essas aves pertencem à família real Lorca; são dóceis e não representam ameaça”, explicou Karen, sua voz carregada de preocupação.
A Grã-Duquesa estava fascinada pelos pavões passeando pelo jardim do palácio. Os serviçais faziam todo o possível para mantê-la longe das aves, pois, mesmo sendo dóceis, havia o risco de Erna se machucar. Os serviçais sabiam muito bem que enfrentariam a fúria do Príncipe Bjorn se sua esposa sofresse algum ferimento.
Enquanto Karen se justificava nervosa, Bjorn fez um gesto de despreocupação com um sorriso, seus olhos ainda em sua esposa caçando pássaros como uma criança animada demais.
“Pelo menos o desejo dela foi realizado”, sussurrou Bjorn, enquanto um pavão desdobrava sua magnífica cauda.
Juntos, Bjorn e Karen ficaram na varanda, observando Erna admirar a exibição colorida da cauda do pássaro. O sol do meio-dia fazia as cores saltarem e brilharem tão vibrantemente quanto as flores tropicais. O pavão lentamente girou e se afastou, piando pelo jardim. A exibição colorida lembrou Bjorn de sua última lua de mel; a paisagem desolada e contrastante do inverno nem se comparava ao magnífico jardim de Lorca.
“Você se lembra do nome do arquiteto que construiu a Sala de Jardim de Schuber?”, perguntou Bjorn à governanta.
“Sr. Emil Barser, Vossa Alteza”, respondeu Karen.
“Ah, sim, Barser, isso mesmo.” Bjorn se lembrou do famoso arquiteto de estufas de cabelos grisalhos, que frequentemente atendia a família real e os aristocratas de Lechen.
“Ele ainda está vivo?”
“Não tenho notícias de seu falecimento.”
“Se sim, gostaria que ele projetasse uma estufa para minha residência”, mencionou Bjorn com naturalidade, como se estivesse discutindo a aquisição de um objeto trivial.
“Quer dizer construir uma estufa no Palácio Schuber?”, perguntou Karen, surpresa.
“Sim, acho que a Sala de Jardim é muito pequena.”
“De fato, Vossa Alteza.”
Bjorn tinha um carinho especial quando se tratava de assuntos relacionados à sua esposa e, embora não tivesse interesse em flores, pretendia recriar os jardins tropicais de Lorca em Schuber apenas para Erna.
O Príncipe amava sua esposa.
Esse único fato concedeu autoridade e reestruturou toda a hierarquia dentro do domínio do Grão-Duque. Erna Dniester agora se posicionava como a governante indiscutível do Palácio.
“Enviarei o comunicado como solicitado, Vossa Alteza.” Karen fez uma reverência, tentando acalmar seu coração agitado. Ela observou Erna andando com propósito pelo jardim.
“Vou mandar alguém até Sua Alteza…”
“Não há necessidade”, interrompeu Bjorn decisivamente. “Eu irei lá.” Apressadamente, ele saiu da varanda, pegando o casaco que estava na cadeira.
Finalmente, Karen soltou um suspiro de alívio, seus olhos vagaram para a grade da varanda. Lá embaixo, no jardim, a amada esposa do príncipe passeava alegremente sob uma árvore encantadora, adornada com vibrantes flores roxas.
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“Bjorn”, disse Erna surpresa.
Era um som doce, acompanhado de seu sorriso e olhos brilhantes que faziam a manhã de primavera parecer opaca em comparação.
“Você apreciou a companhia de suas amigas?”, perguntou Bjorn brincalhão. Por um tempo, ela hesitou como uma criança pega no meio de uma travessura. Erna logo sorriu maliciosamente e assentiu.
“Sim, dei um passeio delicioso com uma bela dama da Família Real Lorca”, Erna sorriu maliciosamente.
“Erna, apenas os machos têm caudas coloridas, para atrair as fêmeas.” Bjorn soltou uma risada.
Erna franziu a testa como se Bjorn tivesse dito que a grama era azul e o céu verde. Ela olhou para o pavão enquanto ele recolhia suas penas e caminhava pela trilha, ainda piando pelo jardim. Parecia uma dama para Erna.
“Sério?”
“Sim, tipicamente, todas as aves machos são coloridas, enquanto as fêmeas permanecem sem graça.”
“Por quê?”
“É assim que eles seduzem as damas”, Bjorn sorriu.
“Ah. Ah, meu Deus.” Erna observou o pavão desaparecer por uma cerca. Ela sentiu que havia algo perverso naquela constatação, mas ela a removeu de sua mente. “Então, como você voltou tão cedo?”
Impossível… Não me diga — o coração de Erna se encheu de antecipação cautelosa.
“Eu só queria te ver”, disse Bjorn, sorrindo. “Pensei que poderíamos sair.” Bjorn ofereceu a mão.
Erna não sabia o que fazer, ela foi tomada de repente por uma timidez. Ela desejava o amor dele, mas por que ela sempre se sentia boba na frente dele quando ele demonstrava qualquer afeto? Bjorn se aproximou dela, ainda oferecendo a mão, e Erna começou a se detestar.
“Agora?”, ela exclamou. “Assim?” Ela olhou para seu vestido amassado, seu vestido sem graça.
Ela havia escolhido esse vestido tomara que caia e arrumado o cabelo após horas de contemplação. No final, ela escolheu algo simples e prático para dar um passeio pelo jardim. Certamente não um vestido para um encontro. Apenas seu cinto combinava com a cor da gravata de Bjorn.
Erna olhou para o anexo, não havia sinal de nenhum dos atendentes que deveriam acompanhar o casal Grão-Ducal em qualquer saída. Eles estariam em suas salas de descanso, aproveitando um tempo livre, sem expectativas de precisar sair. Seria desrespeitoso acordá-los agora.
No entanto, ao encarar Bjorn, ele parecia mais relaxado que o normal, apenas tirando o casaco. Para aqueles que não conheciam o Príncipe, ele parecia um cavalheiro comum em uma viagem. Ele não estava mais arrumado do que ela, mas ainda assim, Erna se sentia ansiosa.
“Erna?”
Quando seus olhos se encontraram, Bjorn sorriu. Era difícil encontrar algo para repreender em suas palavras ou ações, sua atitude tranquila acalmou Erna e ele segurou sua mão estendida.
“O lobo de Dniester é muito maior e tem uma cauda mais chique que um pavão.” Erna disse enquanto agarrava sua mão estendida, engolido seu orgulho.
“Ah, onde está a cauda?”
Isso a levou a ser recebida com um contra-ataque ousado do lobo atrevido.