Volume 3 - Capítulo 6
O Príncipe Problemático
Ao atravessar o arco e entrar no pátio, Erna foi recebida por um aroma doce que cativou seus sentidos.
Parando para apreciar a vista, ela admirou os jardins do palácio; as flores de laranjeira brilhavam sob o sol da manhã.
“Este lugar parece o paraíso, Vossa Alteza”, disse Lisa. “Mas os jardins do Palácio Schuber são ainda mais bonitos.”
Erna apenas acenou com um sorriso e se aventurou cuidadosamente no jardim. Suas pegadas ecoavam suavemente pela alameda, acompanhadas pelo canto melodioso dos pássaros.
A delegação de Lechen foi acomodada em um anexo ao lado do jardim de laranjeiras, o orgulho dos Palácios Reais de Lorca. O Príncipe Herdeiro de Lorca, que os havia recebido pessoalmente, enfatizou a amizade duradoura entre as duas nações. Erna se viu em um mundo diferente de tudo o que já conhecera.
A luz dourada do sol banhava a cidade exótica, com suas árvores imponentes, flores vibrantes, trajes únicos das pessoas e arquitetura desconhecida. Erna havia lido um guia de viagens sobre Lorca e adquirido um vasto conhecimento, mas, ao espiar pela janela da carruagem, sentiu-se humilde diante da cena que se desdobrava. O mais impressionante de tudo era o Palácio e os jardins de Lorca, que eram obras de arte intrincadas.
“Vossa Alteza, você ganhou o primeiro lugar”, disse Lisa em tom de conversa informal. “A comitiva fez uma votação.”
“Uma votação?”
“Sim”, Lisa acenou entusiasmada. “Queríamos determinar qual era o casal real mais bonito e vocês ganharam. Lechen realmente é o melhor país.”
“Foi só uma brincadeira.”
“De fato, mas todos estavam tão unidos em sua lealdade que foi um desafio para os outros não votarem em seu próprio Príncipe e Princesa. A maioria concorda que nosso Príncipe é o mais bonito, mas todos concordaram que você é a Princesa mais linda.”
Com um sorriso satisfeito, Lisa olhou para sua senhora. Erna, sentindo-se envergonhada, apressou o passo, passando sob a sombra de uma fileira de coqueiros. Foi então que ela percebeu que havia outras pessoas se aproximando na direção contrária.
Ao vislumbrá-las, Lisa abaixou rapidamente a cabeça. Erna fez o mesmo, seu rosto mostrando um toque de nervosismo. Era a Rainha de Lorca e sua comitiva.
Erna se aproximou graciosamente da Rainha, que as observava. Erna a cumprimentou educadamente em lechenês e a Rainha respondeu em lorquês. Apesar da barreira linguística, as saudações foram amigáveis.
Como haviam feito nos dias anteriores, caminharam lado a lado. O jardim pitoresco, onde o murmúrio da fonte se harmonizava com o canto dos pássaros, era tão sereno e belo quanto uma pintura.
A Rainha de Lorca conduziu Erna por um caminho ladeado por fileiras ordenadas de laranjeiras, que pareciam um tabuleiro de xadrez, e em direção a um pérgola. Enquanto caminhavam, Erna ficou mais relaxada.
Erna encontrou a Rainha pela primeira vez alguns dias antes, durante sua primeira manhã no palácio.
Como era seu costume, Erna acordou cedo para fazer sua caminhada matinal, assim como hoje. Foi então que ela encontrou a Rainha, também aproveitando uma caminhada matinal. Ela estava vestida simplesmente e acompanhada por apenas uma dama de companhia.
Sem se deixar abalar pelo encontro inesperado, a Rainha a cumprimentou com um sorriso caloroso. Embora não tivessem um intérprete e não pudessem ter uma conversa adequada, as duas compartilharam um passeio íntimo. Quando se despediram, o sorriso de Erna era mais natural.
Erna teve a impressão de que ela era uma dama enigmática e encontrou conforto na atmosfera atenciosa da senhora idosa. Ela se sentia relaxada na presença da Rainha, semelhante a descansar debaixo de uma árvore com sua avó.
As duas se sentaram sob a pérgola, admirando o jardim. Ocasionalmente, trocavam sorrisos silenciosos quando seus olhos se encontravam, depois voltavam a olhar para as laranjeiras, adornadas com flores brancas como neve. Quando seu tempo juntas estava chegando ao fim, Erna tomou coragem para falar.
“Com licença, Majestade, posso fazer um pedido?”
A Rainha de Lorca voltou sua atenção para Erna. A dama de companhia se aproximou rapidamente; ela falava e entendia um pouco de lechenês, e Erna esperava que soubesse o suficiente.
“Posso pegar um pequeno ramo da laranjeira? Gostaria de compartilhar o maravilhoso perfume dessas flores com meu marido.” Erna olhou para a Rainha, fazendo o possível para se expressar com expressões e movimentos de sua mão.
A dama de companhia traduziu o melhor que pôde. A Rainha olhou inquisitivamente para Erna, suas sobrancelhas brancas se juntaram, seus olhos brilhando. Erna sentiu como se a Rainha estivesse a julgando e se perguntou se havia cometido algum deslize, mas então a Rainha explodiu em risos.
A Rainha acenou energicamente e disse algumas palavras em lorquês. A dama de companhia fez uma reverência profunda, deixando Erna e a Rainha sozinhas, na pérgola perfumada de laranjeiras.
Erna tentou manter sua compostura, encontrando o olhar da Rainha com curiosidade. A dama de companhia finalmente voltou, exatamente quando as coisas estavam ficando constrangedoras, com um ramo cheio de flores brancas. A Rainha pegou o ramo e se levantou. Surpresa, Erna também se levantou e ficou de frente para a Rainha.
A Rainha de Lorca entregou pessoalmente um ramo da laranjeira para a Princesa de Lechen. As palavras da Rainha, aproximadamente traduzidas por sua dama de companhia:
“O Príncipe de Lechen tem sorte de ter uma esposa tão encantadora.”
Doçuras sussurradas flutuaram graciosamente no vento, entrelaçadas com a fragrância delicada das flores de laranjeira, envolvendo Erna ternamente em um abraço reconfortante.
Erna está chegando. Bjorn conseguiu identificá-la por seus passos suaves e quase sussurrados. Ela se aproximou graciosamente, parando ao lado da cama onde ele estava deitado. Bjorn decidiu permanecer na cama, enquanto Erna se sentava cuidadosamente; o som de sinos de vento podia ser ouvido enquanto ela se acomodava.
“Bjorn”, ela sussurrou. “Hora de levantar para o café da manhã.” Sua mão acariciou suavemente sua bochecha; ele sentiu um cheiro floral.
“O que é isso?”, ele perguntou, sem abrir os olhos.
“É flor de laranjeira, a Rainha me deu de presente.”
Bjorn sentou-se e pôde ver que Erna estava segurando um pequeno ramo repleto de flores brancas. Bjorn fez um gesto para Erna ir para seus braços.
“A Rainha, sério?”, Bjorn suspirou.
Ele sabia que Erna gostava de fazer caminhadas matinais com a Rainha. Parecia que Erna tinha um talento especial para encantar senhoras idosas.
Erna se aconchegou em seus braços e discutiram os planos para o dia. Eles estavam mais animados que o usual, já que haviam combinado de passar a tarde toda juntos.
“Bjorn, olha nos meus olhos, que dia é hoje?”, o tom de Erna ficou sério.
Bjorn entendeu a pergunta e sorriu ao olhar para sua esposa. Erna mudou de posição para segurar o rosto do marido.
“Lembra do que você prometeu? ‘Hoje vou passar o dia todo com minha esposa.’ Você não esqueceu, né?”, Erna disse, imitando a voz de Bjorn.
“Não esqueci”, disse Bjorn.
“Sério?”
“Sério”, Bjorn disse, depositando um beijo gentil na bochecha de Erna, vendo sua expressão duvidosa.
“Se algo inevitável acontecer, você tem que me dizer.”
“Hmm.” Desta vez ele beijou seu adorável narizinho.
“Posso confiar em você?”
“Hmm.” Desta vez ele beijou seus lábios emburrados.
À medida que seu beijo brincalhão se aprofundava, o quarto voltou ao silêncio. A luz do sol brilhava pelas persianas, projetando finas barras de sombra escura e luz dourada.
“Eu lembro, Erna”, disse Bjorn com um sorriso, limpando a bochecha corada de sua esposa. “Não vou esquecer.”
“Ei, Bjorn”, disse Erna, exatamente quando ele estava prestes a puxar a corda do sino. Bjorn olhou para ela. “Bem, eles disseram que eu ganhei o primeiro lugar”, disse Erna, hesitantemente.
“Primeiro lugar?”
“É, os empregados votaram em quem era o casal mais bonito e eu ouvi que foi unanimemente a meu favor.”
Um leve sorriso surgiu nos lábios de Erna enquanto Bjorn a olhava fazer sua ousada afirmação. Seu rosto ficou escarlate e um sorriso tímido brincou em seu rosto; ela era realmente irresistível. Ele quase conseguia ver a delicada cauda de veado se movendo sob seu vestido.
“Bem, parabéns, minha esposa é a mais bonita de todas as terras.” Bjorn curvou a cabeça. Erna irradiou e corou enquanto ele pegava uma flor do ramo e a colocava atrás da orelha dela.
“Esta é sua”, disse Erna, reunindo coragem para colocar uma flor na orelha de Bjorn também. “Foi por pouco, mas você ganhou o primeiro lugar também”, ela sussurrou, mal conseguindo conter uma risada. Bjorn olhou para ela, perplexo, e depois deu uma risada hesitante.
Sua reação foi um tanto distante, mas Erna preferiu entender. Era um fato conhecido que ele era o príncipe mais bonito do mundo. Claro, ela não conhecia todos os príncipes, mas havia alguns fatos inegáveis que não precisavam de verificação.
Bjorn puxou a corda e saiu da cama. As flores que Erna lhe dera pendiam frouxamente em seus dedos. O príncipe mais bonito no mundo de Erna colocou as flores em uma bacia e foi para o banheiro.
Erna prendeu a respiração, aproximou-se da janela e parou na frente da bacia de bronze. A sensação de flores desabrochando em seu coração era provavelmente devido ao doce aroma de laranjeiras carregado pelo vento.
Antes de se virar, Erna gentilmente colocou sua flor na bacia e a deixou flutuar com as outras. Ela ficou cativada pela luz do sol caindo sobre a superfície da água, onde as flores de laranjeira nadavam juntas.