Volume 3 - Capítulo 20
O Príncipe Problemático
A Rua Baden fervilhava de atividades, nos preparativos para a chegada dos convidados. A casa de campo havia sido polida até que a menor fagulha de luz brilhasse nos pisos, e a despensa continha tanta comida que a Rua Baden poderia facilmente abrigar um exército.
A Baronesa mandou trazer a cama de casal do quarto de hóspedes para o quarto de Erna, substituindo a cama de solteiro desconfortável. Ela também havia feito um colcha nova, toda em patchwork. Espalhou-a na cama e olhou em volta do quarto; era difícil acreditar que ela era a mãe de uma filha que estava prestes a ter outro filho. O pensamento a fez lacrimejar. Conseguiu conter a enxurrada de emoções; não deixaria que esse dia de alegria fosse estragado por suas lágrimas de emoção.
Assim que ficou satisfeita com o quarto pronto, desceu para a cozinha. A Sra. Greve estava ajudando a preparar toda a comida, como se tivesse esquecido completamente de sua artrite.
Satisfeita, a Baronesa subiu ao seu quarto para se arrumar e passou o resto do dia sentada em seu jardim, esperando a chegada de Erna. Ela fitava a estrada de chão como uma estátua guardiã. Em sua mão estava a carta que Bjorn havia enviado.
Bjorn a surpreendeu com um presente atencioso. Ele compartilhou seus planos de visitar a casa Baden junto com Erna, que havia alcançado uma fase estável e agora era capaz de viajar por longas distâncias. Muito diferente da que ele enviou no ano passado, a carta informava à Baronesa que Erna viria para a Rua Baden, para que a Baronesa pudesse cuidar de Erna durante a gravidez.
Ela havia lido e relido a carta várias vezes depois de recebê-la, e aqueceu seu coração saber que Erna finalmente estava com um marido que a amava muito. Isso lhe deu forças, e ela não teria arrependimentos se fosse chamada para o céu naquele momento, embora desejasse que isso esperasse até depois do nascimento de seu neto, que viria ao mundo na primavera seguinte, uma estação lindamente adornada com flores em seu auge.
“Olha, senhora, vejo uma carruagem chegando!”, chamou a Sra. Greve de uma janela do andar de cima; a Baronesa estava completamente alheia à presença da criada.
Ela ajustou os óculos, colocando a carta na mesa para ser esquecida enquanto se levantava da cadeira para ver melhor a estrada. Ela pôde ver que uma procissão de carruagens subia pela estrada.
Quando as carruagens entraram na entrada, Erna estava se inclinando para fora da janela. “Vovó!”, ela gritava e acenava.
Um sorriso sempre estava no rosto da Baronesa, mas ao ver Erna, ele ficou muito maior. Sua Erna, tão pouco feminina, mas hoje era o dia dela.
Quando as carruagens pararam e Erna desceu, a Baronesa não pôde deixar de notar o quanto ela estava mais saudável, e quando se abraçaram, ela sentiu como se estivesse abraçando aquela criança pequena que havia chegado a ela tantos anos atrás.
Havia cem perguntas que a Baronesa queria fazer: como você está, como está o bebê, você está se alimentando bem, você está dormindo? Todas as preocupações habituais de uma avó e mais algumas, mas agora não era a hora; banhando-se no sorriso de Erna e no olhar vigilante do Príncipe, parecia que todas as suas perguntas preocupantes tinham sido respondidas em seu conforto mútuo.
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“Oh! É a Divórcio!”, exclamou Bjorn surpreso, olhando para o jardim.
Era difícil dizer quem era quem, pois a bezerra que Bjorn tão sem cerimônia havia chamado com um nome tão terrível, agora era tão alta quanto sua mãe e tinha uma pelagem marrom malhada semelhante. Divórcio olhou para cima, curiosa com o grito alegre de Bjorn, sem parar de mastigar o capim.
“Não a chame assim, ela pode te ouvir, o nome dela é Christa”, repreendeu Erna o marido. “E eu preferiria que você não dissesse essa palavra perto do bebê também.” Erna acariciou a barriga.
Bjorn olhou para ela com afeição, percebendo onde a mão da esposa estava tocando: “O bebê Dniester deve conhecer toda a nossa história e o quanto a mãe amava essa palavra.” Erna percebeu que Bjorn estava apenas sendo bobo e tentando provocá-la.
“Só não faça isso”, disse Erna, fingindo estar magoada.
“Por quê? Você vai fugir de novo?”
“Não, eu só vou te expulsar, acho que todo mundo vai gostar mais assim.”
O sol âmbar do outono fez o sorriso de Erna brilhar como ouro. Bjorn olhou para sua corça, não tão pequena e ingênua mais; ela estava se tornando uma fera. Embora ele não notasse os olhares de aprovação dos empregados que estavam sempre na sombra do casal Grão-Ducal. Eles concordavam que a Grã-Duquesa seria melhor para o palácio do que o Grão-Duque.
Os dois, juntamente com todos os seus acompanhantes, passearam pelo campo de flores silvestres e entraram na floresta de outono ao final. Suas pegadas se tornaram uma cacofonia enquanto caminhavam por pilhas de folhas secas. A profundidade do outono trouxe uma brisa fresca, tornando-o um dia ideal para um passeio.
Dias tranquilos em Buford passavam sem esforço.
Erna desfrutava de seus passeios tranquilos, comia comida caseira preparada pela Sra. Greves e sua equipe de cozinha, e sentava-se para comer em meio a conversas com a Baronesa. Em seu tempo livre, ela tricotava meias e roupinhas e até fazia flores para decorar o quarto de seu filho. O bebê Dniester cresceria cercado por muitas coisas maravilhosas que sua mãe havia feito com suas próprias mãos.
Várias vezes, o médico local foi examinar Erna e, a cada vez, informava ao casal que seu bebê estava crescendo bem. A cada consulta, Bjorn se sentia mais e mais aliviado. Ele estava tão feliz quanto sua esposa, que segurava sua mão enquanto caminhavam sob os galhos nus.
“Bjorn, olha lá”, disse Erna animada, e Bjorn teve que lutar para desviar o olhar da esposa. Quando ele olhou para onde ela estava apontando, havia uma pequena árvore que ainda tinha algumas frutas vermelhas crescendo nela.
“As maçãs-de-flor estão abertas”, declarou Erna.
“Maçãs-de-flor.” Repetindo o nome que sua esposa deu, Bjorn esticou o braço e quebrou um ramo com as frutas mais bonitas. Com um sorriso, Erna colocou o ramo em uma cesta. Junto com algumas frutas-de-rosa, crisântemos-de-montanha e bolotas.
Cada vez que Erna colocava uma nova flor na cesta, ela sussurrava seus nomes. Era uma coleção de cores e cheiros belos, para os quais Bjorn não conseguia adivinhar a finalidade de Erna. Erna era como um esquilo no outono, recolhendo coisas e guardando-as na cesta.
Quando entraram nas partes mais profundas da floresta, a cesta já estava cheia. Bjorn olhou para a cesta e percebeu que era grato por ter conquistado uma garota do campo que apreciava as coisas mais simples e baratas da vida, mesmo que fosse coletar ervas daninhas coloridas.
Títulos, ações, lingotes de ouro, esses eram os nomes das coisas que Bjorn reconhecia e com as quais era mais familiar; se Erna fosse assim também, ele não conseguia imaginar o quão pobre ela o teria deixado.
“Ah, chegamos”, disse Erna.
Saindo de sua reflexão, Erna correu para a base de uma árvore cercada por uma colônia de cogumelos, seu destino para a excursão do dia.
Bjorn a seguiu alguns passos atrás de Erna, enquanto ela corria para os cogumelos silvestres. As criadas correram atrás e ajudaram Erna a colher os cogumelos. Ele se perguntou por que precisava estar ali para isso; ele se sentia como uma quinta roda em uma carruagem, mas isso deixava Erna feliz, o que por sua vez o deixava feliz. O que era mais incompreensível era por que eles precisavam de cogumelos em primeiro lugar. As despensas da Rua Baden estavam cheias até explodir.
“Você gostaria de colher alguns também?”, disse Erna, fazendo uma pausa enquanto colocava um cogumelo em uma cesta.
“Não, não suporto o toque deles.”
“Por quê?”
“Eu não sei, é só a questão de se sujar.”
Erna suspirou com sua resposta. Lisa, que estava arrancando um cogumelo particularmente grande, também revirou os olhos e fez um som de desaprovação, limpando as mãos no avental.
“Bjorn, o bebê pode te ouvir.”
“Por quê? Tem algo de errado com o que eu disse?”
“Isso...” O rosto de Erna estava ficando vermelho-escuro e sua boca se franziu.
“Cuidado, o bebê pode te ouvir.” Bjorn apontou para a barriga dela com um sorriso deslavado no rosto.
Com uma risada, Bjorn deixou Erna e suas criadas colhendo cogumelos enquanto ele continuava, caminhando preguiçosamente pela trilha coberta de folhas secas. Erna perdeu o desejo por cogumelos e sacudiu a sujeira das mãos. Assim como as duas criadas que a estavam ajudando.
Erna arrumou suas roupas e pegou a cesta de vime onde ela havia colocado seus cogumelos. Seu marido desagradável, vendo Erna terminando, esperou no final do caminho, com as mãos atrás das costas e uma postura real. Ele ofereceu a mão quando ela se aproximou, e ela a pegou.
Eles voltaram para a Rua Baden, a luz dourada do final da tarde os banhando em um pouco de calor. Christa os cumprimentou com um mugido melancólico, enquanto caminhava preguiçosamente por seu paddock, também aproveitando o sol. Fumaça saía da chaminé. A Sra. Greves já estava ocupada preparando o jantar.
“Bjorn.” Erna se virou lentamente para o marido até que ficaram frente a frente, olhando para seus olhos cinzentos. “Você pode dizer que os ama? O bebê quer ouvir.”
Bjorn sorriu como a luz do sol da tarde e olhou para a barriga de Erna: “Bebê Dniester... não seja fraco, cresça forte.” Ele disse suavemente, mais gentil do que o normal — uma doçura inesperada e sussurrada. “Agora, vamos, Erna.”
Bjorn estendeu a mão para Erna; sua expressão azedou enquanto ela enfrentava suas esperanças frustradas. A ideia de implorar a ele mais uma vez feriu sua autoestima.
Dizer a frase “Eu te amo” custava-lhe um grande preço emocional.