Volume 3 - Capítulo 17
O Príncipe Problemático
“O tempo está agradável”, disse Bjorn com calma.
Eles estavam sentados à mesma mesa havia um bom tempo, simplesmente ouvindo a música que tocava por cima das risadas e conversas.
“Sim, está”, respondeu Erna friamente. Ela olhou para Bjorn.
“É um tempo ótimo para não fazer nada.”
Bjorn olhou para Erna com um sorriso nos cantos da boca. Erna desaprovava a maneira como ele tentava minimizar as coisas, mas não conseguia desviar facilmente daquele rosto bonito.
Que homem desagradável. Pensou consigo mesma.
Ele parecia diferente, mas se sentia inalterado, e Erna achava difícil odiá-lo por isso; ela gostava e desgostava ao mesmo tempo de como as coisas estavam. Ele era apenas um tolo que não merecia o que ela pensava dele.
Sentindo-se culpada por seus pensamentos, Erna desviou o olhar para evitar que Bjorn lesse sua mente. Foi então que ela notou Leonid e Rosette parados diante deles. Eles estavam cercados pelas velhas damas da Família Real, nenhuma delas parecia aprovar.
Erna não conseguia entender direito o que estava sendo dito, mas imaginava que não eram palavras tranquilizadoras de apoio e conforto. Os dois não hesitaram, tamanha a força de seu amor. Eles se davam as mãos, confiavam um no outro e contavam um com o outro para superar aquela dificuldade prevista.
Por fora, o casal parecia bastante rígido e formal, mas se chamavam por apelidos carinhosos e informais: Rosie e Leo. Leonid olhava para sua noiva com olhos amorosos. O coração de Erna se encheu de alegria ao vê-los se olhando com tanto amor. Leonid era como um príncipe de conto de fadas.
Era um príncipe que ficaria ao lado de sua princesa, não importava a ameaça; ele lutaria contra um dragão que cuspisse fogo de verdade, se necessário. Quando ela era a única aluna do sexo feminino na faculdade, quando estava lutando contra a pressão, foi Leonid quem ficou ao seu lado e lhe emprestou sua força.
Assim que as velhas damas cinzentas se fartaram de julgar o casal, elas seguiram para “cutucar” outros netos. Imediatamente foram substituídas por outros parentes que estavam esperando nos bastidores para ter a chance de conversar com o casal. Leonid teria que proteger sua noiva um pouco mais, pelo visto. Era uma sorte que Rosette fosse uma dama não tão facilmente influenciada pelos comentários da multidão desaprovadora.
Um pequeno suspiro escapou de Erna enquanto ela desviava o olhar do casal e olhava para seu marido novamente. Dois anos atrás, naquele mesmo dia, eles se conheceram. Erna se lembrava de tudo com tanta vivacidade como se fosse ontem. O príncipe que veio como um raio de sol para resgatá-la de ter que aturar os velhos desesperados do mercado matrimonial, mas ele era um príncipe melhor no papel do que na realidade.
“Por que você está me olhando assim?”, perguntou Erna, ao perceber que Bjorn a encarava.
“Porque você é bonita, minha esposa é bonita, mesmo quando faz essa carinha. Você fica especialmente bonita quando está brava, mas a mais linda quando sorri.” Ele sorriu.
As lâmpadas cuidadosamente escolhidas que pendiam das árvores iluminavam seu rosto, projetando sombras estranhas e exagerando seu sorriso malicioso.
Na verdade, Erna queria se reconciliar e parar de brigar, mas também não queria deixá-lo sair tão fácil. Foi ele quem a comparou a um cavalo, a insultou, fez barulhos absurdos e a ignorou.
Por outro lado, ela sabia que não tinha se comportado muito bem e tinha ficado bastante distraída com a organização do festival. Também era difícil negar o ponto de Bjorn, de que ela teve uma reação bastante emotiva e sensível.
“Sua raiva diminuiu?”, disse Bjorn, como se adivinhasse o que ela estava pensando.
“Não”, disse ela secamente.
“Então por que você não consegue tirar os olhos de mim?”
“Eu… eu estava pensando.”
“Pensando?”
“Sim, eu estava pensando por que, hoje, você não está tão bonito quanto o esperado.”
“O quê?” Bjorn olhou para Erna como se ela fosse uma criança tentando pregar uma peça.
“É nada, mesmo você nem sempre pode ser tão excelente em tudo.”
“Ah, sério? Então o que está fazendo você achar minha roupa menos atraente?”
“Aquela… gravata.” Erna disse, falando a primeira coisa que lhe veio à mente. “Não gosto da cor, não te cai bem.”
A verdade era que a gravata champanhe lhe caía perfeitamente. Embora, poderia ser de qualquer cor e ficaria perfeita nele.
Bjorn olhou para Erna e, sem tirar os olhos dela, chamou um criado. Ele sussurrou algo no ouvido da jovem e, quando ela saiu correndo, retornando momentos depois com o Príncipe Christian.
“Que diabos está acontecendo?”, exigiu o Príncipe Christian.
“Troca de gravata comigo, Chris.”
“O quê? Minha gravata?”, disse o Príncipe Christian, surpreso.
Bjorn não deu nenhuma explicação, simplesmente tirou sua gravata e a estendeu para seu irmão mais novo, esperando que ele fizesse o mesmo. O Príncipe Christian cedeu às exigências de seu irmão e entregou sua gravata turquesa, que Bjorn colocou casualmente.
O Príncipe Christian sentiu como se tivesse acabado de encontrar um louco, mas simplesmente balançou a cabeça e foi embora sem se despedir. Erna finalmente soltou uma gargalhada que não conseguia conter mais.
O príncipe era desagradável, mas gentil, e ela estava gostando do conto de fadas que estavam criando juntos. Embora não fosse um conto de fadas padrão, era tão fascinante quanto incomum, e pronto.
“Então, você gostou da minha gravata agora?”
“Muito melhor”, disse Erna, fingindo que não havia ganhado e aceitando sua mão em reconciliação.
Na hora certa, a atmosfera no jardim começou a se agitar. Uma noite de verão. Era hora das flores do festival desabrocharem.
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Assim que os passeios de barco começaram, uma miríade de casais remando rio acima, entre as flores flutuantes, toda a atenção voltou para o Príncipe Herdeiro e sua noiva. Com o mundo distraído, o Grão-Duque e sua esposa puderam desfrutar de alguma discrição. Seu barco deixou o cais e flutuou suavemente ao longo do rio Abit.
Bjorn casualmente remaram o barco até um ponto onde as luzes pareciam mais bonitas e Erna finalmente contou todas as histórias que queria contar há tanto tempo. Bjorn ouviu atentamente, enquanto olhava para onde podia ver a ponte do Grão-Duque e o palácio ao mesmo tempo.
“A senhorita Preve parece ser uma pessoa muito agradável”, disse Erna com um sorriso brilhante. “Gosto dela porque ela, de alguma forma, me lembra você.”
Bjorn franziu a testa com as palavras de sua esposa, ditas com entusiasmo. Ele se perguntou se Rosette tinha a mesma impressão, embora eles não tivessem passado muito tempo juntos, nem mesmo quando foram para a faculdade juntos. Ele decidiu não compartilhar a anedota, contando a Erna sobre a Rainha Cisne Enlouquecida, que teria ainda mais semelhanças.
“É bom que vocês duas se deem bem.”
“Sim, mas eu ainda sou a única com cabelo escuro, e ainda sou a menor”, resmungou Erna, emburrada.
“E a Greta?”
“Ela é um dedo mais alta que eu, eu verifiquei, e o pior é que ela só tem treze anos.” Erna sentiu-se afundando ainda mais na tristeza.
“Bem…” Bjorn riu, “isso só te torna ainda mais especial.” Bjorn estendeu a mão e acariciou a bochecha de sua pequena Grã-Duquesa de cabelos castanhos. Ela fez o possível para evitar seu olhar. Houve um momento de silêncio. “Se você não quiser aprender a montar a cavalo, eu não vou te forçar.”
“Você não quer mais me ensinar?”
“Eu não disse isso, mas se você estiver tendo dificuldades, você não precisa suportar.”
“Não, eu quero aprender, eu quero.” Erna balançou a cabeça.
Mesmo durante sua guerra com o mestre trapaceiro, Erna ia aos estábulos todos os dias para cumprimentar seu cavalo. Ela acariciava sua crina, o alimentava com beterrabas e contava histórias para ele. Erna percebeu que não tinha mais medo do cavalo. Assim como Bjorn havia dito, Dorothea era o cavalo perfeito.
“Por favor, continue me ensinando, vou estudar muito.”
“Você está planejando brigar comigo de novo?”
“Talvez, mas vai ficar tudo bem. Nós vamos conseguir brigar de forma mais esperta da próxima vez.” Erna olhou para Bjorn e ele pareceu entender, ele sorriu, pelo menos. “Bjorn, acho que deveríamos ter apelidos um para o outro também.”
Incentivado pela generosidade em seus olhos, Bjorn mal conseguia recusar um pedido tão inocente.
“Você pode simplesmente me chamar pelo meu nome, o que tem de errado com isso?”
“Acho que seria romântico se tivéssemos nomes um para o outro que ninguém mais pode usar, é o que os casais fazem. Só pensa, eu poderia ser Ena, ou Nana.” Bjorn bufou. “Você… é… Bibi.”
Erna não se importou com a opinião de Bjorn, ela era firme e continuou apesar de tudo. Ela sabia que os nomes não combinavam em nada, mas estava tendo dificuldades em encontrar outro nome.
Bibi e Nana.
Quando ela repetiu os nomes algumas vezes, eles não pareciam tão ruins, mas Bjorn franzia a testa cada vez que Erna os dizia em voz alta.
“Eu preferiria que você me chamasse de ‘bastardo’”, disse Bjorn com uma expressão de nojo no rosto.
Erna decidiu: de agora em diante, sempre que ficasse brava com Bjorn e ele a provocasse, ela o chamaria de Bibi.
Sob o banquete das luzes coloridas, Nana beijou Bibi.
Uma Noite de Verão ficou um pouco mais bonita.