O Príncipe Problemático

Volume 3 - Capítulo 15

O Príncipe Problemático

A professora de Erna era uma pilantra, uma mentirosa, e não demorou para Erna perceber isso. Fazia apenas uma semana que as aulas aconteciam de forma tranquila, aprendendo os fundamentos e como cuidar de Lady Dorothea, mas assim que ela se viu de costas para o cavalo, Erna só conseguiu se agarrar firme e gritar.

Bjorn tinha sido um ótimo professor até aquele momento, mas toda vez que Erna se levantava na sela, ela gritava e Bjorn soltava um suspiro irritado e simplesmente observava Erna se debater.

“Vossa Alteza, a senhora realmente não vai sair? O Príncipe vai embora em breve”, disse Lisa, colocando a escova de cabelo sobre a mesa. Erna assentiu teimosamente.

“Estou ocupada me preparando para o festival de verão, então acho que não poderei ir despedi-lo por um tempo.” Erna foi até a sala de estar das suítes.

Não era apenas mais uma desculpa para evitar se despedir do marido malvado; ela estava genuinamente ocupada. A sociedade feminina e os inúmeros eventos sociais, juntamente com o habitual festival de verão, mantinham Erna ocupada da manhã até tarde da noite. Ela não conseguia descansar um momento.

Foi só porque amava Bjorn que ela prometeu até mesmo tirar um tempo para aprender a andar a cavalo. Era uma promessa ruim, difícil de cumprir diante daquele homem impenetrável que a havia insultado tanto.

Erna sentou-se à escrivaninha, ao lado da bizarra estátua de elefante, que se destacava em suas cores extravagantes, e sua raiva ferveu. Ela desejou ter seguido a sugestão dos decoradores e jogado a coisa em algum canto escondido de algum cômodo esquecido.

“Qual o problema?” Bjorn a perguntou quando ela desceu do cavalo. “Como você pode ficar tão nervosa com um professor tão bom? Por favor, entenda, Erna, eu não posso te ajudar a menos que você me diga qual é o problema.”

Erna preferia Bjorn zangado a esse sujeito calmo e compreensivo que a olhava com olhos frios. A ausência das habituais oscilações emocionais só deixava Erna ainda mais chateada.

“Desculpe,” disse Erna, olhando para seus pés, evitando o olhar de Bjorn.

“Não, Erna, o que eu preciso é de uma explicação, não de um pedido de desculpas.”

“Estou apenas com medo,” Erna quase gritou. “Se a Dorothea errar ou correr de repente ou até mesmo me derrubar…”

“Erna,” Bjorn disse em tom suave, com um sorriso tranquilizador. “A Dorothea é a égua perfeita. Ela provavelmente entende o que está acontecendo melhor do que você.”

“Você está dizendo que sou pior que uma égua?”

Bjorn nem sequer levantou uma sobrancelha.

“Você realmente não acha que é melhor que a Dorothea?” Bjorn manteve-se frio.

A aula terminou com Erna humilhada e dando vazão a uma explosão de raiva que não conseguia mais conter. Ela não era mais a dama cortês. Bjorn ainda não demonstrava nenhuma emoção. Ele apenas a olhou sem expressão e suspirou como se achasse a birra dela fofa e engraçada. Ele se comportava como se estivesse tratando uma criança.

Erna fechou os olhos, apagando a lembrança de sua mente. Ela contou até dez e deixou as frustrações acumuladas se dissiparem. Só depois de contar até dez pela segunda vez conseguiu se acalmar.

Erna entendia que Dorothea era uma égua bem treinada e sabia que seu instrutor era um cavaleiro experiente; ela sabia que o problema era apenas sua inexperiência, mas isso não significava que ela não pudesse se chatear se as palavras certas fossem usadas. Parecia que as palavras vieram com intenção cruel.

Erna olhou pela janela; a carruagem partiria em breve e ela permaneceu irredutível em sua decisão de não se despedir de Bjorn. Ela nem sequer se aproximaria da janela. O trabalho de hoje estava acumulado como uma montanha diante dela; ela não tinha tempo a perder, de qualquer maneira.

A sala de estar da Grã-Duquesa Schuber logo começou a se encher do som de canetas riscando o papel.

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Quem continua chamando aquele canalha?

O jogo terminou com Bjorn Dniester como vencedor, como sempre. Os outros jogadores sempre se perguntavam quem chamava o canalha, mas sabiam que Bjorn vinha por vontade própria e, quando o fazia, o clima no clube social ficava carregado de desespero.

Assim que o desespero se dissipou, o clube social voltou ao seu ritmo habitual. A troca de piadas banais às custas uns dos outros enchia o clube de risos. Conversas sobre corridas de cavalos, investimentos e, claro, mulheres, tornaram-se a norma. O foco principal da conversa era a competição de remo.

As pessoas compartilhavam suas opiniões e previsões sobre quais equipes iriam vencer e apostas foram feitas antes do evento. Era difícil prever com precisão quem levantaria o troféu, com o Príncipe Herdeiro se afastando este ano, mas todos tinham suas próprias teorias e deduções.

Bjorn olhou ao redor da sala, através da fumaça opaca dos charutos, e se perguntou por que o Príncipe Herdeiro estava ausente do clube social. A competição de remo estava chegando e Erna estava ocupada com a administração do evento.

Aquela mulher estava atravessando a temporada de verão como se estivesse lutando uma guerra. Mesmo que ele a aconselhasse a não trabalhar tanto, ela não o ouviria. Ela era muito teimosa, e ele se viu pensando nela montada em seu cavalo. Ela era corajosa, enquanto gritava e o encarava com chamas azuis de raiva em seus olhos.

Erna era bastante emotiva e não conseguia entendê-lo de jeito nenhum. Eles tinham que elaborar um plano para superar esse problema, mas Erna não parecia querer fazer isso. Ela declarou que ele era o pior professor, que nunca mais faria aulas com ele; ele não discutiu e simplesmente a deixou ir, ela foi para o quarto feito uma criança berrando.

Se ela desejasse continuar suas aulas de equitação, seria melhor procurar um instrutor profissional; caso contrário, ele consideraria vender a égua de volta.

“Bjorn, faça-nos um favor e vá embora”, disse Leonard, quando a nova rodada começou.

“Não”, disse Bjorn, olhando para o relógio. “Preciso de dinheiro para as aulas de equitação de Erna.” Ele amava Erna, mas havia uma linha intransponível.

‘Não me siga. Porque eu não quero te ver!’

Erna saiu do picadeiro furiosa, o rosto vermelho de raiva. Bjorn não a impediu, deixando sua esposa se entregar à sua revolta infantil trancando a porta do quarto e pulando o jantar.

Ele ficaria mais do que feliz em se desculpar, se tivesse feito algo errado, mas não tinha intenção de fazê-lo. Erna acabaria se cansando e aceitando que precisava ajustar a maneira como abordava esse problema.

Bjorn examinou as cartas que lhe haviam sido dadas, pegando sua bebida. Faltavam mais uma hora para a próxima aula. Ele se perguntou se ela sequer se daria ao trabalho de aparecer. Valeria a pena voltar ao palácio? Ele teria que partir agora para chegar a tempo.

“Bjorn?” disse Peter.

Bjorn voltou ao jogo, colocando um charuto de volta entre os lábios depois de tomar um gole de conhaque. Os rostos dos outros jogadores de cartas estavam todos voltados para ele. Eles pareciam ansiosos, esperando poder recuperar parte de seu dinheiro com a distração de Bjorn.

Era hora de apostar e todos estavam olhando para ele. Depois de olhar novamente para sua mão, ele olhou para o relógio e riu. Todos os outros se entreolharam confusos; seria algum tipo de blefe novo?

“Abro mão”, declarou Bjorn e levantou-se da mesa.

“Ótimo, talvez agora tenhamos uma chance”, disse Peter com um sorriso vitorioso.

“Quão ruim era a mão dele para ele simplesmente se levantar e ir embora?” disse Leonard, ele espiou as cartas que Bjorn havia deixado para trás.

Uma Full House… Em uma só mão.

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