O Príncipe Problemático

Volume 3 - Capítulo 14

O Príncipe Problemático

O som das teclas da máquina de escrever preenchia o quarto da Grã-Duquesa. Lisa observava sua patroa com admiração. A digitação dela havia melhorado drasticamente desde os tempos em que ela tateiava as teclas, consultando livros didáticos. Seus dedos finos e brancos agora dançavam sobre as teclas, e palavras sem erros apareciam na folha de papel.

“Espero que você não esteja fazendo isso forçada”, disse Lisa, sorrindo orgulhosa.

Lisa sempre tentara não desconfiar dos outros, mas um pensamento repentino lhe ocorreu, enraizado em sua superproteção pela Grã-Duquesa, que havia sido maltratada e explorada muitas vezes.

“Não, de jeito nenhum”, disse Erna, seus dedos parando sobre as teclas. “Eu disse que assumiria a tarefa e a faço com prazer.”

“Sério?”

“Sim, sério.” Erna tranquilizou Lisa com um aceno de cabeça, virou o documento sobre a mesa de leitura e o som da digitação voltou a preencher o quarto.

Erna havia se juntado recentemente à sociedade feminina, a recomendação da Condessa Rocher, e elas estavam organizando um evento beneficente no final da temporada. Neste verão, pretendiam realizar um leilão beneficente para arrecadar dinheiro para reformar as casas de caridade. Erna precisava fazer uma lista completa de todos os itens doados.

Ela estava se tornando parte do mundo. Erna gostou da ideia. Ela temia que se colocar em evidência a deixasse vulnerável a críticas, mas sua empolgação logo abafou essa preocupação.

Quando Erna terminasse de digitar, Bjorn já deveria ter voltado. Eles jantariam e depois se encontrariam com a Sra. Fitz para discutir a competição de remo que seria realizada na semana seguinte. Eles estavam particularmente preocupados com esse dia porque era o dia em que Leonid anunciaria seu noivado.

Assim que terminasse a lista dos itens leiloados, teria que se ocupar escrevendo os convites. A lista de convidados era maior que o esperado, mas ela conseguiria terminar a tempo.

“Você ainda está se preocupando com isso?”

Enquanto Erna completava o terceiro convite, a voz familiar quase a fez pular. Bjorn chegou e se sentou na ponta da escrivaninha.

“Ah, Bjorn, quando você chegou?”

Bjorn riu. Ele estava na sala, tão perto dela, ofuscando Erna enquanto ela preenchia os convites. “Vamos sair, tenho algo para te mostrar.”

Erna suspeitou que Bjorn pudesse ter outro presente para ela, essa poderia ser a única razão para ele ter voltado para casa mais cedo, mas Erna não tinha tempo agora.

“Desculpe, Bjorn, pode esperar? Preciso terminar esses convites primeiro.”

Clara Rocher, Bjorn sabia que era tudo por causa dela. Erna tagarelava esse nome quase todas as noites. Era quase como se Rocher assombrava suas vidas. Agora, as amigas de Clara, e as amigas das amigas delas, também estavam se envolvendo. Bjorn ouviu tanto sobre a sociedade feminina e o leilão beneficente que conseguia recitar todos os detalhes sem errar.

“Por que você não usa a máquina de escrever para os convites também?” O som de um tinteiro estalando quase fez Bjorn rir alto.

“Você não pode digitar algo tão pessoal, como se fosse um recibo”, disse Erna com um resmungo.

“Então deixe os empregados fazerem.”

“Que falta de educação”, disse Erna, preocupada em trocar a pena da caneta-tinteiro.

“Não importa quanto esforço você coloque, as pessoas não vão se importar se for digitado ou escrito.” Bjorn sentiu-se cansado ao olhar para Erna. “A maioria delas nem vai se interessar e aquelas que se interessarem sempre vão achar algo para criticar, não importa o que você faça. Uma ou duas delas podem entender sua sinceridade e boa intenção.”

“Eu sei”, disse Erna, levantando a cabeça para olhar para Bjorn. “Apesar disso, eu vou lembrar. Você pode não estar disposto a se esforçar por coisas que não importam tanto para você, mas isso é suficiente para mim.”

“Você acha isso uma coisa sem sentido?”

“Eu não posso forçar, então mesmo que você esqueça, eu vou entender.” Erna sorriu suavemente, e voltou sua atenção para o próximo convite.

Para Bjorn, a maioria das coisas com que Erna se preocupava eram trabalhos inúteis, mas para Erna, era tudo alegria simples e preciosa.

Ele não tinha nenhum sentimento negativo em relação à curiosidade e ao desejo de Erna de experimentar todos os tipos de coisas diferentes. Ele poderia se sentir excluído quando Erna passava mais tempo com suas amigas do que com ele, ou tentando alcançar suas próprias conquistas. Na maior parte do tempo, ele até se sentia apenas observando-a crescer.

A mulher diante dele era a verdadeira Erna. Calma, teimosa, chorava muito, ria tanto quanto, com desejo de experimentar tudo pelo menos uma vez. Às vezes ela era como uma criança mimada, mas em outras, era como uma exploradora rude.

Bjorn pegou uma cadeira e sentou-se em frente a Erna e antes que ele pudesse se sentar, a porteira do inferno se manifestou, ela havia se tornado muito prática em se esconder à vista de todos.

“Saia”, ordenou Bjorn a Lisa, mais por choque ao encontrá-la na sala. Ela saiu somente quando seus olhos encontraram os de Erna, que acenou com a cabeça.

“Está pronto?” disse Bjorn, pegando um convite.

Os olhos de Erna se arregalaram, como se ela esperasse que Bjorn o rasgasse. “Sim, este está pronto.”

“Quantos mais?”

“Se eu trabalhar duro nos próximos três dias, mais ou menos, eu consigo terminar todos.”

O queixo de Bjorn caiu de choque. “Você está convidando toda Schuber?” Bjorn sorriu e pegou uma caneta.

“Você vai me ajudar?” Erna piscou surpresa, suas bochechas corando. Ela estava tão bonita.

Bjorn respondeu mergulhando a pena de sua caneta na tinta e riscando-a no papel.

“Você precisa lembrar de uma coisa, Erna, isso não é decência, ou sinceridade, é loucura, pura e simplesmente.”


O cavalo passeava tranquilamente pelo paddock ao lado dos estábulos do Castelo Schuber. Era um cavalo lindo, com uma pelagem marrom brilhante.

“Você gostou?” Bjorn disse, quebrando o silêncio.

Erna o olhou surpresa. “Quer dizer, é isso que você queria me mostrar?”

Bjorn acenou com a cabeça preguiçosamente. Ele fez um gesto e o mestre de estábulo se aproximou. Ele havia estado conduzindo o cavalo pelo paddock e agora o trouxe para perto da Grã-Duquesa. O cavalo permaneceu calmamente diante dos dois.

“Cumprimente-a, Erna, ela é sua agora.” Bjorn sorriu e pediu a Erna para se aproximar. Era estranho ver uma mulher que tratava um bezerro como um cachorrinho hesitar diante de um cavalo agora.

“Você realmente quer dizer…”

“Você deveria aprender a montar a cavalo.”

“Sim, mas…” Erna finalmente se aproximou do cavalo. Bjorn sorriu levemente enquanto a observava cumprimentar o animal de forma desajeitada.

Era uma jovem égua bonita e dócil, uma combinação perfeita para alguém como Erna. Bjorn pode ter pago mais do que valia, mas ele não se importou.

“Seja cortês, Erna, ela também é uma dama.”

“O que você quer dizer?”

“Bem, olha, ela está usando um chapéu e luvas brancas delicadas.” Bjorn apontou para a coroa branca na cabeça do cavalo e para suas meias brancas que estavam apenas nas pernas da frente. Erna caiu na gargalhada.

“Entendo, ela realmente é uma dama.”

Bjorn pegou a mão de Erna e acariciou a crina do cavalo. Ela era uma boa dama por direito próprio e sempre conseguia o que queria.

“Qual o nome da dama?” disse Erna, que reuniu coragem suficiente para acariciar o cavalo.

“Você tem que dar um nome a ela.”

Erna olhou chocada. “Não, eu não posso, é seu presente, você deve dar o nome.”

Pensando em Krista, a bezerra que quase foi chamada de Divórcio, Erna se perguntou se havia tomado a decisão certa. Bjorn pôde ver a compreensão no rosto de Erna e caiu em uma deliciosa gargalhada, Erna gostou daquela risada e se juntou a ela. Eles riram juntos como crianças animadas.

“As aulas começam amanhã”, disse Bjorn enquanto gentilmente segurava a mão de Erna.

Erna pensou em como teria que subir nas costas do cavalo e sabia que ia parecer muito desajeitada. “Eu realmente consigo montar bem a cavalo?”

“Finja que está montando em mim.”

A resposta que Bjorn recebeu foi um olhar fulminante que poderia derreter gelo. Erna queria pedir a ele para não dizer tais coisas em público, mas seu bom professor já selou seus lábios com um beijo terno.

“Você tem um bom treinador, você estará montando o cavalo como uma profissional em pouco tempo”, disse Bjorn.

Comentários