Volume 3 - Capítulo 13
O Príncipe Problemático
Foi amor!
Um espanto tomou conta da mente de Erna ao se ver consumida pela revelação que acabara de se desdobrar diante dela. A força misteriosa que transformara sua pacata mesa de almoço em um cenário de caos e descrença.
Meu Deus, era mesmo amor.
Naquele instante, ela não conseguia acreditar. A palavra a atingira como um raio em uma tarde clara, deixando-a completamente alheia ao garfo que recolocava na mesa. Ao redor, os outros membros da Família Real sentavam-se em silêncio estupefato, os olhos fixos em Leonid, o responsável pelo anúncio inesperado.
Bjorn segurava sua taça de vinho com a delicadeza de sempre, o único aparentemente indiferente à confissão. A Princesa Louise não percebeu os pingos de molho escorrendo de seu garfo na toalha de mesa branca como a neve. O Príncipe Christian murmurava para quem estava sentado ao seu lado, as sobrancelhas franzidas em desaprovação. A expressão da Duquesa Arsène simplesmente escureceu.
“Casamento, Leo? Você está mesmo dizendo que deseja se casar…” Bjorn quebrou o silêncio, o riso corrompendo suas palavras enquanto falava. “Você deseja se casar com o país, em alguma tentativa de aliança diplomática?” Bjorn buscava uma explicação.
“Não, Bjorn”, disse Leonid, sua expressão calma e totalmente desprovida de culpa pelo caos que acabara de causar. “Não um casamento político, um casamento normal, com a Srta. Rosette Preve.”
Ao pronunciar o nome novamente, uma onda de choque percorreu a sala de jantar mais uma vez. Parecia que o Rei e a Rainha já estavam cientes dos planos de Leonid; eram os únicos que permaneceram compostos.
“Preve? A filha do Conde Preve, aquela… nerd?” Os olhos da Princesa Louise se arregalaram, sua voz subindo em um grito agudo. Ela deixou cair o garfo, esquecido sob a pressão de assuntos mais importantes.
“Sim, a mesma, mas Louise, a Srta. Preve não é nenhuma nerd, ela é uma excelente dama, na verdade.”
“Oh, meu irmão, você é um Príncipe Herdeiro, como pode dizer que deseja se casar com a filha daquele conde?”
Leonid estava bem preparado para a enxurrada de perguntas e argumentos que sua família lhe lançaria. “Exatamente”, disse ele, em uma resposta calma e rápida.
Louise sentiu-se sobrepujada pela situação, recostando-se na cadeira e pressionando o dorso da mão na testa. Ela desejara ter ido embora quando teve a chance. Ela sempre inventava desculpas e evitava lugares onde estaria na companhia da Grã-Duquesa. Desde sua declaração de divórcio, Louise não conseguia compartilhar o mesmo espaço que aquela garota.
“Você se esqueceu de quem é o Conde Preve?”, disse Louise fracamente, mas ainda conseguindo soar incrédula.
O Conde queria mandar sua filha, uma prodigiosa gênia da matemática, para a faculdade, mas nenhuma universidade jamais havia admitido uma aluna antes. Então, o Conde entrou com uma ação judicial contra seu próprio país, desafiando a prestigiada Universidade Real.
Naturalmente, todo o empreendimento causou um rebuliço. Explodiu por todo Lechen, coincidindo com a matrícula dos príncipes gêmeos na faculdade.
Apesar das probabilidades estarem contra ele, o Conde prosseguiu, recusando-se a recuar. Ele levou sua filha para conhecer os professores da Universidade Real, para demonstrar sua inteligência e até mesmo convencê-los a pedir por ele. O reitor cedeu.
Aos apenas dezesseis anos, Rosette Preve tornou-se a primeira aluna da Universidade Real de Schuber, e o nome Preve ficou para sempre gravado na história de pioneiros de Lechen.
“Louise, não menospreze os esforços do Conde assim. Foi um pedido legítimo e foi legalmente aceito”, disse Leonid, sua expressão inalterada e seu tom calmo.
“Pai, Mãe, vocês realmente aprovam isso?”, gritou Louise, se voltando para o Rei e a Rainha. O casal olhou um para o outro antes de acenar em uníssono. Louise entendeu a causa de sua recente preocupação.
Louise voltou-se para Leonid. “Você enlouqueceu?”, Louise olhou para Leonid com raiva. “Nem mesmo Bjorn chegou a esse ponto.” Em sua raiva, ela lançou a acusação mais severa que pôde reunir.
“Você conseguiu superar a montanha de problemas que Bjorn causou em 27 anos em um único lance.” A Duquesa Arsène decidiu que era hora de adicionar seu peso à discussão.
Bjorn Dniester, a personificação de um príncipe problemático, simplesmente olhou para seu irmão gêmeo em silêncio. Leonid encontrou seu olhar com firmeza.
Rosette Preves. Ao pensar no nome, um sorriso surgiu nos lábios de Bjorn.
A universidade era a única coisa que conectava o inocente Príncipe Herdeiro e a enigmática gênia da matemática, Rosette Preves. Bjorn viu tudo e nunca deu muita importância até agora. Ele nunca pensou em conectar os pontos. Leonid deve ter mantido esse relacionamento em segredo de todos por muito tempo e fez um ótimo trabalho.
Rosette Preves, o Cisne Enlouquecido. Sua aparição na universidade causou muita polêmica, mas, constantemente cercada por colegas do sexo masculino, Rosette nunca recuou e se provou inúmeras vezes, ganhando esse apelido, Cisne Enlouquecido.
Bjorn suspirou e tomou um gole de seu vinho. Ele nunca desviou o olhar de seu irmão, que o olhava, esperando o que viria a seguir. Sem dúvida, ele passara anos se preparando para isso, pronto com réplicas para cada acusação e declaração de insanidade. Bjorn escondeu seu sorriso atrás da taça de vinho enquanto bebia.
Bjorn ergueu sua taça, como se brindasse. “Leo, seu maluco.”
O verão deste ano será um ótimo entretenimento para o povo de Lechen, que adora fofocas reais e escândalos.
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No fundo da noite, a Rua Schuber estava envolta em uma escuridão total.
Erna olhou para o Rio Abit, banhado pela escuridão e refletindo a lua. Normalmente ela já estaria profundamente dormindo, mas o sono a esquivava. O choque dos eventos recentes a deixou animada.
O noivado do Príncipe Herdeiro seria anunciado durante o festival de verão deste ano, com planos de se casar na primavera, por volta da Cerimônia de Fundação de Lechen. Tudo ainda parecia tão surreal.
O que aconteceria depois que o noivado fosse anunciado?
Erna estremeceu com o simples pensamento; o tumulto seria muito maior do que o que cercava o anúncio do casamento do Grão-Duque, e Leonid não demonstrava sinais de hesitação.
“Deve ser amor verdadeiro”, disse Erna para si mesma. Bjorn desviou sua atenção da noite estrelada para olhar para sua esposa. “Se tivéssemos feito uma aposta, eu teria ganhado seu dinheiro”, disse Erna, tentando aliviar a situação. “Bjorn, você está preocupado?”, perguntou ela, colocando sua mão enluvada nas costas de Bjorn. Ele balançou a cabeça enquanto calmamente pegava a mão dela.
“O Príncipe Herdeiro pode cuidar de seus assuntos.”
Se Leonid escolheu esse caminho, significava que ele estava preparado para enfrentar as consequências e assumir a responsabilidade. As repercussões do casamento poderiam ser maiores do que ele antecipava, mas Bjorn conhecia seu irmão; sendo o perfeccionista que é, provavelmente considerou todos os ângulos de ataque e defesa.
Bjorn confiava que Leonid seria capaz de lidar com a tempestade que se aproximava. Não havia necessidade de sobrecarregá-lo com seu envolvimento. O pensamento de sua decepção ao longo dos anos era prova de quão esperto seu irmão podia ser.
“Há algo que possamos fazer para ajudar?”, perguntou Erna.
“Por quê, você está preocupada?”
“O Príncipe Herdeiro e a Srta. Preve estão entrando em um casamento que será criticado pelo mundo.”
“E daí?”
“Bem, nós dois sabemos o quão difícil isso pode ser”, disse Erna, seus olhos cheios de genuína preocupação. Bjorn pôde sentir as marcas do passado, as dificuldades que ela teve que suportar, e isso o fez sentir culpado.
“Nós apenas temos que apoiá-los silenciosamente da melhor maneira possível. Leonid não será influenciado pela opinião pública, e a Srta. Preve será muito resoluta.” Bjorn olhou para sua esposa com um olhar suave e um sorriso.
“Sim, tudo bem então.” Erna assentiu. Ao ver seu sorriso restaurado, Bjorn percebeu que estava segurando a mão de sua esposa com força. Como se temesse perdê-la novamente. Ele não queria deixá-la ir.
“Mas quem é a Srta. Preve, ela vai gostar de mim? Espero que nos demos bem.” Erna expressou sua principal preocupação.
“Bem”, disse Bjorn com um sorriso vago ao se lembrar do Cisne Enlouquecido da Matemática. Ela nunca foi uma pessoa a formar laços estreitos com ninguém e, em retrospecto, as hostilidades de seus colegas poderiam ser atribuídas a isso.
Pensar que ela conquistou o coração de Leonid sugere que ela não é completamente consumida por números. Talvez ela ainda possa encontrar uma conexão com Erna, que compartilha semelhanças com seu próprio noivo. Era difícil prever.
“Vou presenteá-la com um buquê de flores especialmente preparado quando nos encontrarmos pela primeira vez no festival”, disse Erna animada, determinada a se aproximar do enigmático cisne. Bjorn não quis desanimá-la, oferecendo uma concordância ponderada.
“Erna, como você soube que o comportamento selvagem de Leonid era alimentado pelo amor?”
“Ah, bem, o Príncipe Herdeiro estava agindo de forma diferente da primavera passada, assim como você quando chegou em Buford. Eu apenas pensei que talvez ele também estivesse apaixonado. Afinal, vocês são gêmeos.” Erna deu a Bjorn uma piscadela e um sorriso travesso.
“Você está me amaldiçoando?”, disse Bjorn, a testa franzida em confusão.
Erna simplesmente balançou a cabeça. “Não, de jeito nenhum, por que eu faria isso?”
Os dois trocaram olhares silenciosos e um sorriso compartilhado de afeição.
“É um elogio, Bjorn.” Erna fez o possível para soar tranquilizadora, pegando sua mão estendida. “O amor é sempre uma boa escolha.”
Embora parecesse uma bofetada, algo que Erna era muito hábil em fazer, com seu rosto angelical e comportamento inocente, Bjorn não pôde deixar de sorrir para ela. Seja lá o que fosse entre Leonid e Rosette, não parecia errado.