Volume 3 - Capítulo 12
O Príncipe Problemático
As paisagens de Lorca explodiam em beleza radiante, gerando uma gama de cores vibrantes que Erna guardaria para sempre na memória: o mar esmeralda que cintilava sob o sol brilhante, a cidade vermelha aninhada entre as dunas do deserto e as rosas vibrantes.
Erna examinava meticulosamente todas as fotografias. Queria expô-las, mas temia que fosse um exagero. Lutava para escolher apenas algumas e, finalmente, decidiu guardar as mais preciosas como tesouros pessoais. Uma decisão tomada por respeito à dignidade e ao orgulho do Grão-Duque.
Acomodada em sua xícara de chá, Erna examinava a moldura que escolhera para sua fotografia favorita: o registro dela e Bjorn sob a laranjeira. Um rosto sorridente radiante para a câmera, enquanto o Grão-Duque olhava para sua obsessão. O longo vestido formal de Erna escondia o fato de que ela estava na ponta dos pés, chegando quase ao queixo de Bjorn.
Perdida no momento, Erna olhava para a foto como se pudesse sentir a brisa morna e o cheiro das laranjas. O coração batia forte, como se a cena capturasse perfeitamente a essência do amor deles.
Erna levantou-se da cadeira e foi até o esconderijo secreto de sua lata de biscoitos. Muito maior do que o boneco de neve que ela já teve, a lata floral era grande o suficiente para acomodar a foto emoldurada.
“A fera tem uma amiga”, dissera a Sra. Fitz, ao ver a lata.
Bjorn a havia presenteado com ela, cheia de biscoitos, e embora fosse muito maior do que qualquer pote de biscoitos que Erna já vira, ela a amava do mesmo jeito. Os biscoitos eram especialmente deliciosos e foram compartilhados entre os funcionários do palácio.
“É grande”, murmurou Erna, mais para si mesma do que para Bjorn. “É realmente grande.” Erna sentiu que, se se abaixasse, caberia dentro dela.
Suprimindo uma risada, Erna abriu a tampa e colocou a foto em seu interior. Ela admirava o tamanho enorme da lata, que permitia guardar tantas lembranças. Embora achasse encantadora, nunca expressara esse pensamento, sentindo que era por isso que Bjorn a escolhera.
Colocando a foto carinhosamente no pote de biscoitos, Erna sentiu o coração se encher de calor ao olhar para ela, aninhada entre todas as suas outras lembranças da primavera.
Uma batida na porta do quarto. “Sua Alteza, é a Sra. Fitz”, disse uma voz educada.
“Sim, entre”, disse Erna, recolocando a tampa do pote. A Sra. Fitz entrou em silêncio.
As duas se acomodaram na varanda com vista para o rio Abit, e então mergulharam em conversas profundas sobre a previsão para o verão. A agenda estava lotada, mas Erna estava animada e motivada.
Após horas de conversa, as duas ficaram em silêncio, tomando seus chás e umedecendo gargantas secas.
“Ah, vejo que o troféu ganhou uma nova fita”, disse a Sra. Fitz, sorrindo. Ela notou que o troféu de chifre dourado agora estava adornado com uma fita azul, combinando com os olhos da Grã-Duquesa.
Ela inspecionou a sala e, por onde olhava, encontrava lembranças do gosto excêntrico da Grã-Duquesa: o troféu com fita, uma máquina de escrever, a estátua de elefante e agora a lata de biscoitos floral gigante.
Lorenz Diggs estivera desesperado para remover esses artefatos extravagantes, alegando que eles destoavam da estética da sala, mas Erna permaneceu firme. Embora os objetos pudessem ser feios, eram lembranças do amor do Príncipe pela Princesa e, nisso, eram as decorações mais bonitas da sala.
“Oh, olha a hora”, disse a Sra. Fitz, enquanto seus olhos passavam pelo relógio na lareira. “Você tem que se encontrar com o arquiteto em trinta minutos. É melhor se arrumar.”
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O príncipe chegou em casa mais cedo que o esperado. Ao ouvir a notícia, os serviçais da residência do Grão-Duque se reuniram rapidamente na entrada para receber a carruagem adornada com o emblema do lobo dourado.
“Sua Alteza está na sala de estar, reunida com o Sr. Emil Barser”, informou a Sra. Fitz ao príncipe, transmitindo a notícia mais importante.
“Barser?” Bjorn questionou, ainda na entrada, intrigado.
A Sra. Fitz suspirou levemente: “Ele é o arquiteto que projetará a estufa, conforme seu pedido por telegrama durante sua visita a Lorca”, esclareceu ela.
“Ah, sim”, Bjorn assentiu e sorriu. Endireitou sua bengala e prosseguiu pelo saguão, subindo as escadas até a sala de estar onde a Grã-Duquesa o esperava.
Assim que Bjorn abriu a porta, o arquiteto imediatamente se levantou da cadeira. “Oh, Príncipe!”
Bjorn reconheceu a saudação do arquiteto com um leve aceno de cabeça antes de se sentar ao lado de Erna. Várias folhas de projeto estavam espalhadas sobre a mesa, indicando que Erna ainda não havia tomado uma decisão.
“Bjorn, fico feliz que esteja em casa. Gostaria da sua opinião”, disse Erna, sorrindo brilhantemente.
Bjorn olhou para as imagens na mesa. “É sua escolha, então escolha o que quiser”, respondeu secamente, desabotoando a luva. Erna ficou desapontada com a resposta fria de Bjorn. “Mas Bjorn, isso é para o Palácio Schuber”, disse ela, sorrindo gentilmente.
Familiarizado com seus maneirismos, Bjorn reconheceu que sua persistência era mais forte quando ela sorria dessa maneira gentil. Erna então pegou duas fotos da mesa e as mostrou a ele. “Primeiro, existem dois projetos que eu gosto, mas estou tendo dificuldades para escolher entre eles. Veja qual você acha melhor.”
Bjorn suspirou, impressionado com a crescente capacidade de sua esposa de influenciá-lo. Ele cedeu e compartilhou seus pensamentos. “Qual tem o custo de construção mais alto?”, perguntou ele, examinando as ilustrações da estufa. O arquiteto grisalho hesitou por um momento antes de apontar para o projeto à direita.
“Este projeto de estufa é o maior e o mais caro para construir, Sua Alteza...”
“Neste caso, vamos escolher este”, decidiu Bjorn sem hesitar.
“Bjorn?”
“Se você está tendo dificuldades para escolher, lembre-se de uma coisa, Erna. Não existem itens baratos de boa qualidade neste mundo. Itens caros são caros por um motivo.”
“Mas um preço mais alto nem sempre garante qualidade, certo?”
“É por isso que é crucial garantir que o resultado valha o preço que você paga, custe o que custar”, disse Bjorn, sorrindo para o arquiteto. “Não é verdade, Sr. Barser?”
Emil Barser pareceu desconcertado, agarrando apressadamente o esboço de construção selecionado enquanto lançava olhares para a porta, ansioso para sair na primeira oportunidade. Bjorn então permitiu que o experiente arquiteto de estufas se despedisse.
Com a porta da sala de estar fechada, Erna sorriu aliviada. “De qualquer forma, Dniester sempre escolhe e cria o mais magnífico, não é…”,
“De fato.” Bjorn reconheceu casualmente o elogio indireto.
“Obrigada, Bjorn”, disse Erna, olhando para seus sapatos bem-polidos e bem cuidados. Ela agora entendia que essa era a maneira de Bjorn – o príncipe de Lechen, o presidente do banco – de mostrar seu amor. Um homem que proporciona à sua mulher as coisas mais luxuosas e finas do mundo é uma prova de seu amor por ela.
Bjorn apenas riu e olhou para Erna. Quando seus olhos se encontraram com mais intensidade, a Sra. Fitz inesperadamente bateu na porta, fazendo Erna desviar rapidamente o olhar e se sentar de volta no sofá.
“Sua Alteza, há notícias urgentes do palácio.” A Sra. Fitz se aproximou deles e apresentou a carta que carregava em uma bandeja de prata.
“Venham ao palácio amanhã de manhã. Como este é um evento significativo para a família real, certifiquem-se de que vocês dois estejam presentes.”
A sobrancelha de Bjorn se franziu enquanto examinava a carta. A nota manuscrita da Rainha o surpreendeu, pois sua mãe nunca havia escrito nada parecido no passado.
“Precisamos ir ao palácio agora?”, perguntou Erna, o rosto tenso enquanto inspecionava a carta que Bjorn lhe entregou.
“Não, Erna. Se fosse o caso, minha mãe, sem dúvida, teria pedido minha presença no palácio imediatamente.”
“O que está acontecendo? Aconteceu algo terrível?”
“Não sei.” Bjorn pegou sua bengala de platina com cabeça de lobo que estava encostada no braço da cadeira. “Talvez esteja relacionado ao comportamento peculiar do Príncipe Herdeiro ultimamente.”
Ele tinha certeza de que estava conectado a Leonid Dniester. Apesar da falta de evidências sólidas, Bjorn não conseguia descartar a intuição incômoda.