O Príncipe Problemático

Volume 2 - Capítulo 153

O Príncipe Problemático

“Olha, Alteza, uma matéria no jornal cheia de elogios.”

Lisa invadiu o quarto do hospital enquanto Erna estava sentada no parapeito da janela, tomando sol. A matéria, com o nome da Grã-Duquesa estampado na capa, era completamente diferente dos artigos publicados sobre ela antes.

Erna estava sentada perto da janela do quarto do hospital, curtindo o sol, quando de repente pulou de surpresa. “Lisa, você não pode correr assim com seus machucados!”

“Estou bem, meu pé mal dói.”

Ter salvado a Grã-Duquesa, segundo os boatos, proporcionou a Lisa o luxo de ter uma suíte própria no hospital, mas ela ainda passava a maior parte do tempo com Erna.

Erna olhou para a primeira página enquanto Lisa mancando se aproximava do parapeito da janela; com uma mistura de medo e curiosidade, ela leu o artigo.

Os Santos de Lechen Quebram a Maldição do Cogumelo Venenoso.

Sob a manchete bastante chamativa do jornal, havia uma foto em preto e branco de Erna e Bjorn no dia do casamento. O artigo enaltecia o amor do Grão-Duque e sua esposa, que floresceu no acidente de trem.

Exagerava a história do Príncipe Bjorn arriscando-se nos perigos dos destroços para salvar sua esposa, e de uma Princesa que devotadamente cuidou de seus súditos, apesar de estar ferida. Terminava com o reencontro emocionado do Príncipe e da Princesa, e era apresentado como uma história bem elaborada, embora inflada de mentiras para aumentar as vendas.

Não era exagero dizer que o amor da Princesa quebrou a maldição lançada sobre o Príncipe pela bruxa má de Lars. Com seu amor brilhando diante da adversidade, o Príncipe conseguiu se libertar da Maldição do Cogumelo Venenoso.

Com base no depoimento de um informante no quartel, o Grão-Duque e sua esposa, que tiveram um reencontro dramático naquela manhã, demonstraram seu amor por meio de um beijo apaixonado. O momento apaixonado tocou o coração de todos que leram o artigo, como se fosse a mais dramática ópera.

“Meu Deus”, sussurrou Erna, depois de ler o último parágrafo. Ela colocou o jornal com uma expressão preocupada.

O artigo terminava com uma descrição detalhada do beijo que eles haviam compartilhado no quartel. Era uma descrição tão obscena que Erna não conseguia suportar ler o final.

“Isso…” Erna estava tão vermelha que não conseguia dizer uma palavra e estava simplesmente furiosa.

Era verdade que ela era uma mulher tímida e não estava acostumada a ser o centro das atenções, mas era injusto um simples abraço ser exagerado a tal ponto, tornando-se um beijo apaixonado.

“Esses jornalistas são uns mentirosos!”, disse Lisa, fazendo beicinho. “Ainda assim, pelo menos agora Lechen finalmente sabe que tipo de pessoa boa você é.”

Lisa ficou de pé diante de sua patroa, orgulhosa de todos os elogios que ela estava recebendo, especialmente entre a equipe do hospital. Embora, claro, eles estivessem muito entusiasmados com o último parágrafo.

“Amanhã você volta para Schuber e estou tão feliz que você vai começar bem dessa vez”, disse Lisa, olhando para Erna. “Só tome cuidado para não cruzar o olhar com o Príncipe, não queremos mais nenhuma dessas demonstrações públicas de afeto vazando para a imprensa”, Lisa riu. As bochechas de Erna ficaram vermelhas.

O retorno da Grã-Duquesa aconteceu sem esforço, como o fluxo da água. A partir daquele dia, eles não hesitaram mais em exibir abertamente seu afeto, dormindo e acordando juntos na mesma cama.

Lisa ainda pensava em Bjorn como um Cogumelo Venenoso, sua mente não se deixaria convencer tão facilmente, mas pelo menos Erna estava feliz e o Príncipe parecia ter mudado um pouco. Pelo menos sua patroa não precisava mais competir pelo afeto do príncipe. Lisa acreditava nisso quando o Príncipe Bjorn, com aparência desgrenhada, visitou sua esposa naquela manhã.

“No entanto, Alteza, tenho fé em você. Você é forte, muito mais forte do que as pessoas pensavam.” Lisa disse com confiança e os lábios de Erna curvaram-se em um sorriso tímido.

Bem na hora, Bjorn entrou na sala. Ele tinha saído para inspecionar o local do acidente. Quando ele voltou, Lisa se retraiu como se tivesse dito coisas desagradáveis sobre o Príncipe e temia que ele tivesse ouvido.

“Lisa”, disse Bjorn, atravessando a sala para ficar ao lado de sua esposa.

“Sim, Alteza?”

“Você deve se preparar para voltar para Schuber.”

Lisa e Erna olharam para o Príncipe com uma expressão confusa, e enquanto o faziam, a luz do sol da tarde se transformou em um tom dourado mais rico e vibrante.

Lisa fez uma saudação educada e saiu. Quando o som de seus passos hesitantes desapareceu, Bjorn se voltou para Erna.

“Você vai conseguir fazer a viagem de trem de volta para Schuber?”, perguntou ele, apoiando a cabeça na mão.

Erna parecia mais animada do que ontem, mas sua tez pálida não o deixou tranquilo. O médico dissera que a viagem para Schuber seria difícil e, se Erna estivesse tendo dificuldades, não havia razão para ele não atrasar a partida.

“Sim, estou bem”, disse Erna com um sorriso brilhante.

“Vai ter muita gente olhando”, Bjorn alertou.

Ele apontou para o jornal que havia sido casualmente descartado na mesa. Ele tinha sido distribuído na tarde de ontem, o que deu a Lechen todo o tempo necessário para causar alvoroço. A plataforma da estação de Schuber estaria lotada de pessoas, principalmente vítimas e parentes do acidente, mas haveria muitas pessoas ansiosamente esperando pelo retorno do Príncipe e da Princesa.

“Não se preocupe, estou pronta”, disse Erna, olhando diretamente para Bjorn.

Um sorriso se espalhou pelo rosto de Bjorn enquanto ele olhava para Erna e a confiança com que ela respondeu. Erna achou que seus olhos se assemelhavam à luz do sol em uma tarde preguiçosa de domingo.

“Você parece confiante”, disse Bjorn.

“Sim”, respondeu Erna sem hesitar. “Eu sou a Grã-Duquesa de Schuber.”

A risada baixa que Bjorn soltou ao olhar para sua esposa, a Grã-Duquesa, penetrou suavemente seu coração e a encheu de calor.

“É verdade”, disse Bjorn. “Você também é a santa de Lechen.” Suas palavras eram brincalhonas.

Corando de vergonha, Erna não fez nada para repreender o elogio injustificado. Era um elogio ridículo, mas ainda assim elevou seu coração.

“Tem um presente que eu gostaria, se você estiver a fim de comprar coisas caras”, disse Erna, aproximando o jornal. “Eu gostaria de um novo pote de biscoitos.” Embora o artigo fosse ridículo, ele ainda marcava uma ocasião monumental e ela queria guardar uma parte dele, porque era a primeira vez que ela recebia reconhecimento e elogios desde que se tornou a Grã-Duquesa.

“Você quer dizer… uma conta bancária?”, disse Bjorn, levantando uma sobrancelha.

“Não, claro que não, um pote de biscoitos de verdade, eu preciso de um novo”, Erna riu. “Por favor, você não compraria um pote de biscoitos novo para mim? Para que eu possa enchê-lo com nossas novas e felizes memórias.”

“Tá bom”, Bjorn assentiu, “para você, eu compro.”

Bjorn sorriu gentilmente e lentamente abaixou a cabeça para dar um beijo na testa de Erna. Seus lábios passaram por suas bochechas coradas e nariz arrebitado, para pousar em seus lábios macios. Erna aceitou o beijo sem pensar duas vezes. Pelo lindo pote de biscoitos novo que ela logo veria.

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O trem para Schuber partiu de Kassen cedo pela manhã. Leonid havia mudado de ideia e ficou em Kassen por mais alguns dias para ajudar a lidar com o acidente.

Bjorn e Erna viajaram juntos no trem, de volta para o lugar de onde Erna havia fugido no final do verão passado. Eles foram com as histórias de amor e promessas de continuar compartilhando uma vida feliz juntos.

Na primavera, os dois fariam uma viagem, uma segunda lua de mel, onde veriam todas as coisas que Erna amava e Bjorn apreciava, juntos. Eles fariam longas caminhadas e teriam piqueniques luxuosos. Eles navegariam por vastos lagos e explorariam enormes museus.

No verão, Erna achou uma boa ideia aprender a andar a cavalo. Ela tinha medo de seu cavalo, mas com seu marido ao lado, o mestre equestre que havia ganhado muitos troféus, ela não tinha dúvidas de que aprenderia rapidamente a se aproximar do cavalo.

No outono, eles voltariam para visitar Buford, que estaria colorido com belos tons dourados, marrons e vermelhos escuros. O lendário homem de Lechen, que havia surgido do nada e vencido a corrida da colheita, retornaria. Desta vez, com uma esposa que estava mais determinada a vencer do que ele. Bjorn gostou da ideia, pois havia se afeiçoado ao vinho de Buford.

Quando o inverno chegasse novamente, o que aconteceria então? Como o casal Grão-Ducal estaria após um ano inteiro? Ninguém podia dizer, nem mesmo Bjorn.

Quando os dois começaram a pensar na estação do inverno, o trem parou em Schuber. Havia inúmeras pessoas nas plataformas, trens entrando e saindo constantemente da estação. Era a mesma metrópole lotada de sempre, mas desta vez, Erna não tinha medo.

Erna colocou suas luvas, seu chapéu, que ela amarrou cuidadosamente sob o queixo, e arrumou as dobras de seu vestido. Quando o trem parou, havia mais espectadores na plataforma do que passageiros esperando para embarcar.

“Você está pronta, minha esposa?” Bjorn levantou-se e ofereceu a mão a Erna. Erna a pegou alegremente e deixou Bjorn a escoltar para fora do vagão.

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Quando o casal real que todos esperavam surgiu, a plataforma se tornou uma tumultuada tempestade de passos apressados e gritos. Todos queriam ver de perto.

“Saiam, saiam, eu disse!”, gritaram os policiais de escolta.

A polícia havia isolado uma passagem segura pela estação para o casal e, embora todos estivessem ansiosos para dar uma olhada, ninguém violou a barreira sagrada.

Bjorn e Erna pararam e fizeram pausas ocasionalmente para cumprimentar educadamente e posar para fotos. Eles deram acenos curtos e acenaram jubilosamente. Erna era muito menos reservada que Bjorn, que tinha muito mais prática nessas atividades sociais, mas Erna descobriu que gostava de tudo da mesma forma.

A admiração do povo mostrou o quanto eles se importavam com o Príncipe e a Princesa, como se nenhum dos últimos dois anos tivesse acontecido. Eles sussurravam sobre a forma como Bjorn segurava sua esposa perto. A protegendo da multidão eufórica, alguns diziam.

“Vamos, afastem-se, afastem-se, abram espaço”, dizia um policial, embora ninguém estivesse no caminho e a multidão mal parecia registrar sua presença.

Bjorn parou em seus passos, ao observar a crescente multidão de pessoas e soltou um longo suspiro, seus olhos se estreitando enquanto ele estudava a multidão, depois sua esposa.

“Bjorn?”, disse Erna, olhando para ele com preocupação.

Após um breve pensamento, Bjorn surpreendeu Erna ao dar um grande abraço nela e, em seguida, a ergueu em seus braços. A multidão aplaudiu animada. Bjorn riu enquanto caminhava pela multidão, carregando sua esposa em seus braços. Ele sabia que devia parecer loucura, mas não se sentia tão mal por isso. Afinal, era isso que a multidão queria, a prova de que o Príncipe estava apaixonado por sua esposa. Ele não via razão para não atender a esse desejo.

“O Príncipe ama sua esposa”, alguns começaram a cantarolar, “ele é loucamente apaixonado por sua esposa.”

Quando o príncipe partiu da plataforma, segurando sua esposa como se ela fosse um tesouro precioso, era uma verdade inegável. Um príncipe, outrora amaldiçoado, mas salvo por uma bela santa, havia se apaixonado por sua salvadora. Naquele momento, a história de amor de conto de fadas de Lechen tornou-se ainda mais encantadora e bela.

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A carruagem correu em alta velocidade de volta para o palácio, cruzando a ponte em tempo recorde. Erna desviou sua atenção das águas vermelho-rosadas do rio Abit para olhar para seu marido.

“Eu não vou fazer isso na frente dos nossos empregados”, disse ela, ainda incapaz de se livrar das memórias surrealistas da estação.

Erna ficou envergonhada o tempo todo que esteve nos braços de Bjorn, corando cada vez mais a cada canto da multidão. Ela quase gritou de tão constrangedor que foi. Embora, ela não pudesse negar o fato de que isso tornou mais fácil sair da estação.

“Eu quero voltar a ser uma dama.” Erna transmitiu sua opinião sobre o assunto com um tom muito mais altivo. Ela queria ser a dama perfeita, mais do que nunca, embora seus erros passados não pudessem ser apagados.

“Ah, é mesmo?”, disse Bjorn pensativo. “Bem, então, se esse é o seu desejo.” A postura de Bjorn era elegante e refinada, e em completo contraste com seu tom, como se ele tivesse algum plano em mente.

Calma e graciosa, como uma dama. A qualquer momento, em qualquer lugar.

Erna repetiu o mantra enquanto a carruagem chegava à varanda do Palácio, fazendo o possível para ignorar o sorriso malicioso que seu marido lhe lançava toda vez que seus olhos se encontravam.

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“Bem-vindos de volta, Alteza e Príncipe”, disse a Sra. Fitz, sendo a primeira a recebê-los. “Em nome de todos os servos do Palácio de Schuber, gostaria de estender nossas sinceras boas-vindas.”

Contrariamente aos olhos inchados, bochechas inchadas e rosto cheio de lágrimas da velha, a Sra. Fits manteve sua compostura muito bem.

Erna e Bjorn acenaram para a Sra. Fitz e entraram na residência Grão-Ducal. Os servos do Palácio de Schuber estavam alinhados dos dois lados do hall de entrada, curvaram a cabeça em uníssono. Erna prendeu a respiração e não pôde deixar de se sentir nervosa.

Talvez Bjorn tenha percebido isso e apertou gentilmente a mão de Erna, dando-lhe sua força. Erna olhou para ele e ele murmurou Como uma dama.

Erna desejava que esse pudesse ser o seu final feliz, mas ao olhar por cima do ombro, para a porta e o vasto mundo além dela, ela sentiu que nunca havia um final feliz de verdade. As coisas acontecem e às vezes são boas e às vezes são ruins e simplesmente continuam, sem um fim verdadeiro à vista.

Erna transmitiu sua convicção sorrindo brilhantemente. Um destino maravilhoso se estendia diante dela e, embora houvesse dificuldades, haveria alegria também.

Em um mundo iluminado pelo brilho radiante de um esplêndido lustre, Erna começou a dar passos delicados e graciosos.

Ela embarcou em uma bela jornada para amar mais uma vez, ao lado de seu amado príncipe, enquanto seus destinos se entrelaçavam em uma história de amor e felicidade.

– Fim –

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