Volume 2 - Capítulo 152
O Príncipe Problemático
A suave luz da lareira era o suficiente para evitar que o quarto ficasse muito escuro. Era quase o amanhecer quando o leve som da porta abrindo e fechando preencheu o silêncio do aposento.
Bjorn moveu-se com a maior cautela, fazendo o mínimo de barulho possível enquanto se aproximava da cama onde Erna dormia. Ela parecia tão tranquila que ele sentiu um alívio imenso.
“Ah, Vossa Alteza”, disse uma enfermeira, assustada com o aparecimento repentino do Príncipe. Bjorn rapidamente levou um dedo aos lábios e sibilou.
“Por favor, fique quieta, vá descansar”, disse ele.
“Mas…”
“Sem mas, eu vou cuidar dela.” Com um sorriso tranquilizador para a enfermeira, Bjorn sentou-se numa cadeira ao lado da cama de Erna.
Com a saída da enfermeira, um silêncio tranquilo envolveu o quarto novamente. Bjorn observou sua esposa adormecida, que se comportara como uma santa, escondendo seus próprios ferimentos e cuidando dos outros primeiro; era uma verdadeira qualidade tipicamente Erna.
Bjorn gentilmente afastou o cabelo do rosto de Erna, revelando os curativos que cobriam várias lacerações em seu rosto. Os médicos disseram a ele que não deixariam cicatrizes muito feias, mas os cortes em seus braços e nas costas, onde cacos de vidro se encravaram, precisavam de pontos. Durante todo o perrengue, Erna apenas sorriu, mesmo quando ficou pálida como um fantasma e começou a suar frio.
“Estou bem”, Erna repetia, um mantra que irritava os nervos de Bjorn.
Ele fez o possível para não demonstrar, seguindo o exemplo de Erna. Não queria deixá-la chateada. Ele sentia que conseguia entender um pouco do comportamento passado de Erna, fingindo que tudo estava bem quando não estava.
“Bjorn…?”, uma voz sonolenta sussurrou.
Bjorn despertou, sem perceber que havia pegado no sono. Quando seus olhos se encontraram, Erna deu um sorriso sonolento. Bjorn olhou para ela com um olhar distante; enquanto ela se sentava para enfrentá-lo de frente, ambos emanavam um brilho suave e nebuloso projetado pela lareira.
“Você está bem?”, perguntou Erna, lançando um olhar preocupado para Bjorn. O rosto dele estava cheio de curativos e as mãos estavam bem enfaixadas. Para encontrar sua esposa, ele havia passado a noite toda procurando no trem após o acidente.
“Como você pode ver, estou bem.”
Sentindo um aperto de vergonha, Erna desviou o olhar para a lareira. Ela se perguntava o que dizer, mas se viu fixada no momento em que Bjorn sussurrou em seu ouvido: “Eu te amo, Erna”. Assim que o constrangimento se instalou, Bjorn levantou-se e Erna instintivamente olhou para ele.
“Descanse, Erna”, disse Bjorn com um sorriso. Assim como o homem de antes, gentil e implacável.
“Bjorn, não vá”, disse Erna enquanto observava sua cabeça se afastar em direção à porta. Bjorn olhou por cima do ombro, surpreso. “Fique comigo.”
“Erna?”
“Quero tentar de novo, você ainda é meu marido.” Mesmo com as bochechas coradas, Erna falou com confiança. “Além disso, você disse que me amava.” Sua voz vacilou no final.
Bjorn encarou Erna e suspirou baixinho. Ele se virou e voltou para a cadeira. Amor, ela usou as palavras como rédea e freio, puxando suas rédeas para atraí-lo. Mas ele não odiou.
Erna se remexeu na cama estreita e Bjorn soltou uma risada.
“Você realmente quer me oferecer sua cara cama?”, Bjorn riu enquanto olhava para Erna.
“Esta cama não é minha”, disse Erna calmamente, sem desviar o olhar.
Bjorn aceitou o convite brincalhão, mas encantador, e sentou-se ao lado de Erna na cama. O perfume familiar dela, inalterado em suas memórias, o fez lembrar do passado. Ele estava mais do que disposto a deitar-se ao lado de sua amada esposa e descansar.
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A distância entre eles diminuiu gradualmente. Bjorn tomou a iniciativa e se aproximou. As pontas dos dedos se tocaram, os ombros se encostaram e, mesmo deitados um de frente para o outro, seus olhos se encontraram e se encheram um do outro.
Bjorn segurou sua esposa cuidadosamente em seus braços, como se ela fosse uma fera tímida que ameaçasse fugir ao menor desconforto. Ela se entregou de bom grado e relaxou em seus braços.
“Você dormiu desde ontem?”, Erna sussurrou.
“Não”, disse Bjorn, abrindo os olhos para olhar Erna.
Eles ficaram na cama, olhando um para o outro por um longo tempo.
“Bjorn… nosso filho não se foi por sua causa.”
Os dedos de Bjorn apreciavam o toque dos cabelos castanhos macios de Erna e pararam quando ela falou.
“Eu não estava me sentindo bem por alguns dias. O médico fez algumas visitas. Eu esperava que tudo estivesse bem, mas sentia que o bebê já estava indo embora.” Bjorn continuou olhando para Erna calmamente enquanto ela falava. “Naquela noite, eu poderia ter te rejeitado, mas não queria.”
“Erna…”
“Naquela noite dormimos juntos, na mesma cama, com nosso bebê aninhada entre nós, você me abraçou enquanto dormíamos, assim como agora. Acredito que nosso bebê encontrou conforto em seu abraço. Todas as noites anteriores, eu estava em agonia constante, mas não naquela noite. Eu consegui dormir. Às vezes, me pergunto se nosso bebê estava esperando por você, para se despedir do pai pela última vez.”
Erna sorriu e acariciou o rosto estoico de Bjorn.
“Vou me lembrar do meu bebê daquela noite em que dormi profundamente em seus braços. Espero que você também.” Erna disse as palavras que queria dizer há tanto tempo. Bjorn olhou para ela sem expressão e Erna soltou uma gargalhada.
“Sabe, você revelou sua carta mais forte”, disse Bjorn, os olhos levemente vermelhos.
“Não, acho que você entendeu errado”, disse Erna, balançando a cabeça. “Eu ainda mantenho minhas cartas perto do peito.”
“O quê?”
“Bem, que jogador no mundo inteiro revelaria suas cartas?”, Erna tinha um sorriso brilhante no rosto.
Quando o riso diminuiu, os dois se olharam. As lembranças depois disso eram vagas, como um sonho distante. Não importava quem disse primeiro, eles se abraçaram e se beijaram. Foi um beijo cuidadoso, como na primeira vez.
Eles se beijaram várias vezes, continuaram se beijando até que o calor de sua paixão fosse acendido e seus beijos se aprofundassem.
“Bjorn, eu te amo”, disse Erna, seus lábios vermelhos úmidos.
“Eu sei”, disse Bjorn enquanto a beijava novamente.
Ainda assim, ele não conseguia deixar de ser arrogante. Foi um pouco sarcástico e Erna escolheu entender, porque ele era um ótimo beijador.
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A Baronesa Baden caminhava pelo longo corredor do hospital. Era bastante impróprio para uma dama, mas não importava quando se tratava da vida de sua única neta.
Ela recebeu notícias do acidente na tarde de ontem e, felizmente, também veio a notícia de que Erna estava a salvo. Se a Baronesa tivesse apenas ouvido falar do acidente, seu pobre coração senil teria desfalecido ali mesmo.
“Sua Alteza, o Grão-Duque, também está lá, Baronesa”, informou o atendente do Palácio Schuber, enquanto guiava a Baronesa até onde Erna estava descansando.
A Baronesa irrompeu no quarto, junto com a Sra. Greve. Ela sabia que não deveria ter tentado assustar Erna daquela maneira, mas a emoção e as lágrimas a cegaram.
“Erna, minha querida”, a Baronesa gritou entre soluços.
A Baronesa ficou surpresa ao não ver sua neta na cama; o atendente tinha se enganado? Aquele não era o quarto de Erna, mas do Príncipe Bjorn. Assim que a Baronesa estava prestes a se retirar para evitar o constrangimento, Bjorn olhou para a Baronesa e ela pôde ver Erna aconchegada em seus braços, dormindo.
“Meu Deus”, disse a Baronesa enquanto recuava.
Ela cobriu a boca com um lenço, o rosto como se tivesse visto o próprio inferno, e a Baronesa se apressou para longe da visão horrível. A Sra. Greve, que ofegou ao ver o que estava acontecendo, fez o sinal da cruz e correu atrás da Baronesa.
Quando a porta se fechou, o quarto voltou ao silêncio, exceto pela respiração pesada e sonolenta de Erna. O divórcio era coisa do passado. O Grão-Duque e sua esposa dormiam profundamente na cama do hospital. Uma fina faixa de luz solar entrava no quarto por uma fresta nas cortinas e iluminava os dois que pareciam estátuas na cama.
Era meio-dia de um dia ensolarado de final de inverno, quando a neve finalmente parou.