O Príncipe Problemático

Volume 2 - Capítulo 143

O Príncipe Problemático

Os olhos de Erna se arregalaram em choque e incerteza. Ela desviou o olhar e não respondeu. Lá dentro, uma tempestade se formava em seu peito, deixando-a sem pensamentos coerentes.

“Descansa”, disse Erna, como se não tivesse ouvido o que ele disse. Suas mãos tremiam e, inconscientemente, ela as torcia em sua saia.

Com o coração batendo forte no peito, ela se virou para ir embora, ansiosa por colocar a maior distância possível entre ela e Bjorn, mas antes que pudesse dar um passo em direção à porta, Bjorn a deteve, agarrando-a pelo ombro.

“Você não estava me esperando?”, a voz dele, imperativa, abafou o uivo do vento. “Não foi por isso que você ficou acordada até tão tarde?”

“Não, de jeito nenhum.” Erna se virou e olhou para Bjorn com os olhos marejados. “A ideia de você voltar me manteve acordada, que você voltaria, eu esperei torcendo para que você não voltasse.”

“É isso que você estava esperando?”, Bjorn soltou um suspiro desanimado e afastou o cabelo úmido da testa. “Então por que você foge quando eu volto?”

“Bjorn, não faça isso.”

“Erna.”

“Tudo sempre é muito mais fácil para você, mas não para mim, então, por favor, não.”

“Parece mesmo fácil para mim?”, os lábios dele tremeram enquanto ele olhava para Erna, cuja expressão suplicante estava à beira das lágrimas.

A culpa o apertava o coração. Ela costumava ser uma jovem tão despreocupada e contente, segundo suas lembranças, mas aquilo havia se tornado obsoleto; Erna não podia mais ser medida pelas ações do passado, ela havia se tornado algo mais emocional, um enigma perturbador.

“Não, de jeito nenhum, Erna, você acha que é fácil para mim continuar voltando para uma mulher que deseja que eu desapareça para sempre?”

“Deseja?”

“O pedido que você fez no seu aniversário.” Ele riu da futilidade das palavras que despedaçaram sua vaidade sem esforço.

Enquanto a olhava, ele percebeu que o pedido que ela havia feito em seu aniversário era seu único desejo. Ele não conseguia se obrigar a perguntar sobre isso. Ele não queria confessar que era uma sombra de seu antigo eu, havia batido no fundo do poço e não sabia para onde ir.

“Não é assim”, disse Erna. “Um pedido é algo precioso, você realmente acha que eu perderia meu tempo desejando que você desaparecesse?”

“Qual foi seu pedido então?”

“Pedi pelo nosso bebê, meu pobre bebê, que foi tirado de mim assim…”

A mente de Bjorn ficou em branco e ele perdeu o foco de tudo. Erna irrompeu em lágrimas. Elas escorriam sem esforço pelas suas faces, molhando-lhe o rosto em um fluxo rápido e incessante.

“Eu pedi para que nosso filho encontrasse um bom lugar para descansar, essa resposta te satisfaz? Pode não significar nada para você, mas foi precioso para mim.” Erna parecia uma criança perdida. Tudo o que Bjorn pôde fazer foi olhá-la, achando difícil dizer uma palavra.

“Na verdade, eu nunca pensei que teria um filho. As pessoas sempre diziam que a Princesa Gladys lhe deu um filho, então, se eu não conseguisse engravidar, devia ser minha culpa. O que eu poderia fazer, se eu acabasse sendo uma esposa que nem conseguia cumprir seu dever? Quando finalmente tive um filho, foi uma fonte de consolo para mim, em momentos em que estava muito aterrorizada para enfrentar a realidade.”

Erna deixou as lágrimas fluírem enquanto desenterrava as lembranças que tanto queria esquecer. Ela lutava para ver o rosto de Bjorn por causa da penumbra e da visão embaçada e lacrimejante; de certa forma, aquilo era uma bênção.

“Apesar das circunstâncias desfavoráveis, fiquei incondicionalmente feliz quando engravidei. Essa felicidade foi amplificada porque coincidiu com o tempo alegre que passamos aqui, em Buford. Parecia outro milagre e, quer você goste ou não, era nosso bebê.”

As lembranças daquele dia fatídico a arranhavam a mente. Quando a criança a deixou, ela foi consumida por um desespero e uma dor sem limites, que voltaram à tona com uma intensidade vívida. Aquilo a atormentava como a implacável tempestade lá fora.

“Talvez, como todos disseram, haja um certo alívio em poder manter a posição de Grã-Duquesa graças àquela criança. Agora está óbvio. Quando penso nisso, não tenho direito de dizer que meu filho era precioso. Que tipo de mãe eu sou?”

Erna sentia emoções mistas, chorando e rindo ao mesmo tempo. Perder seu filho a fez sentir como se finalmente estivesse encarando seu verdadeiro eu, o eu que ela vinha evitando de propósito.

“De tudo, Bjorn, eu me odeio mais do que qualquer coisa, não você. Mesmo que você continuasse me machucando, eu ainda te amava, você que me deixou, a mim e meu filho, sozinhas até o fim, e mesmo que eu estivesse tão doente e miserável, meu coração não conseguia parar de te amar. Eu me odiava por isso, tentei me enganar, acreditando que eu não te amava, pensando que era a única maneira de sobreviver ao seu lado.”

Erna sentia emoções mistas, chorando e rindo ao mesmo tempo. Perder seu filho a fez sentir como se finalmente estivesse encarando seu verdadeiro eu, o eu que ela vinha evitando de propósito.

“Erna, eu…”

Bjorn ainda lutava para encontrar a voz, mas não conseguiu pronunciar uma só palavra. Em vez disso, ele levantou a mão do ombro dela e acariciou seu rosto delicadamente. Com cuidado, ele enxugou as lágrimas. Seu toque frio mal fez com que ela chorasse ainda mais.

“Mesmo assim, foi difícil de suportar. Foi aterrorizante e sufocante. É por isso que te deixei. Eu não suportava a ideia de te amar novamente e, mesmo agora, ainda sinto o mesmo.”

Com os olhos cheios de lágrimas, a lembrança daquela noite veio à tona. Ela se lembrava vividamente de escapar do quarto, lindamente decorado como uma flor, enquanto o rosto de Bjorn permanecia em seus pensamentos.

Se ela não amasse mais Bjorn, ela poderia ter vivido com aquilo, poderia ter suportado alegremente suas ausências e não se incomodado tanto com isso. Ela poderia ter vivido pacificamente, cercada pela beleza eterna como suas flores, mas ela o amava.

“Eu me odeio por estar abalada, mesmo sabendo que amava uma mera ilusão. Não quero mais viver com essa dor e me odeio por antecipá-la o tempo todo. Bjorn, estou atormentada e cheia de medo.”

Os soluços e a respiração ofegante estavam se tornando demais e aumentaram de intensidade, tanto que ela lutava para manter o controle do próprio corpo. Às vezes, ela achava difícil até mesmo compreender as palavras que estava dizendo.

A única coisa que ela conseguia ver era Bjorn. Sua expressão calma, o calor de seu toque suave limpando suas lágrimas e o abraço de seus braços envolvendo-a, sustentando seu corpo trêmulo.

“Me desculpe, Erna.” Ele disse enquanto a abraçava forte. “Me desculpe tanto…”

Ele repetiu as palavras várias vezes em tom baixo. Erna não conseguia dizer se era real ou a ilusão de sua mente fragmentada.

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“Não acredito como o tempo muda rápido assim, você não teria conseguido adivinhar que houve uma nevasca ontem à noite”, disse Lisa.

Erna havia ficado sentada em silêncio, paralisada, segurando uma xícara de chá cujo conteúdo havia esfriado há muito tempo. Finalmente, ela levantou a cabeça e olhou para Lisa. A suave luz do sol entrava enquanto Lisa abria as cortinas. À medida que a luz ficava mais forte, os olhos inchados de Erna se destacavam ainda mais.

“A senhora gostaria de dar um passeio, Sua Alteza? A senhora perdeu sua caminhada matinal de costume.” Lisa fingiu não ver o cansaço no rosto de Erna.

Tudo o que Lisa sabia sobre a noite passada era que houve uma tempestade de neve, o Príncipe voltou e Erna terminou a noite em lágrimas. Somente com base nesses fatos, Lisa poderia adivinhar o que aconteceu. Ele era realmente um cogumelo venenoso.

“Vamos sair e respirar um pouco de ar fresco, vamos, Sua Alteza, eu vou ajudá-la a fazer um boneco de neve.”

“Um boneco de neve?” O olhar vazio de Erna focou pela primeira vez em horas. Lisa riu, antecipando a reação e ajudou Erna a se levantar.

“Vou construir um boneco de neve maior do que o da sua caixinha de biscoitos”, disse Lisa. “Na verdade, eu sou muito boa em fazer bonecos de neve. A senhora vai ficar impressionada com minhas habilidades.”

Erna riu da brincadeira de Lisa e, lentamente, se vestiu com roupas novas e limpas, com a ajuda de Lisa.

Olhando para o jardim coberto de neve da Casa Baden, Lisa sentiu um acesso de excitação. Ela estava cheia de entusiasmo renovado, sabendo que aquele era o lugar perfeito para criar sua obra-prima de boneco de neve.

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Bjorn foi acordado pelas batidas insistentes em sua porta. O atendente não parecia entender a mensagem de que Bjorn queria ficar sozinho e continuaria até que lhe fosse permitida a entrada.

“…entre!” Bjorn gritou irritado.

Enquanto lutava para se sentar, seu corpo se sentia pesado sob os cobertores leves de algodão; ele podia ouvir soluços quando a porta se abriu, como se ainda estivesse na sala de estar com Erna.

“Sua Alteza.”

“Me desculpe pelo ontem…” Bjorn interrompeu sua fala, que estava prestes a se transformar em uma diatribe, mas, em vez disso, ele apenas ofereceu um simples pedido de desculpas.

Os eventos de ontem foram certamente loucos, não poderia ser definido de outra forma. Quando o trem deixou Schuber de manhã cedo, eles receberam notícias do agravamento da tempestade, mas Bjorn se recusou a voltar.

O trem parou em uma pequena cidade e eles foram avisados de que seria melhor encontrar um hotel e esperar a tempestade passar. Bjorn tinha outras ideias, mesmo tendo sido avisado de que poderia acabar preso na tempestade.

Eles desembarcaram, esperando esperar a tempestade passar, mas, enquanto o atendente olhava ao redor, Bjorn pôde ser visto correndo pela plataforma atrás do trem que estava partindo e pulando a bordo.

“Se algo tivesse acontecido com você, Sua Alteza, eu…”

“Estou bem, como você pode ver, então pare com a preocupação.”

Bjorn levantou-se da cama e vestiu um roupão que havia jogado sobre o encosto de uma cadeira. Depois de se cobrir, ele foi até a janela. Assim que as cortinas foram abertas, uma luz brilhante inundou o quarto. Ele sentou-se no parapeito da janela e admirou a maravilha invernal.

O som de uma mulher rindo chamou sua atenção para o jardim, onde ele viu Erna e Lisa brincando na neve, diligentemente construindo um boneco de neve. Erna estava vestida com um vestido florido desajeitado, exatamente como a Erna que ele costumava conhecer.

Enquanto ele escutava o riso das duas mulheres, sua alegria enchendo o ar, um sorriso se espalhou por seus lábios. Bjorn se virou para seu atendente com uma expressão contemplativa.

“Você é bom em construir bonecos de neve?”

“Perdão…” O atendente piscou surpreso, achando a pergunta absurda.

Em vez de responder, Bjorn simplesmente sorriu mais uma vez.

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