Volume 2 - Capítulo 142
O Príncipe Problemático
Erna abriu a porta rapidamente e foi imediatamente atingida pela fúria do vento que a esperava.
A rajada poderosa a empurrou para trás, e ela levou um instante para reunir forças e olhar para a frente da nevasca. Espiando para fora, na luz fraca dos postes, ela conseguiu distinguir a silhueta escura de Bjorn, de costas para a tempestade, aproximando-se da porta até ficar diante dela.
“Hmm, 23h52, estou até adiantado.” Ele sorriu e guardou o relógio de bolso.
Erna se sentiu perdida e insegura sobre o que fazer. Agindo por instinto, ela estendeu a mão e o puxou para dentro do abrigo do corredor, para se proteger do vento. Assim que a porta bateu, um silêncio profundo envolveu o corredor.
Esse homem estava, sem dúvida, maluco.
Na fraca luz da varanda, ela pôde ver claramente que ele estava desgrenhado e coberto de neve. Seu rosto estava extremamente pálido, dando a impressão de que ele poderia ser um fantasma.
“Por que você está aqui?”, disse Erna, agarrando o braço congelado de Bjorn. “No meio da noite, com um tempo tão perigoso, por quê?”
Erna estava tomada por emoções, deixando-a sem palavras, e as perguntas que fez estavam carregadas de ressentimento.
“Bem, eu prometi, não prometi?” Bjorn olhou para Erna com um brilho gentil nos olhos enquanto falava.
“Quando você começou a levar suas promessas a sério?”, gritou Erna; ela nunca havia levado aquilo como uma promessa real. Por que esse homem, que costumava ser tão casual com suas promessas, agora estava agindo de forma tão estranha?
“Você realmente fica assim quando seu marido cumpre suas promessas?”
Só quando Erna percebeu a neve derretendo escorrendo de seu cabelo platinado que ele estava encharcado. Uma poça de água derretida crescia a seus pés.
“Por favor, entre, esquente-se e vista roupas secas.” Ela se virou rapidamente e subiu as escadas, praticamente batendo os pés a cada passo.
“Vou preparar um banho para você, se quiser.” Ela se afastou da porta calmamente, deixando para trás as palavras que havia prometido.
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Os passos cuidadosos de Erna ecoaram pelo silêncio pesado. Ela acendeu a lareira no quarto de hóspedes e correu para a cozinha, onde havia colocado mais leite para ferver. Procurou nos armários o licor do avô. O cheiro de cravo e canela encheu o ar.
Depois de aquecê-lo, ela retirou o leite, despejou-o em uma xícara com um pouco do licor e levou para o quarto de hóspedes. Apesar da lareira crepitando, levaria um tempo para o frio sair do quarto, depois de dias fechado. Uma pontada de arrependimento a atingiu por não ter dado ouvidos aos conselhos da avó.
O som do prato caindo no chão da cozinha quebrou o silêncio da noite. Erna rapidamente tampou a boca, suprimindo a vontade de gritar.
A luz forte dos cacos do prato quebrado a deixou momentaneamente atordoada. Lágrimas brilhantes formavam um delicado lago em seus olhos. Era difícil entender por que o prato quebrado poderia afetá-la tão profundamente, passando por ela como fragmentos de seu coração, refletindo a fragilidade da peça que jazia diante dela.
Erna buscou consolo, escondendo o rosto nas mãos e agachando-se em um canto da cozinha, evitando a luz. Lágrimas escorriam por suas palmas, como rios libertos, expressando livre e abertamente seu estado vulnerável.
Ela não queria admitir que estava esperando o retorno de Bjorn, mas no momento em que o viu emergir da nevasca, a realidade a atingiu, assim como as emoções que vinha negando. Ela ansiava que Bjorn não voltasse e, ao mesmo tempo, o queria ali.
Por que seus sentimentos por ele sempre tinham tanto peso e significado? As lembranças do passado que compartilharam inundaram sua mente, seguidas por lágrimas que só fortaleceram sua turbulência emocional.
Ela não havia escolhido o divórcio por ódio; na verdade, foi porque ela não o odiava, e a ausência de ódio tornava sua decisão ainda mais difícil.
Era impossível nutrir ódio pelo homem que desejava. Ela o amava, e seu ódio forçado crescia a cada dia que passava, tornando-se um fardo que causava dor imensurável. Ela tentou se afastar, escapar para o único lugar onde sentia algum conforto, apenas para se encontrar de volta ao ponto de partida.
Ela estava com medo.
Ela tinha medo de ser ferida pelos fragmentos quebrados de seu amor, o pensamento assombroso de que acabaria como sua mãe, cujo amor só lhe trouxera solidão.
Assim que as lágrimas cessaram, Erna lavou o rosto como se estivesse se purificando. Encontrou Bjorn sentado perto da lareira, bebendo o leite quente e o conhaque que ela havia preparado para ele. Seus olhos se estreitaram quando ela notou o cabelo úmido e a roupa inadequada.
“Se você ainda estiver com frio, adicione mais um pouco de álcool, isso vai te esquentar”, disse Erna, oferecendo a garrafa de conhaque.
Bjorn pareceu surpreso, mas obedientemente aceitou a garrafa. Erna pegou um cobertor da cama e também o entregou a Bjorn, que o pegou com um sorriso tímido. Ela deu um passo para trás e o observou. Ela ficou aliviada ao descobrir que ele não havia sofrido nenhum dano significativo.
“Ainda está muito frio no seu quarto, então você deve ficar aqui um pouco mais.”
“Erna”, Bjorn a chamou de repente enquanto olhava para o cobertor em suas costas e colo, “E o divórcio?”
Erna parou de andar e virou a cabeça para olhá-lo. “O quê?”
“A bezerra”, disse Bjorn. “A bezerra que eu dei nome.”
Embora ele tivesse tomado apenas alguns goles do leite e do conhaque, Erna tinha certeza de que Bjorn estava de alguma forma bêbado. Ela o olhou em silêncio, tentando adivinhar seu jogo. Ela sorriu, achando aquilo bastante bobo.
“É Christa”, disse Erna secamente. “O nome da bezerra é Christa.”
“Não é um nome muito grandioso para uma bezerra?”
A expressão de Erna ficou séria. “Não acho que ninguém que daria a um animal um nome tão degradante como ‘Divórcio’ tenha o direito de comentar.”
“Christa…” disse Bjorn pensativamente. “Deu certo em Schuber… Sua fruteira cresceu consideravelmente.”
“Sua Alteza,”
“Eu planejava te trazer um presente para comemorar, mas, como você pode ver, cheguei de mãos vazias porque você não gosta tanto dos meus presentes”, disse Bjorn cuidadosamente, olhando para a sala de estar; da última vez que ele esteve lá, ela estava cheia de presentes. “Você guardou todos aqueles presentes?”
“Sim, o depósito está prestes a explodir”, disse Erna sarcasticamente.
“Você abriu algum?”
“Não, deixei todos como estavam, para que você possa levá-los de volta, o broche também.” Os olhos de Erna brilhavam como joias preciosas à luz da lareira.
“Mas você aceitou.”
“Eu só aceitei no dia porque não queria te constranger na frente de todos, mas quanto mais penso nisso, mais acho que seria melhor se você levasse tudo de volta.”
“Por quê?”
“Porque parece estranho receber joias caras quando estamos prestes a nos divorciar”, disse Erna.
“E a carta? Você vai devolver também?”, disse Bjorn com um sorriso.
Erna teve dificuldade em acenar com a cabeça. Bjorn a olhou, percebendo suas bochechas coradas.
“Como estava a minha carta?”
“Como estava?”
“Estou curioso. É a primeira vez que escrevo uma carta de amor.”
“Ah, sim, e a que você escreveu para a Gladys? Aparentemente, você tem talento para escrever cartas lindas.”
“Bem, o que posso dizer, Lechen é abençoada com alguns dos melhores poetas.”
“Quer dizer, você pediu para um ghostwriter escrever sua proposta?”
“Ela realmente achou que eu tinha escrito?”
“É uma carta fiel à sua personalidade”, Erna riu.
“Foi um elogio ou uma ofensa?”
“Pense como quiser. Agora pare…”
“Não vá”, disse Bjorn de repente, ele parecia sincero. “Eu queria te ver, senti tanto sua falta, então voltei. Erna…”
Uma gota de água caiu de seu cabelo molhado e escorregou sem esforço pelo nariz. Ele limpou o rosto com a mão trêmula, tentou engolir um nó na garganta que dificultava a fala e ficou hipnotizado pelas chamas dançantes na lareira crepitante.
“Por favor, não vá”, ele disse novamente.
Palavras suaves quebraram o silêncio entre eles enquanto prendiam a respiração, trocando olhares. Lá fora, a tempestade continuava a uivar sobre Buford.
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