Volume 2 - Capítulo 139
O Príncipe Problemático
Presentões inundaram a Mansão Baden, formando uma montanha de presentes no corredor que deixou todos boquiabertos. A expressão de Erna era uma mistura de espanto e incômodo, uma visão que evocava uma lembrança familiar e desconfortável demais.
“Erna, que diabos é tudo isso?”, disse a baronesa, assustada.
“Saudações, Vossa Alteza”, disse um criado, entregando um último presente, pequeno.
Era o próprio criado de Bjorn, o único que ele havia trazido de Schuber. Atrás dele estavam os outros trabalhadores, que se curvaram em uníssono em respeito à esposa do Príncipe.
“São as coisas que o Príncipe preparou para você, Vossa Alteza.”
“Obrigada”, disse Erna, “vocês todos se esforçaram muito.”
Erna primeiro expressou sua gratidão com a cortesia adequada. Era uma situação absurda, mas com tantos olhos sobre ela, tinha que se comportar com dignidade e esconder seus verdadeiros sentimentos.
Isso tinha a assinatura de Bjorn Dniester por toda parte e, assim que o último criado finalmente saiu, ela olhou para a pilha de presentes com o rosto vermelho de frustração mal contida. Ela queria atear fogo na pilha inteira.
“Desculpa, Vovó”, Erna disse à baronesa. “Vou deitar um pouco.”
Ele não mudou nem um pouco.
Sua raiva explodiu. Ela havia previsto que a presença de Bjorn acabaria com o clima do seu aniversário, mas nunca pensou que ele iria tão longe de novo.
“Erna.”
Assim que Erna chegou ao corredor, ouviu a voz do convidado não-convidado. Ela soltou um suspiro de resignação. Para sua surpresa, Bjorn se aproximava casualmente dela, com um sorriso sincero no rosto. Ele carregava a mesma ternura que tinha no seu vigésimo aniversário e isso só o tornava mais devastador.
“Vejo que os presentes chegaram”, disse ele.
“Sim, seu canalha egoísta, todos foram bem recebidos.” Erna olhou para Bjorn com a expressão mais calma que conseguiu controlar.
“O que você quer dizer?”, Bjorn disse, o sorriso desaparecendo e sendo substituído por um olhar de preocupação.
“As marcas que você me deixou no ano passado não foram suficientes para você? Você não pensou nos boatos que se espalhariam ao preparar presentes tão extravagantes, ou o quanto esses boatos dificultariam minha vida?”
“O quê? Não fale assim, é tudo para você.”
“Para mim? Como você pode achar que me encher de presentes luxuosos vai resolver alguma coisa? Se você realmente me respeita, se você entende um pouco do que estou passando, você vai devolver os presentes e assinar os papéis do divórcio.”
“Erna, eu…”
“Devolva tudo!”, Erna gritou. Lágrimas escorriam sem parar pelas bochechas de Erna.
Ela havia alimentado uma esperança e, enquanto assistia à pilha de presentes crescer, aquela esperança foi mais uma vez reduzida a milhões de pedaços.
“Por favor, eu te imploro, Bjorn.”
Erna, com lágrimas escorrendo pelo rosto, implorou desesperadamente.
*.·:·.✧.·:·.*
A tarde se estendeu e a neve começou a cair levemente do céu. Era a mesma queda de neve que havia embelezado o aniversário de Erna no ano anterior.
Bjorn estava sentado no parapeito da janela, olhando para a paisagem que estava gradualmente ficando branca. O charuto que ele havia estado fumando foi deixado a queimar no cinzeiro e a aguardente intocada foi deixada de lado.
Ele estava decidindo ir embora. Se Erna o desprezava tanto que o implorava para ir embora em meio a lágrimas quentes, então ele iria.
O impulso não durou muito. Quando chegou ao seu quarto para começar a arrumar as malas, sua teimosia prevaleceu. Ele não queria ir embora até ter dado algo bom para Erna. Não porque ele achava que poderia comprar de volta o amor dela, mas porque ela valia muito para ele. O presente que ele havia escolhido era um presente nascido do amor e do desejo de dar algo que ela merecia.
Bjorn desceu do parapeito da janela e puxou o nó da gravata, que parecia estar o restringindo e sufocando.
A casa sempre foi naturalmente silenciosa, mas agora, havia um silêncio mais pesado a envolvendo. Bjorn não conseguia escapar da constatação de que ele era a fonte da atmosfera solene.
A lembrança de Erna em lágrimas veio à sua mente em uma alucinação vívida, sobreposta à paisagem nevada. Ele se lembrou de que ela também havia chorado no ano passado e a fonte disso também era ele.
Ele sempre se deleitou com o belo sorriso de sua esposa, mas tinha dificuldades com seu riso. Quando se tratava de assuntos relacionados a Erna, ele era completamente desajeitado e muitas vezes se sentia perdido.
Bjorn pegou um copo e tomou um gole de água fresca para umedecer os lábios.
Erna permaneceu trancada em seu quarto. Nesse ritmo, seu aniversário passaria sem que ela estivesse presente, assim como no ano anterior, quando ninguém se lembrou do aniversário da Grã-Duquesa.
Bjorn colocou o copo e começou a andar pela sala, perdido em contemplação. Ele estava ciente de que partir após concordar com o divórcio era o que Erna queria, mas Bjorn sabia que era impossível.
Ele não se importava de ser chamado de egoísta ou egocêntrico. Ele preferia ser um canalha a perder Erna, mas ser um canalha era o que estava afastando Erna. Enquanto ele pudesse tê-la ao seu lado, ele estava disposto a carregar qualquer papel e título que as pessoas quisessem lhe dar.
Mas qual era o melhor curso de ação para um canalha?
Quanto mais ele pensava sobre isso, mais complicado ficava e mais sua cabeça girava com pensamentos inconcebíveis. Até que ele parou e olhou para o presente que ele havia se esforçado muito para adquirir. Sobre a cama estava um buquê de lírios-do-vale que ele havia mandado vir de Schuber.
Bjorn pegou o buquê. Um símbolo da Princesa Gladys, agora apenas uma flor pequena, branca e simples. Assim como Erna.
Bjorn sentou-se na beirada da cama e encarou os lírios em suas mãos por um longo tempo. Quando olhou para cima, a escuridão já se espalhava além da janela.
Deixando o buquê de lado, Bjorn decidiu não tocar a campainha e acendeu as velas ele mesmo. Então sentou-se à escrivaninha, encontrou o papelaria de que precisava em uma gaveta e encontrou a convicção para escrever uma carta.
Para Erna.
A caneta riscava o papel enquanto ele a guiava pelas letras. Os minutos passavam, mas ele não conseguia fazer sua mente funcionar sobre qual deveria ser o parágrafo de abertura. A folha de papel cara continha apenas duas palavras simples e pequenas.
Bjorn rapidamente descartou a folha de papel e a substituiu por uma nova. O papel timbrado dourado brilhava sob a luz da lâmpada, seu brilho lançando um brilho em seu rosto.
Minha querida Erna.
Pelo menos o começo havia mostrado algum sinal de melhora, mas ficou com um tom inerente que ele não tinha certeza se era apropriado e não lhe caía bem.
Escrevendo repetidamente a primeira linha, depois amassando o pedaço de papel e jogando-o no canto da sala, Bjorn gerou uma grande pilha de papéis rabiscados.
Depois de estragar a quinta carta, Bjorn recostou-se na cadeira e deixou a caneta de lado. Habitualmente, ele levou um charuto aos lábios, mas não o acendeu. A visão dele escrevendo uma carta para uma mulher do outro lado do corredor, mas igualmente fora de alcance como se ela estivesse do outro lado do mundo, devia ser cômica.
Entender, considerar e respeitar.
Bjorn repetiu lentamente os conceitos que sua esposa valorizava tanto. Seu olhar fixou-se na dança etérea da neve além da janela. Dentro da cena encantadora, ele podia ver Erna quando a encontrou na cúpula da Catedral de Felia.
Erna, a quem ele havia machucado e, apesar de tudo, o havia amado. Ele sentiu que quase conseguia entender aquela emoção que ela sentiu naquela noite, no momento em que ele encarou seu rosto bonito e lamentável.
Deixando o charuto de lado, ele olhou para a escrivaninha. O brilho quente da lâmpada iluminou seu rosto e, como se estivesse envolvido em uma batalha, Bjorn encarou a folha de papel em branco. O som da caneta deslizando sobre sua superfície começou a romper o silêncio da noite.
*.·:·.✧.·:·.*
A mesa estava cheia de flores artificiais, não havia espaço para mais, mas Erna continuou trabalhando diligentemente. Ela havia ficado nisso o dia todo e não parecia em nada alguém que estava comemorando seu vigésimo primeiro aniversário.
Até a discussão da manhã com o Príncipe, até agora, ela havia se trancado em seu quarto e feito a única coisa que lhe trazia alegria. Ela também não tinha vontade de ir à mesa de jantar.
“Hum, Vossa Alteza? É hora do jantar”, disse Lisa, espiando pela porta.
Erna finalmente levantou a cabeça e olhou para Lisa com olhos vazios.
“Lisa… eu…”
Antes que Erna pudesse dizer alguma coisa, houve uma comoção atrás da porta e Lisa entrou com outro criado.
“Vossa Alteza.” O criado entrou na sala, carregando um grande buquê de flores brancas.
“Qual é o seu negócio?”, disse Lisa, em um tom pouco educado. O Príncipe é um vilão, então, naturalmente, seus criados também são.
“O Príncipe me ordenou a entregar essas flores diretamente à Grã-Duquesa.” Ele olhou para Erna, ignorando completamente Lisa.
“O que é isso?”, disse Erna.
“Flores, Vossa Alteza, e uma carta.”