O Príncipe Problemático

Volume 2 - Capítulo 138

O Príncipe Problemático

“E que tal Ella, ou Sylvia?”, disse Lisa, disparando nomes. “Ou talvez Christa? Soa muito nobre?”

Erna levava a sério a escolha do nome da bezerra. Depois de comer todo o feno, a pequena voltou para o lado da mãe no curral, as duas juntas no espaço vazio.

Ralph Royce encostou-se ao batente da porta e sorriu para as duas mulheres discutindo sobre um nome, como se não soubessem que a bezerra seria vendida assim que estivesse grandinha.

A decisão de trazer a bezerra para a Fazenda Baden foi puramente por causa de Erna. Ela cuidava do animal jovem com tanto amor e ternura quanto qualquer mãe com um bebê, mas, felizmente, a Baronesa Baden entendeu que ele não ficaria ali indefinidamente.

“Sr. Royce, a Lisa está aqui?”

Ralph se virou para ver outra empregada correndo em sua direção.

“Sim, ela está ali.”

Enquanto a criada se aproximava de Lisa, Ralph foi surpreendido por outra visita, desta vez, o Príncipe.

“Vim buscar o cavalo”, disse Bjorn ao empregado da cocheira.

“Sim, claro, deixe-me buscá-lo para você.”

“Não, tudo bem, eu mesmo o farei”, disse Bjorn com segurança, enquanto observava Lisa sendo levada pela outra criada. Ele sorriu para ela e levou um dedo aos lábios. “Shh, vá embora quietinha, Lisa, antes que eu te mande embora.”

Lisa lançou um olhar furioso para o Príncipe, sua expressão misturando ressentimento e tristeza; ela não conseguiu se controlar e simulou uma crise de tosse. Infelizmente, Erna não era observadora o suficiente e não percebeu.

Bjorn fechou as portas da cocheira atrás de Lisa e foi até o curral onde Erna ainda estava. Erna finalmente notou a aproximação de Bjorn enquanto caminhava pelo curral, murmurando para si mesma.

“Você mandou a Lisa embora de propósito?”, perguntou Erna, ríspida.

“Não, claro que não, a Baronesa Baden precisava dela para algo, eu só vim buscar um cavalo”, respondeu Bjorn com um sorriso. A bezerra correspondia à descrição vívida de Lisa na carta, ostentando um tufo de pelos vivos e uma fita graciosamente amarrada no pescoço. Não havia dúvida de cujo senso de estilo ela refletia.

“É mesmo?”, disse Erna, analisando Bjorn enquanto ele se aproximava da bezerra e a acariciava suavemente no pescoço e nas costas.

“Você me entende tão mal.”

“O quê?”

“O que você acha que estou aprontando? Eu te disse, estou aqui apenas para andar a cavalo”, disse Bjorn, gesticulando para sua roupa, “mas se estou atrapalhando, posso deixar vocês duas sozinhas.”

“Não, tudo bem, vá andar seu cavalo”, disse Erna, a testa franzida em irritação.

“Erna.”

“Vou procurar a Lisa.”

Erna se virou para ir embora, mas soltou um grito quando Bjorn agarrou seu braço. Ele se interpôs entre Erna e a porta, bloqueando seu caminho.

“Você sempre foge”, suspirou Bjorn. “Só me dá dez minutos, okay?” Bjorn soltou seu braço; não foi com força, mas a expressão de Erna sugeria que poderia ter sido. “Se você nem isso permite, acho que há um grande mal-entendido.”

“Que mal-entendido?”

“De que você ainda me ama. Você fica fugindo porque tem medo dos seus verdadeiros sentimentos e, se ficar por perto por muito tempo, pode ser forçada a perceber esses sentimentos, ou algo assim.”

Ao contrário do leve sorriso irônico no rosto de Bjorn, Erna o olhou com ódio. Bjorn tirou um relógio de bolso e Erna suspirou.

“Agora são… dez e vinte e cinco”, disse Bjorn.

“Tudo bem, irei embora exatamente às dez e trinta e cinco.”

“Você não estava no meio de uma conversa com a bezerra?”, Bjorn fez sua primeira pergunta, desperdiçando o primeiro minuto. Seu tom não era mais brincalhão, era baixo e suave.

“Estava escolhendo o nome com a Lisa. Decidimos não vendê-la e criá-la nós mesmas.” Disse Erna.

“Parece que você se empenhou bastante em escolher o nome da bezerra.”

“Não zombe de mim, é importante para mim, okay?”

“Erna.”

Erna suspirou e virou a cabeça para olhar a bezerra, que agora estava mamando na teta da mãe. Sua pelagem branca era salpicada de manchas marrons, algo que herdou da mãe.

Bjorn sentiu que entendia por que Erna era tão próxima da mãe e da bezerra. Ela devia estar pensando em seu filho perdido ao olhar para o casal, razão pela qual havia desenvolvido uma conexão especial com os animais.

Uma súbita onda de raiva invadiu Bjorn em relação a Erna, que havia fugido no meio da noite e enviado os papéis do divórcio pelo correio. Era uma raiva desconhecida que o fazia querer gritar como um louco, mas seu coração permanecia frio.

“Você tem cinco minutos”, informou Erna a Bjorn.

Bjorn desviou o olhar da vaca adornada com a fita e olhou para Erna. Parecia haver um cheiro persistente de sangue na ponta do nariz.

Entre os pertences que haviam sido removidos naquele dia fatídico, havia algo sem muita importância, mas Bjorn se lembrava deles muito claramente. Pequenas meias de bebê, meticulosamente feitas com fio fino e tão incrivelmente pequenas que ele só conseguia colocar um único dedo dentro delas. O padrão nas meias lembrava os doces que Erna tanto amava, até as fitinhas.

Bjorn inspecionou cada item de bebê que os servos lhe trouxeram e, sem mais uma criança para usar ou brincar com os objetos, só havia uma coisa a ser dita para cada um. Ele disse aos servos, um por um, para jogá-los fora. Isso o fazia sentir como se estivesse perdendo a sanidade a cada objeto descartado.

‘Jogue fora.’

Deixando as meias que segurava há muito tempo, Bjorn acabou ordenando que fossem descartadas também e, naquela noite, os objetos se transformaram em cinzas e memória, assim como seu primeiro filho.

Bjorn cerrou o punho, ainda sentindo o toque persistente daquelas meias, e percebeu que Erna não era a única que estava fugindo. Um sentimento de desolação o invadiu.

“Você tem dois minutos”, disse Erna. “Por que você pediu para falar comigo e ainda assim não disse nada?”

“Um… presente”, disse Bjorn, olhando para a bezerra enquanto ela mugia brincalhona. “Me diga que presente você gostaria.”

“Um presente?”

“Sim, seu aniversário está chegando e eu já provei que não sou tão bom quanto você em escolher presentes perfeitos.”

“Dez minutos. É só isso que você tem”, disse Erna friamente. “Como prometido, e o único presente que eu quero de você é o divórcio, nada mais, e não vou namorar.”

Erna estava tão impassível quanto conseguia. Seu tom frio deixou uma marca gélida em Bjorn enquanto ela se virava e saía do curral. Bjorn notou a fita rosa em seu cabelo, da mesma cor que a bezerra estava usando. Era irritante, mas ao mesmo tempo era encantador.

“Vou escolher o nome da bezerra para você, então”, riu Bjorn. “Só chame-a de Divórcio.”

“O que você quer dizer?”, disse Erna, olhando para trás enquanto tentava abrir o portão do curral.

“Parece ser sua palavra favorita ultimamente”, Bjorn provocou enquanto se virava e caminhava em direção à cocheira onde seu cavalo o esperava.

A bezerra soltou outro mugido descontente, aparentemente infeliz com o nome que Bjorn lhe dera. Erna só conseguiu lançar um olhar de desaprovação antes de partir pouco depois.

Enquanto isso, Bjorn, pronto para começar seu passeio a cavalo, guiou o animal para fora da cocheira.

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O cavalo branco como a neve galopou sem freios. O som rítmico de suas patas batendo na terra do campo desolado se fundiu ao farfalhar das gramíneas secas e congeladas.

Bjorn guiou o cavalo para uma clareira isolada no fundo da floresta, aproveitou um tempo para curtir a própria companhia, fumou alguns charutos e depois voltou para a mansão. Lá, chamou o ajudante do Palácio Schuber.

“Você precisa ir a Schuber”, disse Bjorn, tirando a cinza que havia agarrado em seu paletó. “Há muito o que preparar, então peça à Sra. Fitz para ajudar e certifique-se de entrar em contato com o palácio com antecedência. Preciso que isso esteja organizado para o aniversário da minha esposa, entendeu? Acha que consegue lidar com isso?”

“Sim, claro, Sua Alteza”, disse o servo com um gole seco.

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