O Príncipe Problemático

Volume 2 - Capítulo 137

O Príncipe Problemático

“Quero tentar namorar”, disse Bjorn com um sorriso gentil, olhando para Erna. “Você gostaria?”

“Não”, respondeu Erna, as palavras saindo com dificuldade por causa do nó na garganta.

“Mentirosa.”

“Não gosto mais. Não gosto de você, não gosto de namorar e não gosto dessas amêndoas.”

“Bem, parece que minha esposa ficou bem voluntariosa e infantil na minha ausência.”

Apesar do olhar penetrante de Erna, Bjorn não resistiu a provocar. Os músicos no carrossel começaram a tocar uma alegre polca. A música evocou memórias da primavera anterior.

Erna estava determinada a manter a compostura, ergueu a cabeça e tentou controlar a raiva. Apertou os punhos, esmagando o saco de amêndoas.

Ela não conseguia entender por que o homem, que ela nem conhecia mais, de repente se lembrava de detalhes insignificantes quando tudo entre eles estava perdido.

“Sim, sou uma mulher feroz e infantil. A mulher com quem você se casou não existe mais, então pare de ser tão ridículo e insistente, termine esse casamento idiota.”

“Não.”

“Por quê?”

“Porque eu te amo muito mais do que aquela garota que você costumava ser”, Bjorn cruzou os braços e seus olhos cinzentos se encheram ao olhar para Erna. “Você fica muito mais bonita quando está feroz assim. Tem algo emocionante nisso, se você fosse assim antes.”

“Desculpe?”

“Me apaixonei por você de novo e gostaria de levá-la para um encontro.” Bjorn sorriu sedutoramente, um contraste com as piadas vulgares. Erna ficou chocada.

“Estou dizendo que tudo o que quero de você, Sua Alteza, é um divórcio.”

“É mesmo?” Bjorn acenou com a cabeça. “Então acho que vou ter que pensar em algo melhor que amêndoas para convencê-la.”

“Não, por favor, não.”

“É o meu coração, Erna, se você não sair comigo, como vou te amar?”

“Não vou permitir, odeio quando você me ama.”

“Escute, minha querida esposa, quando o ato de amar e sentir afeição por alguém precisou de permissão?” Bjorn riu. “Eu dei permissão para você quando você sentia algo por mim?” Bjorn inclinou a cabeça, “o quê, nada a dizer?”

Incapaz de encontrar uma resposta adequada, Erna se virou e fez um beiço. Era irritante, mas difícil de aceitar e difícil de contestar. Era exatamente assim, ele era mais um cobrador de dívidas do que alguém a convidando para um encontro.

Erna deu o saco de amêndoas para Lisa e caminhou pela praça. Bjorn a seguiu, aparentemente como um homem que tinha muito pouco entusiasmo por qualquer coisa.

Erna se aproximou elegantemente da carruagem que os esperava. O sol de inverno estava descendo rapidamente no céu, deixando para trás um manto de escuridão serena que envolveu seu entorno antes que ela percebesse.


Lisa cochilou na carruagem, o som de sua respiração pesada era o único som a ser ouvido no silêncio constrangedor entre Bjorn e Erna.

Erna estava olhando pela janela, fazendo o possível para ignorar Bjorn. A suave luz do lampião lançava um brilho suave sobre seu olhar contemplativo, acentuando seu rosto pequeno e pensativo.

“Por que você não perguntou?”, disse Bjorn, quebrando o silêncio. “Interroguei seu amigo pintor, você não está preocupada?”

Erna soltou um suspiro exasperado e se virou para olhar para Bjorn.

“Porque eu sei que não há nada com que se preocupar.”

“Como você pode ter certeza disso?”, havia um leve toque de riso na voz de Bjorn.

“Se algo tivesse acontecido, você não teria agido como agiu.”

“Você confia tanto em mim?”

“Não, eu apenas afirmei um fato.”

Erna se arrependeu de dar a resposta, mas não tinha vontade de se corrigir. Se envolver nas artimanhas desse homem era algo que ela queria evitar.

Eles voltaram a ficar em silêncio e trocaram olhares, enquanto Lisa cochilava entre eles. Ao se aproximarem da Rua Baden, a escuridão lá fora se intensificou.

“Eu pedi desculpas a ele”, disse Bjorn com um sorriso. “Fiz um pedido de desculpas sincero ao Sr. Lore pelo que aconteceu durante o piquenique da família Heine.”

“Entendo.” Erna se endireitou. “Não faça isso de novo com o Pavel. Seja o que for, Pavel e eu somos apenas amigos e agora…”

“Seja o que for, Erna, eu sempre vou detestá-lo”, disse Bjorn, interrompendo Erna. “Para ser honesto, estou com bastante ciúme dele.” Sua voz era suave e diferente de qualquer coisa que Erna já havia ouvido dele. “Julgamento emocional e ciúmes são duas coisas separadas e, bem, não posso controlar o que sinto. Se você está genuinamente preocupada com o pintor, talvez não deva prestar atenção a ele. Seria ainda melhor se você não mencionasse o nome dele.”

“Ciúmes? Você está realmente dizendo que está com ciúmes do Pavel Lore?”

“Você não sabia? Bem, agora sabe.”

Erna ficou surpresa com a confissão de Bjorn, sua audácia foi recebida com sua expressão inabalável. Sua atitude deslavada só aumentou ainda mais sua raiva.

“Por que você está fazendo isso comigo? Você não é esse tipo de homem.”

“Esse tipo de homem?” Bjorn disse desanimado. “Bem…” Bjorn disse, abatido.

Ele era um infeliz, preso no interior remoto, lutando para reconquistar o amor de sua esposa. Quando pensou sobre isso, ele podia entender o que Erna estava sentindo, até certo ponto. Era um lado dele que ela nunca tinha imaginado.

“O Príncipe que você costumava amar não existe mais, Erna”, disse Bjorn em um sussurro hesitante.

Bjorn soltou um suspiro pesado. Era uma verdade que ele não queria enfrentar, mas as palavras escaparam dele agora e pareciam inverossímeis e insignificantes.

O Príncipe de um conto de fadas, que havia resgatado uma donzela do campo e de um casamento infeliz era uma ilusão, uma falsidade e não tinha mais nenhum significado.

“Este sou eu, Erna, este é o meu verdadeiro eu e quero recomeçar como este eu.”

Seu olhar fixo em Erna continha a profundidade da serenidade dela, que lembrava o céu noturno. O trono construído sobre uma ilusão desmoronou em ruínas e ele se viu capaz de abraçar essa verdade. Ele sentia um anseio genuíno.

O que ele desejava não era apenas o amor de Erna, mas a própria Erna e a chance de amá-la de verdade. Ela o olhou, seus lábios se separando e naquele momento fugaz, ela acenou com a cabeça.

Lisa acordou, agitada pelo forte solavanco da carruagem entrando na entrada da mansão e batendo nas pedras. Erna virou a cabeça para olhar pela janela.

“Ah, já chegamos?”, disse Lisa, piscando para espantar a sonolência.

Quase como se ela não perdesse o ritmo, Lisa começou a tagarelar novamente, falando sobre assuntos banais como o que haveria para o jantar, o novo vaso que ela havia comprado e até mesmo compartilhando a história do bezerro irritante.

Essa empregada deveria ser demitida. Pensou Bjorn enquanto admirava a luz quente que emanava das janelas da velha mansão.


“O que diabos podemos fazer, senhora?”, disse a Sra. Greaves, com o rosto cheio de preocupação ao falar com a Baronesa Baden.

Fazia duas semanas que Bjorn havia se instalado na Casa Baden e certamente ele estaria partindo para voltar a Schuber em breve.

“Se o Príncipe não partir logo…”

“Eu não vou embora.”

Antes que a Sra. Greve pudesse terminar sua frase, a voz do jovem ecoou pela sala. Assustada, ela se virou e se levantou abruptamente, ficando vermelha de vergonha. Bjorn parecia ter aparecido do nada e estava na entrada da sala.

“Minhas desculpas, Sua Alteza.”

“Tudo bem”, disse Bjorn casualmente. “Não se preocupe com esse convidado não convidado.”

“Não era isso que eu quis dizer…”

“Tudo bem, vá em frente e faça uma festa de aniversário para minha esposa, embora eu imagine que não será fácil com eu por perto.”

Sem palavras, a Sra. Greve se virou rapidamente antes que a Baronesa lhe desse permissão para ir. A velha babá de Erna, que nunca se esquecia de fazer o sinal da cruz como se estivesse rezando, fez Bjorn sorrir. Parecia que ele estava sendo tratado como um demônio.

Quando a Sra. Greve deixou a sala, fechando a porta atrás dela, a Baronesa deixou de lado sua costura. Bjorn fez uma saudação formal e sentou-se ao lado dela.

“Vejo que você está prestes a ir cavalgar”, disse a Baronesa, ajustando seus óculos, percebendo que Bjorn estava usando calças de montar e carregava uma chicotada.

“Sim, Baronesa”, Bjorn sorriu, não seu sorriso usual, frio e distante, mas um sorriso caloroso e perfeitamente gentil.

A Baronesa olhou para o jovem e bonito Príncipe com olhos calmos. Mesmo sem sinceridade, ela conseguia entender o que havia neste cavalheiro que poderia cativar Erna e, ao mesmo tempo, infligir feridas.

“Parece que os sentimentos de Erna por você ainda são tímidos.”

Pela primeira vez, algo que se assemelhava a uma emoção real brilhou nos olhos do príncipe, que tinham sido inexpressivos o tempo todo.

“Sim, não é fácil”, Bjorn assentiu.

A Baronesa o olhou pensativa. Era embaraçoso para ele, mas também triste às vezes. Era uma mistura de curiosidade e pena, mas a Baronesa podia ver que o Príncipe amava sua esposa.

“Vou garantir que haja um lugar para você na mesa do jantar. Não posso garantir que Erna aceite de bom grado, mas é tudo o que posso fazer”, disse a Baronesa Baden calmamente. “Ah, aliás, ela saiu para ver seu bezerro com sua empregada, então ela estará no curral agora.” A Baronesa disse enquanto pegava o sino de chamada. Uma empregada entrou na sala quase imediatamente. “Tenho alguns assuntos urgentes para resolver, você poderia buscar Lisa para mim, por favor?”

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