O Príncipe Problemático

Volume 1 - Capítulo 97

O Príncipe Problemático

Erna acordou sobressaltada com uma batida na porta e abriu os olhos. Ao fazê-lo, percebeu que seu pincel havia caído e estava rolando sobre a escrivaninha. O pincel caiu no chão, deixando uma mancha vermelha que ameaçava manchar o tapete.

“Entre”, Erna chamou, enquanto pegava um pano para limpar a mancha.

“Ah, deixe isso, Vossa Alteza”, disse Lisa, entrando no quarto e vendo sua patroa de joelhos. “Por que está fazendo o trabalho de uma criada?”

“Porque foi minha culpa, eu dormi.”

“O tempo está ficando mais quente, é fácil cochilar nesse calor.” Lisa deu de ombros, como se não fosse nada para se preocupar.

Erna tinha estado cochilando muito ultimamente. Era inevitavelmente o assunto da conversa e corriam boatos de que ela havia dormido durante uma apresentação de ópera não muito tempo atrás.

Embora certamente fosse um erro de Erna, isso não justificava a intensa crítica que ela recebeu. Mesmo assim, o povo estava indignado e atacou a Grã-Duquesa, que não era melhor do que uma selvagem com quem eles não conseguiam se identificar. Não hesitaram em compará-la a Gladys, conhecida por sua classe e elegância.

“Tudo isso porque você é tão diligente. Quando você trabalha tanto, seu corpo não aguenta. Você precisa tirar uma folga quando tiver tempo livre.” Lisa percebeu que a escrivaninha era uma bagunça de ferramentas e materiais para fazer corpetes, “o que são essas coisas?”

“Eu me perguntei como seria dar flores de verão para o povo da residência do Grão-Duque”, Erna respondeu com um sorriso frio. “Acho que todos gostaram das flores de corpete que dei a eles da última vez.”

“Gostaram, mas por que você se dá tanto trabalho?”

Erna se viu incapaz de dizer o que estava pensando, sabia que era tudo inútil, então apenas sorriu e assentiu.

Lisa queria contar a Erna sobre os empregados que mais fofocavam pelas costas dela, mesmo depois de aceitar seus presentes, mas Lisa se conteve, não adiantaria de nada. Não é que ela não entendesse o desejo de Erna de fazer algo bom pelos empregados. Ainda assim, comparado ao início, ela estava progredindo.

“Ah, Vossa Alteza, vamos resolver isso mais tarde, precisamos ir procurar os presentes.”

“Presentes?”

“Sim, as coisas que o Príncipe comprou na feira acabaram de chegar. Quando você ver, vai se surpreender.”


Bjorn acabara de voltar a dormir depois de suportar o barulho dos energéticos malucos remando para cima e para baixo no rio bem do lado de fora da janela de seu quarto.

“Bjorn, Bjorn, você está acordado?” Erna invadiu seu quarto, toda energia e sem nenhuma educação para bater.

Erna correu e sentou-se na beira da cama, então começou a sacudir Bjorn fervorosamente até que ele confirmasse que estava acordado. Ele soltou um longo suspiro e olhou para sua esposa animada. Tendo jogado pôquer até o amanhecer, ele só tinha acabado de chegar em casa e para a cama, parecia meia-noite para ele. Embora não fosse a hora oportuna para ser acordado, Erna não levou em consideração a hora.

“Bjorn, todos os presentes chegaram da feira, todas as coisas que você comprou.”

“Eu… sei”, Bjorn disse preguiçosamente.

Ele expressou sua irritação com um gemido baixo e virando-se para longe de Erna. Ele puxou os lençóis sobre a cabeça. Apesar de seu claro sinal de não querer ser perturbado, Erna se recusou a prestar atenção e continuou a insistir no assunto.

“Precisamos conversar, Bjorn, por favor.”

“Conversar, sobre o quê?”

“Os presentes, há muitos presentes”, Erna gritou, sua voz agora sem traços de alegria.

Bjorn saiu dos lençóis e sentou-se como se tivesse sido atingido por água fria. A expressão pensativa de Erna se refletia nos olhos sonolentos de Bjorn, era um olhar que ele não tinha visto nela antes.

“Desculpe te incomodar”, disse Erna, percebendo o olhar irritado de Bjorn. “Mas ainda assim, não posso ficar com todos os presentes e devemos devolver os que eu não quero, ok?”

“Por quê?”

“O povo…” Erna disse, seus olhos estavam intensos, ela tinha certeza de que ele já sabia a resposta.

“Ah, certo, o povo”, Bjorn fechou os olhos, tentando ao máximo conter a raiva. Ele respirou fundo e lentamente, seus músculos do pescoço tensos e contraídos. “Não importa o que você faça, as pessoas vão pensar e falar o que quiserem, acreditar no que lhes convier.”

Bjorn virou-se e olhou para Erna novamente, seus olhos cheios de frieza glacial. Isso não caiu bem para Erna, que estava cada vez mais preocupada com sua reputação ultimamente. Suas tentativas de melhorar sua posição foram todas em vão, assim como o comportamento frio e displicente de Bjorn para com ela.

Depois de um momento de profunda reflexão, Erna respondeu com um olhar de terror no rosto: “Eu sei, mas depois, terei que inventar desculpas para acalmar essas pessoas.”

Bjorn soltou uma risada desanimada enquanto ponderava as palavras de sua esposa, sentindo como se fossem palavras sujas. Ele não conseguia deixar de pensar que era injusto para ele ter que gastar seu dinheiro com a tolice de sua esposa.

Seria bom ser feliz de vez em quando, mas Erna sempre era assim, ela não conseguia simplesmente aproveitar as pequenas coisas. Ele entendia o comportamento dela e seu desejo de conquistar o povo, que fosse apenas para parar os boatos, mas será que ela sempre tinha que tornar isso irritante para ele?

“Quais são suas intenções, continuar como se estivesse morta? Apenas ser uma estátua respirando ou algo assim”, Bjorn passou os dedos pelos cabelos de Erna. “Não importa o que você faça, as pessoas vão fofocar, usando o pretexto de que você é uma Duquesa incompetente, que não faz nada direito.”

Erna parecia magoada, mas Bjorn não demonstrou preocupação. Assim era a vida como Grã-Duquesa de Schuber. Qualquer mulher que desempenhasse esse papel depois da Princesa Gladys teria sido propensa ao mesmo tratamento, não importa quem Bjorn escolhesse para sua segunda esposa.

Erna havia aceitado de bom grado o papel, sem nenhuma ideia de qual seria o preço e, como tal, tinha a obrigação de suportar. Bjorn odiava como sua esposa ainda se agarrava a esse pensamento e não conseguia deixar de zombar de si mesmo por insistir nisso também.

“Eu não me preocuparia tanto com isso, porque quanto mais você se importa, mais persistentes e cruéis as pessoas parecerão ser. Não importa o que você diga ou faça.”

“É mesmo?” A voz de Erna tremeu levemente.

Erna entendeu o que Bjorn estava tentando fazê-la ver, mas se desligar da emoção não era tão fácil para ela. Ela não conseguia deixar de ouvir todo o ridículo, quer quisesse ou não. Sua tristeza aumentou quando pensou em todos aqueles artigos escritos sobre ela, empilhados na gaveta de sua avó.

“Sim, Erna”, Bjorn assentiu. “Sim, é.”

Seu tom era leve, mas sua sinceridade era inconfundível. Ele parecia imperturbável por todas as acusações e especulações que foram lançadas contra ele. Sua atitude era completamente indiferente, como se não fosse ele quem as pessoas criticavam.

Erna fez um beicinho e abaixou a cabeça sem dizer mais nada. Não gostando de sua reação, Bjorn gentilmente agarrou seu queixo e levantou sua cabeça para olhar em seus olhos.

“Ei, podemos suportar juntos, Erna, você não está sozinha. É, infelizmente, a natureza de nossas vidas agora.”

Seus olhos cinzentos eram deslumbrantes, brilhando como joias finamente trabalhadas. Ela era uma Duquesa extravagante e totalmente desconhecedora do que isso significava.

Uma repreensão e um olhar fulminante cruzaram seu rosto, como se antecipando ao caos que estava prestes a atingir a cidade. Era lamentável, mas Bjorn não podia culpar o povo dessa vez.

“Desculpe”, disse Erna, “e obrigada.”

Erna expressou sinceridade ao dizer obrigado, quase exagerando. Só então Bjorn soltou o rosto de sua esposa. Os gritos dos remadores lá fora de repente ficaram claros quando passaram pela janela.

“Aqueles bastardos loucos”, Bjorn murmurou e balançou a cabeça.

Bjorn levantou-se da cama e Erna observou sua nudez banhada na luz brilhante do sol. Ela percebeu que estava olhando e desviou o olhar, envergonhada. Bjorn riu, divertido com o comportamento tímido dela.

“Ah, aliás, por que você comprou aquele elefante enorme?” Erna disse, observando Bjorn caminhar até a janela e morder um charuto.

“Elefante? Eu não sabia que tinha comprado um elefante”, rugas apareceram em sua testa enquanto ele pensava.

Seus pensamentos foram interrompidos por uma batida na porta. Greg apareceu e o constrangimento ficou claro quando ele percebeu que Bjorn estava nu e a Grã-Duquesa também estava lá.

“O que é, Greg?” Bjorn disse.

Greg olhou nervosamente para a Grã-Duquesa, enquanto atravessava a sala para entregar a Bjorn uma pasta. Com os olhos estreitados, Bjorn lançou um olhar sobre o relatório.

“Está acontecendo alguma coisa?” Erna perguntou, estudando a expressão preocupada de Bjorn.

“Não”, respondeu Bjorn calmamente, devolvendo a pasta a Greg. O mordomo não conseguia sair do quarto rápido o suficiente. “Não é nada.”

“Sua expressão diz o contrário, você está realmente bem?”

Bjorn deixou de lado seu charuto como se estivesse liberando uma emoção persistente e então colocou as mãos no colo de sua esposa. Enquanto se beijavam, os ombros de Erna tremeram levemente. Ela não o rejeitou, ela nunca poderia rejeitá-lo.

“Estou bem”, Bjorn sussurrou. Não era uma mentira.

A ganância de Walter Hardy ainda estava sob seu controle e as rédeas precisariam ser apertadas, embora o processo possa ser um tanto difícil e caótico.

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