O Príncipe Problemático

Volume 1 - Capítulo 85

O Príncipe Problemático

A procissão real serpenteou entre a multidão rumo ao salão principal da feira. As pessoas lotavam as ruas e enchiam as praças; seus vivas abalavam a terra e os céus.

Erna observava a multidão da carruagem aberta, impressionada com a quantidade de gente. Teve bastante gente no seu casamento, mas agora parecia haver o triplo. Havia também mais guardas reais os escoltando, tornando a atmosfera ainda mais majestosa.

A cavalaria marchava em passo com os cavalos das carruagens. Bandeiras de todas as nações pendiam de janelas e postes de luz. Erna absorvia todas as imagens até que seu olhar pousou em Bjorn, que parecia tão indiferente como sempre. O Príncipe Christian e a Princesa Greta eram idênticos, e Erna se lembrou do tipo de família com quem havia se casado.

Erna se esforçou para se recompor e corrigir a postura. Teve que se forçar a ficar quieta e até levantou uma mão, mas ainda não encontrou coragem para saudar o povo adequadamente.

No máximo um ano. O erro do Príncipe. Um substituto medíocre para a Princesa Gladys.

Ela achava que conseguia ouvir a multidão gritar algumas vezes. Eram as palavras que chegavam até ela, mesmo que não quisesse ouvi-las e definitivamente não queria guardá-las no coração.

Erna finalmente abaixou a mão, incapaz de cumprimentar a multidão que parecia tanto a desaprovar. Nenhum dos vivas era dirigido a ela.

Quando Erna finalmente conseguiu sorrir naturalmente de novo, já se encontrava na entrada do recinto da feira, construído às margens do rio. Era uma grandiosa estrutura de armações de aço e arcos de vidro que brilhavam intensamente ao sol. Ela ficou maravilhada com o espetáculo e, sem perceber, já estava sentada numa plataforma no centro do recinto da feira, logo atrás do rei.

Erna olhou ao redor do recinto. Pavilhões de exposições se ramificavam do corredor central, que ia da entrada até a grande árvore de ulmeiro no centro.

Só os VIPs receberam convite para a cerimônia de abertura, mas ainda havia uma grande quantidade de pessoas. Seus rostos borrados deixavam Erna tonta.

Erna observava as exposições maravilhada e, antes que percebesse, chegou ao segundo andar, onde viu a Princesa Louise. Erna lhe deu um sorriso caloroso, mas Louise se virou sem sequer um aceno de reconhecimento. Ela sussurrou algo para o marido, e Erna se afastou, ruborizada de vergonha.

Bjorn estava inclinado perto do irmão, sentado ao seu lado. Erna, que o observava atentamente, desviou cautelosamente o olhar para Leonid.

Dona Fitz havia alertado várias vezes que ela não devia confundir o Grão-Duque com o Príncipe Herdeiro e, embora Leonid usasse óculos, nem sempre era assim. Ela não devia assumir que o que estava sem óculos era Bjorn.

Observando-os de perto, Erna compreendeu a preocupação de Dona Fitz. Era surpreendente o quanto os dois se pareciam, o suficiente para confundir qualquer um que os desse uma olhada rápida.

Assim que Erna estava estudando os dois príncipes, Leonid olhou para ela. Seus olhos se encontraram, e Erna engoliu em seco. Bjorn também virou a cabeça, e Erna viu o dobro. Ela piscou rapidamente, tentando descobrir quem era quem.

Erna temia que Leonid voltasse a olhar para baixo, mas, em vez disso, foi saudada por um sorriso caloroso. Ao mesmo tempo, Bjorn também sorriu para ela; era o sorriso habitual, convencido e arrogante, que ela já vira milhares de vezes.

Os sorrisos pareciam iguais, mas tinham sensações totalmente diferentes. Mesmo sem os óculos, Erna sentia certeza de que conseguiria diferenciá-los. Naquele momento, uma salva de aplausos irrompeu entre a multidão.

Erna se levantou apressadamente do assento, seguiu Bjorn e juntou-se aos aplausos. O rei estava prestes a fazer seu discurso de abertura.


Filipe III era famoso por sua oratória natural. Ele abriu a Exposição Schuber com um discurso que acendeu o entusiasmo da multidão. Sendo o maior país participante da feira, que contribuiu com as tecnologias mais inovadoras, todos estavam animados para ver o que estava em exibição, a Grã-Duquesa mais do que ninguém.

Bjorn olhou para a esposa com um sorriso. Seus olhos estavam tão grandes e brilhantes de curiosidade, mesmo enquanto ela tentava preservar pelo menos um pouco de dignidade.

Quando chegou a hora de tirar a foto comemorativa, Bjorn discretamente levou a esposa, que havia passado um bom tempo observando os pavilhões de exibição no segundo andar.

O Grão-Duque e sua esposa foram o último casal a se juntar ao grupo para a foto. Era uma composição de cinco irmãos alinhados, com o rei e a rainha sentados na frente e no centro. Erna estava ao lado de Bjorn, atrás da rainha.

Erna olhou para as pessoas reunidas; todas tinham cabelos loiros platinados. O Duque Heine, marido da Princesa Louise, também era loiro, embora um pouco mais escuro. Assim como a Princesa Gladys.

Os sussurros dos empregados do Palácio sempre diziam que a família real preferia pessoas de cabelo loiro, para manter a mesma cor de cabelo por gerações e preservar o símbolo da família Dniester.

Nem mesmo o seu cabelo se encaixava aqui.

Era algo tão insignificante para se preocupar, mas, por algum motivo, a ideia ficou gravada no coração de Erna. Ela tentou ignorar, mas estava sempre lá, cutucando-a na mente.

Erna tentou acalmar seu coração acelerado, mas, mesmo enquanto tentava, notou outras pequenas coisas, como o fato de que todos da Família Real eram muito mais altos que ela, até mesmo as mulheres. Ela se sentia como uma erva daninha cercada de árvores.

Um mármore fora do lugar…

De repente, ela se sentiu triste por não se encaixar em lugar nenhum. A Princesa Gladys se encaixava; ela se fundiu à família real com facilidade, tinha confiança e era amada pelo povo.

“Preparem-se”, disse o fotógrafo.

Erna abriu os olhos, que havia apertado com força contra a enxurrada de dúvidas, e sentou-se ereta. Após muita consideração, ela levantou os calcanhares para ficar na ponta dos pés. Ao se levantar, Bjorn percebeu e colocou uma mão em seu ombro, pressionando-a para baixo.

Erna tentou ao máximo se opor à pressão dele, mas não era fácil igualar sua força. Seria bom se ele fingisse que não havia percebido; ele era tão cruel às vezes. Erna acabou desistindo e ficou ereta.

“Um”, o fotógrafo disse sob a capa preta, “dois”, Erna se aproximou do marido, “três”. Naquele instante, ela ergueu o queixo, em vez dos calcanhares, e o flash disparou.


Assim que a cerimônia de abertura terminou, a multidão se espalhou e explorou as exposições livremente.

Erna seguiu o marido. Depois de passarem por uma enorme máquina a vapor que, diziam, alimentava toda a feira, eles se encontraram em uma exposição de máquinas industriais que se moviam sozinhas.

Era tão estranho ver tanta coisa feita de metal, mas Bjorn parecia bastante feliz. Ele conversou com o diretor de cada exposição, fazendo inúmeras perguntas sobre como eles esperavam que suas invenções se encaixassem na sociedade e como mudariam o mundo. Eles diziam palavras que Erna não entendia, mas ela ouvia atentamente.

“Hoje em dia, as pessoas fazem tudo com máquinas”, disse Erna, observando uma máquina que tocava música.

Era uma pequena máquina chamada fonógrafo, e imitava os sons de um piano. Era incrível, mas, ao mesmo tempo, um pouco assustador. Bjorn decidiu que queria comprá-la.

Depois de examinar mais máquinas, Bjorn levou Erna a algo chamado telefone. Diziam que permitiria que as pessoas conversassem umas com as outras à distância, mas ela não conseguia entender.

“Eu conseguiria falar com a minha avó também?”, perguntou Erna.

Ela havia ficado olhando para o telefone por um bom tempo. Era a primeira coisa em que Erna demonstrou interesse desde que chegou ao pavilhão das máquinas.

“Vai levar um tempo para a linha telefônica chegar até lá”, disse o homem encarregado da exposição.

“Não dá para falar sem essa linha?”, perguntou Erna. O homem assentiu. “Entendi.”

Depois disso, Erna não demonstrou mais muito interesse no telefone. Embora Bjorn estivesse mostrando a ela todas aquelas invenções incríveis, parecia que ela ainda estava presa ao seu estilo de vida rural.

Quando Erna estava ficando entediada com as exposições e invenções, eles chegaram a um estande montado por uma empresa de máquinas de escrever. Sem perceber, Erna parou, congelada, e olhou para a nova máquina de escrever desenvolvida usando a tecnologia Lechen. Bjorn quase não percebeu Erna parando.

“O que foi? Quer se tornar datilógrafa?”

“O que é isso?”, disse Erna, virando a cabeça, mas sem tirar os olhos da mulher que demonstrava a máquina de escrever. “A máquina está escrevendo tão rápido.”

Erna estava genuinamente encantada. A Grã-Duquesa estava obcecada pela máquina de escrever. Bjorn a observou com interesse; ela parecia uma mulher completamente diferente.

A pessoa que fazia a demonstração não queria perder a oportunidade, então ofereceu a Erna a chance de experimentar a máquina de escrever. Bjorn imaginou que Erna recusaria, mas ela se aproximou cautelosamente e pressionou uma tecla. Um braço delicado se estendeu e carimbou a letra no papel.

“Está escrevendo, Bjorn, olha”, Erna riu e apontou para o papel.

Um sorriso surgiu nos lábios de Bjorn enquanto ele admirava o entusiasmo da esposa.

Erna finalmente estava feliz e estava linda; isso era o bastante para ele.

Comentários