Volume 1 - Capítulo 84
O Príncipe Problemático
O príncipe Christian acabou sendo expulso do escritório, onde a maioria dos homens se reunira. Saiu com uma expressão emburrada.
Isabelle Dniester sorriu como se soubesse de algo e apontou para a cadeira mais distante. Era ao lado da princesa Greta, que tomava seu chá delicadamente. O príncipe suspirou, como se estivesse desgostoso por ter que se sentar ao lado da irmã mais nova, mas obedeceu à mãe.
Erna observava a família Dniester com curiosidade. A rainha e a princesa Louise estavam envolvidas em uma conversa tranquila. Os filhos da princesa Louise, um menino e uma menina, estavam sendo cuidados pela babá. O príncipe Christian, frustrado por ainda ser tratado como criança, e a princesa Greta, que apenas se divertia.
Todos aqueles rostos, que tinham alguma semelhança entre si, fizeram Erna se sentir um pouco excluída. Não havia ninguém de sua família ali, e ela percebeu que sentia muita falta de sua avó. As pessoas diziam que Erna era muito parecida com a avó.
“Não, deixe o vestido da mocinha em paz.”
Erna olhou para baixo e viu a filha da princesa Louise agarrando a barra do vestido rendado, onde fios de ouro faziam padrões estranhos. A babá estava correndo em direção a elas.
“Deixe-a em paz, desculpe-me”, disse a babá.
Erna riu e parou a babá. A criança a observava com os olhos brilhantes e um sorriso radiante. Erna achou que ela se parecia com o duque Heine, marido de Louise, mas o sorriso era definitivamente da mãe da criança. O mesmo sorriso que todos os Dniester pareciam ter herdado.
Erna olhou para as pequenas mãos gordinhas que brincavam com os padrões de seu vestido. A menina tinha bochechas rosadas e cabelos finos presos com fitas. Na verdade, era a primeira vez que Erna encontrava uma criança tão pequena. Ela estava nervosa porque não sabia como agir perto da pequena.
“Olá”, disse ela para a menina.
Quando seus olhos se encontraram novamente, Erna sorriu sem jeito. A criança olhou para Erna com olhos grandes e inexpressivos e tentou acenar. Suas mãos eram como uma folha de bordo e o sorriso de Erna era tão brilhante quanto o da criança.
Erna deixou a menina brincar com a barra do vestido à vontade. Então, a menina começou a puxar a mão de Erna, como se tentasse levá-la para algum lugar. Ela apontou para uma palmeira do outro lado da sala.
Erna se levantou e levou lentamente a criança pela sala até a palmeira. Isabelle observava a dupla por trás do leque. Louise, percebendo com quem sua filha estava, chamou a babá.
“Deixe-as, Louise”, disse Isabelle Dniester.
Erna e a criança ficaram diante da palmeira e Erna ouvia atentamente os balbucios e a conversa da menina. A situação toda fez Isabelle rir.
“Não entendo por que você é tão tolerante com a Grã-Duquesa, mãe”, disse Louise, decepcionada.
“Há alguma razão para não ser?”
“Bem, não, mas…” Louise engoliu o nome de Gladys e ficou sentada de lábios comprimidos.
Erna agora estava segurando a criança nos braços. Isso deixava Louise enojada, ver Erna fazendo algo que ela não queria que fizesse, apenas para agradar sua mãe. Erna circulou pela sala, levando a criança para onde quer que ela apontasse. Era uma demonstração deslavada, como se Erna não soubesse o que estava fazendo para chamar atenção.
“Eu não sabia que você gostava de crianças”, disse Louise a Erna, quando voltou com a filha. Louise sentou a menina em seu colo. “Há alguma notícia sobre vocês terem filhos?”
“Louise, cale-se, eles ainda são recém-casados”, disse Isabelle.
“Mas agora é a hora, Gladys voltou da lua de mel com a notícia de sua gravidez.” O clima na sala ficou tenso quando Louise deixou escapar o nome.
Louise percebeu que tinha cometido um deslize e olhou para Erna, que parecia surpresa. Louise tinha acabado de cruzar a linha, ela teria jogado a culpa na pressão da mãe, que parecia estar do lado de Erna.
“Isso é rude, Louise”, disse Isabelle Dniester em voz baixa, quebrando o silêncio delicado. “Peça desculpas, agora.”
“Mãe.”
“Agora, Louise.”
Apesar da teimosia e do olhar severo da filha, não havia criança viva que pudesse resistir à mãe. Christian e Greta pararam a conversa e observavam a cena com um suspiro.
“Eu… sinto muito”, disse Louise relutantemente, “falei sem pensar, por favor, me perdoe, Grã-Duquesa”, o rosto de Louise se enrugou de humilhação.
“Ah, não, estou bem, está tudo bem”, Erna se atrapalhou, sem saber o que fazer.
“Obrigada por entender”, disse Louise.
Foi só quando Erna encontrou seus olhos suplicantes que finalmente mostrou um sorriso.
“Sinto muito pela grosseria da minha filha”, acrescentou Isabelle com palavras suaves.
Chegou a notícia de que os negócios que os homens estavam conduzindo no escritório estavam quase concluídos. Era hora do jantar da família Dniester.
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“Acho que nosso pai também mudou de ideia, com certeza.” disse Leonid.
Com os olhos semicerrados, Bjorn atingiu a bola de marfim e a observou rolar pela mesa com olhos semicerrados. Parecia estar um pouco fora e sua sequência de seis bolas chegou ao fim.
“Aquela mesa de leitura, pai a guardou e a usa regularmente”, continuou Leonid com uma expressão indiferente. Ele parecia alguém que não se importava com o quanto estava atrás no placar.
“Mesa de leitura, a que Erna lhe deu?” Bjorn riu.
No início, Bjorn achou os presentes que ela havia comprado ridículos, mas se mostrou que foram muito bem recebidos. Sua mãe até elogiou Erna pelo presente da tesoura de poda, dizendo que a usava com muito cuidado. Pareceu um elogio deliberado no jantar. Deixou Erna muito feliz.
“Sua Majestade, o Rei de Lechen, é facilmente influenciado por presentes”, disse Bjorn, observando Leonid alinhar uma tacada.
A bola rolou pela mesa e Bjorn pôde ver que era um ângulo perfeito e, enquanto tomava um gole de conhaque, Leonid embolsou uma bola e marcou.
“A Grã-Duquesa parece ser uma pessoa bastante agradável”, disse Leonid.
“Eu me lembro claramente do Príncipe Herdeiro dizendo que não gostava da Srta. Hardy. Parecia uma opinião muito firme na época”, disse Bjorn, soltando fumaça de um charuto.
“Sim, eu pensei assim na época, mas isso foi apenas porque eu não conhecia a Grã-Duquesa.”
“Bem, devo dizer que estou feliz que você tenha corrigido sua opinião”, disse Bjorn, rindo.
Leonid fechou a diferença marcando mais quatro pontos, antes de errar sua próxima tacada e ceder a mesa a Bjorn.
Bjorn tomou mais um gole de conhaque antes de pegar sua cue. Embora já tivesse bebido bastante, era difícil detectar qualquer embriaguez nele. Dada a quantidade que ele costumava beber, era justo dizer que eram apenas aperitivos.
A Grã-Duquesa estava fazendo o seu melhor pelo marido. Aqueles que apoiaram a infeliz Princesa Herdeira Gladys achavam que era apenas um mito e tentavam ignorá-lo ao máximo. Mas qualquer um com olhos podia ver.
Quando a vez de Leonid voltou, ele calmamente pegou o giz e foi vencer por três pontos. Bjorn aceitou a derrota milagrosa com graça. Era apenas um jogo amistoso, então nada para se preocupar. Seu gêmeo era obcecado por vencer mais do que ele.
“Já que você conseguiu uma boa esposa, você já pensou em ser um bom marido?”
Bjorn franziu a testa profundamente para Leonid, que havia colocado seus óculos novamente.
“Não é você quem me pediu para jogar bilhar para que eu tivesse que deixar minha esposa em outra sala?” Bjorn soltou algumas roscas de fumaça de seu charuto.
Leonid suspirou e sentou-se à mesa em frente ao irmão, lançando-lhe um olhar severo. Era ele quem sempre convidava Bjorn para jogar bilhar quando queria discutir assuntos de Estado e importância. Ele era conhecido por isso.
“Então, o que você está fazendo agora? O jogo acabou, você não vai voltar para sua esposa?” disse Leonid, fingindo desprezo.
“Você não tem mais álcool, Sua Alteza”, Bjorn encheu seus copos vazios com um balançar de cabeça e um sorriso. “As Águias Calvas quebraram sua teimosia”, disse Bjorn levantando o copo, “elas não vão mexer na taxa de juros do governo, nem no imposto sobre títulos.”
“O que elas querem em troca?”
“Bem, seria muito urgente que elas resolvessem o déficit fiscal com os fundos de Lechen. Aparentemente, elas querem vender a ferrovia do norte, a menos que você tenha outra carta para jogar. O que vamos dar e o que vamos receber em troca, isso é entre você e Maxim.” Bjorn colocou o charuto de volta na boca depois de tirar a cinza. Foi um gesto casual, como se dissesse que não era mais problema dele.
Leonid não perguntou mais. Ele sabia muito bem que Bjorn não gostava de se envolver em coisas que não eram da conta dele. Dada a atitude de Bjorn e as informações que ele trouxe da última visita, ele provavelmente já tinha um plano de ação.
“Estou subitamente curioso”, explicou Leonid, pensativo, “se você adicionou aquele trabalho no banco à programação das viagens, o que diabos você fez na sua lua de mel?”
“Cuidei dos negócios, se você não se importar de não bisbilhotar, Sua Alteza.”
“Bjorn, acho que você deveria…”
“Ela é minha esposa, Leonid”, Bjorn o interrompeu com palavras frias, “eu a conheço melhor do que ninguém e sou realmente um marido muito bom, quando você conhece ela e suas necessidades.”
Leonid encarou Bjorn por um longo momento, depois riu das palavras de Bjorn, como se estivessem trocando piadas grosseiras.
Leonid colocou seu copo meio vazio e deixou Bjorn enchê-lo. Ele pensou em Pavel Lore, aleatoriamente, e isso aprofundou o humor de Bjorn.
“Por quê?” perguntou Leonid emburrado, levantando o copo.
“Só porque”, Bjorn sentou-se obliquamente contra as costas de sua cadeira e sugou o resto do charuto, “estou tendo dificuldades para lidar com ela.”
Bjorn exalou fumaça que o obscureceu brevemente e, quando a fumaça se dissipou, Leonid olhou para seu rosto inexpressivo. Ele acabou rindo da expressão impassível de seu irmão.
“O quê? Você está louco.”