O Príncipe Problemático

Volume 1 - Capítulo 8

O Príncipe Problemático

O Visconde Hardy e a Condessa Meyer, que seguiam Erna mantendo uma distância estratégica, olharam para trás com expressões perplexas. Nem ousavam imaginar que ainda haveria um convidado a chegar, muito menos que esse convidado seria o próprio Príncipe Bjorn.

Decidiram recuar primeiro. Afinal, o tapete vermelho que ia da entrada do salão de festas até o palco onde o rei e a rainha estavam lado a lado agora pertencia ao Príncipe Bjorn. Esse seria o plano, até encontrarem a peste que haviam esquecido por um tempo.

“Meu Deus! Olha aquela criança!”, exclamou Brenda Hardy, com o rosto pálido, agarrando nervosamente o braço do marido.

Erna, em pânico, estava petrificada no meio do tapete vermelho, bloqueando completamente a passagem do Príncipe. Eles podiam esperar e torcer para que a garota se movesse a tempo, ou poderiam arrastá-la para trás. Mas, para isso, teriam que passar pelo Príncipe Bjorn, que já estava se aproximando. Ambos os cenários eram um pesadelo, e eles tinham que escolher. Enquanto se debatiam mentalmente, a distância entre o Príncipe e Erna diminuía.

“Tudo isso faz parte dos seus planos? Certo?”

Brenda Hardy perguntou à Condessa Meyer, na esperança de que ela fosse a mente brilhante por trás de todo aquele escândalo, e que tudo fosse intencional. Enganando-se com esses pensamentos, franziu a testa e logo recuperou sua expressão calma.

“Vamos ver. Além disso, não podemos fazer nada além de assistir ao que vai acontecer.”

“Desculpe?”

Brenda perguntou com um suspiro trêmulo. Ela logo se tornaria o centro das risadas não só de todos os aristocratas do país, mas também da própria Família Real. Mesmo com uma tragédia iminente, aquela mulher tinha a audácia de agir como se estivesse assistindo a algum tipo de show divertido.

A Viscondessa Hardy começou a desconfiar que a Condessa Meyer poderia ter aceitado o pedido de guiar Erna apenas para humilhar a família Hardy diante da realeza. Enquanto seus pensamentos disparavam, o Príncipe Bjorn, com uma expressão séria, parou diante de Erna.

Erna se virou com a sombra que caiu sobre ela.

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“Que diabos é isso?”

Bjorn inclinou levemente a cabeça, olhando para a absurda dama à sua frente. Ele já a havia visto de longe, parada como uma rocha em seu caminho. Claro, ele achou que ela simplesmente cederia e ele passaria como se nada tivesse acontecido. Ela se tornaria mais uma entre as inúmeras pessoas na festa que não valiam a pena lembrar.

Pena que o que ele esperava parecia ser demais. Ele só podia desejar conseguir controlar sua irritação. No fim, não teve escolha a não ser reconhecer a presença dela, independentemente das intenções da outra parte.

Ele abaixou um pouco mais o olhar e observou a pequena dama. Mesmo com os olhos nele, ela o encarava em transe, como alguém que não conseguia ver o que estava acontecendo. A cada piscada lenta, seus grandes olhos azuis, anormalmente brilhantes como um céu de verão, ficavam mais nebulosos e transparentes.

Bjorn, com as sobrancelhas arqueadas de confusão, parou de encarar Erna e olhou para trás dela. Seus pais, o Rei e a Rainha de Lechen, entraram em seu campo de visão com expressões de perplexidade.

“É o Bjorn de novo!”

Os olhos das pessoas à sua frente pareciam dizer isso com um suspiro. Principalmente a acusação no rosto de Leonid, que estava de cara fechada e obviamente o julgava mais severamente que os outros. Sem falar em Louise e suas expressões coloridas, indescritíveis.

Eles deveriam pelo menos estar gratos que o baile de debutantes, que ele boicotara por muitas temporadas, agora era um pouco mais divertido graças à sua presença.

Ele ergueu a cabeça novamente, desta vez com um sorriso um pouco maior. No entanto, havia uma leve irritação em seus olhos enquanto ele olhava lentamente para os murais que adornavam o alto teto e os enormes lustres brilhando acima.

Por mais que tentasse se lembrar, não tinha memória de ter cometido nenhum pecado contra Erna que merecesse tais ações dela. A suposição de que a estranha dama poderia tê-lo confundido com Leonid lhe ocorreu, mas a ideia foi descartada tão rapidamente quanto surgiu em sua cabeça. O paraíso provavelmente chegaria antes do dia em que o Príncipe malcriado não causasse problemas envolvendo mulheres.

Ele esperava que aquela dama, que era basicamente uma estranha para ele, fosse embora e desaparecesse de sua vista. Ele abaixou o olhar, que vagava pelo ar, novamente para ela. No entanto, ela ainda estava parada à sua frente, tremendo como uma jovem presa levada para uma caçada.

Bjorn finalmente se cansou daquela brincadeira boba da qual nem queria fazer parte e deu um passo à frente para se afastar daquele cenário estranho. Sua ação, porém, fez Erna, que ofegava como se estivesse sendo estrangulada, cambaleou nervosamente ao perceber o que ele queria fazer.

Com um suspiro, ele apoiou habilmente seu corpo trêmulo que quase caiu. Mesmo que não se importasse com as fofocas que surgiriam no dia seguinte, o boato de que o Grão-Duque havia deixado uma mulher desmaiar no Palácio Real seria demais até mesmo para ele.

“Respire.”

Ele sussurrou baixinho para a dama que estava ficando roxa de susto. Erguendo lentamente a cabeça, ela olhou para ele com uma expressão surpresa, como se só agora tivesse percebido sua existência. As lágrimas cristalinas em seus olhos vermelhos pareciam destacar ainda mais sua pele pálida, como porcelana.

“Respire.”

Como uma criança aprendendo uma palavra desconhecida, Erna repetiu suas palavras várias vezes com seus pequenos lábios vermelhos. Sua aparência adorável fez Bjorn arfar em uma pequena risada.

“Respire, respire.”

Ele abaixou um pouco a voz e sussurrou lentamente. Ela acenou com a cabeça e obedientemente respirou fundo. Ela ainda estava tremendo, mas parecia ter conseguido evitar desmaiar de susto.

“Respire.”

Ela murmurou as palavras repetidamente, inalando profundamente e exalando repetidamente. Seus ombros brancos que tremiam com o ritmo de sua respiração eram absurdamente pequenos e finos.

Finalmente se estabilizando, Erna se afastou rapidamente de seus braços. Seu rosto, que havia permanecido inexpressivo o tempo todo, finalmente mostrou algumas emoções. Ela apresentava um rosto cheio de vergonha e vigilância, o que não era a resposta de alguém que causara tamanho alvoroço diante de um estranho.

“Pedimos desculpas, Vossa Alteza.”

Uma mulher de meia-idade se aproximou e começou a amparar a dama à sua frente.

O olhar de Bjorn, que lançou um breve olhar para a pessoa que havia chegado, voltou rapidamente para a pequena dama. Ela estava tentando cobrir os ombros e o decote revelados por seu vestido de pescoço baixo. No fim, seu esforço inútil apenas chamou mais atenção para essas áreas.

Ela agia como uma dama inocente e pura, mas ainda assim escolheu usar um vestido tão revelador.

Um sorriso torto gracejou seus lábios enquanto ele encarava Erna. Seu rosto, que havia ficado pálido como um cadáver há pouco, gradualmente ficou vermelho como uma maçã madura. Erguendo cuidadosamente a cabeça, seus olhos se encontraram, o que a assustou a ponto de recuar como um pequeno animal. Percebendo seus atos tardiamente, suas orelhas também começaram a ficar vermelhas lentamente.

“Peço sinceras desculpas, Vossa Alteza. A senhorita Hardy não está acostumada a grandes reuniões e se sentiu desconfortável, cometendo um grande erro.” Outra mulher de meia-idade falou enquanto caminhava em direção a eles. No momento em que ergueu a cabeça curvada, ele reconheceu quem era e finalmente entendeu toda a história daquela confusão absurda.

Era Victória Meyer. A própria mulher conhecida como a melhor casamenteira do Reino de Letchen.

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Erna Hardy, sem dúvida, foi a estrela do baile da noite, e ninguém pode refutar isso, não importa o que digam.

Uma estreia social tardia e uma beleza incomum e inesquecível, juntamente com seu recente envolvimento com Sua Alteza, o Príncipe Bjorn. Todas essas razões deixaram claro que definitivamente não havia dama que pudesse se aproximar dela como o assunto mais comentado do reino.

“Como esperado da Condessa Meyer. Ela até usaria o Grão-Duque para destacar aquela garota.”

“Acho que o que aconteceu agora foi planejado por ela. Como ela sabia que o Príncipe Bjorn chegaria atrasado?”

“Se não foi planejado, como explicar o incidente? Acho que aquela garota não é ordinária, no começo pensei que era uma boba do interior. No fim, ela fez algo tão esperto.”

As damas fofoqueiras olharam para Erna, que estava sentada silenciosamente na beira do salão de festas, com olhos cheios de curiosidade e desprezo.

Uma bela dama que até mesmo chamou a atenção de Bjorn Dniester.

Graças à confusão de antes, Erna Hardy instantaneamente alcançou uma reputação infame nos círculos aristocráticos. Até mesmo o Príncipe Bjorn, ex-marido da Princesa Gladys, reconheceu a beleza de Lady Hardy. No fim, aqueles que criticaram o Visconde Hardy por expor sua ganância vulgar ao vender sua filha por um alto preço nem sequer puderam refutar a beleza de Erna Hardy.

“Senhorita Hardy, como está?”

A Condessa Meyer, que havia estado andando pelo salão de festas, se aproximou. Erna reflexivamente agarrou seu xale e ergueu a cabeça, seus olhos brilhantes cheios de ressentimento.

“Você é uma dama com mais personalidade do que eu imaginava.”

A Condessa Meyer, que riu levemente, sentou-se ao lado de Erna e abriu seu leque.

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As outras garotas estavam ocupadas curtindo a dança, mas Erna ficou sentada sozinha em um banco de canto. Muitos jovens aristocratas a convidaram para dançar, mas foram ignorados sem sequer fazer contato visual com ela.

“Que tal dançar pelo menos uma música? Afinal, é um baile de debutantes.”

“… … Não posso. Não gosto disso, senhora.” A voz de Erna ainda tremia levemente.

Ela olhou em volta ansiosamente e abaixou a cabeça novamente. Ela era como uma idiota sem um pingo de sociabilidade, mas sua expressão preocupada também se tornou parte de seu charme quando combinada com seu rosto bonito.

A Condessa Meyer abanou suavemente seu leque de penas. O xale feio a incomodava, mas ela decidiu deixá-lo em paz, pois se o retirasse novamente, Erna provavelmente acabaria rasgando as cortinas do palácio real para se cobrir. Lady Hardy já havia mostrado tudo o que precisava, então o vestido cumprira seu propósito.

“Levante a cabeça.” A Condessa Meyer ergueu o queixo de Erna com a ponta do leque dobrado.

“É de bom tom olhar nos olhos da outra pessoa durante uma conversa.”

“Senhora, por favor… … .”

“Você se saiu muito bem diante do Príncipe Bjorn. Esqueceu completamente disso?”

Contrariando seu sorriso gentil, sua voz era fria.

‘Príncipe?’

Erna, que havia estado pensando por um momento, involuntariamente abraçou o corpo enquanto apertava os lábios. Era porque o rosto de um homem específico apareceu em sua mente novamente.

Ela havia perdido o juízo, sufocando-a física e mentalmente enquanto o mundo girava descontroladamente. Só quando conseguiu respirar que percebeu o que havia feito, e especialmente para quem. Apenas lembrar disso a faria sentir o medo que a havia dominado novamente.

“Respeito sua decisão de não participar da dança, mas tente manter um pouco de dignidade. Lembre-se sempre que esta é uma maneira de proteger a honra da família Baden, que criou a senhorita Hardy. Entende?”

A honra da família Baden.

A Condessa Meyer, que disse aquelas palavras que feriram profundamente o coração de Erna, rapidamente a deixou sem dizer mais nada.

Finalmente sozinha novamente, Erna fechou os olhos e contou internamente para se acalmar. Só quando chegou a vinte que conseguiu estabilizar a respiração, e isso nunca havia acontecido quando ela ainda estava em Buford. Por um momento, ela não pôde deixar de se sentir uma idiota indefesa.

‘Apenas seja paciente um pouco mais.’ Suprimindo o impulso de fugir, Erna abriu lentamente os olhos depois de se acalmar.

Seu olhar inesperadamente caiu sobre a figura do Grão-Duque de Schuber, o Príncipe de Lechen, que acabara de observar de perto a figura patética de Erna Hardy.

Ele conversava despreocupadamente encostado em uma coluna de mármore ornamentada, e em frente a ele estava um homem com a mesma aparência. Era o irmão gêmeo do Grão-Duque e atual Príncipe Herdeiro, Príncipe Leonid. Eles eram surpreendentemente idênticos em altura, físico e aparência; a única diferença era que o Príncipe Herdeiro usava óculos.

Embora Buford fosse um país remoto que se sentia isolado do resto do mundo, os príncipes gêmeos eram bastante famosos lá. Erna, que era indiferente a tais rumores, até se lembrava de seus nomes. O Príncipe Bjorn, que originalmente foi escolhido como Príncipe Herdeiro, e o Príncipe Leonid, seu irmão gêmeo mais novo. No entanto, essa situação havia mudado desde que a má conduta do Príncipe Bjorn causou raiva e ressentimento em todo o reino, fazendo-o renunciar à posição para seu irmão mais novo.

Incapaz de desviar o olhar, Erna suspirou sem perceber. Ela não conseguia se livrar da sensação de déjà vu ao olhar para o Príncipe Bjorn, que começou a andar com a postura ereta.

Ela percebeu que, embora sua aparência fosse a mesma, o andar dos gêmeos era marcadamente diferente. Ao contrário do Príncipe Herdeiro, que andava com uma postura ereta e modesta como um soldado, o Grão-Duque caminhava como se estivesse desfrutando de um passeio tranquilo, como se o ar ao seu redor estivesse fluindo lentamente. Ela finalmente se lembrou que aquela era a mesma figura que ela havia visto antes na estação de trem e na Avenida Tara.

“Cogumelo venenoso… … .”

O Grão-Duque virou a cabeça repentinamente para Erna, que murmurou seu apelido em transe. No momento em que seus olhos se cruzaram, ela entendeu que acabara de perder sua chance de escapar.

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