Volume 1 - Capítulo 7
O Príncipe Problemático
A transformação apressada de Erna, de uma camponesa simples em uma dama nobre digna da sociedade aristocrata, culminou na escolha do vestido para sua apresentação oficial no palácio real.
Brenda Hardy examinou o vestido de Erna com olhar crítico. Embora a Condessa Meyer tivesse seguido a tradição, optando pelo branco puro para a debutante, a silhueta do vestido não correspondia em nada ao que Brenda Hardy havia aprovado.
Você viu o tamanho do decote?
Era uma ocasião formal, sua primeira aparição oficial como filha do Visconde Hardy, e ela ia aparecer mostrando metade dos ombros e seios para todo mundo?
“Tanto faz! Que me importa?”
Brenda Hardy resmungou, suspirando e se recostando na poltrona. Foi a Condessa Meyer quem sugeriu aquele vestido. Em sua opinião sincera, com um vestido modesto e comum, Erna seria invisível na multidão de jovens garotas elegantemente vestidas. Isso não prejudicaria o objetivo final, que era conseguir um casamento vantajoso, vendê-la?
Ela já tem vinte anos! Se ela usar um vestido apropriado para uma debutante de quinze, seria ainda mais humilhante que isso!
Com esse pensamento em mente, Brenda Hardy controlou sua raiva e não contestou a escolha de Victória Meyer.
Todas as primaveras, as meninas das famílias nobres de Lechen que completavam quinze anos faziam sua estreia social na festa de apresentação. Embora algumas vezes algumas dessas meninas atrasassem por um ano ou mais por motivos pessoais, Erna seria a primeira debutante a fazer sua primeira aparição tão tardiamente.
Elas pensavam em apresentar uma desculpa “plausível” para sua entrada tardia, dizendo que ela tinha vivido no campo até então por causa de uma doença. Mas quem acreditaria nisso?! Então, se ela ia se destacar de qualquer jeito, que aproveitassem a oportunidade.
O vestido branco como a neve, com decote baixo, mangas bufantes que caíam levemente sobre os ombros e uma saia volumosa, era definitivamente chamativo. A bainha de chiffon, armada na saia, tinha um leve tom rosado. Essa pitada de rosa fazia o vestido, que poderia parecer simples, parecer uma flor recém-desabrochada!
No entanto, não era um vestido de debutante apropriado para uma filha de família humilde, de qualquer ângulo que se olhasse. Mas o Visconde Hardy, o pai ambicioso e venal o suficiente para vender a própria filha por dinheiro, não dava a mínima para críticas “sem valor”!
Brenda Hardy endureceu o coração e tocou a campainha na mesa. Alguns segundos depois, uma empregada entrou junto com Lisa, a jovem criada que servia Erna.
“Tenho um trabalho para você relacionado à Erna, do qual você precisa se responsabilizar. Você consegue?”
“Sim, senhora! Pode deixar comigo!” Lisa, escondendo o nervosismo, respondeu alto.
“Ótimo! Que bom ver tanta convicção.”
Brenda Hardy levantou-se lentamente, com um sorriso sarcástico nos lábios, e caminhou em direção à criada.
“Vista Erna com esse vestido. Se você não conseguir que a moça saia usando essa roupa antes do horário estimado de partida, você será dispensada!”
Björn Denyster acordou bem mais cedo que o habitual, um evento muito raro. Embora fosse meio-dia, longe do horário ideal de despertar, em seu caso, deveria ser considerado como de manhã cedo!
“Que agradável surpresa, meu Príncipe! Graças a você, os servos da residência do Grão-Duque tiveram a sorte de evitar a repreensão de Sua Majestade, o Rei!”
A Sra. Fitz bajulou Björn, que acabara de sair do banheiro, em tom sincero, porém brincalhão. Seu rosto, que raramente demonstrava emoção, exibiu um leve sorriso.
Björn retribuiu com um sorriso deslumbrante e entrou no vestiário, fazendo os servos, que preparavam suas roupas, pararem por um momento e abaixarem a cabeça em reverência ao príncipe. Ele respondeu às saudações educadas com um leve aceno de cabeça. Aquele sorriso radiante desaparecera sem deixar vestígios.
Depois de vestir suas roupas íntimas, Björn ficou em frente ao espelho enquanto os atendentes começaram a se movimentar ao seu redor com partes de seu complicado e colorido traje formal em mãos.
A luz solar morna que entrava pela janela ficou mais forte e iluminou a pele nítida e charmosa de Björn. Ele olhou distraído para a poeira dourada visível flutuando na luz, com os olhos semicerrados.
O baile seguiria sem problemas sem sua presença. Björn estava ciente de que as ameaças de seu pai eram apenas blefes.
O admirado Rei Filipe III de Lechen, seu pai benevolente, não faria algo como apontar uma espada para sua garganta! No entanto, ele decidiu comparecer. O custo de ter acesso a todos os luxos existentes e desfrutar de uma vida tranquila precisava ser pago.
Como o problemático príncipe, Björn poderia facilmente se safar sem dar ouvidos às responsabilidades esperadas dele. Mas ele sempre mantinha o mínimo de responsabilidade. Era sua maneira de equilibrar a linha correta de vida como membro da família real Denyster.
“Está pronto, meu Príncipe.” O atendente disse lentamente enquanto ajustava o último enfeite no traje do príncipe.
Björn se virou e vislumbrou seu próprio reflexo impecável no espelho. Um leve sorriso de satisfação surgiu, puxando levemente os cantos daqueles lábios úmidos, e então desapareceu novamente em um instante.
Uma carruagem requintada esperava o príncipe no pórtico central da residência. Ele se aproximou da carruagem exibindo alegria visível enquanto caminhava. Os rostos dos atendentes que o seguiram estavam cheios de admiração por seu príncipe e satisfação por terem alcançado seu objetivo após muito esforço.
“Teria sido melhor se o senhor tivesse ido para a capital um dia antes, meu Príncipe. Temo que o senhor se atrasará para o baile caso haja algum obstáculo na estrada.” A Sra. Fitz, que o seguira até a carruagem, disse ansiosamente. A estrada para a capital certamente estaria congestionada por causa da festa.
“Não é uma má ideia!”
“Meu Príncipe!”
“Devo fazer algo para que isso aconteça?” Sem dar chance à Sra. Fitz de responder, Björn sentou-se na carruagem. Contrariamente à sua atitude travessa, seus movimentos eram confiantes e elegantes, mas não supérfluos.
A carruagem que levava o Grão-Duque partiu do Palácio Schwerin. Era uma tarde quente e tranquila. A paisagem pitoresca de ambos os lados da estrada acalmou o olhar do príncipe e fluiu para trás enquanto a carruagem avançava.
“É culpa sua! Tudo por sua causa!”
Assim que o palácio real apareceu diante de seus olhos, Brenda Hardy gritou de raiva, que não conseguia mais reprimir.
“O quê? Você quer me culpar e dizer que sou responsável pelos acidentes de carruagem dos outros?” O Visconde Hardy exalou frustrado e olhou para sua esposa com o rosto amargo.
“Você é sim responsável por termos perdido nossa casa aqui na capital por causa de suas dívidas bancárias! Se tivéssemos aquela residência, não teríamos entrado no palácio de forma tão desagradável no dia da festa real!”
O Visconde Hardy, cansado da voz alta constante de sua esposa, não conseguiu retrucar mais e apertou os lábios. Em meio à comoção, Erna apenas sentou e olhou silenciosamente pela janela, embora não parecesse estar olhando para nada em particular. Seu rosto ainda meio atordoado não mostrava nenhum sinal de vivacidade.
Schwerin era uma cidade próxima à capital, Berne. A capital não ficava muito longe de Schwerin, mas sua chegada havia sido atrasada devido ao acidente.
Pela reação do casal Hardy, era óbvio que estavam muito ansiosos por causa do atraso. Mas para Erna, nada do que estava acontecendo à sua volta realmente importava, pois o lugar parecia um mundo distante.
Teria sido melhor se a estrada não tivesse aberto.
Erna olhou para o colo, escondendo os olhos cheios de lágrimas.
Entrar no palácio real com um vestido tão vergonhoso!
Ela sentiu vontade de pular da carruagem. Assim que viu o vestido, recusou-se resolutamente. Mas Lisa, incapaz de convencê-la, começou a chorar.
Ela implorou para que ela não voltasse para casa e disse que seria demitida se Erna não usasse aquele vestido. Erna não pôde recusar e acabou usando o vestido que lhe parecia vulgar.
Embora ela tivesse vestido para dar uma saída à criada inocente, ela não conseguia ir ao baile se sentindo quase nua. Então, Erna encontrou um xale de renda para cobrir os ombros. Embora o Visconde não estivesse satisfeito com a filha cobrindo os ombros, felizmente ele não fez muitas objeções.
“Você tem que fazer bem o que aprendeu, garota. Você entendeu?” O Visconde Hardy insistiu mais uma vez enquanto a carruagem se aproximava da entrada principal do palácio.
Fazer o que ela aprendera? O que ela aprendera…?
Erna tentou reunir suas memórias. Mas sua mente perturbada, cheia de ansiedade e medo, não a permitiu.
Enquanto isso, o palácio estava cada vez mais próximo. As duas mãos de Erna agarrando o xale de renda em volta dos ombros tremiam visivelmente.
“Viscondessa! Que diabos é isso?” Exclamou a Condessa Meyer irritada ao ver a família Hardy finalmente correndo pelas escadas.
O casal real já havia chegado, e a sessão de apresentação das jovens debutantes também havia terminado!
“Aconteceu isso por causa de um acidente de carruagem. Estamos realmente atrasados?”
Victória Meyer lançou um olhar malicioso para o Visconde que fez uma pergunta tão patética e correu apressadamente escada abaixo.
“O que é esse xale?”
“Peço perdão, madame. Falhamos em convencê-la de outra forma.” Brenda Hardy rapidamente desculpou-se por esse “incidente”. A parte superior do corpo de Erna estava coberta por um xale, escondendo também o propósito do lindo vestido. “Eu não teria conseguido trazer essa garota mal-educada na carruagem sem aquele xale! Você não imagina o quão teimosa ela é!”
Que desculpas esfarrapadas! A Condessa Meyer balançou a cabeça em profunda frustração. Então, agarrou o pulso de Erna e apressadamente começou a subir as escadas, puxando Erna com força. Ela nem conseguia lidar com aquela garotinha pequena e delicada!
A incompetência de Brenda Hardy fez Victória Meyer tremer de raiva e irritação.
“Condessa, me dê um pouco… um pouco de tempo!” Erna respirou fundo e implorou, mas a Condessa Meyer não hesitou.
“Ei! Srta. Hardy! Até Sua Majestade, o Rei, já está aqui, quanto tempo mais você precisa?”
Ela sabia que era impossível eliminar a “rusticidade” daquela garota do campo em tão pouco tempo. Aliás, as chances eram maiores se o charme de uma garota inocente do campo fosse exibido.
“Anuncie.”
A Condessa Meyer deu ordens aos servos que guardavam a frente do salão de banquetes. A porta pesada e requintada, gravada com o brasão do lobo branco, que simboliza a família real Denyster, abriu-se lentamente e luzes e ruídos deslumbrantes jorraram.
“A Casa do Visconde Hardy chega!”
Seguindo a voz alta do servo, os olhos de todos os nobres que enchiam o amplo salão se concentraram neles de uma só vez.
Naquele momento, Victória Meyer percebeu que aquilo seria benéfico para elas.
Eles estavam no meio do salão, com todos os olhos fixos neles. Aparecer em fila e ser apresentada como uma das muitas jovens nunca teria dado tanto destaque. A crise se transformou em oportunidade!
A Condessa Meyer trocou olhares rápidos com o Visconde Hardy, que os seguiu às pressas. Ele deslizou suavemente o xale de Erna, e ela congelou como uma estátua.
Erna percebeu o que estava acontecendo tarde demais. Ela lutou para segurar o xale desesperadamente, mas falhou.
“Vamos, Srta. Hardy.”
A Condessa Meyer empurrou as costas de Erna com toda a sua força.
A gema natural bruta entregue a ela para polir nesta temporada foi lançada aleatoriamente na luz deslumbrante para ser disputada.
Não consigo respirar!
Era tudo o que Erna conseguia pensar. Ela estava parada ali em silêncio, ainda visivelmente chocada, sem saber o que fazer. Ela podia ouvir seu sangue subindo e seu coração batendo forte. Estava batendo tão alto que Erna não conseguia ouvir os sussurros suaves ao redor e sua respiração parou na garganta.
Respire!
Erna se lembrou e inspirou profundamente, levantando a cabeça para olhar ao redor.
O salão de baile incrivelmente espaçoso e esplêndido estava iluminado com luz deslumbrante. E a multidão de pessoas elegantemente vestidas, impecavelmente equivalentes ao salão, amplificou aquele esplendor extremamente.
Nem um minuto havia se passado. Mas para Erna, pareceu uma eternidade. Ela mal conseguiu controlar suas pernas trêmulas e deu um passo. Mas então ela ficou rígida no lugar novamente antes de seu segundo passo, porque ela de repente se lembrou de como estava quase nua diante de todos aqueles olhos.
Erna agarrou seus ombros trêmulos e olhou ao redor como um gatinho ferido, como se procurando um abrigo onde pudesse se esconder. Mas tudo o que seus olhos captaram foram rostos desconhecidos e luzes ofuscantes. Depois de um tempo, tudo começou a desaparecer de sua vista como uma pintura que foi borrada.
O que devo fazer?
Erna olhou ao redor mais uma vez, tremendo impotente como uma corça atirada na toca de um lobo selvagem.
Foi naquele momento que o grito do servo na porta silenciou todos os espectadores que murmuravam. Ele estava anunciando a chegada de um novo convidado.
“Grão-Duque, Sua Alteza, o Príncipe Björn Denyster está entrando!”
Uma onda de espanto total causada por aquele nome paralisou todo o salão de banquetes em um instante.