O Príncipe Problemático

Volume 1 - Capítulo 6

O Príncipe Problemático

“Ela é a garota mais bonita em quem você já negociará! Se você a vir, com certeza concordará comigo.”

Brenda Hardy disse em um tom misturado com ansiedade e lançou um olhar para o relógio de mesa. Aquela garota do interior, tão desajeitada, tinha que sair para seu passeio tranquilo justamente nesse momento tão “importante”! A Viscondessa detestava Erna profundamente, em muitos aspectos.

“Espero que seja assim, Viscondessa.”

O olhar impaciente da Condessa Meyer, fixo no pequeno jardim bagunçado do lado de fora pela janela, pousou sobre Brenda Hardy.

“Do contrário, você está apenas perdendo meu tempo, e eu detesto perder tempo com coisas inúteis.”

Contrariamente à sua voz suave e calma, seus olhos fixos na Viscondessa eram gélidos. Suprimindo o tremor em seu estômago, Brenda Hardy conseguiu forçar um sorriso tranquilizador. Ela precisava ser paciente e comportar-se cortesmente, considerando a situação em que se encontrava.

A Condessa Meyer era uma figura infame, conhecida por sua boa reputação no mercado de casamentos da alta sociedade de Lechen. Nascida filha de um humilde meio-barão, ela conseguiu ascender ao posto de condessa. Seu casamento com uma família rica serviu como um seguro para ela e para suas filhas, garantindo que se casassem com famílias de grande reputação. A filha mais velha tornou-se condessa, e a segunda filha casou-se com um rico comerciante. Ela até mesmo conseguiu encontrar bons maridos para as meninas sob sua tutela. Então, espalharam-se rumores sobre seu talento em encontrar casamentos adequados, e mulheres de todos os tipos de famílias e classes começaram a fazer fila.

Era quase um milagre que tal Victoria Meyer estivesse sentada na sala de estar da família Hardy. Originalmente, ela anunciou que não aceitaria nenhuma chaperona [1] nessa temporada, pois queria passar o verão com sua segunda filha no exterior. No entanto, esse plano deu errado quando a segunda filha fez uma longa viagem com o marido. Ao descobrir a mudança de planos, Brenda Hardy utilizou todos os seus contatos para conseguir um encontro com a Condessa Meyer antes que outra família a levasse.

O Visconde queria vender essa filha sua que apareceu de repente, sem aviso prévio.

Quando Brenda Hardy ouviu falar disso pela primeira vez, até ela achou que seu marido finalmente tinha enlouquecido! Mas ele estava falando sério e conseguiu apresentar todas as desculpas razoáveis que tinha para tamanha ambição. Para uma família à beira do abismo por causa de dívidas, oferecer suas filhas no mercado matrimonial não era visto com tanta reprovação nos círculos sociais. Não era como se estivessem cometendo traição!

Na verdade, todos os casamentos na sociedade não eram apenas transações no final das contas?

Claro, expressar tais pensamentos tão explícitos sobre essas “práticas comerciais” abertamente era algo de “baixa classe”, mas a família Hardy não estava em posição de considerar tudo isso. Além disso, aquela garota, Erna, certamente seria uma venda de primeira!

No fim das contas, Brenda Hardy aceitou a proposta maluca do marido. O que ela tinha a recusar? Ela ia expulsar aquela garota de qualquer maneira, então, que aproveitasse para ganhar uma boa fortuna!

Esse tipo de negócio deveria ser rápido, então, provavelmente, eles teriam um casamento lucrativo até o final do verão.

“Senhora, a senhorita Erna chegou.”

Assim que as rugas na testa da Condessa Meyer começaram a se aprofundar visivelmente, uma empregada anunciou a boa notícia. Brenda Hardy pulou da cadeira, quase esquecendo-se de suas maneiras refinadas por um momento.

“Venha depressa, Erna! Estamos esperando você há muito tempo!”

Quando Erna entrou na sala de estar, a madrasta a recebeu com cumprimentos tão calorosos que quase pareciam sinceros.

A Condessa Meyer, colocando seu leque na mesa, também virou a cabeça para olhar Erna. Mesmo com um monte de roupas novas que compraram para ela, Erna ainda usava um vestido rústico.

“Venha cá! Cumprimente a Condessa Meyer.”

Brenda Hardy apressou Erna com uma voz ansiosa. De repente confrontada com uma completa estranha, o rosto de Erna enrijeceu visivelmente.

Olha! Olha só a educação daquela garota de vila!

O sangue de Brenda Hardy quase congelou de medo, pensando que a Condessa se levantaria para ir embora a qualquer momento!

“Saudações à Condessa Meyer. Meu nome é Erna Hardy.”

Erna, que se aproximou após uma breve pausa, cumprimentou a Condessa de forma adequada com sua voz suave habitual.

Os olhos da Condessa Meyer eram tão afiados quanto uma lâmina, examinando cada centímetro de Erna com cuidado.

“O que a senhora acha? Gostou dela?”

Brenda Hardy, que não suportava o silêncio, perguntou apressadamente.

“Acho que você não estava mentindo.”

A Condessa Meyer, com uma expressão estranha no rosto, assentiu. Lentamente, com uma postura elegante, ela se levantou e caminhou em direção a Erna.

“Prazer em conhecê-la, Srta. Hardy. Vamos ver como isso vai dar certo para todas nós!”

A Condessa estendeu sua mão enluvada na frente de Erna para um aperto de mão.

“Sou Victoria Meyer. Serei a responsável por sua chaperonagem, Srta. Hardy.”

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Quando o barulho das tesouras cortando os tecidos cessou, o quarto ficou em silêncio novamente.

Erna, que estava inclinada sobre sua escrivaninha, movendo diligentemente as mãos, soltou um longo suspiro e sentou-se ereta. Em seus olhos cansados olhando para a flor de peônia acabada, havia um brilho de alegria e satisfação avassaladoras.

Concentre-se no seu trabalho quando sua cabeça estiver cheia de preocupações.

Era um velho hábito de Erna. Ela costumava ajudar a Sra. Greve a fazer e vender flores artificiais. Era útil para alguns pequenos ganhos.

Pegar as tesouras para trabalhar em algo enquanto presa em pensamentos estressantes ajudava Erna a se aliviar.

É um pouco engraçado que ela tenha trazido seu trabalho até aqui. Mas para Erna, essas coisas pareciam parte de seu corpo.

Depois de organizar os retalhos de tecido e as ferramentas, Erna foi ao banheiro e lavou bem as mãos. As pequenas mãos, que estavam manchadas, logo retornaram ao seu estado original, suave e macio.

Parece que não vai ser um verão muito tranquilo.

Erna pensou enquanto olhava fixamente para seu reflexo inexpressivo no magnífico espelho de latão.

Já haviam se passado dez dias desde que ela se mudou para a mansão da família Hardy. Cada dia parecia passar muito lentamente, o que era quase doloroso.

Depois de chegar em Schwerin, Erna passou a maior parte do tempo com o Visconde. Para ser mais precisa, ela foi arrastada para todos os lados.

Erna não teve escolha a não ser ser puxada para dentro e para fora de muitas lojas coloridas e comprar montes de coisas. Era tudo sobre vestir, tirar e ser puxada de um lugar para outro. Precisamente, era como ser tratada como uma boneca na mão de uma criança.

“Senhorita!”

A empregada, que viu Erna saindo do banheiro no quarto, exclamou com alegria.

“Eu estava me perguntando onde você poderia ter ido!”

“Desculpe se te causei preocupações!”

“Tudo bem, Senhorita Erna! Você não precisa se desculpar!”

Embaraçada, Lisa acenou com as mãos apressadamente.

Erna sorriu um pouco observando seu entusiasmo e se aproximou lentamente da mesa onde o chá da tarde era servido. Lisa, depois de hesitar por um momento, também se aproximou dela.

“Da próxima vez, traga uma xícara de chá para você também.”

Erna disse isso casualmente a Lisa, quatro dias atrás, durante o chá da tarde. Lisa, que não conseguiu entender seu significado por um tempo, visivelmente pulou de susto.

“Não, não! Eu não posso fazer isso, Senhorita! E você não deveria dizer isso também! Você vai se meter em problemas!”

“Por quê? Eu costumava tomar chá da tarde com a Sra. Greve em casa.”

Erna apenas inclinou a cabeça com uma expressão vazia.

“Quem é a Sra. Greve?”, Lisa abaixou a voz e perguntou nervosa.

“Ela é a governanta de nossa casa em Baden.”

Erna, também abaixando a voz sem saber, respondeu calmamente.

O chá secreto da jovem e da empregada começou após essa conversa e vinha acontecendo pacificamente por vários dias.

Ela é definitivamente um pouco estranha!

Lisa concordou em parte com o que os empregados Hardy estavam sussurrando.

Essa nova filha da família Hardy, que apareceu de repente um dia, não tinha a aura de uma suposta dama “nobre”. Considerando sua aparência ou sua atitude, ela estava longe de ser uma jovem graciosa da sociedade aristocrática usual.

No entanto, quaisquer acusações de que ela era arrogante ou excêntrica eram bobagem. Ela sempre tentava minimizar sua presença e não falava muito. Seu rosto poderia transmitir uma vibração infantil à primeira impressão. Mas se alguém conseguisse conhecê-la, diria que ela era uma garota generosa com uma personalidade simpática.

“Uau! Você fez isso?”

Os olhos de Lisa se arregalaram quando ela descobriu a flor colocada na escrivaninha. Erna corou um pouco e acenou com a cabeça timidamente. A sombra de seus longos cílios, que balançavam a cada piscada lenta, parecia o bater de asas de uma borboleta.

“Tão bonita! Você é realmente talentosa, Senhorita Erna. Eu acreditaria facilmente mesmo que alguém dissesse que é uma flor de verdade!”

Lisa estava realmente maravilhada. Quando ela olhou de volta para o rosto de Erna, que estava radiante com um sorriso por causa de seu elogio sincero, ela ficou pasma. Então, instantaneamente, sua mente afundou na tristeza pensando no futuro dessa garota ingênua.

Essa família desprezível! Vocês perderam tudo por causa de sua ganância! Agora vocês estão tentando vender a filha de vocês para pagar suas dívidas!

Quando o Visconde Hardy de repente quis trazer de volta a filha de sua ex-esposa para a casa, os empregados costumavam murmurar tais acusações.

“Obviamente, eles vão vender aquela garota por um preço alto, mas quem somos nós para julgar? Não importa o que consigam vender por dinheiro, não é bom para todos nós que essa família continue bem?”, diziam eles.

Lisa parecia ser capaz de entender o peso por trás dessas palavras agora.

Será que esta senhorita sabe disso?

A pergunta que surgiu de repente perturbou Lisa. Foi naquele momento que Erna, que havia se aproximado de Lisa em algum momento, de repente trouxe a peônia que havia feito antes.

“Senhorita Erna! Você está me dando essa flor?”

Lisa perguntou incrédula e Erna acenou com a cabeça levemente.

“Não, Senhorita!... Eu estou...”, ela tentou falar, mas sua fala estava desordenada. “Quero dizer, não estou recusando, obviamente! Estou apenas chocada…!”

Erna sorriu calmamente ao ver seu rosto confuso.

“Estou te dando isso como um presente. Ficará bonito no seu chapéu. Também pode ser usado como um broche.”

Erna colocou a peônia recém-feita na mão de Lisa.

Lisa, sem coragem de recusar a sinceridade daquela garota inocente, decidiu aceitar o presente com muita alegria. Erna sorriu aliviada. Seu sorriso doce lembrava a bela flor que ela havia feito.

“Vamos dar um passeio? Schwerin deve ser ainda um lugar muito estranho para você. Em troca do seu presente, vou te mostrar meus lugares favoritos.”

Lisa pulou da cadeira com entusiasmo. Erna olhou para ela com olhos surpresos misturados a uma pitada de tensão.

“E se eu te causar problemas?”

“Você não vai! É meu dever zelar por você, minha Senhorita.”

Lisa, sorrindo brilhantemente, rapidamente pegou o chapéu e o guarda-sol de Erna.

“Siga-me, Senhorita!”

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Schwerin era a segunda maior cidade, logo após a capital.

As famílias nobres geralmente tinham suas próprias mansões na parte sul da cidade. O Palácio de Schwerin, a residência de verão real, também ficava lá.

De lojas e hotéis de luxo densamente compactados a luxuosas casas de teatro, era uma cidade movimentada que ostentava o esplendor de uma cidade turística onde nobres famosos do reino vinham para se divertir e relaxar durante a temporada de verão.

Um pouco mais ao norte, havia um enorme porto conectado ao vasto oceano. Schwerin era, de fato, uma cidade onde o comércio e as finanças se desenvolveram vigorosamente desde os tempos antigos.

Erna ouvia as conversas de Lisa e caminhava em ritmo lento. Ela já tinha algum conhecimento prévio sobre a cidade ao ler livros. Mas, agora que estava observando tudo bem na frente de seus olhos ansiosos, tudo parecia novo.

“Olha, Senhorita. Aquele hotel é muito bem conceituado aqui em Schwerin. É o melhor!”

Lisa chamou a atenção de Erna e apontou para um hotel localizado na interseção de três avenidas. O hotel parecia elegante aos olhos de Erna. Fortemente decorado com desenhos florais, mas sua atmosfera antiga não desapareceu.

“O restaurante e o salão de chá ali são muito populares entre as senhoras daqui. O que você acha deles, Senhorita?”, Lisa perguntou rapidamente.

Mas antes que Erna pudesse desviar o olhar do hotel e responder, um homem alto e bem vestido chamou sua atenção.

O homem que acabara de sair da entrada do hotel andava a passos largos. Havia uma mulher ao lado dele que aparentemente tentou dizer algo, mas o homem não parou e simplesmente seguiu seu caminho.

Atrás deles, uma multidão de pessoas curiosas seguiu, embora mantendo uma distância segura. Considerando a atenção dada pelos espectadores ao redor, ele parecia ser uma figura bastante famosa para Erna.

“Oh não, Senhorita!”

Erna, quase tonta por causa do aperto repentino de Lisa em seu braço, desviou o olhar do rosto do homem e olhou para Lisa.

“Sim, Senhorita Erna. Ele é inquestionavelmente bonito! Eu sei essa sensação. Mas você não deve... Você não pode...!”, Lisa tentou falar tudo ansiosamente de uma vez e sua língua se contraiu novamente.

Erna ficou pasma com os devaneios sem contexto de Lisa e voltou seu olhar para o homem loiro com espanto. A carruagem que o levava a ele e à mulher logo desapareceu do outro lado da rua.

“Porque isso nunca vai acontecer! E isso é muito bom!”

Lisa respirou fundo e ficou na frente de Erna. Mas Erna ainda estava muito confusa.

“Do que você está falando, Lisa? Quem era aquela pessoa?”

“Isso… Você não precisa saber disso! Não pergunte.”

“Ele tem má reputação?”

“Ugh. Me diga sobre isso! Não, não é esse o ponto. Escuta, Senhorita!”

Lisa balançou a cabeça e agarrou o outro braço de Erna também.

“Lembre-se disso, Senhorita. Não ele! Nunca jamais!”

“O quê? Por quê?”

“….esse é um cogumelo venenoso!”

Lisa cerrou os dentes, seus olhos fixos. Embora estivesse proferindo palavras absurdas que não faziam sentido para Erna, seu rosto mostrava uma expressão gravemente séria.

“Lembre-se das minhas palavras, Senhorita. Aquele homem é um cogumelo venenoso. Se você comê-lo, você morre!”

[1] Chaperona: Acompanhante feminina que acompanha e supervisiona jovens mulheres solteiras em eventos sociais.
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