O Príncipe Problemático

Volume 1 - Capítulo 5

O Príncipe Problemático

“Não quero te ver! Sai do meu quarto agora mesmo!”, berrou a Baronesa Baden, com fúria, abalando a atmosfera tranquila da casa de campo. Logo após o grito estrondoso, ouviram-se fracos pios de galinhas e gansos, que vagavam livremente no quintal, pela janela aberta.

“Me desculpa, Vovó, eu sei que o que eu fiz estava errado...”, disse Erna baixinho, com um pouco de culpa, enquanto dava alguns passos cautelosos em direção à avó. A Baronesa Baden, porém, continuou a ignorá-la, sentada em silêncio numa cadeira perto da janela. As duas estavam em um impasse desde que a Baronesa descobriu o que Erna fez enquanto ficou em Schuber.

“Se você realmente está ciente dos seus erros, então cancele imediatamente esse negócio com aquele homem. Nunca faria um acordo tão sem sentido com o Walter Hardy!”, finalmente a Baronesa a encarou depois de um longo tempo, ainda irredutível.

“Vovó, você sabe que eu não posso fazer isso. O advogado da família Hardy vai se encontrar com o Thomas Baden hoje para fechar o negócio, já que o Pai é o legítimo dono desta casa no fim das contas. Mas, o Pai me prometeu que vai me deixar herdar a casa mais cedo ou mais tarde, então, depois disso, podemos simplesmente morar aqui sem preocupações para sempre.”

“Minha querida neta, por que você precisa se vender por essa casa velha?”, perguntou a Baronesa, desanimada.

“Me vender? O que a senhora está dizendo, Vovó? Eu absolutamente não fiz isso!”, respondeu Erna com uma carranca, como se estivesse ouvindo algo absurdo.

“Esse acordo vai beneficiar todos os envolvidos, eu posso proteger essa casa e morar com o meu pai.”

“Você está falando sério, Erna? É isso que você realmente quer?”

“Sim.”, respondeu Erna após alguns segundos, com um pequeno sorriso nos lábios.

“É o que eu queria, Vovó.”, acrescentou, olhando para a velha mulher. No entanto, vendo os olhos da Baronesa cheios de tristeza, parecia que a tentativa de Erna de mentir não conseguiu enganar completamente a sábia velhinha.

Seu pai realmente concordou em ajudá-la, garantindo que compraria a casa de campo de Thomas Baden e a entregaria a ela. Erna ficou chocada ao ouvir essa proposta, a ponto de sua alma quase sair do corpo. Ela sabia o quão imprudente foi se agarrar a esse plano como sua última esperança, mas a situação não lhe deu muitas opções, então ela só pôde ousadamente fazer o que podia. Ela não esperava esse resultado e que seu pai voluntariamente oferecesse sua ajuda, muito mais de uma forma que a beneficiasse ao máximo. Embora ela tivesse que pagar pela ajuda que recebeu no final, ainda era um negócio muito bom para ela deixar passar.

Como condição para atender ao pedido da filha, o Visconde Hardy fez uma exigência inesperada: morar juntos como uma família de verdade. Deixar sua única filha sozinha em um lugar distante até que ela se tornasse uma jovem dama em idade de casar era algo que o incomodava como pai.

‘Um ano. Pelo menos dê a seu pai esse tempo.’

Quando Erna hesitou, seu pai implorou apressadamente.

‘Vamos ficar em Schuber por cerca de um ano. Saia e socialize com os outros nobres e aproveite o tempo para expandir suas conexões que você pode precisar no futuro. Para mim, é dever de um pai fornecer a seus filhos pelo menos esse nível de base para que você se apresente na sociedade.’

Sem piscar os olhos, o Visconde Hardy ofereceu sua ajuda fervorosamente. Seu entusiasmo em ajudá-la a viver como uma verdadeira dama nobre era louvável, e uma vida tão luxuosa que só os nobres poderiam alcançar seria atraente para muitas pessoas. Mas, para Erna, tais promessas eram apenas papo furado.

Ela gostava da vida tranquila daquele lugar; onde hoje, ontem e amanhã não eram tão diferentes um do outro, cada dia continuando pacificamente. Se esses dias de sua vida fossem completados tão lindamente quanto um colcha de retalhos feita por sua avó, então não havia mais nada que ela desejasse.

No entanto, ela ainda concordou com o pedido do pai porque era a melhor coisa a fazer. Erna queria proteger a casa de campo a todo custo, mesmo que fosse uma teimosia tola da sua parte. Não era um mau negócio conseguir essa casa em troca de ficar com o pai por cerca de um ano.

“Não quero ouvir mais suas desculpas. Vá embora.”, disse a Baronesa Baden severamente enquanto desviava o olhar da neta.

“Vovó…….”

“Por favor, Erna. Acho que preciso de um tempo sozinha.”, implorou solenemente, seus olhos fixos na janela ficando ainda mais vermelhos.

Erna não conseguiu falar mais nada e deixou o quarto da avó, apenas uma longa sombra seguindo seus passos impotentes.


Em uma festa animada.

Os filhos de várias famílias de prestígio, membros de um clube social, estavam se divertindo juntos. Eles costumavam se encontrar, conversando sobre os últimos acontecimentos e fofocas da sociedade. Portanto, a atmosfera sempre ficava barulhenta em questão de minutos devido ao entusiasmo sem fim deles. Mas a festa de hoje estava mais animada do que o normal, especialmente quando a história do vencedor das últimas corridas de cavalos surgiu. Uma mistura de admiração e inveja se concentrou em Bjorn, já que o famoso garanhão que venceu várias corridas de cavalos no reino era de propriedade do Grão-Duque. No entanto, esse garanhão sortudo que atrai a inveja de vários entusiastas de corridas de cavalos não era visto em nenhuma corrida ultimamente.

“Bjorn, se você não está interessado em corridas de cavalos, que tal vender seu cavalo? Mesmo que você peça um preço alto, tenho certeza de que haverá pessoas na fila. Na verdade, serei o primeiro da fila se você fizer isso.”

“Se você fizer isso, eu lhe darei o dobro do que aquele canalha vai oferecer.”

“Eu dobro o dobro dele.”

Todos esperavam ansiosamente a resposta de Bjorn.

“Eu não tenho interesse em corridas de cavalos.”

Bjorn pousou sua taça de vinho vazia e respondeu calmamente. Os olhos de todos brilhavam com a expectativa que não conseguiam esconder.

“Mas eu não vou vendê-lo.”

“Você nem está interessado, então por que ainda se apega a ele?”

“Porque ele é meu.”, respondeu Bjorn secamente. Vários suspiros de decepção irromperam por toda parte e seguiram-se todos os tipos de conciliação e persuasão, mas o Grão-Duque, como sempre, apenas ouviu indiferentemente.

“Você é um príncipe que nem sequer escuta os apelos do povo de seu reino.”, disse Pedro com um sorriso enquanto balançava a cabeça.

“Qual a sua lógica torta de se apegar a algo mesmo que não lhe interesse mais? Isso só mostra o quanto você é pervertido.”, resmungando com uma careta, Pedro encheu a taça vazia de Bjorn.

O assunto, que havia sido acalorado por um tempo devido às corridas de cavalos, passou para histórias relacionadas a mulheres como se fosse um fenômeno natural. Bjorn não se deu ao trabalho de se juntar aos outros, e apenas olhou para o relógio de parede colocado na diagonal, com as pernas longas cruzadas e o queixo na mão.

“Ah! A nova empregada da família Hardy é muito bonita, não é?”

Alguém jogou de repente mais lenha na fogueira, assim que várias histórias sobre diversas damas da alta sociedade famosas por sua beleza acabaram.

(P/R: quer dizer algo novo.)

“Você quer dizer aquela família Hardy? Aquela família nem sequer podia pagar uma nova empregada e as empregadas que estavam lá antes de sua queda devem ter saído da casa.”

“Então ela é uma empregada que trabalha lá há muito tempo? De qualquer forma, eu a vi entrando naquela casa com certeza.”

“O quê? Você até a seguiu até em casa?”

“O que você quer dizer com segui? Nos encontramos por acaso na Avenida Tara e achei que deveria cumprimentá-la por causa de sua beleza. No fim, ela se assustou e fugiu, então nem pude perguntar o nome dela. Ela era muito tímida e obviamente parecia uma garota do interior à primeira vista.”

“Assustar uma mulher bonita só com um cumprimento, foi certamente por causa da sua cara feia. Olha, se fosse nosso Príncipe, até uma garota medrosa do interior teria respondido docemente como mel.”

“Cala a boca!”

Histórias misturadas com risos foram trocadas junto com o cheiro de álcool.

Hardy.

Bjorn levantou-se de seu assento ao ouvir mais uma vez o nome que tem ouvido frequentemente ultimamente. A taça de conhaque que ele segurava em uma mão tremeu no ritmo de seus passos enquanto ele se afastava da festa.

“Todos chegaram rápido.”, cumprimentou Bjorn com um sorriso depois de entrar na biblioteca no segundo andar do clube. Os vários diretores do banco, que estavam sentados no sofá da recepção, levantaram os olhos em uníssono e o olharam.

“Não é que estamos atrasados, é que você está atrasado.”

“Bem, bem…” Bjorn sentou-se na cadeira principal e recostou-se enquanto apontava para o relógio.

“Estou no horário agora, certo?”

Assim que suas palavras terminaram, o ponteiro do relógio apontou exatamente para as 4 horas. Seu rosto sorridente era fresco como uma flor desabrochando no sol da manhã, uma imagem longe de alguém que estava bebendo álcool desde o meio-dia.

Bjorn, que colocou sua taça vazia na beirada da mesa, segurava um documento grosso apresentado por um advogado. Era um relatório detalhado sobre títulos estrangeiros e municipais que haviam fluído recentemente para o mercado financeiro de Lechen. Ele começou a ler cuidadosamente os documentos. Mesmo depois de beber bastante vinho, era difícil encontrar qualquer sinal de embriaguez em seus olhos calmos.

Os homens sentados em volta do escritório esperaram em silêncio que ele terminasse de revisar os documentos. A razão pela qual esses homens, que eram financistas e advogados renomados no reino, se reuniram em uma fraternidade em plena luz do dia e trabalharam voluntariamente sob um filho pródigo, era porque aquele filho pródigo era Sua Alteza, Bjorn Dniester.

Era puramente por causa de suas conexões e capital que eles de repente decidiram auxiliar Sua Alteza, que estava prestes a criar seu próprio banco. Ele era uma pessoa que de qualquer forma não trabalharia diligentemente, então tê-lo como o chefe simbólico do projeto era bom o suficiente para eles. Como alguém poderia esperar que Sua Alteza se tornasse uma galinha dos ovos de ouro? Era algo em que ninguém ousava pensar, muito menos colocar em prática.

Então, por que eles estavam tendo essa reunião agora?

O fascínio de um lucro enorme, que eles provavelmente obteriam com a ajuda do príncipe cogumelo venenoso, era uma fruta doce o suficiente para fazê-los esquecer as consequências de suas ações.

“Vamos começar.”

Bjorn, que rapidamente revisou os documentos, instou com uma sobrancelha arqueada e um sorriso. Era um sorriso que prenunciava mais um sucesso para ele.


“Senhor, o que eu fiz… Está errado?”

Entregando o prego de ferro que estava segurando, Erna perguntou muito seriamente. Ralph Royce, que lançou um olhar para ela, começou a martelar sem responder à sua pergunta. A poeira que havia se acumulado na cerca voou com cada impacto do martelo.

A poeira voadora fez Erna espirrar várias vezes, no entanto, ela ainda não saiu e ficou ao lado de Ralph. Quando a cerca semi-destruída recuperou sua forma original, seu nariz estava vermelho e ardendo.

“É uma questão de deixar a Senhorita partir, é claro que a Senhora ficará muito chateada.”, Ralph, que limpou o rosto com a toalha que Erna lhe deu, deu uma resposta atrasada.

“Embora a Senhora estivesse ciente de que não seria possível deixar a jovem viver nesta aldeia para sempre, no final, essa é uma decisão muito repentina sua.”, ao contrário de seu tom direto, seus olhos continham um calor e uma tristeza aparentes enquanto ele a olhava.

A Baronesa Baden finalmente aceitou os desejos de sua neta. Erna finalmente estava prestes a partir para Schuber amanhã, onde ficava a casa de seu pai. O Visconde Hardy parecia ter realmente tomado uma decisão, já que até enviou empregados até Buford para buscar sua filha.

“Me desculpa, Senhor.”, sussurrou Erna enquanto o olhava solenemente.

“Sinto muito por ter tomado essa decisão sozinha, e isso deixou todos tristes no final.”

“Senhorita Erna…..”

“Ainda assim, não me arrependo, porque consegui salvar esta casa.”, disse Erna com um sorriso tão brilhante que nem a sombra de seu chapéu de palha largo conseguia cobri-lo.

Ralph, que esfregou os olhos vermelhos, só pôde acenar com a cabeça em resposta. Ele temia que pudesse começar a chorar se abrisse a boca para responder. A jovem, por outro lado, ficou em silêncio ao seu lado por um longo tempo, como se estivesse ciente de suas emoções turbulentas. A luz do sol do final da tarde deslumbrou os dois enquanto se encostavam lado a lado na cerca renovada.

“Por favor, cuide da Vovó até eu voltar, Senhor.”

Erna, que estava chutando a terra solta, pediu cautelosamente. Ralph acenou com a cabeça mais uma vez, seu rosto estava ainda mais vermelho do que antes.

Como cocheiro da Família Baden, ele fazia todo tipo de tarefa que não era originalmente sua, mesmo depois de terminar suas próprias tarefas. Embora seu salário fosse reduzido a ponto de ser difícil financiar suas despesas diárias, ele ainda decidiu ficar junto com a governanta, Sra. Greve.

Eles devem ter ficado por causa do afeto e da lealdade que tinham por estarem juntos por muitos anos, mas Erna estava bem ciente de que também era porque eles eram velhos demais para encontrar outro emprego.

Essa razão a fez querer ainda mais proteger aquela casa.

Para que eles, que são como sua família, pudessem ficar ali por um longo, longo tempo em paz e conforto. Por esse motivo, ela poderia aguentar, mesmo que levasse um ano. E quando a próxima primavera finalmente chegasse, ela seria capaz de ver novamente a bela e pacífica paisagem daquela casa.


Erna deixou Buford na manhã seguinte. Só alguns dias depois que rumores sobre a filha da Família Hardy, que apareceu repentinamente um dia, circularam nos círculos sociais.

Dizia-se que a filha do Visconde Hardy, que estava recebendo cuidados médicos no campo devido a uma doença, havia retornado e iria fazer sua estreia social atrasada nessa temporada. Dizia-se que ela era tão bonita quanto a Princesa Gladys, algo que muitas pessoas consideravam inconcebível.

No final, a fonte do boato era um pouco suspeita, mas era uma boa história para aguçar o interesse dos nobres entediados.

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