Volume 1 - Capítulo 63
O Príncipe Problemático
Cascos de cavalos soavam levemente na alameda do lago, acompanhados pelo murmúrio suave de damas nobres trocando conversas leves, como o chilrear de pássaros.
“Como o tempo voa, em breve até as folhas de outono terão ido embora e o inverno estará sobre nós.”
“Eu sei, mal estava aproveitando o verão, quando o outono chegou. O que você acha que a delegação de Lechen ficará em Lars?”
Todos os olhos se voltaram para Gladys quando a esposa do Príncipe Alexander mudou de assunto. Ela estava tão calma quanto o tempo, cavalgando seu belo cavalo branco.
“Acho que talvez quatro dias. Então Lars poderá ter paz novamente. Que absurdo permitirem que o Príncipe Bjorn ficasse no Palácio Manster, depois do que ele fez com a Princesa Gladys.”
Gladys andava tão desanimada ultimamente, tão inconstante. Desde que seu terrível ex-marido anunciou que viria a Lars em sua lua de mel. As pessoas se perguntavam como ele podia fazer algo tão insensível.
A hora estava se aproximando e Gladys começava a se preocupar. Jade havia falhado em entregar a carta? Ou talvez Karen não fosse tão leal a ela quanto parecia. A compostura que Gladys vinha lutando para manter o tempo todo começou a desmoronar lentamente.
Sentiu uma pontada no estômago. Sabia que não deveria estar espionando a Grã-Duquesa daquele jeito e, para piorar, tramar um plano tão desonesto estava abaixo de sua dignidade, mas não conseguia controlar o que seu coração sentia.
Ela esperara tão pacientemente que Bjorn mudasse de ideia e a recuperasse, então, quando veio a notícia de que ele se casaria com Erna, a notícia a atingiu como um raio.
“Ela é uma boa mulher e eu a amarei.” Bjorn dissera sobre Erna.
“Por que eu não posso ser como ela?”, Gladys pensou. O amargo arrependimento a corroía como pequenas moscas famintas. Todas elas tinham o rosto de Erna Hardy. Uma pobre caipira com o desejo superficial de ser mais do que merecia.
Gladys observou a alameda com olhos frios, procurando a garota. Ela sentia como se Erna tivesse manchado seu coração, um coração que nunca odiara ou invejara ninguém. Se Bjorn pretendia machucar sua ex-esposa, ele havia feito um trabalho perfeito.
“Olha, alguém está vindo, ali.”
Gladys olhou, fazendo o possível para esconder a aflição interior, e viu uma mulherzinha magra com um chapéu cheio de flores e fitas. Karen não a traíra, afinal.
Gladys engoliu o alívio e a vergonha, com medo de que subissem muito à superfície e a denunciassem. Ao mesmo tempo, a mulher que desfrutava de sua caminhada olhou diretamente para Gladys.
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“Onde está Erna?”, perguntou Bjorn.
Seus olhos se estreitaram ao ver o quarto da esposa vazio e chamou a criada. Ela veio correndo e escondeu um sorriso sob sua expressão rígida.
“Sua Alteza foi tomar um pouco de ar fresco, perto do lago, Sua Alteza”, disse a criada.
“Lago?”
“Sim, aquele atrás do palácio, Sua Alteza.”
“Ah, sim, claro.”
Bjorn assentiu ao se lembrar do caminho do lago. Ele nunca ia lá, não era algo que lhe desse prazer. Não havia nada para ver lá, exceto água, árvores e esquilos.
A história que Erna contou sobre o esquilo tagarela veio à mente e Bjorn soltou uma risada. Ele não gostava de pessoas que falavam muito, especialmente quando falavam cinco vezes mais durante o sexo. Mas havia algo em Erna que o fazia sentir… Era difícil nomear, mas ele gostava que ela falasse sobre as bolotas e nozes que os esquilos comiam enquanto faziam sexo.
Sem pensar mais nisso, Bjorn sentou-se diante da escrivaninha que ficava embaixo da janela. A criada-chefe entrou apressada e parou a uma distância respeitosa.
“Perdão, sua alteza, não me disseram que o senhor voltaria tão cedo e não tenho nada preparado.”
“Tudo bem, Karen, voltei para casa por impulso”, respondeu Bjorn calmamente. Ele mostrou um bilhete azul colocado no meio da escrivaninha.
Ele havia interrompido negociações que deveriam ter durado a maior parte da tarde. Era um dia muito bonito para perder tempo com alguém que começara as negociações com uma blefe tão ruim. Ele decidiu que precisava de um pouco mais de tempo para refletir sobre a situação, para que as coisas ficassem tão claras quanto o céu.
“Karen, o que você acha da minha esposa?”
A criada engoliu em seco. “Eu… não ousaria avaliar Sua Alteza.”
Bjorn ergueu os olhos do papel que continha vários nomes de famílias rabiscados, ligados por linhas e pontos.
“Sério?”
“Sim, Sua Alteza.”
“Estranho”, disse Bjorn, colocando o papel de volta na mesa, “porque me parece que você já tem uma opinião.” Ele olhou para Karen com olhos frios e um sorriso gentil.
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O jardim de inverno de vidro com vista para o lago havia sido construído para a Princesa Gladys. Era um presente para demonstrar o quanto o casal real amava sua única princesa.
Erna ouviu educadamente e tomou um chá sem gosto enquanto a Princesa de Lars contava a história da estufa. Ela estava repleta de flores e borboletas raras. Era uma casa de primavera eterna que fazia você esquecer o que estava acontecendo lá fora.
“Pensando bem, foi aqui que recebi a carta de proposta de Lechen. Era uma carta tão bonita, acho que não vi uma carta mais bonita desde então. Tenho certeza de que você entende, você deve ter recebido algo igualmente bonito”, disse Gladys enquanto tomava seu chá delicadamente.
Erna não conseguia ver nenhuma sombra no rosto sorridente de Gladys, como se ela estivesse recordando lembranças agradáveis. A outra nobre mulher não parecia se importar. Não era coincidência, Erna estava convencida e colocou a xícara de chá.
Karen a aconselhara a visitar o lago, dizendo-lhe como a água calma refletia as cores das árvores tão lindamente e era um lugar amado por toda a família real de Lars. Como era tão perto, ela não precisava fazer nenhum arranjo ou pedir permissão.
A bondade repentina da mulher que ela sabia que a desgostava deixou Erna muito desconfiada, mas quando percebeu o plano, já estava olhando para a Princesa de Lars.
“Recebi flores, Princesa, uma rosa muito bonita”, disse Erna.
Ela estava muito calma, principalmente porque já havia passado por isso. Ela conseguia manter uma postura mais calma do que no chá caótico, agora que percebera o que ia acontecer.
“Sério? Você se casou e nem recebeu um pedido de casamento decente? Bjorn, realmente. Um homem que escreve cartas tão bonitas pode ser tão insensível”, a Princesa soltou um suspiro teatral.
Erna não mais evitava aqueles olhos. No momento em que Gladys a convidou para o chá, ela suspeitou do que a Princesa realmente estava fazendo. Em vez de fugir e se esconder, Erna decidiu enfrentar aquela malícia óbvia.
“Posso te mostrar minha flor favorita?”, perguntou Gladys.
Antes que Erna pudesse responder, Gladys já estava de pé. Erna percebeu as intenções da Princesa e respondeu calmamente.
“Princesa Gladys, acho que a única razão pela qual você me chamou aqui é porque tem algo a me dizer”, disse Erna diretamente.
O papo das outras damas parou e todas olharam para Erna e Gladys.
“Do que você está falando, Grã-Duquesa? Eu só quero te mostrar minhas flores favoritas. Você parece o tipo de pessoa que gosta muito de flores”, Gladys sorriu brilhantemente para Erna.
Erna desviou o olhar e tentou organizar seus pensamentos. O canteiro de flores diante de Gladys estava cheio de Lírios do Vale, era a única flor no canteiro.
Não. A voz da Sra. Fitz veio à mente, quando Erna perguntara à velha se podia usar os lírios para um arranjo. Absolutamente não.
Erna nunca adivinhou o porquê, na época, mas agora que Gladys estava diante de um canteiro da flor, ela adivinhou o motivo.
“É uma flor tão bonita”, disse a Princesa Gladys, “é a minha flor favorita. Acho que você também gosta delas.” Gladys apontou para o chapéu de Erna, onde havia um Lírio do Vale. “Temos tanto em comum. Ambas temos o mesmo gosto por flores e o mesmo gosto por homens… ah, isso pode ter sido um pouco demais. Desculpe.” A voz de Gladys ficou mais baixa e suas palavras mais brutais. “Há lírios rosas aqui, neste próximo canteiro. É uma flor preciosa que só é encontrada em Lars. Você pode pegar alguns de presente, se quiser.”
Gladys calmamente levou Erna pelo resto da estufa, em um passeio sem sentido, falando sem parar sobre flores. Erna permaneceu calma e a seguiu.
“Você sabe, Bjorn era um príncipe herdeiro tão amado”, Gladys se voltou para Erna de repente. Ela não estava mais sorrindo, “e eu quero devolver essa coroa para Bjorn.”