Volume 1 - Capítulo 62
O Príncipe Problemático
Bjorn acordou de um sonho agradável. Não um sonho que ele conseguisse se lembrar, mas a sensação dele permaneceu como uma imagem residual. A sensação de calor de uma lareira, ou da luz do sol entrando por uma fresta nas cortinas. Ou… penas roçando seu pescoço.
A sensação das penas era muito real e, quando Bjorn virou a cabeça para ver o que era, encontrou Erna encolhida bem perto dele. A respiração dela soprava em seu pescoço e lhe dava uma sensação de formigamento.
“Nunca vou deixar sua cama desconfortável.”
Erna havia feito essa promessa quando eles decidiram trilhar juntos o caminho espinhoso. Ela se aninhou na ponta da cama quando foram dormir e, aos poucos, foi se aproximando, até ficar bem grudada a Bjorn.
Bjorn sentou-se cuidadosamente e olhou para o anjo adormecido. Ela parecia tão inocente em seu sono, como se não soubesse dos problemas do mundo, ou dos seus próprios. Quando ela colocou a camisola de volta? Até a fita estava amarrada com um lacinho bem arrumado.
Confirmando que ainda tinha tempo para cumprir sua agenda matutina, Bjorn recostou-se na cabeceira e fechou os olhos. Era um pouco desconfortável, mas nada perto do que ele suspeitava.
Na primeira noite, ele teve um pouco de dificuldade, mas isso se devia principalmente à novidade da situação. Com o passar das noites, ele foi se sentindo cada vez mais confortável e agora, aparentemente, estava começando a ter bons sonhos, mesmo com Erna deitada ao seu lado.
Depois de algum tempo, Bjorn abriu os olhos novamente e olhou para Erna. Ela ainda dormia profundamente. Ele a observou toda, desde as finas sombras de seus cílios e o formato estreito de seu rosto delicado até a pequena mão repousada no travesseiro ao lado do rosto.
Era uma mão tão pequena. Ela era uma mulher delicada, mas ele nunca havia parado para estudar direito o quanto ela era realmente pequena.
Um momento depois, Bjorn ouviu a empregada deixando o chá no quarto ao lado.
“Erna”, Bjorn disse suavemente.
Lentamente, Erna abriu os olhos e, ao olhar para Bjorn, um sorriso acolhedor se espalhou por seu rosto. Era um daqueles momentos que faziam valer a pena trilhar o caminho espinhoso.
“Bom dia, Bjorn”, ela disse suavemente.
“Bom dia, Erna.”
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Lisa fechou a porta da suíte em silêncio e bateu os pés de alegria. Ela não sabia quantas vezes franziu os lábios para se impedir de gritar.
Dois chás!
Ela sentia que queria gritar para o mundo inteiro.
“Olhem, vocês que menosprezam a Grã-Duquesa, duas xícaras na bandeja hoje. Duas!”
Lisa mal conseguia conter a excitação enquanto corria pelos corredores, procurando alguém para compartilhar essa notícia.
A primeira vez que ela soube que os dois haviam acordado juntos pela manhã foi quando o pequeno sino de chamada foi tocado. Ela foi ao quarto, esperando ver a Grã-Duquesa; em vez disso, era Bjorn, sentado na cama e semi-nu. Erna ainda dormia ao lado dele.
Quando Lisa disse à governanta que seriam preparados dois chás para o quarto da Grã-Duquesa, ela ficou atônita.
Não é natural que casais casados dividam a mesma cama?
Parecia que este era um evento muito especial, o Príncipe acordar na cama de outra pessoa. Os empregados que trabalhavam para o Príncipe há muito tempo foram os mais chocados.
“Bom dia, Governanta.” Lisa disse a Karen. Seu entusiasmo surpreendeu a governanta, que a olhou com incredulidade.
“Você não precisa levar o chá de Sua Alteza esta manhã. Eu apenas trouxe o chá da manhã dele junto com o da Grã-Duquesa para o quarto dela.” Lisa sorriu. “Os dois ficaram tão próximos, meu coração está tão satisfeito, o seu também está, Governanta?”
“Quantas vezes eu já te disse para não desperdiçar sua energia com isso?”, respondeu Karen à provocação da jovem empregada.
Lisa apenas respondeu com uma sobrancelha arqueada e uma cortesia formal, antes de se virar da governanta e sair correndo com um passo leve e frívolo.
A cabeça de Karen latejava ao pensar em todas as mudanças que a caipira havia trazido para a Família Real. Ela suportava apenas porque seu orgulho de servir o próximo rei havia desmoronado. Isso estava começando a parecer um poço sem fundo de desgraça.
Ela sentia falta da Princesa Gladys a cada dia que passava, principalmente porque havia sido privada de tudo o que almejava. Talvez fosse nostalgia pelos dias de glória, mas eles não voltariam.
Karen suspirou enquanto continuava com suas tarefas. Assim que ela estava verificando o cardápio do café da manhã, a empregada da Princesa Gladys bateu na porta da cozinha. Jade veio com uma carta da Princesa.
“A Princesa realmente deu essa ordem?”, disse Karen, os olhos arregalados depois de ler a carta.
“Sim, claro, você não consegue ver, é a letra da Princesa.” Jade disse. “Então, vou confiar em você e esperar.”
Karen esperou até que Jade saísse pela porta dos fundos e não pudesse mais ser vista antes de voltar os olhos para a carta novamente. Ela leu de novo e de novo, memorizando-a antes de jogá-la no fogo.
Ela se sentia mal por ser uma espiã, mas se havia algo que ela pudesse fazer para ajudar a Princesa, que ainda nutria sentimentos pelo Príncipe, ela faria muito pior. Ela só precisava informar Gladys sobre a agenda da Grã-Duquesa e, considerando que ela passava o dia todo atrás do muro do palácio, não era uma tarefa muito difícil.
A Princesa Gladys havia ordenado a Karen que garantisse que a Grã-Duquesa fosse ao lago atrás do Palácio Manster.
Enquanto Karen andava por ali, o Grão-Duque e a Grã-Duquesa entraram na sala de café da manhã.
“Bom dia, Karen”, Erna cumprimentou a governanta com um sorriso.
Karen olhou para o casal com desespero enquanto eles se sentavam um de frente para o outro, conversando em tons baixos. Era principalmente Erna quem falava, com Bjorn dando respostas curtas e ocasionais. Pode ter sido a luz âmbar do outono, mas o casal parecia tão caloroso e amigável juntos. Karen não conseguia tirar os olhos deles.
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Na hora em que Bjorn estava a caminho de seu primeiro compromisso, os empregados se reuniram para se despedir do Príncipe. Erna também estava lá, para desejar um bom dia ao marido.
“Você vai voltar tarde hoje?”, perguntou Erna.
Ela não queria parecer que estava implorando ou reclamando e falou com uma voz clara. Ela também não se esqueceu de sorrir.
“Talvez”, disse Bjorn.
Ele passou em revista os eventos do dia em sua cabeça e descartou as expectativas de Erna com uma resposta clara e concisa.
“Ah, entendi”, murmurou Erna.
Ela brincou com o broche de flores preso a um xale de renda. As palavras de Gladys vieram à tona em sua mente.
O gosto de Bjorn é pelas coisas mais simples e elegantes.
Sentindo-se intimidada, ela olhou para o Príncipe, que ainda estava ao seu lado, e suspirou com uma expressão emburrada. Bjorn olhou para ela e seus olhos se encontraram. Ela sentiu-se compelida a falar.
“Será que sou antiquada demais por gostar de coisinhas bonitas, como flores e rendas?” Ela decidiu ser aberta e honesta.
“E daí?”
“Quero saber o que você acha.” Ela brincou com as pétalas das flores.
Ela se orgulhava de ter melhorado, graças à Sra. Fitz, e estava disposta a deixar de lado sua teimosia. Ela sentia que ainda estava aquém. Mesmo para Erna, que não estava familiarizada com essas coisas, Gladys parecia o auge da graça e da sofisticação.
“Por que você está me perguntando isso?”, Bjorn franziu a testa. “Pode estar fora de moda, mas tudo bem desde que você fique bonita.”
“Sério?”, os olhos de Erna se arregalaram. “Eu sou realmente bonita?”
“Tenho a impressão de que você não está perguntando porque não sabia, está tentando se gabar?”
“Não, de jeito nenhum…” Erna não sabia como explicar.
Erna nunca soube realmente o que outras pessoas pensavam dela de verdade, fora dos círculos de fofoca. Sua avó dissera que apenas pessoas superficiais e vulgares davam tanta ênfase à aparência externa, e Erna havia vivido de acordo com esse ensinamento.
“Bem, cada pessoa tem um padrão de beleza diferente, então, quero dizer, aos seus olhos…”
“Você é bonita.” Bjorn disse, interrompendo-a. “Qualquer um com olhos diria a mesma coisa, então você pode usar o que quiser, minha esposa.”
O tom dele era tão casual, mas um sorriso suave puxou os cantos de seus lábios. Erna tentou seguir o ensinamento de que uma dama sempre deve ser graciosa, mas não teve chance de conter o sorriso.
Bonita.
Seu coração inchou como um balão com aquela palavra curta e simples, e ela sentiu que ia flutuar para o céu.
“Obrigada”, disse Erna. “Você também é muito bonito.”
“Eu sei.” Bjorn respondeu.
Antes que ela pudesse pensar em alguma maneira de responder, Bjorn subiu na carruagem. Erna acenou com a mão que havia estado esfregando suas bochechas quentes. Quando ela viu o rosto sorridente de Bjorn olhando para ela, seu coração batia tão forte que ela tinha certeza de que ele conseguia ouvir.
Com a partida da carruagem, Erna ficou com seus sentimentos de felicidade misturados com arrependimento. Um gosto residual das palavras doces.
Bonita.
Erna ruminava a palavra a cada passo. Quando estava parada em sua janela e quando Lisa escovava seus cabelos. Justo quando ela pensou que o dia seria solitário com aquela palavra, uma batida veio à porta.
Era Karen.