O Príncipe Problemático

Volume 1 - Capítulo 57

O Príncipe Problemático

As nobres damas observaram a Grande Duquesa de Lechen deslizar-se para dentro do chá da Viscondessa Forester. Trocaram olhares de espanto.

“Meu Deus, ela realmente apareceu!”, sussurraram umas para as outras.

Enviar o convite fora apenas uma brincadeira provocativa. A Viscondessa, que o enviara, queria lembrar àquela simplória que a Princesa Gladys ainda existia e contava com o apoio delas. Ninguém imaginava que a Grande Duquesa compareceria a um chá oferecido por uma parente próxima da primeira esposa de Bjorn.

Enquanto as convidadas sussurravam atrás de seus leques, Erna Dniester entrou na sala, vestindo um longo e belo vestido e um chapéu repleto de plumas de avestruz. Quem diria que a segunda esposa de Bjorn apareceria tão bonita e elegante? Nada da mulher vulgar que os boatos pintam.

“Ela costuma fazer de conta que é dama?”

“Pelo visto, o Príncipe está enchendo a esposa de presentes caros. Me pergunto quanto tempo isso vai durar.”

“Acho que ela realmente não sabe de nada”, disse a Viscondessa Forester.

Gladys olhou para Erna com pena, misturada a uma estranha sensação de humilhação. Bjorn é quem ficaria envergonhado, pois a esposa não conhecia os laços familiares. Gladys já estava há algum tempo no chá e começava a sentir o calor da situação.

“Desculpa, era só uma brincadeirinha.”

“Não, tudo bem, eu não me importo”, disse Gladys, levantando-se lentamente para se aproximar da Grande Duquesa. A desonra de Erna também era a de Bjorn. Ela não podia simplesmente ficar parada sem fazer nada.

“Bem-vinda, Vossa Alteza, Grande Duquesa. Eu estava torcendo para poder vê-la pelo menos uma vez.” Um sorriso brilhante surgiu no rosto de Gladys, como se ela conseguisse de fato dar as boas-vindas àquela mulher indesejada de todo o coração.

Sentadas juntas, o chá foi servido a Erna. As damas nobres começaram a conversar entre si, como se continuassem uma conversa anterior.

“Como está o Conde Lehman? Ele está acamado há muito tempo”, disse uma dama em um tom mais alto do que o necessário.

“Ele deve melhorar em breve. Embora eu esteja preocupada, pois ele está muito velho agora”, respondeu outra.

“Acho que não há com o que se preocupar, ouvi dizer que ele estava procurando uma terceira esposa não faz muito tempo.”

“Ah, sério?”

Os cantos da boca da Viscondessa Forester se contraíram levemente enquanto ela se esforçava para não rir. Enquanto apreciavam o chá aromático, a fofoca maldosa continuou. Do Conde Lehman ao filho problemático da família Heinz, um cinismo elegante pairava em suas vozes enquanto diligentemente mencionavam nomes pelos quais normalmente nunca se importariam.

Erna simplesmente levou a xícara de chá morno aos lábios e tomou um gole. Só agora seus pensamentos se organizaram. A Viscondessa Forester era parente materna da Princesa Gladys e, aparentemente, as duas são muito próximas.

O convite que lhe fora enviado nunca teve a intenção de ser uma demonstração de boa vontade. Ela alegremente respondeu e fez papel de boba ao comparecer. Tudo porque confiou em uma única resposta de seu marido.

Ela não podia se afastar delas agora, isso só a abriria para mais ridículo. Teria que suportar esse leito de espinhos.

“Sua Alteza, a Grande Duquesa, não é muito comunicativa”, disse Gladys.

Erna colocou a xícara de chá, da qual mal havia tomado um gole. Mesmo sem dar nenhum sinal de ordem especial, as outras damas pararam de falar.

“Você está entediada com o chá?” Gladys casualmente se moveu para se sentar ao lado de Erna.

“Não, é só… diferente.”

“Ah, sim, certo, você disse que era do interior.” Gladys sorriu como se dissesse que entendia. “Ainda assim, você tem bom gosto. O chapéu é muito bonito. Cai muito bem em você.”

“Ah, bem, obrigada.”

“Acho que você deveria diminuir um pouco as decorações, o gosto de Bjorn é mais simples e elegante.”

Gladys olhou para um criado que esperava, que apressadamente se aproximou e serviu uma xícara nova para ela, antes de retornar ao seu posto.

Bjorn me odeia tanto que me torturaria com essa escolha. Pensou Gladys, enquanto bebia o chá fresco. Essa conclusão, a única que fazia sentido para ela, a deixava miserável. Ela queria tanto ajudá-lo, mas só parecia estar o afastando ainda mais.

“Você precisa cuidar bem dele.”

Gladys encarou Erna, que estava corada, mantendo o pescoço ereto. Talvez fosse por sua pequena estatura ou sua aparência, mas ela parecia uma menina, e não uma mulher madura. O ar autoritário de uma princesa de um país havia sumido por completo.

“Do nosso divórcio à nossa criança perdida… ele tem muitas feridas. Então, Grande Duquesa, por favor, cuide bem dele.” Gladys parecia quase majestosa na luz brilhante do meio da manhã. Ela era como uma bela santa de uma pintura antiga. Seus cabelos loiros platinados, que eram como os de Bjorn, e seu sorriso arrogante, porém gracioso, dominaram Erna, que se sentiu desleixada ao seu lado.

“E se eu pudesse lhe dar um último conselho”, disse Gladys, levantando sua xícara de chá. “Tome cuidado para não cometer esse erro no futuro. Estaremos em Lars em breve, então você não pode ser tão despreocupada. Hoje, felizmente, eu estava aqui para tirá-la de apuros, mas nem sempre será possível.”

Gladys se levantou e olhou para Erna. Ela só precisou suportar aquele olhar, mas não conseguiu encontrar palavras para dizer. Gladys se despediu educadamente e se afastou.

“Tenham uma lua de mel agradável, Grande Duquesa”, disse Gladys enquanto ia embora.

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O chá terminou mais cedo que o previsto, pois Gladys reclamou de dor de cabeça e foi embora. Erna não percebeu, mas Gladys a olhou feio ao sair, como se Erna fosse a responsável por estragar a festa.

Erna desceu cambaleando pelos corredores estreitos e amaldiçoou o oceano aberto, onde só conseguia ver o vasto horizonte plano por onde quer que olhasse. Ela se deparou com Bjorn e a delegação ao entrar nas cabines de primeira classe. Ele se virou e olhou para ela; todos o fizeram, ela podia sentir o julgamento deles.

“Você gostou do chá?”, perguntou Bjorn.

“Sim, foi o chá da Viscondessa Forester.”

“Forester?” Bjorn questionou.

Não é possível que você não soubesse. Pensou Erna.

Os olhos de Erna ficaram sérios. Seu ressentimento em relação ao marido por tê-la enviado àquele chá horrível com aquelas pessoas horríveis se transformou em perplexidade.

Você me ouviu claramente e você respondeu. Seu choque foi absoluto.

“Erna”, Bjorn disse seu nome como se estivesse suspirando e se aproximou dela. Seus olhos estavam nos dela e ele abaixou a cabeça profundamente; não continha mais calor. “Antes de aceitar convites, você realmente deveria falar com Karen primeiro.”

Era um tom suave, mas ela ainda conseguia perceber os espinhos entre as palavras. Era uma repreensão. Erna abriu os lábios em um momento de tristeza e ressentimento, mas não conseguiu refutá-lo prontamente.

Ela se lembrou de Bjorn, de como ele havia sido tão despreocupado, mas Erna estava tão absorta no tempo deles juntos. Ele a olhava com olhos bondosos, como se ela fosse sua amante.

Era tão emocionante para ela, especialmente quando seus olhos se encontravam do outro lado da mesa. Ela se sentia tão bonita nesses momentos. Ela não sabia quantas vezes havia ajustado e mexido em seu laço.

Mas ele não.

Percebendo isso, o coração de Erna doeu. Para ele, com sua esposa sentada em frente, Bjorn era completamente indiferente, a ponto de entrar na sala e dar uma resposta a uma pergunta que não ouviu.

“Sim”, disse Erna, sem conseguir coragem para confrontá-lo.

Ela não podia repreendê-lo na frente da delegação. Ele era o príncipe deles em primeiro lugar e sua esposa em segundo. Eles o procuravam para liderá-los e, apesar de ser a lua de mel, ela não podia desacreditar seu marido na frente de todos.

“Desculpe, Bjorn, terei mais cuidado no futuro”, Erna juntou suas mãos trêmulas enquanto se desculpava baixinho.

Só então Bjorn lhe deu um sorriso. Era uma mistura de uma risada de embaraço e pena, muito parecido com o que Gladys fizera antes.

“Sua Alteza.”

O ministro, que os observava, instou com polida impaciência. Bjorn acenou com a cabeça e se endireitou.

“Vá descansar, eu voltarei para o jantar”, sussurrou carinhosamente, como seu amante novamente, e então voltou-se para o enviado.

Erna não conseguia se mover, congelada no lugar até que seu marido desaparecesse na esquina.

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