Volume 1 - Capítulo 56
O Príncipe Problemático
Erna abriu os olhos para a luz solar deslumbrante.
Olhou fixamente para as partículas douradas de poeira dançando no ar e, ao se lembrar do momento em que havia pegado no sono, puxou o cobertor mais para perto. Uma leve risada ao seu lado chamou sua atenção para Bjorn, seu marido.
Ele estava sentado na cabeceira da cama, olhando para ela. Seus cabelos despenteados brilhavam como finos fios de ouro, assim como seu rosto, que ainda carregava um sorriso sutil.
Ela pegou o travesseiro de penas e olhou para o marido. Bjorn não era muito diligente, mas era muito minucioso em suas responsabilidades como marido. Mesmo que ela implorasse porque não conseguia mais continuar, ele não pararia até que sua "fome" estivesse saciada. Erna realmente não conseguia se lembrar do que aconteceu no final da última vez.
Erna desejou ter aprendido com a Sra. Pegg. Ela ruminou sobre sua péssima escolha de professora, mas o arrependimento era inútil, ela havia feito sua escolha e tinha que segui-la.
Ela olhou para o relógio e percebeu que a maior parte do dia já havia se passado. Lamentava ter perdido os golfinhos; o mar onde estavam devia estar bem distante agora. Ela sentia que passaria o resto do dia na cama.
“Falta muito para Lars?” Envergonhada com o silêncio no quarto, ela reuniu coragem para falar. Bjorn fechou o livro que estava lendo e se aconchegou ao lado de Erna, descansando a cabeça em um braço.
“Uns três dias”, disse ele. “Começamos aqui e viemos até aqui.” Ele moveu a mão até a bainha do cobertor e a puxou para baixo. “Estamos aqui agora”, seu longo dedo indicador começou a descer até seu peito e fez alguns círculos pequenos. “Só um pouco mais e atracaremos em Lars.” Seu dedo continuou sua jornada para o sul. “Depois, pegamos outro barco…”
“P-para. Tudo bem se não conversarmos mais.” Erna disse, agarrando sua mão quando ele alcançou seu umbigo.
Bjorn olhou para ela como se não entendesse o que ela estava dizendo, mas permaneceu relativamente despreocupado.
“Mas você estava curiosa.” Bjorn disse.
“Você não precisa explicar assim.” Erna disse.
“Por quê?” Bjorn sorriu tranquilamente, como se não se importasse com a opinião da esposa. “Gosto desse mapa.”
Assim que Erna ficou sem saber o que dizer, uma batida na porta a fez sentir um alívio imenso.
“Sua Alteza, a delegação enviou uma atualização da programação prevista. Sei que é indelicado, mas eles exigem que você a revise com urgência.”
“Tudo bem”, disse Bjorn depois de dar uma rápida espiada em Erna. “Entre.”
Bjorn sentou-se; estava usando uma camisola larga, Erna estava completamente nua. A porta se abriu e Erna apressadamente puxou os cobertores sobre si; quase desmaiou de vergonha. Estava tão envergonhada que mal conseguia respirar.
Bjorn recebeu o relatório como se nada estivesse acontecendo.
Erna mal mostrou o rosto corado de debaixo dos cobertores depois que a empregada saiu.
“Você quer um chá?” Bjorn perguntou casualmente.
“Eu te odeio.” Erna disse, seus olhos faiscando.
“O quê você odeia?” Bjorn perguntou enquanto examinava os documentos trazidos pela empregada.
“Alguém entrando no quarto enquanto eu estou…”
“Erna, todo mundo sabe o que estamos fazendo aqui. Queremos tomar um chá juntos?” Ele se virou da porta e perguntou, antes de continuar a leitura.
“Sim”, Erna disse como uma criança birrenta prestes a fazer um escândalo. “Só me dê um minuto para me vestir.”
Doeu um pouco seu orgulho, ser tratada como uma idiota ou uma garota insolente, mas ela simplesmente não podia ficar andando de camisola.
“Tudo bem, esperarei minha esposa quietinha.” Bjorn disse, sarcasticamente.
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Antes de entrar no solário, onde o chá havia sido preparado, Erna arrumou suas roupas. Levou um pouco mais de tempo para encontrar um vestido de que gostasse e, graças à habilidade de Lisa, seu cabelo estava em uma trança perfeita.
“Lisa, eu…”
“Você está linda, sua alteza.” Lisa respondeu antes mesmo que a pergunta fosse feita. “Você está tão bonita, então não se preocupe.” Ela abriu a porta e gentilmente empurrou Erna para fora.
Erna foi levemente até a mesa de chá e fez o possível para controlar o constrangimento antes de chegar à mesa.
Bjorn levantou o olhar do relatório que estava lendo e um sorriso a recebeu. Ele apontou para a cadeira em frente a ele e voltou a examinar os papéis.
Erna sentou-se e alisou as babas do vestido enquanto uma empregada se aproximava cautelosamente e servia seu chá. Ela tinha um leve cheiro de bergamota. Era o aroma que lembrava Erna de Bjorn.
“Estes chegaram para você, Sua Alteza.” Disse a empregada enquanto colocava uma pequena bandeja de cartas na beira da mesa de chá. “Precisam de resposta o mais rápido possível.”
Observar Bjorn desempenhando o papel de Grão-Duque deixou Erna animada para desempenhar seu papel de Grã-Duquesa. Ela estava ansiosa para mostrar seu lado principesco.
“Sim, vou revisá-los. Obrigada.” Erna sorriu.
Ela não tinha a Sra. Fitz para segurar sua mão e fornecer orientação experiente, então teria que lidar com esses convites sozinha. A Sra. Fitz havia lhe dito, antes de partirem no cruzeiro, que se Erna tivesse alguma dúvida, ela deveria recorrer à empregada mais velha, Karen.
Karen era a empregada que serviu seu chá e lhe apresentou os convites. Se Erna a tivesse deixado fazer, o casamento deles teria acabado antes mesmo de terminarem o cruzeiro. Ela tinha ouvido a empregada falar sobre como queria que o casamento de Erna terminasse antes que eles tivessem filhos, para que fosse mais fácil para Bjorn voltar com Gladys.
Erna examinou os convites com postura ereta e pescoço alto, como se estivesse se elevando acima das fofocas em que as empregadas gostavam de se afogar. Ela sentiu Bjorn olhá-la de vez em quando e queria se apresentar como digna e régia. Afinal, ela era a Grã-Duquesa.
Era inútil, porém. Erna não conseguia descobrir quais convites aceitar e quais rejeitar. Ela reconheceu alguns nomes que estavam do lado de Gladys, mas havia quatro que não conseguia lembrar.
“Bjorn.” Erna chamou cautelosamente do outro lado da mesa de chá, ajustando a fita vermelha em seu cabelo.
“Sim?” Seu olhar passou brevemente por ela.
Ela se sentiu hesitante em falar mais, como se estivesse sendo apenas um incômodo, mas já havia se comprometido e ele estava esperando.
“Você conhece os Hawkins?”
“Não.”
Isso descartou os Hawkins e os dois nomes seguintes.
“E os Foresters?”
“Sim.” Ele pareceu distante enquanto virava os papéis.
“É alguém com quem queremos ter um relacionamento?”
Uma pausa, “sim.”
Erna ajustou a fita em seu cabelo, depois pegou o pequeno sino de mão na mesa para chamar a empregada.
“Por favor, prepare minhas coisas, quero escrever uma resposta.”
Karen logo preparou seu material de escrita e uma caneta com um tinteiro novo.
Erna pegou a caneta com entusiasmo; Bjorn ainda estava totalmente absorto em sua papelada e permaneceu assim quando Erna terminou suas respostas aos convites.
Ela ficou um pouco decepcionada, mas sabia que esta viagem era mais do que apenas uma lua de mel. Ela tinha que manter o autocontrole para não parecer uma criança carente e indisciplinada.
Ela devia permanecer calma e elegante, como uma dama, em todas as situações.
Enquanto refletia sobre os ensinamentos de sua avó, Bjorn terminou de examinar a papelada e olhou para Erna. A atmosfera em torno da mesa de chá tornou-se mais íntima quando a empregada saiu com as respostas de Erna e os documentos assinados por Bjorn.
“Sua letra é tão bonita.” Erna disse, brincando com uma xícara de chá. “Você tem mãos grandes e bonitas.” Erna não conseguia fazer contato visual por causa da timidez que sentiu de repente.
Bjorn estava olhando para Erna. Sua expressão parecia dizer ‘que tipo de conversa sem sentido você está tentando me arrastar?’, mas ele riu.
“Você também está bonita, especialmente na chuva”, disse ele. “E especialmente com essa fita que você fica mexendo.”
Ele estendeu a mão e pegou a mão de Erna; juntos, eles despejaram uísque no chá. O cheiro se misturou com a doçura do chá e fez cócegas na ponta do nariz de Erna.
“Ah, isso? Obrigada.” Ela disse.
A fita em questão havia quase dobrado de tamanho porque Erna continuava puxando-a a cada oportunidade.
Bjorn estava tentando provocar Erna um pouco, mas o sorriso dela era genuíno e caloroso. Vendo aquele sorriso e observando-a brincar com a fita mais um pouco, Bjorn não pôde deixar de soltar uma pequena risada. Um som um pouco mais suave do que os rosnados que vieram antes.
Erna falou sobre as pessoas que conheceu no convés, uma piada que ouvira das empregadas, até mesmo sobre o cardápio do jantar. Suas histórias talvez não fossem poéticas, mas sua voz, misturada com os cheiros doces do chá, transformou a tarde em algo tranquilo.
Bjorn decidiu não ir para a cama e, em vez disso, observou sua esposa. Ela era como um pequeno passarinho cantando alegremente. Ele apreciava sua voz, os olhos que brilhavam com excitação tímida e suas mãos delicadas ainda brincando com a fita, que era tão vermelha quanto suas bochechas rosadas.
“Bjorn…” Erna chamou seu nome cautelosamente.
Bjorn simplesmente assentiu, perdido em seus grandes olhos azuis que o absorviam. Eles tremeram levemente enquanto ela considerava o que ia dizer. Quando ele sorriu, Erna corou furiosamente e sorriu de volta para ele com pura admiração.
Quando ele viu que a fez corar e sorrir de um jeito tão fofo, ele percebeu algo.
Essa mulher, é ela,
Ele amava tudo nela.