Volume 1 - Capítulo 53
O Príncipe Problemático
“Tudo bem, consigo jantar sozinha”, Erna pensou.
Os serviçais, que esperavam havia uma eternidade, sentiram um alívio ao saber que finalmente poderiam arrumar a mesa para o jantar. Esperavam pacientemente, sem poder acordar Bjorn ou fazer Erna esperar.
“Obrigada, está lindo”, disse Erna.
Ela estava sendo sincera, pois a mesa posta no solário, preparada pelas empregadas, realmente estava linda.
Desde o ornamentado centro de mesa de flores entrelaçadas, até a delicada toalha de renda e os castiçais de prata com arabescos gravados. Ela nunca tinha imaginado que conseguiria desfrutar de tanto luxo em um navio. Também não esperava passar os primeiros dias de sua lua de mel sozinha.
Erna comeu lentamente a comida que lhe foi servida. Não estava com fome, mas os serviçais tinham se esforçado muito e ela não queria que o trabalho deles fosse em vão.
Ela havia passado o dia passeando pelo navio de cruzeiro com Lisa. Elas tomaram chá, caminharam pelos decks e passaram um tempo no cassino. Foi um tempo agradável, mas teria sido melhor se Bjorn não a tivesse evitado e sido denunciado pelo Ministério Público.
Ela achou que seria melhor à noite, mas quando voltou para seu quarto e se trocou para o jantar, Bjorn ainda estava dormindo.
Erna mastigou a comida e engoliu, olhando timidamente para a sala enquanto o fazia. O cômodo estava cheio da luz quente da lareira, o que só fazia as palmeiras parecerem sombrias e ameaçadoras. O solário parecia tão vasto e vazio quanto o oceano do lado de fora de sua janela. Ela desejava que os talheres não tilintassem tanto, chamando a atenção para a patética jovem garota jantando sozinha.
Depois do casamento, Erna passou a maior parte de seus jantares sozinha nas últimas quinze noites. Ela atribuía isso ao fato de Bjorn estar muito ocupado, mas agora que estavam em lua de mel, nada mudou. Às vezes, parecia que ela era a única pessoa no mundo, enchendo grandes salões com sua pequena presença.
Iniciar conversas com os serviçais era como falar consigo mesma; eles acenavam com a cabeça e se afastavam assim que podiam. Então ela começou a murmurar para si mesma.
O palácio era tão vasto e vazio, agora o barco era vasto e vazio. Sim, havia pessoas por perto, mas elas raramente lhe davam uma segunda olhada. Elas se retiravam para cantos escuros para falar dela atrás de seus leques e palmas das mãos.
Será que eu algum dia serei feliz? Erna pensou para si mesma, olhando para a comida em seu prato.
Respirando fundo, Erna levou um pequeno pedaço de carne aos lábios trêmulos.
“Faz tempo, Bjorn”, Gladys dissera, após chamar seu nome pelo deque. A frase voltou à mente de Erna, tentando bloquear o som ecoante dos talheres.
“Chame meu nome”, Bjorn dissera na primeira noite deles.
Elas tinham sido um casal, um fato que Erna já sabia, arranhou seu coração novamente. Para ela, Bjorn tinha sido seu primeiro, mas ela era a segunda de Bjorn. A sensação se insinuou em seu peito como um arrepio.
Havia também a atitude despreocupada de seu marido. Era uma triste constatação perceber que nada o excitava, não havia sentimentos de expectativa. Parecia que tudo isso era uma repetição chata para ele. Uma dança encenada cem vezes por dia.
Erna pousou os talheres e pressionou os calcanhares das palmas em seus olhos ardentes. Ela se sentia enfraquecida pelo ambiente desconhecido, mas até mesmo a mansão era desconhecida para ela. Pelo menos lá ela não sentia a solidão desoladora.
Quanto tempo vou durar?
Erna sabia muito bem que as pessoas faziam apostas contra ela assim. Havia muitas bocas no palácio, cada voz que ela tentava bloquear, mas elas sempre a alcançavam.
Não se deixe levar por fofocas levianas. Apenas faça o seu melhor para ser uma boa esposa.
Ela fortaleceu sua determinação e fez o mesmo compromisso a cada vez, mas na realidade, como a eterna segunda pode ser feliz?
“Não chore”, Erna sussurrou para si mesma. “Não é como se você não soubesse, então não seja boba.”
Ela esvaziou o copo d'água e pegou seus talheres novamente. Com renovada postura, Erna comeu o resto da comida em seu prato.
Quando estava com fome, sua mente estava fraca, e uma mente fraca é propensa a maus pensamentos, e maus pensamentos trazem infelicidade. Então a melhor coisa que ela podia fazer agora era comer bem.
Ela fincou o garfo fundo na carne e cortou um quadrado tão grande quanto sua vontade. Ela tinha enfiado metade na boca quando uma figura apareceu na porta.
“Boa noite, Erna.”
Ele está acordado… Ela não conseguia falar, sua boca estava mais que cheia.
Erna pegou seu guardanapo e fez como se estivesse limpando molho do rosto, mas cuspiu a mordida exagerada no pano.
“Não se envergonhe, a comida aqui é muito boa”, disse Bjorn. “Mas não esquecerei tão cedo que você tem uma boca grande.” Ele lançou as palavras com um sorriso malicioso.
A expressão de Erna escureceu e ela terminou de limpar os lábios e enrolou a carne no guardanapo. Ela se virou para Bjorn, com as costas retas.
“Bem, isso não teria acontecido se você respeitasse os horários das refeições”, disse Erna.
“Você está brava comigo?”, perguntou Bjorn, com uma sobrancelha arqueada.
“Um pouquinho”, disse Erna, ela de repente se sentiu pequena sob seu olhar.
“Então por que você não me acordou?”, respondeu Bjorn como se ele fosse a parte ofendida nessa conversa.
“É… é certo te acordar?” perguntou Erna.
Quando Bjorn finalmente acordou, percebeu que já eram mais de nove horas. Ele imaginou que Erna havia esquecido o jantar deles, então tomou um banho relaxante para tirar o sono e foi para a sala. Só para encontrar sua esposa sentada jantando sozinha. Enfiando metade de um bife na boca como uma fera faminta.
“Claro. Você não vai ser presa por me acordar para o nosso jantar.” Bjorn riu. “Bem, talvez…”
Bjorn sentou-se em sua cadeira e a comida foi apressadamente colocada à sua frente. Ele sorriu para sua esposa e começou a comer lentamente. Erna observava Bjorn como uma gata e retomou sua refeição enquanto Bjorn fazia o mesmo. Bjorn não pôde deixar de pensar o quão fofa ela parecia, fazendo cortes delicadamente pequenos.
Eles começaram a conversar naturalmente como se tivessem conversado o dia todo. No início, Erna ainda estava um pouco irritada, fazendo comentários como se ainda estivesse tentando expressar sua raiva não resolvida, mas ela rapidamente voltou ao seu modo habitual e elas conversaram como se estivessem considerando sua rotina diária habitual, como um passarinho a chilrear.
“Essa é sua primeira vez em um barco?”, disse Bjorn, com um sorriso nos lábios enquanto ouvia Erna falar sobre sua exploração do navio de cruzeiro.
“Não, segunda.” Ela respondeu, fazendo uma pausa enquanto colocava ervilhas na boca.
“Sério?”
“Sim, a primeira vez foi quando estávamos no lago, lembra?”, disse Erna, finalmente conseguindo colocar as ervilhas na boca.
Sem perceber que não era uma piada, Bjorn caiu na gargalhada. Sempre era assim. Erna sempre conseguia fazer as pessoas rirem sem tentar, ou mesmo sem querer. A luz no quarto ficou mais brilhante e as sombras sombrias se retiraram para os cantos. Não parecia tão vasto e vazio mais.
Bjorn riu até suas bochechas formigarem e tocou a campainha para chamar o atendente. Logo depois, um serviçal entrou com uma garrafa de vinho.
Enquanto observava o líquido escuro encher a taça, ele se lembrou de Gladys. Sua lua de mel tinha sido muito diferente. Ela passou a maior parte do tempo chorando ou absorta em outras coisas, enquanto ele estava ocupado trabalhando. Mesmo quando eles sentavam juntos para jantar, não havia muita interação, como se um muro tivesse sido colocado entre eles. Eles não tinham tido uma única conversa decente durante toda a sua lua de mel. Nada como isso.
O serviçal terminou de servir seu vinho e se moveu ao redor da mesa para encher a taça de Erna. Assim que ele inclinou a garrafa, Bjorn o interrompeu.
“Não, não encha a taça da minha esposa”, ele ordenou.
“Por que, eu também posso beber”, disse Erna, franzindo a testa para Bjorn.
“Eu sei”, disse Bjorn.
“Então por quê?”
“Você tem que estudar.”
“Ah, meu Deus.”
Bjorn esvaziou lentamente sua taça enquanto olhava para Erna. Mesmo que ela estivesse irritada, ele não conseguia mais pensar em Gladys quando estava com ela. Ele agora conseguia ver por que ele não tinha visitado Erna nas últimas duas semanas.
“Por que você está me olhando assim? Você me pediu para te ensinar, certo?”, disse Bjorn, enchendo sua taça sozinho.
“Sim, mas…” Erna olhou para seu prato com impaciência. Tudo o que restava eram algumas ervilhas e uma batata. Se ela soubesse que isso ia acontecer, ela não teria comido tanto, tão rápido.
“Você terminou de comer?”
Bjorn recostou-se na cadeira com a taça de vinho. As bochechas de Erna ficaram coradas de um tom pêssego que lembrou Bjorn daquela primeira noite.
“Espere, preciso me lavar primeiro”, disse Erna severamente.
“Então vá se lavar”, disse Bjorn, bebendo o vinho. A taça já estava vazia novamente.
“Não, quero dizer, preciso tomar um banho.”
Bjorn pousou a taça vazia e se preparou para se levantar, mas Erna implorou urgentemente. A testa de Bjorn se franziu enquanto ele olhava para a confusa bagunça de sua esposa, ela o tinha instigado e agora queria fugir?
“Por favor, preciso de um tempo”, disse Erna.
“Por quê?”
“Eu acabei de comer.”
“E daí?”
“E daí… e se eu… vomitar.” Erna parecia envergonhada.
Foi uma observação que feriu seu orgulho. Ela sentia vontade de vomitar quando eles faziam amor? Bjorn tentou rir disso, pensando que entendia um pouco melhor depois de perceber a pequena estrutura de Erna e o prato vazio.
“É, você está certa”, Bjorn serviu outra taça de vinho. “Isso seria constrangedor.”
Ele piscou para ela e Erna se levantou. Ele não pôde deixar de rir sozinho enquanto a observava deixar o solário e comprar um tempo para si mesma, para não vomitar.
Parecia o começo de uma lua de mel não tão ruim.