Volume 1 - Capítulo 52
O Príncipe Problemático
O porto de Schuber estava lotado, com pessoas e caixotes de suprimentos empilhados até formar uma espécie de cordilheira em miniatura.
O porto sempre ficava agitado quando os cruzeiros estavam prestes a partir, mas hoje estava duas vezes mais movimentado que o normal. Além da multidão habitual, somavam-se as pessoas que tinham ido ver o casal Ducal iniciar a lua de mel. Isso mais que dobrou o número de pessoas no cais.
Embarque em mais uma lua de mel, no país da ex-esposa, foi uma surpresa para muita gente, e o que realmente deixou todo mundo de queixo caído foi o fato de que a ex-esposa estava embarcando no mesmo navio. Até mesmo aqueles que não se interessavam por fofocas locais apareceram para assistir.
“Quanto mais penso nisso, mais percebo que a Princesa está fazendo demais, demais, demais!”, disse Lisa alto o suficiente para que as outras empregadas ouvissem. Elas apenas a olharam com desaprovação, mas ela não se importou.
Se você quiser me bater, faça enquanto me olha. Eu vou arrancar cada fio de cabelo da sua cabeça!
Esse espírito de luta era provavelmente a razão pela qual as outras empregadas só sussurravam pelas costas de Lisa, fora do alcance da audição. Principalmente depois que elas viram Lisa dar um chega pra lá em uma empregada que estava dizendo coisas desagradáveis sobre a Grã-Duquesa e a comparando com a Princesa Gladys.
“Por que temos que compartilhar um barco com aquela mulher horrível?”, disse Lisa, ao passar por uma empregada em particular que gostava de Gladys.
Depois de passar os últimos quinze dias no palácio de Schuber, Lisa percebeu que quase todas as empregadas torciam por Gladys e estavam do lado dela em tudo. Havia pouquíssimas empregadas que respeitavam o novo status de anfitriã de Erna e pareciam envergonhadas de chamá-la de patroa.
Cada vez que aquelas bocas se mexiam e falavam mal de Erna, Lisa amaldiçoava Gladys mais alto, mesmo que a Princesa fosse alguém que ela um dia admirou e respeitou, mas não tinha escolha, você pega o que te dão.
Lisa seguiu Erna, lançando um olhar fulminante para o Príncipe; ele era o culpado de tudo isso. Graças à sua altura e a sua silhueta mais esguia que a maioria, ele se destacava, realmente como um cogumelo venenoso que deslumbra e tenta. É por isso que a Grã-Duquesa se apaixonou por ele.
Lisa olhou para Erna e ficou perturbada, ela realmente parecia uma dama que tinha engolido um cogumelo venenoso. Ela tinha aquele brilho nos olhos toda vez que olhava para o Príncipe. Ela tentava esconder seus verdadeiros sentimentos, mas Lisa conseguia ver a garota em plena paixão.
Deveria ter seguido os ensinamentos da minha avó, sobre não se apaixonar por caras bonitos. Lisa pensou consigo mesma.
Depois de pensar bastante, Lisa imaginou que sua avó provavelmente mudaria de ideia ao ver Bjorn. E, de qualquer forma, os dois são casados, não há nada de errado com uma esposa olhando para o marido dessa maneira?
Ela olhou de novo para o Príncipe. Ele era tão elegante e cortês com Erna, a escoltando pelo barco até o quarto deles. Ele era perfeito e esse era o problema, ele era perfeito demais e essa perfeição perturbava Lisa.
Ele deve estar ciente de como Erna se sente por ele, todos os outros conseguem ver, então certamente ele também pode. Mesmo assim, havia um aspecto frio em sua atitude em relação a Erna. Lisa sentiu que o Príncipe estava tratando Erna como uma bengala de cavalheiro, semelhante àquela que ele sempre carrega. Enquanto caminhava com Erna, ele não tinha a bengala, mas se apoiava nela como se ela fosse uma e a tratava como tal. Graciosa, formal, mas fria e indiferente.
Lisa lançou um olhar furioso para a nuca do Príncipe Bjorn enquanto eles caminhavam pela primeira classe. Ele deve ter sentido, porque o Príncipe se virou e olhou para Lisa. Ele a considerou como consideraria qualquer inseto. Indiferente, não era problema dele. Lisa sentiu seu coração derreter e afundar no porão da sua alma. Ela entendeu naquele momento por que todas as meninas recortavam fotos do Príncipe e as colocavam nas paredes. Erna era casada com aquilo.
Lisa se recompôs e redobrou seu olhar ardente para o Príncipe. Olhe para sua esposa, ela não é tão bonita? Talvez você se apaixonasse por ela se apenas olhasse.
Erna não era alguém a ser avaliada apenas pela aparência, ela tinha muitas qualidades bonitas, mas com a competição contra Gladys, talvez a aparência fosse tudo o que importava.
Se for assim, eu vou fazer de você a mulher mais bonita do país.
Lisa sempre foi determinada nisso e trabalhou duro para isso. Ela estava tão orgulhosa de quão bonita era sua patroa, mas por que o Príncipe não percebe o quão bonita Erna é também?
Lisa rangeu os dentes de humilhação. Ela havia adornado a mulher mais bonita do mundo para Bjorn e ele parecia cego para isso. Embora o país fofocasse sobre como Erna só se tornou Grã-Duquesa por causa de sua beleza, então por que Bjorn não conseguia ver também? Ele poderia procurar nos quatro cantos do mundo e não encontrar uma única mulher mais bonita.
“Droga.” Lisa resmungou.
Enquanto olhava ao redor, ela notou algo no convés oposto, a inimiga, a mulher que Lisa quase havia esquecido. A Princesa Gladys.
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A primeira impressão que Bjorn teve após seu primeiro encontro no barco foi, surpreendentemente, positiva. Bjorn achou ótimo que Gladys estivesse segurando Lechen. Foi bom ver que essa mulher, que lhe dera o susto da sua vida, era uma pessoa tão legal. Foi reconfortante.
“Faz tempo, Bjorn.” Gladys disse. Mesmo em uma situação tão embaraçosa, ela permaneceu calma e Bjorn respondeu com um aceno gentil, mas respeitoso.
“Está um pouco atrasado, mas parabéns pelo casamento.” Gladys continuou.
Se fosse qualquer outra mulher, Bjorn teria rido delas por tentarem usar truques desgastados, mas esta era Gladys, sua maneira de atingir as pessoas era com gentileza e jovialidade.
Gladys cumprimentou Bjorn mais uma vez e, como uma heroína de algum destino trágico, mas com a atitude de realeza, Gladys levou sua comitiva embora e de volta ao seu curso pretendido. As pessoas que tinham presenciado a cena descongelaram e suspiraram em uníssono.
“Erna.” Bjorn disse.
Erna não parou de olhar para ele com olhos que tremiam como as penas que adornavam seu chapéu.
Assim que Erna se recompôs, Bjorn gesticulou em direção ao convés no final da rampa de embarque com uma piscadela. Seria ali que o casal Ducal ficaria em felicidade conjugal para todas as pessoas que vieram para se despedir. Erna foi obediente, não esquecendo seus deveres.
Erna acenou para os espectadores, seu sorriso brilhante nunca deixando seu rosto. Diferente do dia do seu casamento, onde ela não sabia para onde olhar. Ela estava melhorando notavelmente bem.
Bjorn estava orgulhoso de sua esposa dedicada e de sua capacidade de aprender rapidamente. Ela nunca mencionou o nome de Gladys na frente das massas que estavam ansiosas para agitar a panela para qualquer fofoca que pudessem colocar suas garras de abutre.
Erna… Uma mulher gentil, amável e nada chata.
Com base nas últimas duas semanas, a conclusão de Bjorn foi mais ou menos essa. Ela às vezes agia como uma bola de borracha, quicando por todos os lados, mas ele não se importava tanto assim. Ela era quieta. Linda e inofensiva. Ela era uma mulher que atendia perfeitamente às suas expectativas e Bjorn estava satisfeito. Embora ainda fosse muito cedo para ter certeza.
Assim que terminaram de acenar e sorrir, de cumprimentar a tripulação e fazer um pequeno passeio pelo barco, finalmente chegaram à cabine. Erna começou a ficar agitada.
“Como eles podem fazer isso?”, disse Erna.
Ela olhou para o quarto de hóspedes com admiração. Era um quarto que não tinha o que fazer em um navio. Tinha dois quartos, um banheiro, um pequeno solário cheio de palmeiras e plantas. Uma sala de estar espaçosa. Não fazia sentido, parecia uma mansão.
“Olha”, ela se apressou, apontando freneticamente. “Tem uma lareira.” Bjorn apenas riu.
“Vossa Alteza, quando será o almoço…”, disse um criado, parado na porta. Ele tinha ficado observando Erna o tempo todo.
“Estou bem, mas por favor, o que quer que minha esposa deseje.” Bjorn disse.
“Você não vai comer?”, disse Erna.
Bjorn balançou a cabeça e foi para seu quarto, deixando Erna para trás.
Em meio aos criados ocupados que estavam desfazendo suas malas, Erna se sentiu perdida e foi atrás de Bjorn. Ele tinha tirado o paletó e deitado no sofá. Os criados que estavam ali arrumando as coisas deixaram os dois a sós.
“Vou descansar um pouco, já foi um dia longo.” Bjorn disse.
Quando Erna finalmente reuniu coragem para falar, Bjorn falou primeiro.
“Eu só não estou com vontade de fazer nada por um tempo, é só isso.” Bjorn disse e encontrou o olhar de Erna com um sorriso suave.
“Tudo bem.” Ela se sentiu um pouco envergonhada, mas concordou.
Até deixarem o Palácio, Bjorn estava em reuniões e discussões acaloradas. Os ministros e funcionários eram rígidos e teimosos, comparáveis à Sra. Fitz, ele deve estar tão cansado.
Você sabia muito bem disso.
É demais implorar para fazer coisas juntos, como uma criança mimada. Erna sabia das coisas que Bjorn tinha que fazer e das horas extras que ele tinha que trabalhar.
“Então que tal tomarmos um chá, aqui, juntos?”, disse Erna.
Erna estava curiosa sobre o restaurante do navio, mas estava disposta a fazer concessões. Infelizmente, Bjorn parecia totalmente relutante em sentar à mesa de negociações com ela e resolver algo.
“Vamos jantar juntos.” Bjorn disse, olhando o relógio.
Sentindo-se desanimada, Erna olhou para o relógio da escrivaninha. Eram apenas 10 da manhã. Bjorn tinha dito para ela passar metade do dia sozinha.
Erna estava emburrada e deixou Bjorn tirar seu cochilo. Antes de fechar a porta, ela olhou para ele com expectativa, mas ele tinha tirado a gravata e os olhos estavam fechados.
“Onde você gostaria de ir? Eu ouvi dizer que o restaurante é bem agradável, gostaria de ir lá tomar um chá?”, perguntou Lisa.
Erna sorriu sem jeito para a jovem que se aproximou dela com o rosto cheio de expectativa. Suas bochechas coraram ao lembrar da conversa que tiveram na noite anterior, sobre todas as coisas que poderiam fazer em um navio do tamanho de uma cidade.
“Sim, vamos tomar um chá.” Erna disse.
“Nós? Você quer sair comigo na sua lua de mel…”
Maldito Príncipe. Lisa murmurou baixinho. Colocar Erna em um barco com a ex-mulher e depois navegar para a terra da ex-mulher não era ruim o suficiente.
“…Sim, Vossa Alteza.” Lisa disse com um leve aceno de cabeça, tentando engolir as palavras duras que estavam subindo de dentro dela.
Erna olhou para Lisa em silêncio e sorriu brilhantemente. O sorriso da Grã-Duquesa era tão brilhante, mesmo depois de perder sua bengala de cavalheiro. Lisa ficou mais deprimida.