O Príncipe Problemático

Volume 1 - Capítulo 29

O Príncipe Problemático

A equipe liderada pelo Príncipe Leonid venceu novamente a competição de remo este ano. Todos esperavam, mas os aplausos foram fervorosos mesmo assim. Flores arremessadas pelos espectadores salpicavam a água do rio e se acumulavam nas margens de ambos os lados.

O Príncipe Herdeiro, apesar do cansaço, ainda encontrou tempo para cumprimentar os civis que foram vê-lo. As meninas na primeira fila da tribuna VIP quase gritavam e desmaiariam quando o Príncipe olhava em sua direção, embora ele estivesse acenando para seu irmão, mãe e pai.

Erna não se deixou levar pela demonstração gratuita de frustração sexual alimentada por testosterona. Observou de longe e se divertiu com o comportamento das moças.

Ela também assistira à regata com interesse. De certa forma, esperava que os barcos fossem parecidos com os que os rapazes da roça remavam na lagoa da vila, mas não eram, e a atmosfera era muito mais grandiosa, com tantas pessoas unindo suas vozes aos aplausos e gritos.

Sem querer, ao se afastar pelo gramado para evitar os encontros sociais mais próximos, Erna se misturou à multidão que se dirigia à cerimônia de premiação.

Enquanto acompanhava a cerimônia, não conseguia deixar de desviar o olhar quando o Príncipe Herdeiro e o resto de sua equipe levantavam o troféu. As roupas que usavam eram tão justas que Erna conseguia ver cada linha de músculo e curva corporal. Parecia bastante exagerado.

Ao desviar o olhar, percebeu o Príncipe Bjorn ali, diante dela. Erna se assustou e inconscientemente deu um passo para trás. Bjorn ergueu uma sobrancelha, riu e seu rosto brilhou totalmente exposto ao sol. Naquele momento, Erna sentiu que podia entender a duplicidade das empregadas que recortavam sua foto nos jornais enquanto amaldiçoavam o Príncipe Cogumelo Venenoso.

“Erna? Erna”, a voz da Viscondessa Hardy interrompeu o encontro improvisado com Bjorn. “Olha você, quando você vai se apresentar como uma dama de verdade?”

Embora Erna sentisse a malícia nas palavras, a Viscondessa ostentava um sorriso suave ao falar. De fora, pareceria que as duas estavam trocando uma brincadeira amigável e divertida.

Erna realmente lutava para compreender as maneiras da sociedade da cidade e como eles se dirigiam uns aos outros, dizendo uma coisa, mas querendo dizer outra. Pensou que conseguiria aguentar mais um pouco, até terminar ali e poder ir para casa. Então poderia esquecer os olhares e os significados maliciosos escondidos atrás de lugares-comuns educados.

Ajustando o aperto de seu guarda-chuva, Erna acompanhou o resto da família Hardy. O som de seus passos cuidadosos ecoou pelo caminho de pedra escaldante pelo sol.

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Lanternas coloridas ao longo da margem do rio foram acesas quando o sol começou a se pôr. As do lado mais distante iluminaram a festa de verão dos plebeus. As melodias de uma pequena orquestra de três homens podiam ser ouvidas do outro lado do rio, sobrepostas a risos e ao burburinho de conversas.

Os jardins do palácio eram onde a nobreza e a alta sociedade faziam sua festa. Eles ostentavam um conjunto orquestral completo tocando notas suaves e ambiente, e até mesmo o burburinho de conversas parecia mais digno, com homens nobres gargalhando na própria mão e damas rindo por trás dos leques.

Gladys pousou a taça de champanhe da qual não havia tomado um gole. Ela estava repleta de velhas memórias de sua infância nesses jardins e do palácio onde passara sua lua de mel. Desejou poder voltar no tempo, reviver sua infância e guardar momentos mais agradáveis. Foi então que viu Bjorn e seus olhos ficaram vermelhos ao vê-lo com os amigos.

Eles contavam piadas entre si e riam. Sua atenção parecia excessivamente focada na família Hardy. Não na família Hardy, mas na jovem garota Hardy. Ela era, como os rumores sugeriam, uma mulher bonita.

O ciúme lhe apertou o coração ao perceber que Bjorn também estava prestando atenção especial à jovem. Seu coração doía e ela sabia que não havia nada que pudesse fazer a respeito.

Ela nunca amara o antigo Príncipe Herdeiro. Mesmo quando casados, sabia que seu casamento era político, uma união entre Lechen e Lars.

Nunca houve amor entre eles desde o início, mas Gladys ainda estava tão orgulhosa por se casar com o Príncipe Bjorn. Ele era o homem mais bonito e nobre que ela já conhecera, e crescer cercada de amor, sem estar em um relacionamento, era estranho.

Estar perto de Bjorn fazia Gladys se sentir insignificante. Ele era um homem que nunca perdia o sorriso e sempre tinha uma atitude amável. Ele nunca demonstrou paixão ou amor genuíno, e depois que se casaram, Gladys percebeu o porquê. O Príncipe Herdeiro não se importava com quem fosse a Princesa Herdeira.

Ele teria demonstrado a mesma gentileza, com o mesmo sorriso inabalável, não importava qual mulher estivesse diante dele, declarando ser sua esposa. Era insuportável, e embora Gladys fosse a jovem mais invejada do país, ela se sentia insignificante.

Bjorn se parecia com o sol, um brilhante sol de verão que ofuscava toda a outra luz, incluindo Gladys, que se perdia no brilho de Bjorn.

Gladys observou Erna enquanto ela conseguia se afastar do Conde Lehman e recuperar o fôlego sob uma árvore bem iluminada. Lanternas coloridas pendiam dos galhos e banhavam a jovem em uma miríade de cores. Será que essa pobre garota sabe em que se meteu? Um sorriso apareceu nos lábios de Erna e ela parecia mais dócil e jovem, se isso fosse possível.

“Gladys.” A voz de Louise invadiu a consciência de Gladys.

Gladys balançou a cabeça e olhou para a mesa. Os olhos das nobres com quem compartilhava a mesa a observavam, quando um momento antes estavam ocupadas conversando entre si, mal dando um segundo olhar a Gladys. Ela sentiu suas bochechas corarem e olhou para os olhos compassivos.

“Não dê ouvidos a essa mulher. Ela não tem vergonha, mesmo depois de todo o escândalo que causou.” disse Louise.

Louise percebeu para onde Gladys estava olhando e tentou animá-la. Erna estava olhando ao redor como uma criança animada, seu rosto inocente contrastava com o olhar pensativo de Gladys.

“Tudo bem, Louise, eu só vou dizer oi.” Gladys se levantou e os olhos de Louise se arregalaram de surpresa.

“Bobagem, você não pode falar com aquela mulher.” disse Louise.

“Tudo bem, é o que se espera. Não podemos simplesmente ignorar a jovem senhorita Hardy.” disse Gladys.

Louise tentou segurar as mãos de Gladys, mas Gladys as afastou. Ela se aproximou da curiosa jovem e, sem saber o que fazer, as outras jovens nobres a seguiram.

Erna não percebeu a Princesa e sua comitiva se aproximando e estava ocupada olhando a festa e admirando todas as vistas. Gladys parou na frente de Erna, que finalmente olhou ao redor e viu a Princesa. Seus olhares se encontraram sob a árvore colorida.

“Boa noite, senhorita Hardy, é um prazer finalmente conhecê-la.” disse Gladys, quebrando o silêncio.

Erna ficou paralisada ao perceber que a própria Princesa estava falando com ela, de todas as pessoas. Era por causa do Príncipe, Erna percebeu no momento em que viu a Princesa diante dela. A Princesa, que já foi casada com o Príncipe, deve estar ciente do escândalo envolvendo o casal.

“Senhorita Hardy?” disse Gladys quando Erna não respondeu.

Erna voltou a si e apressadamente se levantou para oferecer à Princesa uma cortesia educada e tropeçou em várias saudações polidas. Erna estava sem fôlego com a ideia de quão longe e rápido o boato se espalharia. Ela queria passar o tempo o mais rápido possível e sair dessa teia de aranha.

Assim como em seu encontro com a Rainha, Erna se viu sendo conduzida por uma conversa educada como se duas melhores amigas estivessem conversando em uma sala de chá.

“Ouvi dizer que você não tem ninguém para lhe fazer companhia. Deve ser muito solitário para você, senhorita Hardy.” disse Gladys.

Ela lançou olhares rápidos para Bjorn enquanto pronunciava palavras repletas de falsa sinceridade para a garota do campo ostracizada. Ele não parecia estar prestando atenção alguma, estando mais preocupado com qualquer espetáculo em que Leonard estivesse envolvido.

Sua breve conversa com Erna levou Gladys a acreditar que não havia mérito nos rumores e, com essa revelação, ela sentiu uma simpatia genuína pela jovem. Ela também sentiu culpa ao pensar que Bjorn havia usado a garota para atingi-la.

“Você gosta de teatro, senhorita Hardy?”

“Uma peça?” Erna perguntou surpresa.

“Sim”, Gladys sorriu como se estivesse considerando um filhote brincalhão. “Daqui a dez dias haverá um espetáculo beneficente para arrecadar dinheiro para o orfanato. Acho que seria bom se você fosse.”

Era cruel adicionar qualquer ponta à sua oferta e, além disso, não era culpa da garota que Bjorn pudesse ser um monstro. Ela queria pelo menos tentar se aproximar da garota do campo e lhe oferecer salvação em sua amizade. Claro, Louise e os outros não entenderiam.

“Eu...ahem...isto é...” Erna gaguejou, procurando a maneira certa de recusar a Princesa. “Desculpe-me, Princesa.”

Em contraste com suas palavras hesitantes, a voz de Erna é calma e clara. Os olhos de Gladys arderam com a recusa inesperada. Era a primeira vez que ela perdia a compostura desde o início da conversa.

“Sou realmente grata pelo convite, mas não acho que poderei ir à peça. Sinto muito, Princesa.” Erna finalmente encontrou as palavras.

Segurando as mãos no colo, Erna fez uma reverência educada. Quando se levantou, franziu os lábios como se tivesse mais a dizer, mas nunca deixou as palavras saírem.

Havia silêncio suficiente para que todos pudessem ouvir os espectadores sussurrando entre si. A filha da família Hardy acabou de insultar a Princesa. O boato se espalhou tão rápido e Gladys ficou surpresa ao ver Bjorn entre eles.

Gladys olhou para Bjorn, tentando desesperadamente não tremer de raiva. Peter se aproximou e sussurrou algo no ouvido de Bjorn, e Bjorn olhou diretamente para Gladys com uma sobrancelha arqueada. Ele começou a rir, ela não podia acreditar, mas ele estava rindo.

O que isso significava?

Mesmo diante da desgraça, Gladys fez o possível para conter as lágrimas, agarrando-se à dignidade como se fosse a única coisa que lhe restava. Bjorn se aproximou das duas mulheres e os espectadores observaram expectantes o casal antigo.