Casamento Predatório

Volume 2 - Capítulo 132

Casamento Predatório

A lembrança daquele dia era vívida. Estava tão gravada em sua mente que jamais poderia se apagar. Preso numa escuridão opressora, num buraco onde nem sequer conseguia esticar os membros, a única saída era uma pequena porta de madeira redonda no teto.

Aquele era o lugar usado para ensinar obediência. Era cruel demais para um menino. Ele nem conseguia diferenciar a passagem do tempo. Não havia um copo d'água, nem uma fatia de pão. Pesadas correntes prendiam seus membros, machucando sua pele, onde feridas sem tratamento apodreciam, escurecendo com pus e fervilhando de larvas.

Sua boca estava amordaçada para que ele não pudesse morder a própria língua, o que piorava a sede que lhe queimava a garganta. A sede era uma sensação mais terrível do que a fome em seu estômago vazio. Gradualmente, sua determinação em manter sua honra como um guerreiro do deserto ruía diante de tamanha dor. Mas toda vez que era tentado a ceder e jurar obediência, sua angústia era insuportável.

Embora desejasse a morte, a força vital dos Kurkans era incrivelmente tenaz.

Quero morrer. Por favor, deixe-me morrer. Deus, deixe-me morrer, Ishakan implorou fervorosamente.

Mas sua prece ficou sem resposta. Pequeno Kurkan, abandonado pelo seu próprio povo, ignorado até por Deus. E quando ele havia perdido toda a esperança e sua vontade estava quebrada, uma luz desceu.

A porta de madeira que parecia que nunca se moveria se abriu. A luz do sol entrou. Cabelos prateados deslumbrantes. Olhos roxos que brilhavam como ametistas.

Ele não tinha entendido no passado, mas agora entendia. Ele se apaixonara à primeira vista. Ishakan lamentou o tempo que desperdiçara, sem saber. Ele faria o seu melhor agora, por esse motivo.

“……”

Seu rosto estava inexpressivo enquanto ele olhava para as planícies. Densamente cobertas de capim-elefante, eram tão vastas que não se via o fim. Um vento forte soprava sobre elas e o capim-elefante se movia em ondas. Do céu, um gavião gritou, e Haban olhou para a ave no firmamento e falou.

“Ishakan.”

Ishakan olhou para trás para ver os Kurkans atrás dele, alinhados em seus cavalos. Cada um vestia um longo pano que escondia metade do rosto. Olhando em seus olhos penetrantes, ele puxou o pano que cobria seu próprio rosto até o queixo.

“Vamos.”

Os cavalos levantaram as patas dianteiras, relinchando enquanto partiam em galope. O som de suas cascos batendo nas planícies era como um tambor. Os olhos de seus cavaleiros brilhavam extraordinariamente com a euforia de uma batalha. Os instintos bestiais em suas veias faziam seus corpos ferverem.

A uma curta distância no meio do capim-elefante, seu objetivo estava à vista. A bandeira da Família Real de Estia esvoaçava magnificamente, e a boca de Ishakan se contraiu. Apesar de toda sua dedicação, ninguém em Estia havia salvo sua Princesa. Parecia ridículo para ele que eles apenas observassem o sacrifício que ela estava fazendo com seu sangue e suas lágrimas. Eles eram repugnantes.

“Ataquem!”, ordenou. Haban agarrou o chifre de carneiro em sua cintura e tocou um chamado de batalha, o som alto ecoando pela vasta planície. Os Kurkans se dividiram para avançar de várias direções, e os outros grupos responderam com seus próprios chifres, os sons que sinalizavam o início da batalha.

“Emboscada!”, gritou o cavaleiro real. “Aumentem a velocidade!”

Os cavaleiros só perceberam seus perseguidores tardiamente. Caçar presas em fuga era o que os Kurkans faziam de melhor.

Os cavaleiros foram rapidamente cercados, seus gritos e o som de espadas sendo desenvainadas se misturando. O capim-elefante estava manchado de sangue quente enquanto os cavaleiros resistiam desesperadamente, e os cocheiros tentavam escapar. Tudo em vão. Ganchos de ferro voavam de todas as direções como flechas e agarravam a carruagem.

“Essas bestas…!”, gritou o cocheiro, agitando o chicote freneticamente.

Essas foram suas últimas palavras. Uma adaga curva atravessou seu coração e a carruagem cambaleou, fora de controle. As cordas se apertaram e a carruagem tombou.

Com sua espada curva, Ishakan cortou o pescoço de um cavaleiro que se aproximava. Havia um sorriso cruel em seu rosto. Era difícil controlar sua natureza ao ver sangue, e seus instintos só ficariam mais frenéticos com mais mortes.

Seus olhos dourados brilhavam por trás de uma máscara de sangue vermelho. Um cavaleiro que encontrou seus olhos recuou de medo, mas uma corda o agarrou pelo pescoço e o arrastou de seu cavalo. O massacre unilateral continuou, e o corpo de Ishakan estava manchado de sangue.

Finalmente, ele olhou para a carruagem tombada, onde uma pequena mulher lutava para abrir a porta danificada. Ele não pôde deixar de sorrir. Ela deveria estar assustada, mas não estava se escondendo. Em vez disso, ela estava tentando sair e olhar em volta para entender sua situação. Era apropriado a ela.

Não havia mais obstáculos em seu caminho. Lentamente, ele guiou seu cavalo em direção a ela, e os olhos de Leah se arregalaram. Seus belos olhos roxos tremeram.

“Por quê…?”

Seus cílios prateados, seus lábios grossos e finamente curvados, sua voz suave… tudo muito encantador.

Ele não conseguia esperar mais. Ele a agarrou e a segurou em seus braços. No momento em que ele segurou seu corpo esguio, seu perfume suave e doce alcançou seu nariz. Era um perfume que acalmava até mesmo sua natureza violenta. Uma sensação de contentamento completo preencheu seu corpo.

Minha luz, minha salvação.

Minha noiva.

“Você não se lembra?”, Ishakan sorriu brilhantemente, incapaz de conter sua alegria crescente. “Eu não disse que ia arruinar sua vida?”

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