
Capítulo 22
Casamento Predatório
O rosto dela ficou vermelho, mas ela respondeu com firmeza. Não estava acostumada a esse tipo de conversa, e acabou dando tapinhas nas bochechas coradas com o dorso das mãos para se acalmar. Ishakan se sentou na beira da fonte.
“Em público, eu te trato como uma princesa. Mas quando estivermos sozinhos, podemos simplesmente agir naturalmente?”
“Naturalmente?”
“Essa atitude atrevida te cai melhor do que fingir ser uma princesa toda certinha e comportada”, ele ergueu uma sobrancelha elegante, “Assim como naquela noite.”
As palavras dele tinham um significado profundo, mas ela preferiu ignorá-las.
“Se você optar por me tratar como uma princesa, certifique-se de respeitar os limites. Como quando colocou as mãos em mim mais cedo hoje—”
Antes que ela pudesse terminar, Ishakan agarrou o pulso dela. Maliciosamente, ele respondeu enquanto olhava nos olhos de Leah.
“Mas agora estamos sozinhos — então não preciso te tratar como uma princesa.”
Será que todas as feras são assim?
Cansada das atitudes insolentes dele, Leah o olhou feio, sem dizer uma palavra. Mas a atenção de Ishakan estava em outra coisa. Ele resmungou com uma expressão séria.
“Droga… Você está mais magra do que antes. Você está se alimentando direito?”
O pulso fino dela contrastava bastante com a mão grande dele. Como parte dos preparativos para o banquete de boas-vindas aos Kurkans, ela havia sido submetida a uma dieta ainda mais rigorosa — ficando mais magra do que antes.
Em vez de explicar, Leah retirou a mão da dele. Ao perceber as mãos vazias, Ishakan rapidamente as mergulhou na fonte.
Que estranho… De repente, ele começou a lavar as mãos. Será que ele achou as mãos dela sujas?
Ela não conseguia acreditar. Ele era tão difícil de entender. Por que ele faria algo assim no meio da conversa? Leah mordeu o lábio e, relutantemente, trouxe à tona o problema que a preocupava.
“As coisas que aconteceram naquela noite… Você pode guardar segredo?”
A ideia de outras pessoas saberem do seu plano a assustava. Ela não conseguia imaginar o quão ruim as coisas ficariam se Ishakan contasse o segredo dela para os outros.
Os olhos de Ishakan se estreitaram ao perceber o desespero de Leah. Ele inclinou a cabeça para o lado e riu.
“Eu não sei.”
Ao ouvir a resposta ambígua dele, Leah sentiu o estômago cair. Ela não aguentava mais e exclamou.
“O que você quer de mim?! O que—” Ela exclamou, mas foi interrompida pela próxima ação dele.
Ele tinha colocado algo na boca dela, fazendo os olhos dela arregalarem. Ela não sabia o que era, mas ainda assim mastigou. Enquanto mastigava a polpa macia e pegajosa, um sabor doce invadiu sua boca. Seu corpo sentiu uma alegria imensa enquanto o sabor doce satisfazia a privação que ela sentia por não ter comido.
“Você precisa cuspir as sementes.”
Os dedos longos e finos dele abriram a boca dela, e Ishakan retirou a semente que estava em cima da língua dela enquanto sorria para ela.
“Era um tâmarindo seco. Você gostou?”
“…!”
O rosto dela ficou vermelho ao perceber o que ele tinha acabado de fazer. Ela estava tão envolvida pelo sabor doce da fruta que não conseguiu entender as ações dele.
Ela não conseguiu dizer nada. Confusa, ela olhou para Ishakan, as bochechas ainda vermelhas. Ele casualmente colocou outro tâmarindo entre os lábios dela, que sua boca aceitou de bom grado.
“Eu só quero uma coisa.”
Enquanto ela sentia o sabor forte e doce na língua mais uma vez, Ishakan sussurrou com um olhar sombrio.
“Eu quero que você aceite tudo o que eu te der.”
♔
O significado subjacente do sussurro dele era implícito. O coração dela disparou. Como se possuída por algo, Leah saboreou delicadamente o tâmarindo na boca.
Tâmarindos secos não eram um alimento básico em Estia. Ela só tinha comido uma vez quando uma escrava Kurkan lhe deu um quando ainda era criança.
Fazia tanto tempo. Tanto tempo que Leah não conseguia mais se lembrar do gosto do tâmarindo seco — nem do rosto do menino que tão gentilmente compartilhou sua comida com ela.
Saboreando-o, ela se sentiu eufórica com sua doçura desconhecida. Sugando cada tâmarindo até secar sua polpa açucarada, logo Leah sem querer chupou os próprios lábios. Assim, emitindo sons de sucção no ar.
Um toque de arrependimento pairou na ponta da língua.
Ao contrário dela, Ishakan não achou embaraçoso. Pelo contrário, ele estava profundamente dedicado a fazê-la consumir algum alimento para o seu corpo frágil.
Os olhos inquisidores do rei observavam Leah enquanto ela se banqueteava com os tâmarindos que ele trouxera. Antes de colocar a fruta na boca, ela abaixa a cabeça e cospe as sementes nas palmas das mãos.
Agora que ela tinha terminado de comer tudo, ela parecia sem saber o que fazer com elas.
Por um momento, ele hesitou e estendeu as mãos. Ishakan agarrou as sementes cobertas com a saliva dela e instantaneamente as jogou nos arbustos.
Leah não entendeu a ação imediatamente, então Ishakan foi rápido em dar uma explicação rápida. “É uma semente, então deve ser devolvida à terra.”
Ela não encontrou falha em suas palavras e acenou em concordância. Com certeza, o jardineiro não se importaria com algumas pequenas sementes espalhadas aqui em sua área de trabalho. Ele provavelmente nem vai notar.
Leah limpou os lábios e, sem dizer uma palavra, aproximou-se da fonte e lavou as mãos. Enquanto lavava o resíduo pegajoso que restava em suas mãos, ela disfarçadamente lançou um olhar para Ishakan.
Ela achava tudo nele peculiar. Talvez porque ele fosse de uma terra estrangeira? Tudo o que ele fazia a deixava confusa. Acima de tudo, ele arruinou completamente sua rotina sistemática para hoje.
Ai! Ela percebeu tarde demais. Cerdina inspecionaria todos os preparativos para a próxima conferência. E por preparação, isso a incluía! Nossa, será que ela terminou de comer todos os tâmarindos sabendo que teria que usar um vestido justo amanhã na frente de Cerdina?
A preocupação estava gravada em seu rosto, pois ela temia que sua barriga ficasse saliente.
Apesar da sequência de arrependimentos, ela não conseguiu resistir a comer os tâmarindos doces, que derretiam em sua boca.
Quando foi a última vez que eu comi bem? Ela nem conseguia se lembrar — ah, mas ela se lembrou!
Rapidamente, as consequências da noite agitada deles ocuparam seus pensamentos, a hora em que Ishakan a alimentou com uma quantidade generosa de pão e ensopado. Ela fez uma careta ao se lembrar disso.
Movendo-se atrás dela, Ishakan a trouxe de volta aos sentidos quando agarrou sua mão, fazendo Leah se sobressaltar de surpresa. Ela ficou ainda mais confusa quando Ishakan colocou algo na palma da mão dela. Então ele gentilmente fechou a mão dela com a dele, fazendo-a apertá-la.
Ao olhar para baixo, ela viu uma caixa de tâmarindos. Leah piscou os olhos enquanto examinava os tâmarindos uniformemente arrumados, dentro de uma caixa elegante.
Olhando para a aparência de Ishakan, ele parecia que devorava carne com sangue escorrendo. Mas vê-lo carregando essa caixa de tâmarindos foi um pouco surpreendente, parecia fora do personagem.
“Os Kurkans acreditam que alimentos doces podem expulsar maus espíritos. Eu também gosto de doces. Leve meu presente com você.”
Assim que ela ouviu isso, ela fechou rigidamente a tampa da caixa — os deliciosos tâmarindos desaparecendo embaixo dela.
Ela empurrou a caixa para ele. Foi uma recusa firme. Em vez de aceitar a caixa, Ishakan retrucou.
“Eu não coloquei veneno nela.”
“Não é isso. Eu não posso aceitar isso, então leve com você.”
“Por quê?”
“Porque estou de dieta.” Ela disparou.
Os olhos de Ishakan brilharam de interesse, a ideia dela se privar de comida intencionalmente o irritou. “Dieta para quê?”
“…”
“A razão não te envolve em nenhum momento.”
Ela não queria a pena dele de jeito nenhum. Em vez de deixar a conversa tomar um rumo indesejado, Leah desviou o assunto. “Por que você veio para Estia? Olhando diretamente em seus olhos, ela perguntou corajosa, “Você tem certeza de que não precisa de nada de mim?”
“Claro que sim.” Ele sacudiu a cabeça na direção da caixa.
“Coma tudo isso. É uma ordem de alguém que conhece sua fraqueza.” Ele tocou o canto da caixa. A madeira envernizada estava lisa, sem nenhum arranhão. “Devo te alimentar mais?”
O rosto dela enrijeceu enquanto ele ria. Ela absolutamente não podia ser influenciada mais. Com suas palavras ameaçadoras, ela foi obrigada a aceitar a caixa de doces e disse com uma voz fria.
“Peço que você esqueça o que aconteceu naquela noite. Se você realmente me considera a princesa deste reino, por favor, não se comporte de forma indecente.”
“Se comportar de forma indecente?”
“Estou me referindo a tocar sem permissão.”
“Seja específica. Sou uma fera inculta, então não tenho a menor ideia do que você está insinuando.”
“Como pegar meu braço de repente… ou colocar seus dedos na minha boca.”
Um sorriso malicioso surgiu enquanto os cantos dos olhos de Ishakan se enrugaram. Incapaz de se conter, ele caiu na gargalhada. Assim como as gotas d’água da boca da fonte espirravam e perturbavam a água calma abaixo, iluminada pelo sol radiante, a risada dele também causou um caos nela.
“Você gosta de mim colocando-o dentro, não é?”
Leah fechou os olhos com força — entendendo imediatamente a declaração grosseira dele. Ele era muito diferente das pessoas que ela conhecera antes. No entanto, ela não podia negar que sempre fora atraída por pessoas com um passado desconhecido.
Ela levantou os olhos bruscamente, querendo repreendê-lo pelo seu temperamento lascivo. No entanto, o cabelo dela arrepiou-se de repente ao sentir a presença de outra pessoa…
O som de sapatos batendo nas pedras mal pavimentadas do jardim acelerou seu coração.
“…!”
Ela quase deixou cair a caixa enquanto seu rosto ficava apavorado. Um homem com o mesmo cabelo prateado os encarava com uma expressão vazia.
Era Blain, o meio-irmão de Leah.