Volume 1 - Capítulo 10

Os olhos de Zorian se abriram abruptamente quando uma dor aguda irrompeu de seu estômago. Seu corpo inteiro convulsionou, se curvando contra o objeto que caiu sobre ele, e de repente ele estava completamente acordado, sem um traço de sonolência em sua mente.

“Bom m-”

“Não, não é,” Zorian interrompeu. “Como poderia ser uma boa manhã? Eu fui morto novamente! Desta vez, devorado por um verme gigante. E acordar assim está realmente começando a me irritar! Não poderia o ciclo de tempo ter começado um dia depois ou algo assim?”

Ele encarou sua irmã mais nova, esperando uma resposta. Ela o olhava de volta, confusa e provavelmente um pouco assustada.

“Hum, o que?” ela perguntou hesitante.

Zorian a virou silenciosamente para fora da cama. Ela caiu no chão com um baque e um grito indignado, e Zorian rapidamente se levantou para melhor responder a qualquer violência que ela pudesse decidir retaliar. Aprendendo a lição durante reinícios anteriores, ele imediatamente se dirigiu ao banheiro antes que ela pudesse se recuperar.

Ela percebeu o que ele estava fazendo rapidamente, mas já era tarde; ele já havia trancado a porta atrás de si. Seus gritos de raiva eram música para seus ouvidos, especialmente porque eventualmente fizeram com que a mãe fosse atrás dela e a repreendesse.

Talvez, afinal, fosse uma boa manhã.

- break -

Trens… Zorian nunca realmente gostou deles desde o início, mas estava começando a desenvolver uma aversão intensa desde que foi pego nesse ciclo de tempo. Viajar de trem regularmente era quase tão irritante quanto Kirielle pulando sobre ele no início de cada reinício. Ele havia pensado em matar o tempo conversando com Ibery, para que ela o conhecesse quando conseguisse um emprego na biblioteca, mas desistiu da ideia depois de um tempo. Principalmente porque decidiu não se candidatar ao emprego neste reinício. Trabalhar na biblioteca, como vinha fazendo, era bastante demorado, e ele tinha um projeto muito mais promissor em que trabalhar – dominar todos os exercícios de modelagem no livro de Ilsa para poder conquistá-la e se tornar seu aprendiz. A magia da biblioteca era útil, mas se livrar de Xvim seria absolutamente inestimável.

Ele não estaria presente em Cyoria quando a invasão chegasse também. Nem neste reinício, nem em nenhum futuro próximo. Mesmo que tivesse que revelar seu segredo para Zach por causa disso, ele pegaria o primeiro trem para fora da cidade na véspera do festival de verão. Ele sabia que a coisa inteligente e responsável a fazer seria ficar na cidade e anotar o que estava acontecendo – como a invasão estava progredindo e o que poderia ser feito para detê-la. Ele sabia disso, mas… era demais para ele. E não apenas porque se envolver nessa bagunça parecia invariavelmente levar à sua morte. A montanha-russa emocional da ‘evacuação’ estava sendo muito difícil para seus nervos, mas isso era apenas um sintoma do verdadeiro problema. Ele lutou com seus pensamentos por um momento, tentando identificar a raiz do problema. Cada razão que conseguia pensar parecia… errada.

E então tudo se acertou. Era a impotência. Cada vez que seus pensamentos se desviavam para o tema da invasão, ele não conseguia se livrar da noção de que as forças contra ele estavam muito além de sua capacidade de lidar, e que a única razão pela qual ele havia sobrevivido tanto tempo foi pura sorte. Lhe ocorreu que a maneira de sua morte mais recente poderia facilmente ser uma alegoria para toda essa invasão. Então você repeliria uma matilha assassina de lobos do inverno e chegaria à segurança, ajudaria a frustrar uma emboscada traiçoeira, e agora acha que o pior já passou? Não, idiota, um verme gigante de repente sai do chão e morde sua cabeça! Como você deveria lutar contra algo assim? Como ele deveria lutar contra algo assim?

Talvez ele não devesse. Muitas coisas sobre a invasão pareciam… implausíveis. Tão implausíveis quanto Zach se tornar um super-prodigy em um único verão, Zorian aprender todos os 15 exercícios de modelagem no livro de Ilsa em um mês, ou a viagem no tempo ser real. E se sua teoria de que havia um terceiro viajante do tempo estivesse correta, e que alguém era o cérebro por trás da invasão? Isso explicaria muita coisa. Por outro lado, isso também levantaria muitas questões por si só… como por que esse viajante do tempo hostil ainda não tinha lidado com Zach? O lich já havia provado que era muito possível ferir pessoas como Zach e Zorian, e já estava trabalhando para as forças invasoras.

De qualquer forma, ele pretendia se envolver novamente com a invasão apenas depois de adquirir alguma magia séria, ou depois que conseguisse se acalmar um pouco e se sentisse emocionalmente capaz de enfrentar a situação. O que viesse primeiro. Não era como se pudesse estudar a invasão em grande detalhe se continuasse morrendo no início dela, de qualquer forma.

Eventualmente, o trem chegou a Cyoria, e Zorian começou sua longa caminhada até a academia. Ele não estava com pressa desta vez, porque finalmente havia encontrado um feitiço para se proteger da chuva no último reinício e estava ansioso para experimentá-lo. Bem, na verdade, ele havia encontrado vários feitiços protetores destinados a lidar com chuva e outras intempéries, mas apenas um estava dentro de sua capacidade de realmente lançar. Isso era bom, já que o feitiço da ‘barreira contra chuva’ era o mais adequado para seus propósitos – oferecia a proteção mais completa, ao custo de ser horrivelmente desgastante para manter. Ele podia ver por que a drenagem de mana seria um problema sério para pessoas que quisessem usar o feitiço extensivamente, mas Zorian só precisava que ele durasse uma ou duas horas em uma área excepcionalmente rica em mana de Cyoria.

Além disso, estar envolto em uma esfera invisível que repelisse água era simplesmente mais impressionante do que as barreiras mais sutis e sofisticadas. A barreira realmente funcionava na água em geral, não apenas em gotas de chuva, então ele não precisava se preocupar em pisar em poças e molhar seu calçado. Ver a água na estrada se abrir diante dele como se estivesse na frente de algum tipo de emissário celestial era extremamente engraçado. Também era um pouco um impulso de ego, algo que ele precisava desesperadamente depois de ter sido tão amplamente superado durante a invasão do reinício anterior.

Provavelmente, ele nunca usaria o feitiço depois de sair do ciclo de tempo, já que um guarda-chuva era bom o suficiente para a maioria das ocasiões e não consumia mana, mas encontrar uma loja que vendesse um ao longo de seu caminho habitual da estação de trem havia se mostrado surpreendentemente difícil. O que, agora que pensava a respeito, sugeria que ele provavelmente usaria o feitiço de vez em quando, já que duvidava que esta seria a única vez em sua vida que se encontraria sem um guarda-chuva facilmente adquirível.

Ele balançou a cabeça. Ele realmente não deveria estar fantasiando sobre o que faria depois de sair do ciclo de tempo, já que não parecia que isso aconteceria tão cedo. Ele precisava se concentrar no presente… e isso soava esquisito, considerando sua situação. O que ele iria fazer com Zach? Ele estava seriamente tentado a simplesmente admitir tudo para o garoto e tentar descobrir essa bagunça juntos – com certeza duas cabeças pensam melhor que uma? Impulsivo que fosse, Zach não poderia ter chegado tão longe sem ter uma boa cabeça sobre os ombros. No entanto, ele não se sentia totalmente confortável com essa ideia – suspeitava fortemente que Zach tinha mais do que aparentava, e odiava se precipitar sem saber no que estava se metendo.

Decidiu ver como Zach interagia com ele neste reinício antes de tomar uma decisão.

- break -

“Zorian! Aqui!”

Zorian lançou um olhar para Benisek, que acenava para ele como um lunático, e se perguntou o que deveria fazer. Ele realmente não queria conversar com ele. Benisek poderia ser seu amigo mais próximo entre os alunos, mas também era bastante irritante às vezes, e não era como se ele pudesse contar a Zorian algo que ele já não soubesse a esta altura. No fim, suspirou em derrota e caminhou até o garoto sorridente. Ciclo de tempo ou não, parecia errado ignorar alguém tão visivelmente feliz em vê-lo, especialmente considerando a história que compartilhava com Benisek.

Ele achou interessante que Benisek estivesse presente na cantina naquele momento, já que esse não era seu comportamento usual nos reinícios que Zorian experimentou até agora. Esses tipos de divergências inexplicáveis aconteciam o tempo todo, o que era esperado – havia pelo menos dois viajantes do tempo vagando pelo ciclo, mudando coisas tanto inconsequentes quanto cruciais – mas era surpreendente ver uma mudança tão cedo no ciclo. Havia apenas um dia desde que ele chegou a Cyoria. Normalmente, levava pelo menos uma semana até que tudo saísse dos trilhos, e mesmo assim muitas coisas se repetiam. A maioria dos professores seguia algum tipo de plano de ensino fixo, por exemplo, e raramente se desviavam dele. Até onde ele sabia, Fortov sempre vinha atrás dele pedindo ajuda com o ungüento de trepadeira roxa, mesmo que seu acidente com Ibery só tivesse acontecido perto do final do ciclo. O que, agora que pensava a respeito, sugeria que o acidente não era tão acidental assim. Meio suspeito que um acidente fosse tão insensível a mudanças…

“Você acabou de chegar a Cyoria, não é?” Benisek perguntou animadamente assim que Zorian se sentou ao seu lado.

Zorian acenou hesitante. Benisek só ficava tão animado quando falava de uma garota particularmente atraente ou quando conseguia algum material de fofoca suculento. Esperançosamente, era a última opção, porque não havia como Zorian ficar de outra forma.

“Você não vai acreditar nisso!” Benisek disse animadamente. “Você conhece o Zach? Sabe, Zach Noveda, o último scion da Casa Noveda? Ele esteve na aula conosco nos últimos dois anos.”

Claro que era Zach. Ele realmente deveria ter sabido.

“Claro que eu o conheço,” disse Zorian. “Ele é… muito memorável.”

“Ele é?” Benisek piscou. Ele balançou a cabeça. “Quero dizer, claro que é. Eu meio que não esperava que você soubesse, já que ele é meio um fracasso como mago e você nunca interagiu muito com ele.”

Zorian deu de ombros. Para ser sincero, era muito raro para ele esquecer o nome de alguém, independentemente de quantas vezes tivesse interagido com a pessoa ou quanto tempo havia se passado desde a última vez que a viu. Mesmo antes do ciclo de tempo, Zorian teria instantaneamente sabido de quem Benisek estava se referindo.

“Enfim,” Benisek continuou, “Zach escapou de sua mansão ontem.”

“Err, o que?” perguntou Zorian, incrédulo. “O que você quer dizer com ‘escapou’? Por que ele precisaria escapar de sua própria mansão?”

“Bem, essa é a questão, não é?” Benisek disse. “Aparentemente, ele teve uma discussão com seu guardião que eventualmente se transformou em um duelo mágico de grandes proporções. Um duelo que, veja só, Zach venceu! Metade da mansão foi destruída, e Zach fugiu para a cidade e ainda não foi encontrado. Eles estão procurando por ele em todos os lugares!”

“Hum, uau,” Zorian disse, honestamente sem palavras. O que diabos era isso?

“Você disse isso,” concordou Benisek. “Não tenho certeza se acredito na história oficial, no entanto. Quero dizer, não há como Zach ter enfrentado seu guardião em um duelo mágico! Tesen Zveri é um mago de 7º círculo ou algo assim, e Zach mal passou em sua própria certificação! Por outro lado, algo com certeza destruiu a mansão Noveda…”

“Como você sabe disso?” perguntou Zorian.

“Está em todos os jornais,” disse Benisek. “Além disso, todo mundo está falando sobre isso. Não consigo acreditar que um dos nossos colegas estaria envolvido em algo assim. O que você acha, Zorian?”

“Ben… eu honestamente não sei o que pensar sobre isso,” disse Zorian.

E ele realmente queria dizer isso. Não duvidava nem por um segundo que Zach pudesse dar uma surra em seu guardião, 7º círculo ou não – o homem era um político, até onde Zorian sabia, não um mago de batalha – mas por que ele gostaria de fazer isso?

“Suponho que ele não virá para a aula desta vez,” Zorian ponderou em voz alta. Por outro lado, ele não teria ficado surpreso se Zach simplesmente aparecesse na aula um dia desses como se nada estivesse errado.

“Duvido,” Benisek riu.

“Ele matou alguém?” perguntou Zorian. Benisek balançou a cabeça negativamente. “Então, basicamente, ele não fez nada tão sério. Qual é o pior que pode acontecer com ele se ele simplesmente se entregar?”

“Bem, Tesen não deve estar muito feliz com ele agora, e ele é influente demais para ser ignorado, mesmo para alguém como Zach,” disse Benisek. “Atacar um dos Anciãos de Eldemar é na verdade um crime bastante sério, e Tesen poderia realmente arruinar o dia de Zach se quisesse se vingar. Não que eu ache que ele faria isso, já que isso só chamaria ainda mais atenção ao que aconteceu. Essa coisa toda é um enorme escândalo político para ele. Estou apostando que Zach voltará depois de um mês ou mais, depois que ele esfriar um pouco, e Tesen ‘magnanimamente’ o perdoará por tudo.”

Zorian ficou em silêncio. Zach lhe dissera que era raro para ele passar um reinício em Cyoria, e ainda mais raro para ele frequentar aulas. À luz disso, havia sido tolo da parte dele esperar que Zach estivesse por perto neste reinício. Zach pode ter achado Zorian interessante no reinício anterior, mas provavelmente não tanto interessante. Ainda assim, isso era mais do que um pouco estranho. Se ele quisesse sair e fazer suas próprias coisas, ele não poderia simplesmente ter saído de sua mansão um dia e continuado? Quem o impediria? Seu guardião? Por que Tesen faria isso? O homem era claramente muito desligado em seus negócios com seu pupilo, como evidenciado pelas frequentes ausências de Zach da escola nos últimos dois anos, assim como pelo desempenho abismal de Zach antes do ciclo de tempo.

Não havia uma resposta óbvia, e Zorian não estava a fim de tentar localizar Zach. Ele provavelmente não conseguiria encontrá-lo, mesmo que tentasse, e tinha metas mais alcançáveis a seguir.

Como sair das garras implacáveis de Xvim. O que poderia ser mais importante do que isso?

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O restante do reinício foi agradavelmente sem eventos. Não havia Zach, já que o garoto nunca apareceu na escola e não pôde ser encontrado por ninguém. Depois de uma semana ou mais, os jornais pararam de cobrir a história porque não havia novos desenvolvimentos que justificassem os artigos, e os rumores que circulavam entre os alunos logo se apagaram. Por sua parte, Zorian se dedicou completamente a dominar os exercícios no livro de Ilsa. Ele negligenciou virtualmente tudo o mais, frequentemente faltando às aulas quando achava que poderia escapar impune. Akoja estava furiosa, já que ele aparentemente estava arruinando o registro de presença da turma, e fez com que Ilsa o confrontasse um dia sobre isso. Felizmente, a habilidade de Zorian de obter notas máximas em todos os exames, apesar de sua presença irregular, atenuou o impacto das críticas de Akoja, e Zorian conseguiu convencer Ilsa de que estava trabalhando em um projeto pessoal que estava consumindo a maior parte de seu tempo… não faltando às aulas apenas por capricho, como Akoja alegava. Ele a assegurou de que o projeto estaria concluído em um mês, e que ele retomaria a frequência às aulas regularmente após o festival de verão. Ela fez com que ele prometesse que mostraria a ela o que estava fazendo quando terminasse, e ele concordou entusiasticamente.

Seu foco singular trouxe resultados rapidamente – ele dominou tanto a levitação vertical quanto a de posição fixa até o final do reinício. Ele não se preocupou em mostrar essas habilidades avançadas a Xvim, que ainda o fazia trabalhar no exercício de girar a caneta, pois duvidava que obteria uma reação válida. Nada parecia agradar aquele cara.

Ele não esteve presente na cidade quando a invasão chegou, é claro. Sem o anel de Zach, ele estava ainda mais inútil em combate do que no reinício anterior, então era duvidoso que pudesse ter durado muito nesse meio. Ele se certificou de praticar as invocações de combate que aprendeu com Zach todos os dias, esperando aprimorá-las até o mesmo estado reflexivo que Zach exibia. Isso levaria anos de prática, é claro, mas isso só significava que ele deveria começar o mais rápido possível. Ele também não saiu de trem como costumava fazer – ele viajou a pé até uma das colinas que sobrevoavam a cidade e a observou de lá.

Assistir à invasão se desenrolar de um ponto de vista tão alto não apenas era muito mais fácil para os nervos de Zorian do que estar no meio dela – também era bastante informativo. Era interessante ver como a invasão se desenrolava em termos gerais. Parecia ter várias etapas, a primeira das quais era, é claro, o bombardeio disfarçado de magia de artilharia. Os clarões explosivos miravam principalmente três áreas cruciais – a câmara municipal, a base militar local e um aglomerado de prédios que Zorian não reconhecia. A academia não parecia ser um alvo primário, possivelmente porque os invasores queriam que permanecesse razoavelmente intacta. Além da explosão inicial, as zonas de impacto pareciam gerar uma infinidade de elementais de fogo que precisavam ser enfrentados. Felizmente, muitos edifícios em Cyoria eram pelo menos moderadamente protegidos contra fogo, pois Zorian não tinha dúvidas de que a cidade inteira teria pegado fogo em minutos, caso contrário. Depois que os elementais de fogo tiveram alguns minutos para causar problemas, monstros saíram dos esgotos, e após causarem um pouco de destruição pela cidade, os conjuradores finalmente chegaram.

A batalha ainda estava em andamento quando o relógio finalmente marcou duas horas passadas da meia-noite e tudo ficou subitamente escuro.

Considerando tudo, o exército de monstros era a parte menos destrutiva da invasão – se ele pudesse, de alguma forma, evitar que o bombardeio inicial incapacite a defesa da cidade logo de cara, ou eliminar muitos dos magos invasores que seguiam os monstros… bem, valeria a pena tentar quando ele finalmente adquirisse algumas habilidades.

Os próximos três reinícios foram essencialmente os mesmos, até o duelo de Zach contra seu guardião e a fuga na noite. Aparentemente, isso não era apenas uma ocorrência única, mas sim algo bastante rotineiro. Os detalhes exatos variavam, mas toda vez ele enfrentava Tesen antes de sair para Deus sabe onde. Infelizmente, Zorian não conseguia descobrir nada substancial sobre Tesen – o homem era um político de alto nível, e portanto não exatamente acessível, e nada nas fontes disponíveis publicamente explicava a aparente hostilidade de Zach em relação a ele.

Seu trabalho com o livro de Ilsa progrediu constantemente, mas ele estava, francamente, começando a ficar um pouco cansado disso. Havia um limite para a prática incessante de modelagem que ele poderia suportar antes de perder todo o entusiasmo. Além disso, Ilsa disse que a maioria dos alunos passa por esses exercícios a uma taxa de 6 por ano, e ele já estava mais eficaz do que isso – algo que ele atribuía a seu foco incomum na questão. Quantas pessoas poderiam se dar ao luxo de concentrar todas as suas energias em exercícios de modelagem? Havia tantas coisas competindo pela atenção do estudante típico que os exercícios de modelagem provavelmente acabavam próximos ao final de suas prioridades.

Foi por isso que ele estava atualmente no escritório de Ilsa, tentando ver se conseguia obter algo dela sem dominar todo o livro.

“O que posso fazer por você, senhor Kazinski?” Ilsa perguntou.

“Bem, estou um pouco preocupado com o programa que você delineou em sua primeira aula,” disse Zorian. “Não tenho certeza se vou aprender alguma coisa com isso, já que já tenho uma compreensão sólida de todos os tópicos que você mencionou.”

Ilsa levantou uma sobrancelha para ele. Ei, funcionou com Kyron, por que não funcionaria com Ilsa também?

“Entendi,” disse ela após um segundo de silêncio. “Você se importaria se eu lhe fizesse alguns testes rápidos para confirmar isso?”

Confiante de que poderia lidar com qualquer coisa que ela testasse, ele concordou. Ilsa então começou a revirar suas gavetas e tirou 2 testes diferentes. Um era uma cópia exata do mesmo teste que Ilsa aplicou a toda a turma antes do festival de verão, e Zorian o preencheu em 10 minutos, simplesmente de memória. O outro era injustamente difícil, porque cobria tópicos avançados que não apareceram na aula. Zorian só conseguiu preencher um quarto das perguntas antes que o tempo acabasse, e ele estava bastante certo de que nem todas as suas respostas estavam corretas.

Ilsa folheou rapidamente as respostas e então acenou com a cabeça para si mesma.

“Seu conhecimento teórico é um pouco irregular,” disse Ilsa com um suspiro teatral, e Zorian teve que se conter para não fazer uma careta. Isso era uma grande besteira! Ela lhe deu aquele segundo teste apenas para garantir que ele falhasse! “Aqui… vou lhe dar uma lista de leituras adicionais para estudar em seu tempo livre.”

Dois minutos depois, Zorian se viu praticamente sendo empurrado para fora da porta, com um pedaço de papel com anotações apressadas em sua mão. Ele olhou para a lista de títulos de livros, muito tentado a incinerá-la no ato. Ele deveria começar as variações do exercício de produção de chama, de qualquer forma. Mas ele não fez. Não seria derrotado tão facilmente! Se ele pôde sobreviver aos métodos de mentoria de Xvim até agora, ele definitivamente poderia ler alguns manuais teóricos. Ele voltaria. Ela poderia ter certeza disso.

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“Bom dia, irmão! Manhã, manhã, MANHÃ!!!”

“Bom dia, Kiri,” disse Zorian agradavelmente. “Obrigado por me acordar.”

Kirielle o encarou por alguns segundos e então bufou de desapontamento com sua falta de reação e se levantou sozinha. Bem, droga – ele deveria ter tentado isso há muito tempo.

“Você não é divertido,” ela o acusou.

Zorian simplesmente acenou com a cabeça em concordância.

“Mamãe quer conversar com você,” Kirielle disse. “Você poderia me mostrar um pouco de magia antes de ir, por favor? Pleeeeease?”

Bem… por que não? Ele rapidamente lançou o feitiço da ‘lanterna flutuante’, fazendo uma esfera de luz surgir acima de sua palma. Ele fez a esfera voar ao redor do quarto enquanto repetia o feitiço mais duas vezes, produzindo uma esfera de cor diferente a cada vez.

Os livros que Ilsa lhe disse para ler eram em sua maioria coisas entediantes, mas eles realmente lhe contaram algo bastante interessante. Todas aquelas variações que ele vinha praticando tinham mais usos do que apenas aprimorar suas habilidades de modelagem, aparentemente – elas também permitiam que ele ajustasse certos feitiços mais a seu gosto. A mesma variação do exercício que lhe permitiu produzir luz colorida também lhe permitiu mudar a cor da esfera brilhante produzida pelo feitiço da lanterna flutuante. Dominar um monte de exercícios relacionados à luz aparentemente também tornaria as invocações baseadas em luz mais poderosas e menos intensivas em mana, e o mesmo princípio se aplicava a outros grupos de feitiços também… como exercícios relacionados ao fogo melhorando invocações baseadas em fogo e calor, e exercícios de levitação aprimorando feitiços que dependem de forças telecinéticas. Ele ficou muito menos irritado por ter que passar por todos aqueles exercícios de modelagem quando descobriu isso. Droga, se eles eram tão úteis, ele provavelmente veria se conseguia encontrar mais deles quando acabasse os que estavam no livro de Ilsa.

“Mais! Mais!” Kiri exigiu.

Distrair Kiri com mais algumas esferas, Zorian escapuliu silenciosamente do quarto e foi ao banheiro antes que Kiri pudesse perceber o que estava acontecendo. Por que ela estava sempre tão determinada a chegar lá primeiro, de qualquer forma? Isso era horrivelmente mesquinho, mesmo para Kirielle. Ele teria que perguntar a ela em um dos reinícios.

Infelizmente, ele meio que esqueceu que encheu todo o seu quarto com esferas de luz multicoloridas quando Ilsa veio visitá-lo, então não pensou duas vezes em convidá-la para entrar em seu quarto. Ele apressadamente varreu a mão na frente de si, fazendo com que todas as esferas desaparecessem, mas era tarde demais – Isla já as havia visto e o olhava curiosa.

“Isso não é exatamente um feitiço de segundo ano,” comentou Ilsa, com os olhos fixos nos dele.

“Daimen pode ser um bom professor quando quer,” disse Zorian com um sorriso travesso, confiando sem vergonha na fama de Daimen para desviar qualquer preocupação. Ensinar feitiços de primeiro círculo como aquele a magos não certificados era ilegal, mas se Zorian aprendeu algo em sua vida, foi que Daimen pode sair impune de qualquer coisa.

“E você sabe como produzir algo além de luz branca,” observou Ilsa. “Impressionante. Acho que isso deve ser fácil para você, então.”

Ela lhe entregou um pergaminho muito familiar, e Zorian estava prestes a inundá-lo com mana para quebrar o selo quando percebeu que algo estava errado. Ilsa o estudava como uma águia, expectante e alerta. Ela nunca havia demonstrado tanto interesse em sua abertura de pergaminhos antes, então o que tornava este especial? Ele encarou o pergaminho por alguns segundos, incapaz de ver qualquer diferença em relação ao pergaminho que conhecia. Até mesmo os símbolos no selo eram os mesmos. Espera...

Alguns momentos depois, ele se lembrou de onde viu os símbolos inscritos no selo e sentiu vontade de bater a cabeça na parede ou algo assim. Como… por que… aqueles pequenos astutos…

Ele estava fazendo isso errado! Todo esse tempo, ele estava simplesmente despejando mana no selo para quebrá-lo, quando na verdade tinha que canalizar mana nele de maneiras muito específicas para poder removê-lo intacto! Estava escrito, bem no maldito selo! Exigia mais controle de mana do que simplesmente inundar o selo com mana, mas não era nada que ele não fosse capaz de fazer, mesmo antes do ciclo de tempo. Todo esse tempo ele pensou que os símbolos no selo eram puramente ornamentais, mas não, eles eram instruções. Instruções escritas em uma forma um tanto obscura, mas ainda assim. Como ele pôde ter perdido isso?

Ele direcionou sua mana para fluir ao longo das bordas do selo, fazendo com que ele se desprendesse sem resistência.

“Muito bem,” disse Ilsa com um sorriso. “Não são muitos os alunos que têm um domínio tão firme sobre sua magia nesta fase. Vejo que alguém está seguindo os passos de Daimen.”

Zorian sorriu de volta educadamente. Ele não deveria fazer careta, ele não deveria fazer careta…

“Infelizmente, estou um pouco apressada, então teremos que continuar essa conversa mais tarde,” disse Ilsa. “Visite-me em meu escritório quando chegar a Cyoria. Agora, sobre suas eletivas…”

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Ilsa o encarou. Ele a encarou de volta. Ela olhou para os dois testes completamente preenchidos em sua mesa e então voltou seu olhar para ele, desta vez com uma expressão especulativa. Zorian permaneceu em silêncio.

Na verdade, foi bom confundir alguém assim, decidiu Zorian. Aparentemente, Ilsa não era tão insensível em relação às habilidades improváveis quanto Xvim.

“Devo admitir, não esperava esse nível de conhecimento e habilidade de modelagem quando pedi que você viesse me ver,” disse Ilsa pensativamente. “Aquele segundo exame que lhe dei é o que aplico aos alunos no final do terceiro ano, e você errou apenas 2 das perguntas. Além disso, você conhece 10 variações diferentes das três básicas, o que é astronômico para um aluno do 3º ano.”

Ela bateu a caneta contra a mesa, perdida em pensamentos.

“Você pode estar um pouco avançado demais para o que pretendo ensinar seu grupo este ano,” finalmente admitiu Ilsa. “Minha aula é principalmente para garantir que os alunos não tenham buracos óbvios em suas habilidades de modelagem e conhecimento teórico, e para ensiná-los alguns feitiços diversos que são de utilidade geral para a maioria dos magos. Você está muito além disso. O que vou fazer com você?”

“Me transfira para longe de Xvim para que você possa ensinar um aluno tão promissor?” Zorian tentou.

Ela riu dele.

“Desculpe,” disse ela. “Você é bom, mas não tão bom. Além disso… você deve ter uma experiência mais fácil do que a maioria das cobranças do Xvim. Com suas incríveis habilidades de modelagem e tudo mais.”

“Você ficaria surpresa com o quão pouca diferença isso faz para ele,” suspirou Zorian.

“Ah, pelo amor de Deus, senhor Kazinski, você não teve uma única sessão com ele,” repreendeu Ilsa. “Tenho certeza de que os rumores que você ouviu foram muito exagerados.”

“Certo,” disse Zorian, incapaz de evitar revirar os olhos. “Você pode pelo menos me dar uma permissão por escrito para faltar às suas aulas? Você mesma disse que não tenho nada a aprender lá, de qualquer forma.”

Isso não era bem o que Zorian estava buscando, mas ele supôs que era melhor do que nada. Isso lhe daria um monte de períodos livres durante a semana, o que não era muito útil enquanto ele estava dentro do ciclo de tempo (onde ele poderia simplesmente faltar às aulas se precisasse de mais tempo livre), mas seria útil quando e se ele conseguisse sair dele. E além disso, uma permissão por escrito reduziria as reclamações de Akoja, se nada mais.

“Não,” disse Ilsa. “Preciso de você na aula, se apenas para motivar o resto de seus colegas a se esforçarem mais. Não se preocupe, eu me certificarei de que você não fique entediado durante a aula.”

Droga. Talvez ele não deveria ter pedido isso a ela…

“Enquanto isso, vou fazer um favor a você,” continuou Ilsa. “Embora eu esteja pessoalmente ocupada demais para ensiná-lo, vou ver se consigo encontrar um professor disposto a lhe dar instrução privada. Você tem alguma área de magia que esteja particularmente interessado? Pessoalmente, eu recomendaria que você olhasse para adivinhação ou alteração, mas a escolha é sua.”

“Fórmulas de feitiço,” disse Zorian firmemente.

“Oh? Ambicioso,” observou Ilsa. “É um assunto difícil. Não é algo que suas habilidades de modelagem possam ajudá-lo.”

“Estou certo,” confirmou Zorian. Fórmulas de feitiço o fascinaram desde que começou a aprender magia, então não havia como ele desperdiçar esse tipo de oportunidade.

“Muito bem,” disse Ilsa. “Não prevejo problemas, então. Tenho certeza de que a senhorita Boole ficará encantada em ter um aluno tão talentoso e determinado.”

‘Senhorita Boole’? Como em, Nora Boole, a maníaca de cabelo laranja que esperava que eles lessem 12 livros em uma semana e lhes dava testes de ‘progresso’ com 60 perguntas a cada duas aulas? Zorian conteve o impulso de suspirar. Por que ele não poderia ter um mentor normal, pelo menos uma vez?