Capítulo 63

Ryan teve que dar o braço a torcer para Hector Manada. Apesar de ser muito mais rico que Augustus, ele não demonstrava isso.

O CEO da Dynamis morava em um casarão de três andares feito de pedras amarelas, a uma curta distância da sede da empresa, ao norte de Nova Roma. A propriedade era grande, mas nada comparado ao Monte Augustus; o estilo arquitetônico lembrava a Ryan as propriedades do século XIX na América do Sul, embora Hector também tivesse reunido uma considerável coleção de artefatos mesoamericanos em seu jardim. Estátuas de deuses astecas ladeavam o caminho para a casa, como uma guarda particular. E, claro, a propriedade estava repleta de guardas de segurança privada armados com equipamentos de última geração.

Quando Ryan chegou, o helicóptero de Sunshine e Enrique já havia pousado no jardim. Os guardas de segurança verificaram o mensageiro, mas o deixaram passar sem problemas; aparentemente, os irmãos os haviam avisado previamente.

Alphonse Manada tinha se juntado ao irmão, ambos acompanhados por uma equipe de segurança de elite. Leonard Hargraves havia pousado na grama, embora, de alguma forma, não a tivesse incendiado mesmo em sua forma solar. Até Ryan havia se dado ao trabalho de trocar de roupa, já que a chuva ácida havia estragado o terno de cashmere. Não se enfrentava um chefe final sem estar apresentável.

Mas a cena rapidamente desapontou Ryan.

Hector Manada não estava levantando uma submetralhadora para morrer em um espetáculo de glória, estilo Scarface. Ele não parecia preocupado com a guerra urbana que ocorria a poucos distritos de sua casa. Na verdade, não parecia preocupado de forma alguma.

Hector Manada estava cuidando do jardim.

“Acho que isso é um assunto de família,” Ryan disse sarcasticamente, enquanto o mestre corporativo cuidava de um feio pé de rosa. As arrumações florais eram terríveis, o trabalho de um amador.

“Filhos.” Um homem gordinho com cabelo grisalho e um rosto que lembrava o de Pablo Escobar, Hector Manada trocou o terno por roupas brancas casuais e um chapéu de palha. Se Ryan não tivesse visto seu rosto antes, poderia ter confundido com um mero empregado. “Não esperava vocês. Especialmente não em uma…”

Seus olhos vagaram até Leo Hargraves. “Companhia brilhante.”

“Surpreso, pai?” Alphonse perguntou, seu tom desprovido de qualquer calor familiar.

“Sr. Manada,” Leo disse, sempre educado. “Faz tempo.”

“Não o suficiente, devo dizer,” respondeu o CEO, antes de finalmente notar Quicksave. “E quem você pode ser?”

“Oi, eu sou o Quicksave,” Ryan se apresentou. “Sou o cara que arruinou todos os seus planos malignos, mas não conte a ninguém.”

“Meus planos malignos?” o CEO respondeu com um sorriso forçado. “Não entendo.”

“Acho que você entende, pai,” Enrique disse, enquanto ajeitava a gravata. “Destruímos a Meta-Gang há uma hora.”

“Uma ação que eu não autorizei,” o CEO respondeu com uma carranca, antes de esquecer a existência de Ryan e olhar para Alphonse. “Nem me lembro de tê-lo chamado de volta a Nova Roma.”

“Você perdeu qualquer autoridade sobre mim quando nos traiu, pai,” Alphonse respondeu. “Você queria tanto se manter no poder que preferiria clonar a si mesmo do que nos deixar herdar?”

“Clonar a mim mesmo?” Hector Manada fingiu ignorância.

“Temos o Psyshock sob custódia, pai,” Enrique disse. “Ele admitiu tudo. Desde seu acordo secreto com Adam, o Ogro, até seu projeto de transferência de mente.”

Ryan sabia que era provavelmente uma bravata, considerando a linha do tempo dos eventos, mas funcionou como um charme. “É mesmo?” Hector perguntou, olhando para os soldados que acompanhavam seus filhos. O mensageiro podia quase ver as engrenagens girando na cabeça do CEO enquanto ele pesava suas opções.

“Temos gravações, técnicos capturados, provas de transações monetárias,” Enrique continuou. “Você sabia que a Meta-Gang havia descoberto uma base Mechron sob Rust Town?”

Embora rapidamente corrigisse a expressão, o breve olhar de genuína surpresa do CEO disse a Ryan que não, ele não sabia. Como o mensageiro havia adivinhado, a Meta-Gang planejava traí-lo desde o início; pegar os Elixires da Dynamis, até que pudessem derrubar a empresa com a artilharia dos Mechron.

“Então você era um traidor e um tolo,” Alphonse Manada disse, com um grunhido de desgosto. Ele também havia notado o olhar de surpresa. “Você nos despreza tanto assim?”

“Pode me culpar, Alphonse?” Hector respondeu com um sorriso desdenhoso. “Às vezes me pergunto se vocês vieram de mim. Você e Augustus teriam transformado a Itália em um campo de batalha sangrento se eu não os tivesse enviado embora.”

“Então, ao invés disso, você enviou Psychos para travar guerra por você?” Enrique perguntou, balançando a cabeça. “Ainda me lembro do que você me disse quando recebi Felix Veran em nosso grupo. ‘Não balançar o barco.’”

“A influência de Augustus precisa ser contida, mas não podemos nos dar ao luxo de um confronto direto,” Hector retrucou. “Não temos meios de nos livrarmos dele permanentemente.”

“Nós temos,” Alphonse disse com confiança. “A Gravity Gun.”

“Sua obsessão por armas milagrosas será sua ruína,” Hector criticou seu filho. “Se a sua falhar, teremos um louco invencível em nossas mãos, sem nada a perder.”

“Augustus nunca estará satisfeito,” Leonard Hargraves interrompeu a conversa. “Ele quer nada menos que domínio total sobre a Europa.”

“As ilusões de grandeza dele não significam nada,” Hector zombou. “Você não o conhece como eu, Hargraves.”

Sunshine bufou. “Eu venho lutando contra Augustus muito antes de você chegar à Itália, Sr. Manada. Eu o conheço bem.”

“Não, Hargraves, porque se você realmente o conhecesse, teria compreendido uma verdade simples. Com todo o seu poder, Augustus poderia ter se estabelecido como um deus-rei, escrito leis, mas o que ele faz? Venda de drogas, lavagem de dinheiro, corrupção de infraestruturas existentes. No final do dia, Augustus é apenas um gangster com câncer, e é tudo o que ele sempre será.” O CEO balançou a cabeça em frustração. “Você não vê que, para vencer, só precisamos sobreviver a ele? Deixar a natureza fazer seu trabalho.”

“E deixar inúmeros sofrerem no meio tempo?” Sunshine respondeu. “Pressupondo que a próxima geração de Augusti não seja feita do mesmo pano?”

“Bem, para ser honesto—” Ryan levantou a mão para falar em nome de Livia.

“Os adultos estão conversando, Quicksave,” Alphonse o interrompeu.

“Então por que você está aqui?” Ryan respondeu com um tom zombeteiro, sendo muito, muito mais velho que o VP. O ciborgue alimentado a núcleo nuclear o encarou, mas o mensageiro não estava nem um pouco intimidado.

“Chega,” Enrique disse, com um leve tom de frustração em sua voz.

“E você realmente é tão diferente assim, pai?” Alphonse perguntou sarcasticamente.

A expressão de Hector se transformou em pura repugnância. “Você se atreve a me comparar a Augustus, meu filho? Não sou um santo, confesso, mas não ando por aí matando pessoas que nunca me fizeram mal.”

“Você nos criou para acreditar que a Dynamis tinha uma missão. Reconstruir uma civilização melhor, baseada na livre concorrência, na regra da lei e na liberdade individual.” A voz de Alphonse se tornou amarga. “Uma que não repetiria os erros das nações pré-guerra. No entanto, tudo o que você fez foi repetir os padrões do passado e manter um status quo inadequado para a humanidade. Um que beneficia Augustus.”

Ryan percebeu que já havia encontrado o tipo de Fallout em outros lugares. Idealistas desapontados.

E enquanto ouvia o discurso do homem, não pôde deixar de ser lembrado da própria situação de Livia. Assim como ela, os Manada eram filhos discordando da rígida e podre visão de mundo de seu pai. Ao contrário de Livia, que não conseguia escapar da influência de Augustus, os irmãos Manada decidiram se rebelar.

Mas funcionaria?

“Esse status quo inadequado, como você chama, é o único que temos,” Hector respondeu com raiva. “Joguei com as cartas que me foram dadas.”

“Quaisquer que sejam suas razões, você conspirou com a Meta-Gang, forneceu recursos da empresa a eles e, voluntária ou não, quase permitiu que Adam, o Ogro, colocasse as mãos na tecnologia Mechron,” Enrique apontou. “Não podemos deixar isso passar, e nem a Diretoria.”

“Eu sou a Diretoria,” Hector respondeu com uma carranca.

Ryan não conseguiu resistir. “Ainda não!”

“Alphonse e eu temos ações suficientes para forçar uma votação, e você sabe que a Diretoria e outras corporações votarão pela sua aposentadoria,” Enrique disse. “Temos provas demais, e eles não podem ser vistos cooperando com Psychos. Nossa imagem e reputação são nossa armadura, mas também são nossas fraquezas.”

“E, mais importante, temos o exército,” Alphonse afirmou o óbvio. “Não pense que você pode impedir o que está por vir.”

A carranca de Hector se aprofundou. “Você me prejudicaria, meu filho? Seu próprio pai?”

“Depois do que você fez? Do que planejou fazer?” Alphonse perguntou, abaixando a cabeça para olhar nos olhos do pai. “Sim, eu faria.”

Hector manteve o olhar por um momento, antes de olhar para seu outro filho. “Et tu, Enrique? Você sabe o que seu irmão fará se herdar meu cargo?”

“Sim,” Enrique respondeu, “mas lidar com Psychos não será uma das coisas.”

“Muito bem dito, irmão,” Alphonse acrescentou. “Enrique será meu vice-presidente, e vamos limpar sua bagunça. Vamos reconfigurar a Dynamis no que deveria ter sido. Um farol que reconstruirá a civilização, uma sem Psychos e, certamente, sem Augustus. Você pode ter falhado no sonho, pai, mas nós não falharemos.”

“Venha conosco, Sr. Manada.” Sunshine aumentou brevemente o calor ao seu redor. “Eu prometo que você não será ferido e terá direito a uma audiência justa.”

“Saia pela porta da frente, pai,” Enrique implorou, antes de olhar para Alphonse. “Ou então… terá que ser do outro jeito.”

Por um longo e agonizante momento, o CEO da Dynamis não disse nada. Ele olhou lentamente para seus filhos, depois para Leonard, e finalmente para os membros de Segurança Privada que os respaldavam. Seja por medo de Alphonse Manada, desgosto ou oportunismo, nenhum deles se moveu para proteger seu empregador.

Parecia que, na Dynamis, o poder mudava de mãos rapidamente.

Eventualmente, embora Ryan estivesse preparado para uma briga, Hector Manada ofereceu as mãos em rendição. “Vocês nos condenam a todos, tolos.”

“É uma nova era para a Dynamis, pai,” Alphonse Manada declarou. Ele parecia bastante satisfeito consigo mesmo. “Uma que já estava atrasada.”

“Depois de mim, o dilúvio,” Hector Manada profetizou com dignidade silenciosa, enquanto os soldados o seguravam pelos braços.

Quando Ryan olhou para o imponente Alphonse, que observava seu pai sendo levado, o viajante do tempo percebeu que talvez tivesse colocado alguém muito mais perigoso no comando da Dynamis. “É isso?” o mensageiro perguntou a Enrique. “Depois de tudo o que ele fez, vocês apenas resolveram na conversa?”

“Você esperava uma chuva de balas, talvez?” o gerente de Il Migliore respondeu secamente. “Ao contrário de Augustus, não atiramos em todos os nossos problemas. Meu pai é muitas coisas, mas um fanático não é uma delas. Ele preferiria se aposentá-lo à força do que morrer por nada.”

“Então… o que, você vai aprisioná-lo em uma ilha particular, estilo Napoleão?”

“Mais ou menos. Se tudo correr como esperado, seus ativos serão confiscados, ele será cercado pelas pessoas de Alphonse e será mantido longe de qualquer forma de poder.” Enrique olhou para Ryan com desaprovação. “Isso é o que nós adultos chamamos de diplomacia, Romano. É chato, mas geralmente nos poupa de um grande derramamento de sangue.”

Era... era bom. Ryan esperava que a mudança de poder terminasse em violência, porque era tudo o que ele conhecia.

“Se ao menos mais vilões fossem razoáveis,” Leo Hargraves lamentou. “Então, acabou. Agora, precisamos decidir o que fazer com o bunker.”

“Não ainda, Hargraves,” Alphonse disse. “Haverá uma transição de poder, e eu gostaria que você nos ajudasse com isso. Eu pagarei por seus serviços.”

“Não trabalhamos por dinheiro, Fallout.”

“Você me entende mal,” o ciborgue respondeu com um toque de diversão. “Nossos objetivos são os mesmos. Ambos queremos que Augustus seja arrastado de seu trono. Agora que meu pai foi lidado, é hora de focarmos no verdadeiro inimigo.”

O Sol Vivo cruzou os braços, a oportunidade era grande demais para ser ignorada. “Estou ouvindo.”

“Não aqui.” Alphonse olhou para Ryan em seguida. “E eu já tive o suficiente do seu desrespeito flagrante, Quicksave. Você fez seu trabalho, mas é só isso. Vá embora.”

“Te amo também, Nagasaki,” Ryan respondeu e se preparou para sair, tendo cumprido o que se propôs a fazer. Além disso, ficar muito tempo na companhia de Alphonse Manada provavelmente lhe daria câncer.

“Ryan.” Ao contrário de Fallout, Sunshine se curvou respeitosamente ao viajante do tempo. “Há algo que preciso te pedir—”

“Desculpe, Sunshine, não vou entrar no seu circo,” Ryan o cortou. “Sangue ruim demais.”

“Eu já esperava isso,” Leo disse com um suspiro. “Ainda assim, em nome do Carnaval, não, de toda Nova Roma... obrigado. A maioria das pessoas não saberá, mas suas ações salvaram inúmeras vidas. Os livros de história podem não mencionar você, mas nós não esqueceremos.”

“Não faça promessas que não pode cumprir,” Ryan respondeu com um encolher de ombros. “Mas... obrigado.”

Aquele paladino brilhante era nobre demais para ser desprezado.

Enquanto Ryan teria deixado a propriedade Manada por conta própria, Enrique decidiu pessoalmente acompanhá-lo até seu carro. “Isso não é o fim, é?” o mensageiro perguntou a Blackthorn. Não parecia um fim de forma alguma. “É apenas o começo.”

“Don Hector não estava errado. Esta é a calmaria antes da tempestade, Romano. Meu irmão está no comando, e ele não é tão... sutil quanto nosso pai. Se Augustus não souber que cooperamos com Hargraves, ele vai descobrir em breve. E mesmo que tenha sofrido danos pesados, aquela base abaixo de Rust Town contém um tesouro de tecnologia, e precisamos decidir o que fazer com isso.”

“Acho que derrubar seu pai foi a parte fácil,” Ryan refletiu, seu humor mudando de curioso para levemente deprimido. “Não sei como me sentir sobre isso.”

“Vi sua reação ao discurso do meu irmão,” Enrique disse. “Você parecia... incomodado.”

Perspicaz. “Quando tentei derrubar o controle da minha ‘figura paterna’ sobre mim, terminou com a morte dele,” Ryan respondeu, seus pensamentos se voltando para Len e Bloodstream. “E mesmo morto, sua influência ainda retém um amigo. Então, quando olhei para vocês dois... não pude deixar de me perguntar o que poderia ter sido.”

Enrique não disse nada, e por isso o mensageiro ficou agradecido. No entanto, quando Ryan colocou a mão na porta de seu Plymouth Fury, Blackthorn se colocou bem na sua frente. “Você não vai embora ainda,” declarou o novo VP da Dynamis. “Eu lhe disse que teríamos uma conversa, Romano. Estamos tendo agora.”

“O que há para dizer? Embora se for sobre aulas de jardinagem, acho que você pode marcar um horário.”

“Temos muitas coisas a discutir,” Enrique disse enquanto cruzava os braços. “Sei que sua irmã estava no bunker durante o ataque. Um dos membros da Meta-Gang foi encontrado preso em uma bolha, e os aposentos do Psyshock foram saqueados. E o mais curioso de tudo, nossos homens não conseguiram encontrar a tecnologia de escaneamento cerebral que nosso pai lhe emprestou.”

“Acho que você deveria contratar pessoas melhores para fazer seu trabalho de campo, Sr. Nepotismo.”

“Eu me perguntei quais eram suas intenções nisso, mas agora entendo,” Enrique disse, ignorando a alfinetada. “Você estava atrás dessa tecnologia desde o começo. Todo esse exercício foi uma distração.”

“Na verdade, não.” Os pensamentos de Ryan se voltaram para Jasmine. “Se eu te dissesse que a Meta-Gang causou a morte permanente de alguém que eu me importava, você acreditaria?”

“Morte permanente?” Enrique notou a escolha estranha de palavras, mas Ryan não o esclareceu. “As pessoas também disseram que você esteve jantando com Livia Augusti e Fortuna Veran, e você aparentemente trouxe a última para casa. Testemunhas disseram que a cena parecia... íntima.”

“Estou colocando um ponto final nos rumores aqui mesmo,” Ryan disse, imediatamente percebendo o perigo. “Fortuna Veran não é minha namorada. Tenho padrões.”

“Duvido disso,” Enrique respondeu secamente. “Eles também me contaram que uma pessoa que corresponde à descrição do assassino Augusti Mortimer veio te salvar contra a Chuva Ácida. Você precisa entender que estou... suspeitando sobre suas verdadeiras lealdades.”

O mensageiro deu de ombros. “Não tenho lealdades a nenhuma facção. Sou um curinga.”

“Então você não acredita em nada? Pensava que você era um homem melhor do que isso.”

“Ah, você se importa?”

Para surpresa de Ryan, parecia que Blackthorn realmente se importava. “Por todas as suas falhas, Romano, você é um Genoma competente com grande potencial. Eu não teria lhe dado a hora do dia se não acreditasse nisso. Você é um lutador poderoso, um estrategista habilidoso e incrivelmente engenhoso. Eu tremo ao pensar no que você poderia alcançar se conseguisse olhar além da auto-satisfação infantil.”

Ryan não tinha certeza se aquilo era um elogio ou uma crítica. Provavelmente ambos. “Eu poderia retribuir o sentimento,” ele disse. “Esperava que você fosse muito mais impiedoso, mas... você parece bastante honrado e bem-intencionado por trás da superfície. Você poderia fazer muito mais pelo mundo fora da Dynamis.”

“Você está errado,” Enrique respondeu. “Por conta própria, os humanos só podem fazer tanto. Conquistamos o planeta sacrificando nossa individualidade por força coletiva. Embora não compartilhe seus métodos, concordo com a declaração de missão do meu irmão. A Dynamis pode não sempre mudar o mundo para melhor, mas pode.”

“Depois de ver Rust Town, duvido um pouco disso,” Ryan respondeu, antes de sorrir por trás da máscara. “Mas sou um otimista. As pessoas podem mudar.”

Mesmo que houvesse consequências não intencionais, a derrota da Meta-Gang havia colocado o viajante do tempo em um humor alegre. Depois de toda a escuridão da corrida anterior que falhou, esse ciclo provou que ele poderia mudar as coisas.

“Eu não confio em você, Romano. Você é imprevisível, leal a ninguém e provavelmente o indivíduo mais perigoso que conheci, a não ser por Augustus.”

“Obrigado, Mão Verde.”

Enrique colocou as mãos nos bolsos da calça, a imagem perfeita da confiança corporativa. “No entanto, você provavelmente evitou um desastre e salvou a Dynamis, de uma forma indireta. Então... enquanto eu odeio usar o termo, vou fechar os olhos desta vez. Você não é mais bem-vindo em Il Migliore, no entanto; não posso ignorar seus laços com os Augusti. Pelo menos Felix queimou essa ponte.”

“Tudo bem, eu aceitei o trabalho para fazer uma coisa, e ela está acabada.” Ryan apontou um dedo para o gerente. “Estou mantendo todos os meus direitos sobre a mercadoria, no entanto. Não se atreva a vender miniaturas do Quicksave.”

“Farei o meu melhor para esquecer que você existe.”

“Eu retribuo o sentimento. Ainda vou visitar minha equipe no hospital, no entanto. Aviso: se você tentar me impedir, você falhará.”

“Aqui está o que vai acontecer, Romano. Vou permitir que você se despeça de seus colegas sem ser incomodado, e vou te enviar uma compensação generosa por seus serviços.” Blackthorn fixou os olhos em Ryan através de suas respectivas máscaras. “Mas depois disso, você e sua irmã vão embora.”

“Ir para onde?”

“Para qualquer lugar, bem longe de Nova Roma,” Enrique disse. “Ele estará ocupado com a transição nos próximos dias, mas assim que sua posição estiver segura, meu irmão vai caçar vocês dois. Eu o conheço. Suas lealdades são muito duvidosas, seus laços com os Augusti muito suspeitos, e sua irmã muito importante.”

Ryan entendeu que os Manada poderiam querer que ele sumisse agora que havia ultrapassado sua utilidade, mas Shortie? Por que estavam tão interessados nela? “O que você não está me contando, Jardineiro Verde?”

Enrique permaneceu em silêncio por alguns segundos, seu corpo tão imóvel que o mensageiro pensou que ele poderia ter se transformado em uma estátua. “Eu deixei Len Sabino ir uma vez,” ele finalmente admitiu. “Mas não posso protegê-la para sempre. Alphonse conhece a localização da base dela, e pode acessá-la se assim o escolher. Leve tudo o que puder carregar e vá.”

O tom de Ryan se tornou perigoso. “Isso é uma ameaça, Mão Verde? Porque, como a Meta-Gang pode atestar, sou muito eficaz em matar ervas daninhas. Seu irmão não será a primeira arma nuclear que farei explodir.”

“Não, Romano, isso não é uma ameaça. É um aviso. Estranho como pode parecer para você, eu não guardo mágoa contra você ou sua família.” Blackthorn levantou a manga para olhar as horas em seu relógio. “Preciso ir agora. Embora tenha a sensação de que nos encontraremos novamente.”

E Ryan sentiu que seria em circunstâncias muito menos amigáveis.

Ryan estava a meio caminho do porto quando recebeu uma ligação em seu celular.

“Livia?” ele perguntou ao atender.

“Ryan,” ela respondeu do outro lado da linha, uma ponta de preocupação rompendo sua compostura. “Como está Felix?”

“Vivo, mas ferido,” o mensageiro respondeu. Livia suspirou aliviada do outro lado da linha. “Ele vai se recuperar, mas não estão permitindo visitas ainda. Eu tentei.”

“Está... está tudo bem, estou feliz que ele esteja vivo. Não informei as irmãs dele ainda. Eu...” Livia engoliu em seco, “temia uma resposta diferente.”

“Eu não teria deixado ele morrer,” Ryan respondeu. Ou melhor, ele teria recarregado depois. “Obrigado por enviar o Sr. Passe-Muraille. Ele não ajudou muito, mas é a intenção que conta. Acho que você me ouviu.”

“Sobre como não éramos inimigos?” Livia fez uma breve pausa antes de continuar. “Espero não me arrepender de confiar em você. Você trabalha com o inimigo da minha família.”

“Bem, se isso te tranquilizar, acabei de ser demitido.”

Ela imediatamente aproveitou a oportunidade. “Talvez você considere um emprego conosco então? Os Killer Seven estão precisando de um membro Violeta.”

“Desculpe, princesa, vou continuar sendo um espírito livre por um tempo,” Ryan respondeu, ao chegar ao porto. “Não tenho certeza se minha presença ainda é necessária. Tenho a sensação de que a Dynamis vai atacar sua fábrica de drogas mesmo sem minha influência.”

“A reação do meu pai será diferente se a Dynamis fizer isso, em vez de um partido desconhecido. Mas podemos discutir isso quando a situação ficar mais clara. Quando você acha que Felix pode receber visitas?”

“Serei honesto. Não sei, e não tenho certeza se você poderá visitar Atom Kitten.”

O tom dela endureceu. “Você acha que a Dynamis vai nos impedir o acesso?”

“Não, eu acho que Felix não vai querer ver você ou a família dele.” Sem resposta. “Ei, você sempre pode tentar. Se eu estiver certo, posso levar uma mensagem se você quiser.”

A princesa da máfia ficou completamente em silêncio. Embora ele tivesse dito apenas a verdade, Ryan se arrependeu da sua franqueza. Por um segundo, ele esqueceu quão emocionalmente frágil a mulher realmente era, por trás de sua fachada gelada. “Livia?”

“Você já amou alguém?” Ela perguntou de repente. “Não um romance passageiro, mas um amor verdadeiro? A ponto de, mesmo sabendo que acabou, você ainda se apegar a qualquer esperança de que as coisas possam mudar?”

“Não sou realmente o melhor conselheiro sobre o assunto,” Ryan disse tristemente, ao notar a batisfera de Len perto dos antigos píeres. “Vim para Nova Roma atrás de um fantasma.”

“Então você entende,” ela disse com uma risada triste, antes de reunir a respiração. “Você viveu por séculos. Não tem sabedoria a oferecer?”

“As coisas podem mudar,” o mensageiro admitiu, antes de considerar isso cuidadosamente. “Mas às vezes, é melhor aprender a deixar ir. Caso contrário, você vai se machucar. Algumas feridas nunca cicatrizam, e você tem que viver com elas.”

Livia parecia ver a sabedoria em suas palavras, mas não a apreciou. “Obrigada pelas suas respostas, Ryan.”

“De nada,” o viajante do tempo respondeu, antes de cair em silêncio. Seus pensamentos se voltaram para o encontro com a Dynamis.

“Ryan?”

“Os Manada derrubaram o pai deles,” Ryan disse do nada. “Eles... conversaram e o forçaram a se aposentar. Agora pretendem reformar a Dynamis em algo melhor do que antes.”

Ele não precisou se aprofundar. Livia provavelmente poderia ver os paralelos com sua própria situação, com uma grande diferença. “Meu pai não vai se render com dignidade, Ryan.”

Não, provavelmente não. O tom dela, cheio de arrependimento, era de partir o coração.

“Eu vou recuperar meu gato,” Ryan disse, mudando de assunto. “O tipo peludo.”

“Acho que posso arranjar isso,” ela respondeu com uma risada, embora sem alegria. “Adeus, Ryan.”

“Adeus, princesa,” ele disse antes de desligar e estacionar seu carro.

Enrique e Alphonse conseguiram se libertar do controle do pai. Então, por que Ryan não conseguia ajudar Len e Livia a fazer o mesmo? Bloodstream estava morto há muito tempo, e Augustus, por todo seu poder esmagador, não conseguia superar um mero tumor.

“Não,” o mensageiro murmurou para si mesmo. “Não posso deixar que eles vençam.”

Ele não podia deixar as coisas terminarem assim. Não de novo.

Nunca mais.

Ele afastou esses pensamentos e saiu do carro. Len o esperava à beira-mar, vestida com uma armadura completa, duas batisferas flutuando no mar próximo; ela carregava um dispositivo nas mãos. Um capacete de metal cinza com pilones saindo da frente e um plugue na parte de trás. A Dynamis não havia impresso seu logo nele, provavelmente para evitar ser ligada à Meta-Gang caso o dispositivo fosse encontrado.

“É decepcionante,” Ryan disse ao se juntar à amiga. “Esperava algo mais complexo.”

“É apenas uma pequena parte,” Len respondeu com um sorriso genuíno. A mera visão fez Ryan esquecer todas as suas preocupações por um breve instante. “Eu movi o resto para a sua casa.”

Sua casa.

Palavras tão simples, e ainda assim tão poderosas. “Então, você estava falando sério?” Ryan perguntou. “Está tudo bem para você eu me mudar para seu paraíso subaquático?”

“Sim, estou,” ela disse com um aceno, seu sorriso vacilando. “Acabou, certo? Você não... você não deve mais nada à Dynamis.”

“Não, e de qualquer forma fui demitido.” Ryan sentiria falta do condomínio e roubaria um terno de cashmere como lembrança. “Estou oficialmente sem-teto novamente.”

Len considerou suas palavras por um segundo, mas elas vieram rapidamente e firmemente. “Não, Riri. Não, você não está sem-teto.”

O coração de Ryan pulou uma batida por um momento, e ele teve que olhar para o mar para esconder sua inquietação. Era... maravilhoso saber que Len queria que ele voltasse para a vida dela. Mesmo que seu relacionamento adolescente tivesse falecido há muito tempo, ela estava ao lado de Ryan e ele estava ao lado dela.

E com essa tecnologia, talvez seus dias solitários finalmente chegassem ao fim. “Você acha que pode funcionar?” Ryan perguntou em busca de confirmação, orando para não ser decepcionado novamente.

“Vamos precisar de tempo, mas... talvez,” Len disse com um sorriso, talvez a primeira vez que ela mostrou um pouco de otimismo em muito, muito tempo. “Nós... vamos precisar extrair o cronorrádio do seu carro, no entanto. Eu tenho, hum, um submarino maior. Para trazê-lo para debaixo do mar.”

Uma garagem subaquática. Maravilhoso.

“Sinceramente, se esse ciclo não terminar com meu Plymouth Fury ganhando um modo subaquático, vou ficar muito decepcionado,” Ryan refletiu, antes de um pensamento mais sombrio cruzar sua mente. “Mas talvez tenhamos que nos mudar para outro local. A Dynamis não vai deixar sua base em paz por muito tempo.”

“Eles não vão nos deixar em paz?” O rosto doce dela se transformou em uma carranca de raiva. “Eu deveria ter sabido. Eles nunca estarão satisfeitos.”

“Não entendo por que estão tão interessados em você, no entanto,” o mensageiro admitiu. “Sim, você atacou uma fábrica, mas isso é insignificante comparado aos Augusti e à Meta-Gang.”

“E no final, não custou a eles nada.” Len suspirou, como se revivesse sua rebelião juvenil fracassada. “Não sei, Riri... acho que o que não conseguem controlar, eles destroem.”

Não. Ryan sentiu que algo maior estava em jogo, e isso o incomodava. “O que eles fizeram quando te capturaram pela primeira vez? Quais perguntas eles fizeram?”

“Eu não... não me lembro de muito,” ela admitiu. “A primeira coisa que fizeram foi me forçar a fazer um teste de DNA e pegar uma amostra de sangue. Depois... nada de notável. Um discurso de vendas.”

“Uma amostra de sangue, você disse?” Por que uma amostra de sangue, de todas as coisas?

E então tudo se encaixou.

Memórias inundaram a mente de Ryan, e ele os viu de repente sob uma nova luz.

“Laboratório Sessenta e Seis.”

“Enrique deveria supervisionar toda a operação do Elixir ao invés de Il Migliore. Ele visitou o laboratório por duas horas e imediatamente pediu uma transferência depois.”

“Se você me perguntar, há algo realmente suspeito sobre as cópias; mesmo os cientistas de Augustus nunca encontraram uma maneira de copiá-los.”

“A Dynamis mantém o Underdiver sob vigilância rigorosa.”

“Você a deixou ir?”

“Era como se estivéssemos nos primeiros dias novamente.”

“Eu não conseguia fazer Elixires. O que eu fiz foi sintetizar um recurso específico que imitava as propriedades de um verdadeiro Elixir.”

“Uma pena, eu adoraria comparar amostras de vários parentes de Genoma.”

“Vários parentes de Genoma.”

“Parentes de Genoma.”

Parentes.

“Len?” Ryan perguntou, uma dúvida terrível se infiltrando em sua mente. “Quando a Dynamis começou a produzir seus Elixires falsificados? Você sabe a data exata?”

“Uh... não tenho certeza, acho... acho que eles tinham alguns em desenvolvimento, mas só começaram a inundar o mercado há três anos ou mais...”

Shortie fechou a boca, e Ryan instantaneamente se arrependeu de ter feito aquela pergunta. Ela era inteligente. Ela também havia percebido.

“É impossível,” o mensageiro disse imediatamente. “Não pode ser isso.”

“Mas isso faria sentido!” Len protestou, emoção genuína rompendo sua voz monótona. “Explicaria tudo. Isso—”

“Len, seu pai está morto.” A Gênio estremeceu, enquanto o tom de Ryan se tornava mortalmente sério. “Sunshine o queimou até virar cinzas. Eu vi com meus próprios olhos. Ele se foi.”

“Mas se um de seus clones...” Len fixou os olhos no velho amigo. “Você sabe que é possível, Riri. Você só não quer que seja.”

Não, ele não queria. Ryan queria pensar que aquele pesadelo havia acabado. Que Bloodstream estava morto e enterrado, e não poderia mais prejudicar nenhum de seus filhos, adotados ou não.

Mas Len nunca havia realmente acordado.

“Riri, eu... eu confiei em você, mesmo depois de tudo que nós... eu... eu matei por você, Riri. Eu confiei em suas palavras, dei-lhe uma segunda chance. Eu... eu estou disposta a recomeçar.” Ela reuniu a respiração, lutando para encontrar suas palavras. “Eu só... eu só quero ter um fechamento, Riri. Quero saber. Se for... se estivermos errados, podemos seguir em frente. Mas precisamos disso. Precisamos conferir.”

“Mas se nossa intuição estiver certa?” Ryan perguntou. “O que você fará? O que faremos?”

Len mordeu o lábio inferior e olhou para os pés sem dizer uma palavra.

“Eu só...” Ryan reuniu a respiração, enquanto pensava nas próximas palavras. “Eu só quero que você seja livre, Len. Quero que você se liberte dele. Exorcizar seu fantasma, para que ele não te assombre mais. Você...”

Ele hesitou. “Diga isso,” Len disse, sem olhar para cima.

“Você me lembra um passarinho em uma jaula, Len,” Ryan admitiu. “Você poderia estar sorrindo e brilhando como o sol. Poderia voar para longe. A jaula está aberta. Mas você tem medo de que ele feche a porta enquanto você tenta escapar. Ninguém vai tirar sua liberdade... mas você ainda tem medo.”

Len olhou de volta para o amigo mais uma vez. “Ryan,” ela disse com um olhar firme. Não Riri. “É exatamente por isso que não vou ceder. Preciso saber. Eu... eu preciso saber. Para ter um fechamento.”

Ryan queria argumentar mais, mas podia ver em seu olhar que era inútil. Ela não mudaria de ideia.

E a pior parte? Embora odiasse admitir isso... ele também precisava ter certeza.

“Laboratório Sessenta e Seis,” murmurou o mensageiro para si mesmo.