Reformation of the Deadbeat Noble

Capítulo 404

Reformation of the Deadbeat Noble

História Paralela – 4 O Caminho da Independência

Eratria, uma cidade ao sul do continente, tinha fama de ser um lugar perigoso, mas também era considerada relativamente decente para viver, segundo os padrões do Sul. A existência de um orfanato servia de prova disso. No Sul, uma criança que perdesse os pais enfrentava uma morte rápida ou uma vida de servidão.

Até Elena sentiu um calor no peito ao ver a placa com o nome ‘Orfanato do Amor’.

Pessoas que usam seu próprio dinheiro suado para cuidar de crianças abandonadas, como devem ser maravilhosas. As crianças também pareciam animadas. As roupas estavam bem gastas, mas… suponho que a falta de fundos seja inevitável.

“Muito bem. Já decidi. Vou retribuir essa bondade com certeza. Vou aperfeiçoar minha esgrima a qualquer custo, me tornar mercenária, ganhar dinheiro, e… vou transformar esse Orfanato do Amor no orfanato mais renomado de todo o continente!”

No entanto, a grande ambição de Elena se dissolveu em menos de uma hora após pôr os pés no orfanato.

— Como é? Não há adultos aqui?

— Correto. Não há adultos no Orfanato do Amor.

— Então… como…?

— Bem, costumava haver um homem careca de temperamento horrível que era o diretor… mas ele faleceu.

— Oh, me perdoe pelas perguntas insensíveis…

— Não, tudo bem. Na verdade, é melhor assim. Muito melhor.

— Como é?

— Não é algo com que você precise se preocupar. De qualquer forma, não há adultos para cuidar de nós. Por isso, temos que assumir a responsabilidade por nossas próprias vidas. No entanto, como você provavelmente ainda está desorientada, vamos deixar você observar por alguns dias. Assim poderá ver como o orfanato funciona.

— C-Certo… Entendi.

— Está tarde, então é melhor descansar. Esperamos que fique bem entre nós.

A conversa a deixou completamente confusa. “Um orfanato sem adultos? E mais importante, eles estão felizes que o diretor morreu? Será que entrei sem querer em um lugar bizarro?”

Enquanto esses pensamentos giravam em sua mente, Elena procurou um lugar para dormir. A criança que a guiava parecia estranhamente familiar.

— Ah, você é…

— Sim, eu sou Kron, o destinado a se tornar o maior espadachim do continente.

— Aham, entendi…

— Aliás, nunca fale sobre adultos por aqui, especialmente o diretor. Entendido?

— Hã? Por quê?

— Porque aquele canalha tentou vender uma menina para um bordel.

— Ela…?

— Agora entende? Este lugar não é fácil de sobreviver. Fique esperta, ganhe seu próprio sustento, não chore só porque foi abandonada e vá dormir cedo, entendeu?

Apesar do sarcasmo afiado de Kron, Elena ficou sem palavras.

Era tudo muito além do que jamais imaginou. Um diretor que explorava os órfãos. As próprias crianças, adaptadas a condições tão duras desde tenra idade… Os dormitórios caindo aos pedaços e apertados combinavam perfeitamente com essas circunstâncias extremas, tudo fazia parte de um mundo que Elena nunca sequer concebeu.

— Aqui, pode ficar com meu cobertor.

— O quê? Mas e você…?

— Vou ficar bem. Um verdadeiro espadachim não precisa dessas frescuras.

Até mesmo cobertores velhos e rasgados eram escassos. Elena viu Kron se afastar após lhe entregar o cobertor. Observou as crianças bem pequenas, que deviam ter uns seis ou sete anos, já dormindo…

— Isso é muito diferente de tudo o que imaginei.

Sua mente se encheu de pensamentos mais uma vez. Mas felizmente, a exaustão tomou conta após tantos acontecimentos naquele dia.

“Sim… é melhor dormir cedo.”

Ela precisava aproveitar ao máximo o prazo de um mês e evitar dormir demais, como Kron alertara. Não podia se tornar um peso para o orfanato. Depois de alguns minutos, Elena se rendeu ao sono e fechou os olhos.

E assim se encerrava sua primeira noite no sul do continente.


Dois dias se passaram. Durante esse tempo, Elena, fiel às palavras de Jenny, a irmã mais velha do orfanato, se integrou silenciosamente ao ritmo diário do local. Ela até tentou ajudar, mas quebrou duas louças enquanto lavava e não teve coragem de tentar de novo.

Ao ver Kron e outra criança dividindo um único prato por culpa dela, ficou ainda mais desanimada. A partir daí, decidiu observar a rotina de Jenny com cautela. Foi então que compreendeu: mesmo aquele orfanato extremamente pobre conseguia funcionar graças à dedicação extraordinária de Jenny.

“Quando essa garota encontra tempo pra dormir?”

Elena geralmente acordava ao romper da aurora, às 5 da manhã, para ser preciso. Embora não pudesse treinar devido às suas circunstâncias atuais, não havia real necessidade de se levantar tão cedo. Mas velhos hábitos custam a morrer, e ela se via acordando no mesmo horário, até mesmo no orfanato.

Contudo, Jenny sempre acordava ainda mais cedo que Elena, checando diligentemente a saúde das crianças e preparando as refeições com antecedência.

— Oh, meu Deus, você acordou cedo de novo? Não precisa fazer isso.

— Não… Não sou particularmente habilidosa em nada, então pelo menos devo tentar me adaptar rapidamente.

— Você não está se esforçando demais, está?

— Nem um pouco. Sou bem resistente, sabe.

— Que alívio. — Jenny ofereceu um sorriso gentil e voltou sua atenção à cozinha.

Mais tarde, quando Jenny teve um tempo livre antes das crianças acordarem, começou a costurar. Pouco tempo depois, a manhã chegou de fato.

— Aaaaah.

— Tô com sono…

— Mesmo assim, precisamos levantar.

— Não dá pra dormir só mais um pouquinho?

— Lembram que tem hora da soneca depois? Vamos lá, todos! Dobrem seus cobertores e vamos lavar o rosto.

Quando as crianças acordaram, Jenny ficou ainda mais agitada. Afinal, nem todas as crianças eram iguais. As mais velhas, como Kron, que já estavam amadurecendo, saíam até as lojas além do orfanato para ajudar com bicos e ganhar um salário modesto. Já os mais novos, ou os que se desenvolviam muito mais devagar, eram difíceis de lidar.

— Waaaaaaah!

— Ai, Christie. Tem que tomar mais cuidado.

Waaaah, waaah! Meu joelho tá sangrando!

— Pronto, pronto, vai ficar tudo bem. A irmã mais velha vai passar um remédio, tá bom?

Depois da refeição, Jenny aplicou as ervas medicinais que havia moído meticulosamente no dia anterior no joelho da criança.

W-Waaah, waaaaaaah…

— Kevin, não precisa chorar. A irmã mais velha já teve muitos acidentes assim quando era da sua idade.

Jenny também limpou com carinho uma criança que havia feito xixi na cama. Além dessas tarefas, ela cuidava da limpeza, lavanderia e vários outros afazeres. Além disso, ainda havia os trabalhos das crianças que saíam do orfanato.

— Você sabe entalhar madeira também?

— Felizmente, tenho certa habilidade com trabalhos manuais. Também tive sorte. Essa peça aqui vai render trinta moedas de cobre, e é raro achar lugares que pagam tão bem hoje em dia.

“Trinta moedas de cobre…”

Era muito pouco. Mas Elena não teve coragem de dizer isso em voz alta.

Desde o início, quase não haviam palavras que a garota pudesse dizer. O mundo que a envolvia, pensamentos, ideias, metas, mágoas, ansiedades, tomava forma dentro dela… Cada dia que passava no Orfanato do Amor era tão diferente de sua vida anterior. Isso a fazia escolher cada palavra com cuidado extremo.

Ignet lhe disse a verdade. Kron também. Apenas três dias após chegar à região sul, Elena compreendeu essa realidade. Olhou fixamente para o chão, depois ergueu o olhar para Jenny.

— Você é realmente incrível — disse Elena.

— Hã?

— Eu disse, você é incrível. Como… como é que você, Jenny… Já amadureceu assim? Você já virou uma adulta. — As palavras de Elena estavam carregadas de sinceridade e respeito.

Ela finalmente entendeu. Uma verdadeira adulta, alguém que conseguia, de fato, assumir a responsabilidade pela própria vida, era alguém como Jenny. Alguém completamente diferente dela mesma, que tomava como garantido todo apoio e bênçãos com que nascera. Antes, Elena era arrogante com seu orgulho tolo e esforço mínimo…

— Como posso chegar lá? — A expressão de Elena se tornava ainda mais séria. — Como posso… me tornar uma adulta? Como posso trilhar meu próprio caminho na vida sem depender da ajuda dos outros?

Elena, que ainda era muito uma criança, fez essa pergunta a Jenny, a jovem que amadureceu sem nem perceber.

A adulta respondeu com um sorriso e um toque de melancolia, sem nenhuma mágoa em relação a Elena. Jenny deu uma resposta que fugia completamente das expectativas dela.

— Adultos contam com a ajuda dos outros com frequência, sabia?

— Sério?

— Adultos não vivem só com sua própria força. Olha, até eu não conseguiria lidar com tudo se Kron e as outras crianças não me ajudassem.

Elena refletiu sobre isso.

— Hm… essa não era a resposta que esperava? Me desculpa, mas é a pura verdade. — Jenny realmente acreditava nisso, e não era a única.

Por mais extraordinário que fosse um herói, ele precisava da ajuda de um chef para apreciar refeições deliciosas. Até mesmo um renomado chef que servia reis tinha que contar com um carpinteiro para consertar seus móveis. O carpinteiro dependia da ajuda do fazendeiro, e o fazendeiro, por sua vez, contava com o herói para derrotar monstros invasores.

Um adulto não era alguém que vivia sozinho em solidão. Adultos eram seres que trocavam apoio uns com os outros, que se apoiavam mutuamente.

Ao ouvir isso, Elena ficou com uma expressão vazia, o olhar fixo em Jenny por um longo tempo. A garota não voltou a si até uns vinte minutos depois, quando Jenny já havia retomado seu entalhe minucioso.

— E se alguém só consegue receber ajuda, e não tem nada a oferecer em troca?

— Hã?

— Me desculpa. Sinto muito, de verdade… Eu não fui completamente honesta.

Hesitante, Elena começou a contar sua história: ela não era órfã. Explicou que fugiu de casa num surto de infantilidade, mas agora percebia o quanto era imatura. Não guardava rancor dos pais, na verdade, os amava e respeitava profundamente. Tanto que queria fazer algo, qualquer coisa, por eles.

Mas se sentia completamente impotente por falta de capacidade. Ainda era… nada mais do que uma criança, só recebendo, sem conseguir retribuir.

Tendo confessado tudo isso a Jenny, Elena se desculpou novamente.

— D-Desculpa. Eu vim aqui com preocupações tão triviais… Eu não fiz nada, e mesmo assim venho comendo sua comida, quebrando suas louças e desperdiçando seu tempo, Jenny…

Descompassada e errática, parecia em pânico. Elena despejava cada grama de arrependimento que conseguia reunir, mas sua mente estava tão confusa que nem sabia mais se isso era um erro ou não.

Não, pensando melhor, com certeza era um erro. Sobrecarregar alguém que lutava para sobreviver em tais circunstâncias com suas preocupações de criança mimada? Mais uma vez, ela demonstrava sua imaturidade.

Em contraste, Jenny mais uma vez demonstrava sua postura madura. Não se irritava nem mostrava qualquer sinal de desaprovação. Com o mesmo sorriso caloroso e gentil que acalmava o coração, Jenny abriu a boca para responder, mas foi interrompida por um menino que invadiu o orfanato gritando:

— A gangue do Pendal sequestrou o Kron!

Aconteceu num piscar de olhos. Não, foi ainda mais rápido que isso. No instante em que Elena percebeu que sua presença estava ligada aos acontecimentos, ela entrou em ação. Pegou o mensageiro nos braços e correu para fora do orfanato em velocidade incrível.

— Onde? — perguntou, com urgência.

— Hã, hã? O quê?

— Onde eles estão? O esconderijo da gangue do Pendal!

— Ah, isso…

O garoto de nove anos que trouxe a notícia era o mesmo que sempre andava com Kron. Era o mesmo que ria e apontava quando Elena quebrava os pratos. Seus olhos estavam arregalados, e ele teve dificuldade de responder. A garota que via agora era completamente diferente da que conhecera.