Volume 1 - Capítulo 5
The Irregular at Magic High School
Magic High School tinha muitos aspectos únicos, mas seu sistema fundamental não diferia das escolas normais. Também havia atividades extracurriculares aqui na Primeira Escola. Para ser reconhecido pela escola como um clube oficial, era necessário ter um certo número de membros e conquistas — esse ponto também era o mesmo.
Mas, para a Magic High School, havia muitos clubes intimamente relacionados à magia. As nove escolas afiliadas à Universidade Nacional de Magia competiam entre si em uma certa competição mágica importante, e os resultados tendiam a refletir na imagem de cada escola. Em termos de quanto a escola investia nisso, poderia ser mais do que o apoio dado por escolas esportivas de elite aos esportes tradicionais. Os clubes que se destacavam nessa competição, chamada de Competição das Nove Escolas, ganhavam muitos benefícios, desde aumento no orçamento do clube até a melhoria da posição de cada membro dentro da escola.
A disputa para adquirir novos membros promissores era um evento importante, pois tinha um efeito direto na influência de um clube. A escola não apenas reconhecia isso, como parecia até encorajar ativamente. Assim, a grande batalha de todos os clubes para ganhar novos membros atingia seu ponto mais intenso nesta época do ano.
— Isso tudo significa que os clubes causam muitos problemas nessa época — disse Mari.
O local: a sala do conselho estudantil. Tatsuya escutava a explicação de Mari enquanto saboreava o sabor do bentô que Miyuki havia preparado para ele.
— Às vezes, as abordagens são tão exageradas que acabam atrapalhando as aulas. Existe um horário específico para essas "guerras de recrutamento" de novos alunos. Começa hoje e dura uma semana.
Essas eram as palavras de Mayumi, sentada ao lado de Mari. Miyuki estava sentada ao lado de Tatsuya, como sempre.
Suzune e Azusa estavam ausentes. Elas tinham estado lá ontem, porque Mayumi as havia convocado. Aparentemente, elas normalmente almoçavam com seus colegas de classe. Além disso, Mari tinha trazido um bentô caseiro novamente. Mayumi estava bastante mal-humorada por ser a única comendo uma refeição preparada mecanicamente pela máquina de refeições, mas seu humor parecia finalmente ter melhorado. Ela havia declarado que, a partir de amanhã, também faria seu próprio bentô.
— Durante esse período, os clubes vão montar tendas de convite. Não é apenas aquela atmosfera de festival de cidadezinha rural. Todos estarão se esforçando para conseguir qualquer um que tenha se destacado nos exames de admissão, assim como os novos alunos com conquistas em esportes e coisas do tipo. Claro, existem regras — pelo menos oficialmente — e os clubes que as violarem serão penalizados pelo comitê dos clubes, mas, infelizmente, não é incomum que as coisas acabem em brigas ou até mesmo tiroteios nas sombras.
Tatsuya fez uma expressão de dúvida ao que ela disse. — Achei que não permitíamos que os alunos carregassem CADs.
Ainda era possível usar magia sem um CAD. Mas para as coisas evoluírem a ponto de se tornarem um tiroteio, basicamente seria necessário usar um.
A resposta de Mari o deixou confuso.
— Eles têm permissão para usá-los em demonstrações para os novos alunos. Há inspeções aqui e ali, mas essencialmente é um passe livre. Então, nessa época do ano, a escola acaba se transformando em uma zona sem lei.
Bem, claro que sim, ele pensou reflexivamente. Por que a escola permitiria algo assim? Normalmente, tomariam medidas para evitar isso, como tornar as inspeções mais rigorosas.
Sua próxima pergunta foi respondida por Mayumi antes que ele pudesse fazê-la.
— Mesmo a escola quer ganhar troféus na Competição das Nove Escolas. Talvez seja por isso que toleram todas essas violações de regras — para conseguir mais alunos nos clubes.
A participação obrigatória em atividades extracurriculares foi proibida pelo ministério competente há algumas décadas, pois era considerada uma violação dos direitos humanos dos alunos. No entanto, as ruas estavam cheias de alunos sendo recrutados para atividades de clubes, e, na prática, eles ignoravam isso, usando a liberdade acadêmica como desculpa, tornando a proibição contraditória e sem sentido. Mas, embora fosse apenas uma fachada, era eficaz o suficiente para que não pudesse ser ignorada completamente.
— De qualquer forma, é por isso que o comitê disciplinar estará em alerta máximo por uma semana, começando hoje. Que bom que conseguimos um membro substituto a tempo — disse ela, lançando um olhar de lado, provavelmente em tom de sarcasmo.
— Que bom que você encontrou alguém bom, Mari! — respondeu Mayumi, afastando o sarcasmo com um sorriso. Nenhuma delas ergueu uma sobrancelha — esse tipo de troca devia ser comum o ano todo.
Tatsuya engoliu a última mordida de sua comida e, em seguida, colocou os hashis sobre a mesa. Sua xícara de chá foi preenchida novamente ao seu lado. Ele tomou um gole e ofereceu uma resistência fraca.
— Os clubes não vão visar as pessoas com as melhores notas — ou seja, os alunos do Curso 1? Não acho que serei de muita ajuda.
Mari já havia declarado publicamente que os alunos do Curso 2 deveriam controlar os outros alunos do Curso 2, então essa declaração era uma sabotagem disfarçada. Mas…
— Não se preocupe com isso. Você tem bastante poder de fogo para contribuir.
…foi totalmente descartada.
Depois de ser rebatido diretamente assim, não havia mais o que dizer.
— …Entendi. Tudo bem. Vamos patrulhar depois da aula, certo?
— Assim que suas aulas terminarem, venha para o QG.
— Certo — aceitou Tatsuya obedientemente. Era uma reação estranha, algo entre ser esportivo e se render rapidamente.
Ao seu lado, Miyuki olhou para Mayumi em busca de instruções.
— Presidente… Nós seremos incluídos na manutenção da ordem?
O “nós” significava os oficiais do conselho estudantil. Tatsuya ficou satisfeito ao ver que sua irmã, que sempre era um pouco mal-humorada em seus relacionamentos interpessoais, apesar de ser sociável na superfície, já havia se integrado ao conselho estudantil.
— Vou pedir para Ah-chan ajudar nas patrulhas. Hanzou e eu precisamos ficar na sala da associação de clubes caso algo aconteça, então quero que você e Rin cuidem daqui enquanto estivermos fora.
— Entendido — assentiu Miyuki fielmente, mas Tatsuya podia perceber que ela estava um pouco decepcionada. Ele não achava que ela fosse do tipo que gostava de batalhas, mas, em termos de habilidade, não havia problema algum. Talvez ela quisesse testar as novas técnicas de restrição que ele havia inserido em seu CAD.
Tatsuya, enquanto entendia erroneamente que, se ele perguntasse, ela poderia gritar "Não!" e depois murmurar algo como "Tatsuya, você é um idiota", fez a pergunta que lhe veio imediatamente à mente.
— Nakajou vai patrulhar?
A ênfase oculta era que Azusa não seria confiável. Era outra declaração disfarçada, como antes, mas desta vez foi respondida, talvez porque outra pessoa tivesse feito isso.
— Eu entendo que você esteja nervoso por causa da aparência dela. Mas não julgue um livro pela capa, Tatsuya.
— Eu entendo isso, mas… — Tatsuya estava realmente preocupado com a personalidade tímida de Azusa. Ela deve ter entendido imediatamente essa parte vaga que ele tentou dizer. Mayumi, sorrindo, balançou a cabeça.
— Ela é um pouco… bem, talvez muito? Enfim, ela tem o espírito fraco, e isso é um pequeno obstáculo, por assim dizer. Mas a magia de Ah-chan é muito útil em momentos como este.
Mari fez o mesmo tipo de sorriso seco. — Isso mesmo. Se estamos falando de quão eficaz ela é em situações de tumulto que não conseguimos acalmar, não há magia melhor que o Arco de Azusa dela.
A magia moderna era uma tecnologia — a maior parte da magia havia sido formalizada e compartilhada. Claro, também havia técnicas secretas, mas a maior parte da magia era pública e registrada em bancos de dados. Esses feitiços normalmente eram classificados por família e efeito, mas técnicas altamente originais recebiam nomes próprios.
— Arco de Azusa…? Esse não é um apelido oficial, certo? É uma magia externa?
No entanto, pelo que Tatsuya sabia, não havia nenhuma magia pública chamada Arco de Azusa.
Muitos feitiços que não eram públicos não pertenciam a uma família. Seria uma magia externa?
Isso foi o que Tatsuya perguntou, mas…
— …Você está dizendo que conhece literalmente todos os apelidos de magias? — em vez de responder sua pergunta, Mari fez outra, com a voz atônita.
— …Tatsuya, você está realmente conectado a um grande banco de dados de satélite ou algo assim?
Os olhos de Mayumi estavam arregalados, e ela estava falando sério.
Miyuki sentiu a vontade de cair na risada com as respostas de suas veteranas, mas essa não era a primeira vez que ela presenciava esse tipo de cena. Não precisou se esforçar muito para manter uma expressão modesta.
Na magia moderna, que começou como uma pesquisa sobre habilidades sobrenaturais, o fenômeno da magia não era analisado e classificado com base em sua aparência exterior, como “fazer fogo” ou “lançar vento”, mas sim por sua função.
Era dividido em quatro famílias, cada uma com dois tipos:
[ACELERAÇÃO / PESAGEM]
[MOVIMENTO / OSCILAÇÃO]
[CONVERGÊNCIA / DIVERGÊNCIA]
[ABSORÇÃO / EMISSÃO]
Claro, existem exceções a qualquer sistema de classificação, e havia magias que não eram classificáveis nem mesmo no esquema de quatro famílias / oito tipos da magia moderna.
As magias que não pertenciam a nenhuma das quatro famílias eram amplamente separadas em três categorias.
A primeira era a magia de percepção, que havia sido chamada de PES. (PES, neste caso, não se referia a habilidades sobrenaturais como um todo, mas sim ao tipo de percepção.)
A segunda era a magia que não alterava os eventos temporariamente reescrevendo o *eidos*, os corpos de informação que acompanhavam esses eventos — mas sim a magia cujo objetivo era controlar os psions em si. Isso era chamado de magia sem tipo. A especialidade de Mayumi, disparar aglomerados de psions, era o exemplo clássico de magia sem tipo. A magia que Tatsuya usou para derrotar Hattori não era estritamente magia da família das vibrações, mas sim magia sem tipo. No entanto, havia feitiços na forma de manipulação de psions que pertenciam a uma das quatro famílias e oito tipos. A distinção entre magia de uma das quatro famílias e magia sem tipo não era muito nítida.
E a última era a magia que lidava não com eventos físicos, mas com fenômenos mentais. Isso era chamado de magia externa. A magia externa era uma magia que não pertencia a nenhuma das quatro famílias — não podia ser classificada como uma. Ela abrangia muitas coisas, desde magia divina e magia espiritual, que usavam elementos espirituais, até leitura de mentes, separação etérea e controle da consciência.
Como se estivesse satisfeita em ter demonstrado surpresa normal, Mayumi finalmente começou a detalhar o Arco de Azusa. — Como você adivinhou, o Arco de Azusa de Ah-chan é uma magia externa, do tipo de interferência emocional. Ela tem o efeito de guiar todas as pessoas em uma área específica a um estado semelhante a transe.
A magia de interferência emocional era uma subdivisão da magia de interferência mental. Em vez de afetar os pensamentos ou a consciência de uma pessoa, ela afetava seus impulsos e emoções.
— O Arco de Azusa não faz com que elas fiquem inconscientes, e nem toma controle de suas mentes. Ele apenas as coloca em um estado em que não podem se opor a ela. Mas funciona em uma área inteira, em vez de apenas uma pessoa. Portanto, ao contrário da maioria dos outros feitiços do tipo interferência mental, ele pode afetar várias pessoas simultaneamente. É a magia perfeita para pacificar multidões agitadas!
Tatsuya franziu a testa ao ouvir sua explicação complementar. — …Esse tipo de magia não tem restrições de classe 1…?
O uso de magia externa era controlado de maneira mais rigorosa do que a magia das quatro famílias devido às suas características frequentemente únicas. Entre elas, as condições de uso da magia do tipo interferência mental eram particularmente severas.
Mesmo apenas limitando-se às explicações dadas aqui, essa magia poderia ser usada como uma ferramenta aterrorizante de lavagem cerebral. Isso porque pessoas em transe eram muito mais suscetíveis a sugestões. Se a existência dessa magia fosse conhecida, o fluxo de governos ditatoriais, terroristas e líderes de cultos tentando usá-la seria interminável.
Quando Tatsuya apontou isso, Mayumi sorriu e lhe disse para não se preocupar.
— Você consegue imaginar Ah-chan sendo uma ditadora?
— Ela sempre poderia ser forçada a cooperar.
— Isso é ainda menos provável. Ela ficaria toda chorosa só de pegar algumas moedas na rua. Com seu estado mental, ela seria esmagada pelos sentimentos de culpa e, em seguida, não seria capaz de usar magia alguma, certo?
A teoria estabelecida — quase senso comum a essa altura — era que a magia era influenciada pelo estado mental de uma pessoa. Se ela tivesse um caráter tão virtuoso, apenas estar ciente de que estava envolvida em um crime grave, como a lavagem cerebral em massa, poderia fazer com que ela ficasse incapaz de usar magia.
Claro, se ela fosse extremamente tímida, alguém poderia fazer com que ela dependesse deles e, então, usá-la, mas não havia necessidade de seguir esse raciocínio mais adiante.
Havia uma questão mais geral em jogo.
— Acredito que as leis que restringem a magia do tipo interferência mental se aplicam independentemente do bom caráter de Nakajou… — foi apontado por Miyuki, e Mayumi lutou para encontrar palavras.
— …Hum, está tudo bem, Miyuki. Não a deixamos usá-la fora da escola.
Sua resposta, em desespero, era incoerente.
Ela não parecia do tipo que enfraquecia sob pressão, mas, se Mari não tivesse ajudado, ela poderia ter acabado em um estado bem ruim.
— Mayumi… Do jeito que você disse, vai causar um mal-entendido considerável. Nakajou tem permissão especial para usar magia externa apenas se estiver na escola. É um pequeno truque — uma brecha nas restrições de uso, que são mais frouxas para organizações de pesquisa.
— Entendi.
— Então, existe esse tipo de método.
— Sim, é isso mesmo… — Mayumi forçou um sorriso ao ver os irmãos Shiba acenando com a cabeça, convencidos, após a explicação de Mari.
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As aulas da tarde terminaram, e, embora estivesse relutante, Tatsuya estava prestes a ir para a sala do comitê disciplinar quando uma voz aguda o interrompeu. Ele se virou e viu a garota esguia de cabelos curtos — mas não tão curtos. O termo “afiada” talvez fosse mais adequado do que “esguia” para descrevê-la.
— Erika… Isso é incomum. Você está sozinha?
— É mesmo? Na minha opinião, não sou muito do tipo que faz muitos planos com outras pessoas.
Agora que ela mencionou, Tatsuya pensou que ela tinha razão.
— De qualquer forma, Tatsuya, já decidiu sobre algum clube? Mizuki já escolheu entrar no clube de artes. Ela me convidou para entrar com ela, mas eu não sou muito do tipo artístico. Vou só dar uma volta e ver se encontro algo interessante.
— O Leo disse que já decidiu, né?
— Sim, o clube de montanhismo. Combina tanto com ele que chega a doer.
— Bem… Certamente combina com ele.
— Nosso clube de montanhismo aparentemente é mais focado em habilidades de sobrevivência do que em escalada de montanhas. Não há outro lugar onde ele se encaixaria — disse Erika em um tom baixo, quase amaldiçoando, antes de lançar um olhar vagamente desinteressado. — Tatsuya, se você ainda não decidiu sobre algum clube, quer vir comigo?
Se ela tivesse dito isso de outra forma, ele poderia ter ficado irritado e a teria recusado, mas havia um leve ar de solidão em seu rosto, e ele não conseguiu dizer não.
— Na verdade, o comitê disciplinar já vai me colocar para trabalhar. Estaríamos ambos andando por aí, mas eu teria que patrulhar ao mesmo tempo. Se isso for tranquilo para você, então eu vou.
— Hmm. Bem, tudo bem, então. Acho que nos encontramos em frente à sala de aula.
Erika fingiu uma atitude importante enquanto considerava o convite de Tatsuya, depois gesticulou de forma relutante e respondeu. No entanto, seu sorriso traiu sua encenação.
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— Por que você está aqui?! — Essa foi a primeira coisa que Tatsuya ouviu no início de seu segundo encontro.
— Bem, diga o que quiser, mas isso é absurdo.
A atitude de Tatsuya, com sua voz espantada e um suspiro, só incitou ainda mais excitação.
— O que disse?! — Desta vez, ele parecia que realmente iria avançar e agarrá-lo, em vez de apenas soar como se fosse fazer isso.
Mas…
— Abaixe a bola, novato! — gritou Mari, e Shun Morisaki apressadamente fechou a boca e se endireitou ainda mais.
— Esta é uma reunião de negócios do comitê disciplinar. Ninguém presente aqui não faz parte do comitê. Por favor, tenha um mínimo de bom senso para saber disso.
— Desculpe! — O rosto de Morisaki estava pateticamente contraído de nervosismo e medo.
Mari o havia arrastado para aquilo no dia anterior. E, mesmo que isso não tivesse ocorrido, ser repreendido por alguém com a mesma autoridade que o presidente do conselho estudantil ou o presidente da associação de clubes era muita responsabilidade para um novo aluno. Especialmente para aqueles que levavam tudo muito a sério.
— Tudo bem, sente-se logo.
Diante do aluno do Curso 1, que estava ali de pé, com o rosto totalmente pálido, Mari ordenou que ele se sentasse, com uma expressão um tanto desconfortável.
Quando Tatsuya comparou isso com o comportamento que tinha visto dela no dia anterior, ela parecia ter a personalidade oposta de alguém que gostava de abusar de quem estava abaixo dela na hierarquia.
Morisaki sentou-se de frente para Tatsuya. Nenhum dos dois queria estar naquela posição, mas ambos eram os calouros ali. Estavam no degrau mais baixo. Ter que se encarar nos assentos inferiores da mesa era inevitável.
— Todos estão aqui, certo?
Depois disso, os dois veteranos entraram um após o outro, e quando havia nove pessoas na sala, Mari se levantou.
— Apenas ouçam. A semana barulhenta deste ano está se aproximando. Este será o primeiro ponto alto do ano para o comitê disciplinar. Há aqueles que se empolgaram e causaram um grande problema no ano passado — assim como aqueles que gentilmente pioraram as coisas para nós ao tentar acalmá-los —, mas este ano quero que todos nos esforcemos ao máximo para não termos que lidar com nenhum caso problemático. Não quero nenhum oficial tomando a iniciativa e causando problemas, entendido?
Após ver mais de uma pessoa estremecer, Tatsuya, que sabia muito bem que tinha um problema com se meter em confusões, advertiu a si mesmo para não seguir o mesmo caminho.
— Felizmente, este ano, os substitutos dos formandos chegaram a tempo. Vou apresentá-los. Por favor, levantem-se.
Não haviam sido avisados sobre essa parte na reunião preliminar, mas ambos se levantaram prontamente, sem dificuldade ou confusão. No entanto, havia uma diferença clara no entusiasmo em suas expressões.
Morisaki estava em posição de sentido, sem esconder, ou sequer tentar esconder, seu nervosismo, o que, por outro lado, o fazia parecer entusiasmado. Tatsuya tinha a postura de alguém que não estava levando aquilo a sério o suficiente, apesar de sua expressão calma.
Aqueles que consideravam a superioridade importante provavelmente prefeririam a atitude de Morisaki, enquanto aqueles que achavam que a força real era o mais importante provavelmente veriam Tatsuya como mais confiável.
— Este é Shun Morisaki, da turma 1-A, e Tatsuya Shiba, da turma 1-E. Eles começarão a patrulhar conosco a partir de hoje.
Um burburinho surgiu, provavelmente por ouvirem a turma de Tatsuya. No entanto, ele não ouviu ninguém sussurrar a palavra "Erva Daninha" — como era esperado da sede daqueles que preveniam o uso de tais insultos.
— Vamos fazer dupla? — Pode não ter sido para desviar o assunto, mas um aluno do segundo ano chamado Okada levantou a mão e perguntou. Ele era um dos que haviam sido eleitos pelos professores.
— Como expliquei da última vez, durante a semana das guerras de recrutamento, cada um de vocês patrulhará sozinho. Os novatos não são exceção a isso.
— Eles vão ajudar? — A pergunta de Okada foi dirigida a Tatsuya e Morisaki, mas seu olhar para o peito esquerdo de Tatsuya indicava o que ele realmente queria dizer.
Ele já havia previsto essa resposta, então lançou um olhar para Mari, delegando a resposta a ela.
Mas não precisava ter delegado. Mari lançou um olhar entediado e aborrecido para Okada.
— Não se preocupe. Eles são confiáveis. Eu mesma vi as habilidades de Shiba com meus próprios olhos, e o manejo de dispositivos de Morisaki não é algo que se deva menosprezar. Ele só enfrentou o oponente errado outro dia. Se ainda estiver preocupado, pode ir com Morisaki.
Okada parecia um pouco envergonhado pela resposta casual, mas conseguiu manter a calma e respondeu com um "Eu passo" em tom sarcástico.
— Alguém mais tem algo a dizer?
Tatsuya ficou bastante surpreso — a voz de Mari certamente não soou gentil. Na verdade, parecia que ela estava provocando uma briga. No entanto, além de Morisaki e ele, ninguém parecia prestar atenção nisso.
Deve ser algo frequente. Parecia haver uma animosidade profunda no comitê.
Tatsuya se perguntou, porém, sobre a líder se encarregar de alimentar essas chamas.
— Vamos para a última instrução. Suas rotas de patrulha serão as mesmas das que foram informadas antes. Não espero que haja alguém contra isso a essa altura.
A atmosfera não parecia exatamente como se não houvesse objeções, mas ninguém tentou argumentar ativamente.
— Certo. Vão imediatamente para suas rotas. Não se esqueçam dos gravadores. Vou explicar as coisas para Shiba e Morisaki. Todos os outros, saiam!
Todos presentes se levantaram ao mesmo tempo, colocaram os pés juntos e bateram com os punhos direitos em seus peitos esquerdos.
Tatsuya se perguntou o que estavam fazendo, mas, segundo o que ouviu depois, esse era o cumprimento adotado por todos os membros do comitê disciplinar no passado. Além disso, aparentemente havia uma regra para dizer "Bom dia" a ela, independentemente da hora do dia.
As seis pessoas, exceto Mari, Tatsuya e Morisaki, começaram a sair da sala, uma após a outra. A quinta e a sexta, Koutarou e Sawaki, disseram a Tatsuya "para não se adiantar demais" e "perguntar se tivesse alguma dúvida" (quem disse o quê era óbvio), e então também deixaram a sala.
Ele os viu partir de maneira educada (pelo menos, exteriormente falando). Morisaki o encarou amargamente.
Mari, observando-os, de alguma forma conteve um suspiro e uma dor de cabeça, e então os chamou.
— Primeiro, vou lhes dar isso.
Mari entregou a cada um deles, enquanto se alinhavam lado a lado, uma braçadeira e um gravador de vídeo fino.
— Coloque o gravador no bolso do paletó. Ele é feito para ser grande o suficiente para que a lente fique visível. O interruptor fica no lado direito.
Como ela disse, quando ele colocou no bolso do peito do blazer, o gravador era grande o suficiente para gravar exatamente assim.
— A partir de agora, certifiquem-se de levar o gravador sempre que forem patrulhar. Se avistarem qualquer conduta desordeira, liguem imediatamente. Mas não precisam se preocupar muito com a gravação. Como regra geral, as palavras dos oficiais do comitê disciplinar são aceitas como prova. Pensem nisso mais como uma precaução.
Ela esperou a resposta deles e, em seguida, os instruiu a pegar seus terminais portáteis.
— Vou enviar o código de transmissão do comitê disciplinar... Pronto, verifiquem se o receberam.
Os dois confirmaram que haviam recebido sem problemas.
— Usem esse código quando quiserem relatar algo. E sempre que precisarmos lhes dar instruções, usaremos esse código, então certifiquem-se de que está correto.
— Por fim, sobre os CADs. Oficiais do comitê disciplinar têm permissão para carregar CADs dentro da escola. Não precisam pedir permissão para usá-los. Mas, se descobrirem que o usaram de maneira imprópria, a punição será muito mais severa do que para os alunos normais, já que vocês são membros do comitê disciplinar. Houve alguém que foi expulso por causa disso no ano retrasado. Não subestimem isso.
— Tenho uma pergunta.
— Permito.
— Podemos usar os CADs do comitê disciplinar?
A pergunta de Tatsuya deve ter sido bastante inesperada, porque houve uma breve pausa antes de ela responder.
— …Eu não me importo, mas qual o motivo? Talvez eu esteja pregando para o coro aqui, mas esses são modelos antigos, sabe?
Mari havia adivinhado, por sua manipulação deles antes e depois da partida de ontem, bem como pela manutenção da sala, que ele era bastante habilidoso com CADs. E ela também sabia, por causa da fala de Azusa, que o CAD pessoal dele era de alta tecnologia.
E, mesmo assim, ele estava dizendo que queria usar os modelos antigos.
Ela não conseguiu conter sua curiosidade.
— Eles podem ser modelos antigos, mas ainda são itens de alta qualidade feitos para especialistas — respondeu ele com um sorriso irônico. De fato, ela nem tinha pensado nisso.
— …São?
— Sim. Essa série é famosa por ser difícil de ajustar, mas tem uma alta liberdade de configuração, e a sensibilidade de seus interruptores sem contato é superior. Há pessoas que são extremamente entusiastas em mantê-los. Quem os comprou deve ter sido um grande fã. Se ignorar o fato de que a vida útil da bateria é mais curta, você pode fazer overclock neles para que a velocidade de processamento seja comparável aos modelos mais novos. Se levá-los ao lugar certo, eles poderiam alcançar um preço bastante alto.
— …E nós os estávamos tratando como lixo, é isso? Agora entendo por que você estava tão insistente em limpá-los.
— Acho que Nakajou também saberia sobre essa série de modelos…
— Nakajou tem medo de descer aqui.
— Ha-ha…
Os dois trocaram sorrisos irônicos.
Então Mari finalmente percebeu que Morisaki estava sendo deixado de lado.
— Ahem. Podem usá-los livremente, se quiserem. Eles estão acumulando poeira, afinal.
— Então… Vou pegar esses dois emprestados.
— Dois…? Você realmente é interessante.
Tatsuya pegou os dois CADs nos quais ele havia copiado seus dados de ajuste silenciosamente no dia anterior. Mari o observou e sorriu, enquanto os lábios de Morisaki se curvavam em uma expressão de desagrado.
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— Ei.
Logo depois que Mari os deixou para ir à sala da associação de clubes, Morisaki chamou Tatsuya por trás. Pelo tom, Tatsuya já sabia que ele não queria dizer nada amigável. Pensou, mais da metade seriamente, em simplesmente ignorá-lo, mas achou que isso só pioraria seus problemas, então se virou, relutante.
— O que foi? — respondeu insolentemente, deixando sua hostilidade evidente — não havia motivo para ser simpático naquele momento.
— Parece que blefar é a sua especialidade. Você blefou para passar pelo presidente e pela presidente da associação assim?
— Está com ciúmes?
— O quê…?
Se é só isso que te distrai, então nem comece algo assim, pensou Tatsuya. Por outro lado, a honestidade de Morisaki era até invejável.
— …Mas você foi longe demais desta vez. Não há como um aluno do Curso 2 como você usar mais de um CAD.
Ele ouviu Morisaki falar. Morisaki não o chamou de “Erva Daninha”, mas Tatsuya pensou cinicamente que isso era provavelmente apenas porque ele sabia que Tatsuya fazia parte do comitê disciplinar.
Morisaki, no entanto, não percebeu a expressão apática de Tatsuya e continuou a discursar orgulhosamente, como se estivesse embriagado por suas próprias palavras.
— Se você equipar um CAD em cada mão, não será capaz de usar nenhum por causa da interferência psíquica. Estava tentando se exibir, mas nem sabia essa coisa simples, sabia? Você nem consegue usar magia de verdade. Só fica se escondendo para não se envergonhar.
— Isso era para ser um conselho? Você tem bastante tempo livre, Morisaki.
— Hah! Sou diferente de todos vocês. Pode ter me surpreendido outro dia, mas não vou errar de novo. Vou te mostrar a diferença entre nós.
Enquanto Tatsuya o observava sair depois de dizer isso, pensou em como deve ser bom acreditar que haverá uma próxima vez…
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Apesar de ter combinado de encontrar Tatsuya, Erika não estava do lado de fora da sala de aula.
Não me importo particularmente, mas…
Tatsuya soltou mais um suspiro — algo que já havia se tornado um hábito desde o início das aulas — e ligou o LPS em seu terminal portátil. Ele exibiu um mapa do terreno da escola e um ponto vermelho se movendo lentamente.
Isso significava que ela teve a consideração de não desligar o terminal.
Ela ainda não tinha ido muito longe.
Eu configurei isso apenas para o caso de algo acontecer, mas…
Ela estava contando com ele para vir procurá-la.
Ele deu zoom no mapa, especificou a posição dela e começou a caminhar em direção ao sinal emitido pelo terminal de Erika.
O aglomerado de tendas, que visto pela janela parecia enterrar todo o pátio da escola e até mesmo as estradas entre os prédios, parecia exatamente como barracas de uma feira.
— Parece um festival… — murmurou Erika para si mesma. Ao perceber o que tinha dito, quase se deixou levar pela vontade de rir de si mesma.
Sempre esteve sozinha na maior parte do tempo.
Mas desde que a escola começou, essa tendência havia desaparecido.
Estar sozinha é incomum, hein… Você não tem mesmo um bom olho para garotas, tem, Tatsuya? — ela disse mentalmente para o garoto que ela — e não ele — havia deixado esperando.
No ensino fundamental e até mesmo no ensino médio, estar sozinha era o estado normal para ela.
Não era porque ela não gostava das pessoas ou algo assim. Ela era relativamente sociável — conseguia se dar bem com qualquer pessoa rapidamente.
Mas, em troca, logo elas se sentiam negligenciadas.
Ela não conseguia estar com alguém o tempo todo e acompanhá-las em todos os lugares.
Ela havia se analisado, dizendo que tinha um apego fraco a relacionamentos pessoais.
Amigas com quem era relativamente próxima disseram que estavam desiludidas.
Disseram que ela era como um gato volúvel.
Um amigo com quem ela rompeu chegou a chamá-la de arrogante e presunçosa.
O fluxo de garotos a seguindo nunca acabava, mas nenhum ficava por muito tempo.
Livre, desenfreada, sem amarras a promessas — esse era o seu lema.
…Bem, era, de qualquer forma… Talvez eu esteja agindo de maneira meio estranha ultimamente.
Olhando objetivamente, ela sentia que ultimamente vinha andando bastante com ele.
Até pouco tempo atrás, seria inconcebível para ela pedir que ele a acompanhasse.
Mas era apenas a primeira semana, ela pensou, então talvez se cansasse dele como sempre acontecia.
Ao mesmo tempo, parecia diferente do que sempre era…
— Erika?
Dez minutos após o horário combinado.
Enquanto Erika estava saindo do prédio da escola em direção ao pátio, ouviu a voz de Tatsuya chamando-a.
Ele a encontrou rápido, pensou ela.
— Tatsuya, você está atrasado.
— …Desculpe.
Ela viu uma expressão de irritação momentânea passar por seu rosto, mas ele logo pareceu convencido de algo e abaixou a cabeça, humildemente.
— …Você está se desculpando? — Isso era o contrário do que ela esperava, e quem ficou confusa foi Erika.
— Foram só dez minutos, mas ainda está além do horário combinado. Eu estar atrasado e você não estar onde combinamos são questões separadas, certo?
— Ack… Desculpa.
Foi uma resposta um tanto estranha, mas ele sorriu para ela, mortalmente sério, e Erika nem conseguiu formular uma resposta rápida.
— …Ei, Tatsuya, você já ouviu alguém dizer que você tem uma personalidade ruim?
— Isso foi inesperado. Nunca tive ninguém reclamando da minha personalidade. Já me disseram que sou ruim com pessoas, no entanto.
— Isso é a mesma coisa! Pode até ser pior!
— Ah, meu erro. Não era que sou ruim com pessoas; era que sou uma pessoa ruim.
— E isso é definitivamente pior!
— Já me chamaram de demônio também.
— Já chega!
Diante da respiração ofegante de Erika, e com a expressão de quem ponderava sobre um profundo problema filosófico, Tatsuya inclinou a cabeça para o lado.
— Você parece bem cansada. Está tudo bem?
— …Tatsuya, definitivamente já te disseram que você tem uma personalidade ruim.
— Na verdade, já.
— Isso foi tudo mentira?!
Erika abaixou a cabeça, derrotada.
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Levou um tempo para melhorar o humor dela, mas ele conseguiu antes de atrair olhares estranhos—e antes que ela chamasse a atenção indesejada ou olhares de escárnio—e voltou à sua patrulha.
Ele queria sair dali em cinco minutos.
Não teve escolha a não ser admitir que havia subestimado esse negócio. —Mas não admitiria isso para ninguém em particular.
Para ser honesto, ele menosprezou a situação, pensando que, apesar de Mari ter usado o termo caos, eram apenas clubes do ensino médio tentando recrutar pessoas. Mas estava longe de ser tão simples.
Agora que ele tinha visto, compreendia perfeitamente a necessidade de pessoas para controlar aquilo. Mesmo dez pessoas não seriam suficientes para isso.
Entre as barracas que enchiam o pátio da escola, uma multidão havia se formado. Além da multidão, estava uma Erika aflita, que não conseguia mais escapar. Sua postura era bastante inteligente também, mas ela parecia incapaz de se opor à violência em números. …Embora Tatsuya agisse como se tivesse escapado rapidamente e estivesse observando de longe, ele não estava exatamente em posição de criticar.
Claro, ele não podia afirmar com certeza que esse resultado significava que Tatsuya era mais ágil do que Erika. Isso porque, em comparação com ele, Erika estava sendo alvo de um número esmagador de pessoas.
Tatsuya era mais alto do que a média para um aluno novo, mas era magro. À primeira vista, ele parecia entediante, e seus olhos eram afiados, mas não o suficiente para se destacar muito. Além disso, sendo um aluno do Curso 2, poucos estavam interessados em recrutá-lo.
Por outro lado, Erika era bonita o suficiente para se destacar bastante. E, em contraste com belezas como Miyuki, em quem as pessoas hesitariam em tocar, muito menos tentar algo, Erika era do tipo que te fazia querer estender a mão mesmo sabendo que se queimaria.
O que aconteceu, em resumo…
…é que Erika estava sendo cercada por ofertas de recrutamento de clubes.
O fato de ela ser uma estudante do Curso 2 não apresentava nenhum obstáculo nesse caso. (Embora Erika dissesse que isso não estava ajudando em nada.)
Provavelmente estavam procurando por uma mascote ou um cartaz humano, e os que lutavam por ela eram, em sua maioria, clubes de esportes e exercícios não mágicos.
Ela estava no centro, e eles a engoliam.
Tatsuya não conseguia ver o que estava acontecendo dentro da multidão—mas provavelmente estavam segurando seus ombros, puxando seus braços ou agarrando-se a ela por trás numa disputa pela presa em um comportamento que, mesmo sendo do mesmo gênero, ainda seria considerado assédio sexual. Ele podia imaginar que as coisas estavam chegando a um ponto em que não poderia ignorar, já que sentia uma sensação quase sedenta de sangue emanando do local.
Mas Erika estava sendo mais persistente do que ele pensava. Tatsuya tinha escapado sozinho—abandonando-a no processo—porque achava que ela conseguiria sair rapidamente.
Você não conseguiria segurar Erika só porque faz um pouco de atividade física regular. Tatsuya não tinha dúvidas disso. A habilidade com que ela tinha derrubado o CAD de Morisaki certamente não era algo que um calouro ou um segundo-anista pudesse aprender.
Os que a cercavam diretamente eram alunas veteranas. Ele não estava surpreso que não houvesse estudantes masculinos tentando colocar as mãos em todo o corpo de uma garota. Mesmo que fossem um ou dois anos mais velhas, a força de Erika tornaria fácil se livrar dos braços das garotas e fugir—pelo menos, isso era o que ele tinha previsto. Infelizmente, o fato de serem garotas fracas parecia estar funcionando contra ela. Erika tinha decidido não usar métodos mais violentos contra elas.
Mas assim que ele pensou que provavelmente deveria ir tirá-la de lá, ouviu sua voz.
—Ei, veja onde está tocando! P-pare…!
O que ele ouviu foi, embora faltando um pouco de sedução, definitivamente o grito de Erika.
Parecia que as coisas tinham ficado sérias demais para serem uma piada.
Tatsuya manipulou o CAD em seu braço esquerdo e, assim que terminou de preparar o programa mágico, deu um salto.
O chão tremeu—claro, foi muito mais do que as vibrações que seu próprio chute poderia criar.
Aquela vibração amplificou o programa mágico que ele havia formulado e deu a ele um vetor.
As vibrações transmitidas das solas de seus pés para seus corpos não seriam suficientes para fazê-los desmaiar. Ele não conseguia disparar uma magia tão poderosa com sua força.
Mas seus corpos foram sacudidos de baixo para cima, e os estudantes que formavam a multidão perderam seu senso de equilíbrio sem sequer perceber.
Tatsuya mergulhou na multidão.
Os veteranos pelos quais ele empurrou caíram facilmente de costas.
Ele abriu caminho através de meninos e meninas e chegou ao centro da multidão sem muita dificuldade.
Ele atravessou a última parede composta inteiramente por alunas—
encontrou a pessoa que procurava—
e agarrou seu braço.
—Corra!
Foi tudo o que disse antes de puxar a mão esquerda de Erika e sair correndo.
Empurrando seu caminho—não, deslizando como mágica—através da multidão, Tatsuya escapou para as sombras do pátio da escola. Ele soltou a mão de Erika, que estava conectada à sua, olhou para trás, e foi então que ele finalmente notou a situação desastrosa em que ela estava. Seu cabelo estava todo bagunçado, um dos lados do seu blazer estava praticamente saindo, seu uniforme novo estava todo amassado, e ela segurava a gravata completamente desfeita em sua mão direita.
Com a gravata desconectada, o peito do uniforme estava um pouco exposto. Ela devia estar segurando-o enquanto corriam, mas assim que abaixou a cabeça um pouco para arrumar suas roupas—foi quando o olhar de Tatsuya acabou indo naquela direção.
—Não olhe!
Provavelmente ela percebeu que ele havia se virado quando seus olhos abaixados vislumbraram a direção dos pés dele. Erika falou imediatamente, mas antes mesmo de ser repreendido, Tatsuya já tinha desviado o rosto e o corpo.
—...Você viu? —Erika perguntou, sua voz facilitando imaginar o quão vermelha estava sua face.
...... Mas Tatsuya não conseguiu imediatamente formular uma resposta para ela.
Provavelmente deveria dizer que não viu nada. Essa seria a maneira inteligente de lidar com isso.
No entanto...
Seu peito, ligeiramente bronzeado e ainda assim mantendo sua palidez original.
As linhas distintas da clavícula dela.
Até mesmo a cor bege da renda decorando as bordas de seu sutiã tinha ficado gravada em sua memória.
—Você viu?
O som de roupas se mexendo cessou, então ele deduziu que ela havia terminado de se arrumar.
Ao mesmo tempo, a mudança no tom de voz dela disse a Tatsuya que seu tempo havia acabado.
Agora que chegou a esse ponto, ele deveria pelo menos deixá-la dar um soco nele uma vez. Mesmo que ele não tivesse culpa alguma, ele precisava mostrar essa sinceridade—como homem.
—Enquanto tinha esses pensamentos de fuga (porque não podia dizer que estava completamente sem culpa. No mínimo, ele era culpado por tê-la deixado lá em primeiro lugar) Tatsuya se virou lentamente.
Felizmente, não houve voz que o impedisse. Se ela ainda não tivesse terminado de arrumar suas roupas, melhorar a situação se tornaria algo impossível.
Ele viu Erika, cujo colarinho estava abotoado até em cima, e sua gravata estava firmemente presa ao redor do pescoço, e secretamente se sentiu aliviado.
Pensando bem, se ela tivesse mantido o botão de cima abotoado desde o início, as coisas poderiam não ter acabado tão desastrosas. Tatsuya achou que ter se comprometido ao desabotoar o botão de cima e afrouxar a gravata tinha piorado o dano.
Mas ele só pensou nisso—não disse em voz alta.
—Eu vi. Me desculpe.
Não havia como ele dizer isso ao se deparar com a cor avermelhada que ainda permanecia ao redor dos olhos dela.
Erika o encarou duramente. Suas bochechas ficaram vermelhas novamente, provavelmente porque sua vergonha tinha voltado. Seu punho cerrado estava tremendo, provavelmente porque ela estava aguentando sua vergonha.
—...Idiota!
Sua mão não veio voando na direção dele. Em vez disso, ele levou um golpe direto na canela.
Erika o chutou na perna, então girou para se afastar dele.
Ela começou a andar rapidamente. Tatsuya a seguiu sem dizer uma palavra.
Ele não conseguia ver daqui, mas provavelmente ela estava chorando.
Suas canelas eram tão resistentes que podiam suportar o impacto de uma espada de carvalho.
As botas dela eram feitas de um material flexível, e nem sequer reforçadas na ponta, então sem dúvida ela se machucou mais.
Mas se ele mostrasse qualquer consideração por isso, só iria convidar mais ataques.
Ele estava com as mãos cheias apenas tentando fingir que não notava o andar dela, ligeiramente mancando.
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Embora as tendas enchessem o pátio da escola até a capacidade, isso era só o pátio — nos campos exclusivos, os clubes que normalmente os usavam estavam fazendo demonstrações. O mesmo acontecia nos ginásios. Quando eles foram até o segundo pequeno ginásio, apelidado de arena, encontraram o clube de kendo fazendo uma demonstração de artes marciais.
— A cabeça de Erika já havia esfriado há muito tempo. Ela sabia desde o início que estava apenas desabafando. O fato de Tatsuya nunca ter dito uma palavra para tentar se justificar tinha surtido efeito. Embora ele achasse que ela tinha sido rápida demais em resmungar "Está tão úmido" e afrouxar a gravata e desabotoar novamente o botão mais alto para lidar com o calor.
Os dois olhavam para a demonstração de kendo da área de observação instalada no corredor, a três metros da parede do pequeno ginásio.
— Hmm... Então tem um clube de kendo, mesmo sendo uma escola de magia — disse Erika casualmente para si mesma.
— Não é normal todas as escolas terem pelo menos um clube de kendo? — perguntou Tatsuya, também casualmente. Na verdade, talvez não fosse uma pergunta tanto quanto uma afirmação distraída para manter a conversa.
Mas Erika olhou fixamente para o rosto dele por um bom tempo.
— ...O que foi?
— ...Estou surpresa.
— Com o quê?
— Que tenha algo que até você não sabia. E a maioria das pessoas experientes em artes marciais também sabem disso.
Tatsuya ficou um pouco preocupado ao ouvir o comentário de Erika. — Será que eu realmente pareço um sabe-tudo?
— Hã? Ah, não é isso. É só que você tem esse ar de quem sabe de tudo.
— Esse tipo de ar? ...Sou um calouro como você, Erika. Bom, tanto faz. De qualquer forma, por que clubes de kendo são incomuns?
— C-Certo. Nós dois somos calouros... Parece um pouco estranho nos chamar de iguais, embora... Hm, então, sobre os clubes de kendo. Magos e pessoas que querem ser magos quase nunca fazem kendo no ensino médio. Em vez de kendo, magos usam kenjutsu, que tem técnicas de espada que incorporam feitiços. Há muitas crianças que praticam kendo até por volta do ensino fundamental para aprender o básico, mas as crianças que decidem que querem ser magos durante o ensino médio praticamente todas migram para o kenjutsu.
— Hmm, entendi... Eu pensava que kendo e kenjutsu eram a mesma coisa.
— Estou realmente surpresa! — disse Erika. — Tatsuya, você parece ter tanta habilidade em artes marciais que usam armas, e ainda assim... Ah, entendi!
— O que houve? — Desta vez Tatsuya foi surpreendido — por que ela estava de repente levantando a voz assim?
E Tatsuya não era o único prestando atenção nela agora que ela fez isso tão de repente, mas Erika mesma não notou isso. Ela respondeu à pergunta dele com um rosto que dizia que ela entendia e uma expressão que mostrava que fazia sentido.
— Tatsuya, você acha que incorporar magia em técnicas com armas é simplesmente o que você deve fazer, não é? Não, talvez não seja apenas magia. Espírito de luta, e prana, e coisas assim — você acha que deve complementar técnicas físicas com isso, não é?
— Não se deve? Seus músculos não são a única coisa que move seu corpo, são?
Do ponto de vista de Tatsuya, o que Erika tinha dito era abrupto e óbvio.
Erika assentiu para si mesma com a resposta dele. — Pode parecer totalmente natural para você, mas... para atletas normais, não é assim que funciona.
— Entendi.
Foi uma maneira indireta de dizer, mas Tatsuya finalmente percebeu que parecia haver uma diferença entre seu conhecimento e o senso comum.
— A propósito, talvez devêssemos nos acalmar e observar? — Desta vez foi a vez de Tatsuya fazer Erika entender a lacuna em sua percepção.
Ela seguiu seu olhar significativo e finalmente notou que o volume da voz dela estava chamando a atenção para si mesma.
Erika deu um sorriso insinuante e silenciosamente olhou para o chão.
A exibição dos titulares foi bastante impressionante. Entre eles, ele notou especialmente a demonstração de uma garota do segundo ano. Ela não era muito grande, mesmo para uma garota — sua constituição era quase a mesma de Erika — mas ela estava lutando de igual para igual com alunos maiores, duas vezes seu tamanho.
Ela não usava força. Em vez disso, ela estava aparando os golpes deles com uma técnica fluida. E parecia que ela ainda tinha mais energia sobrando.
Tatsuya achou que ela era a perfeita espadachim para usar em uma exibição.
A maioria dos espectadores teve seus olhares roubados por suas habilidades. Mas ali, também, havia uma exceção.
E bem ao lado dele, nessa mesma hora.
Ao mesmo tempo em que a garota desferiu um golpe brilhante que parecia ensaiado e fez uma reverência ao seu oponente...
Ele ouviu um resmungo insatisfeito ao seu lado.
— Você não gosta muito disso, né?
— Hã? Sim...
Ela não parecia perceber imediatamente que estava sendo questionada, então houve um momento antes de Erika responder.
— ...Quer dizer, olha como é entediante. Ela sabe exatamente o que seu oponente inferior tem, e age toda valente, se afastando, e então marca o ponto, como planejado. Não é uma luta. É apenas uma luta encenada.
— Bom, você está certa, mas... — Tatsuya começou a sorrir naturalmente. — É para promover, então não é normal? Há muitos atletas profissionais famosos por encenarem batalhas reais de espada, mas uma batalha de espadas realmente real não seria algo para mostrar aos outros, certo? Uma batalha real entre especialistas é essencialmente uma luta até a morte.
— ...Você é bem calmo.
— Você não está só agitada demais?
Erika se virou para longe dele, seu rosto contrariado. Mas aquela expressão dela era uma espécie de espetáculo em si.
Erika provavelmente achava que seus movimentos ostensivos e espaçados negligenciavam a verdadeira arte, que era desonesto — e ela estava com raiva disso. Mas quando Tatsuya apontou isso, ela parecia ficar ainda mais zangada.
Provavelmente ela nunca se intrometeria neles, mas possivelmente poderia fazer algo próximo disso. Tatsuya decidiu afastar essa possibilidade e instigou Erika a sair com ele. Ou melhor, ele tentou.
Logo após eles terem saído da zona de observação e se aproximado da entrada do ginásio, uma agitação de um tipo diferente de reclamação veio de trás deles.
Não conseguiram ouvir muito bem, mas sabiam que pessoas estavam discutindo sobre algo.
Ele olhou para o lado, e Erika olhou para ele. Seus olhos estavam cheios de curiosidade.
A primeira a forçar seu caminho através do círculo de pessoas cada vez mais animadas foi Erika. Segurando firmemente a manga de Tatsuya.
Tatsuya também se aproximou do centro da confusão, puxado por Erika.
As pessoas franziram a testa para eles enquanto passavam pela multidão — o poder do sorriso insincero de Erika foi um grande motivo pelo qual não entraram em uma briga por causa disso — e conseguiram chegar a um ponto onde podiam ver o que estava acontecendo.
Viram um espadachim masculino e uma espadachim feminina se confrontando.
A garota era a mesma do duelo anterior — nas palavras de Erika, aquela que estava encenando a luta. Sua armadura ainda estava colocada, mas o capacete estava fora. Ela era bem bonita, com cabelo preto liso semilongo que deixava uma impressão. Com suas habilidades e sua aparência, ela provavelmente era a pessoa perfeita para atrair novos membros.
— Hmm. Tatsuya, você gosta de pessoas como ela?
— Não, acho você mais fofa.
— ...Não me deixa feliz quando você diz isso de forma tão monótona.
Enquanto ela o encarava insatisfeita, a pele ao redor de seus olhos levantados estava tingida de vermelho.
— Não estou acostumado com isso.
— ...Aff! — Ela continuou a resmungar sobre uma coisa ou outra, mas não parecia querer continuar com isso, então Tatsuya seguiu para o garoto.
Ele não era tão grande — provavelmente menor que Tatsuya — mas seu corpo todo era esguio, como uma mola enrolada. Ele estava segurando um shinai, a espada de bambu usada no kendo, mas, de qualquer forma, ele não tinha nenhuma armadura.
Tatsuya considerou pegar alguém ali perto e perguntar o que estava acontecendo, mas não havia necessidade.
— Ainda falta mais de uma hora para a vez do clube de kenjutsu, Kirihara! Por que você não pode esperar até lá?
— Estou surpreso, Mibu. Você não pode mostrar as maiores forças do clube de kendo para os novatos brincando com iniciantes assim. Só pensei em te ajudar um pouco!
— Você se forçou a entrar aqui para arranjar briga?! Não acredito que você acabou de usar a palavra ajudar. Se o comitê disciplinar soubesse da violência que você mostrou contra seu veterano, não seria mais só um problema seu.
— Violência? Ei, Mibu. As pessoas vão entender mal. Ele estava usando armadura e eu usei um shinai. Só dei uma pancadinha no rosto dele. Mesmo se ele fosse um regular do clube de kendo, não é nada para se preocupar. E ele foi o que atacou primeiro, lembra?
— Isso porque você o provocou!
As lâminas de suas palavras perfuravam uma na outra. Ele pensou que poderiam não dizer mais nada, mas cada um respondeu convenientemente às perguntas do outro.
— Isso está ficando interessante — murmurou Erika, meio para si mesma e meio não. Ele podia perceber pelo tom de voz dela que estava animada. — Essa luta seria bem mais interessante do que aquela farsa de antes.
— Você conhece esses dois?
— Bom, nunca os encontrei pessoalmente — ela respondeu imediatamente. Ela provavelmente não estava falando consigo mesma, afinal. — Só lembrei que vi a garota em uma competição antes. Sayaka Mibu. Ano retrasado, ela ficou em segundo lugar no torneio nacional de kendo feminino do ensino médio. Todo mundo a chamava de coisas como "espadachim deslumbrante" e "bela do kendo".
— ...Mas ela ficou em segundo.
— Bom, a campeã era... Bom, não era tão fotogênica.
— Entendi. — Bom, era assim que a mídia funcionava.
— O garoto é Takeaki Kirihara. Ele foi o campeão do torneio de kenjutsu do ensino fundamental de Kanto dois anos atrás. Ele ficou em primeiro lugar de verdade.
— Ele não foi para o nacional?
— Eles só têm torneios nacionais de kenjutsu a partir do ensino médio. Não haveria tantas pessoas antes disso.
Tatsuya assentiu em entendimento e concordância.
Kenjutsu era um esporte que combinava técnicas de espada com técnicas mágicas, então os atletas precisariam usar magia como pré-requisito.
Embora os avanços nos estudos mágicos tivessem trazido o desenvolvimento de dispositivos para auxiliar na conjuração de magia, apenas talvez um em cada mil alunos do ensino fundamental, por ano, seriam capazes de ativar magia em um nível prático.
E aqueles que conseguiam manter esse poder mágico em um nível prático mesmo depois de amadurecer seriam menos de um décimo disso.
Os alunos do Curso 2 eram tratados como sobras dentro desta escola, mas comparados à população geral, também eram elite.
— Opa, parece que eles vão começar em breve.
Tatsuya também sentia que a corda da tensão estava chegando ao seu ponto de ruptura.
Preparando-se para o pior, ele pegou a braçadeira do bolso e a colocou no braço esquerdo. Os estudantes próximos olharam para ele, surpresos, e seus olhos se arregalaram novamente ao ver a ausência do brasão da escola em seu peito esquerdo, mas Tatsuya estava prestando atenção apenas aos dois que se confrontavam.
A estudante feminina provavelmente estava hesitante em atacar um oponente que não estava usando armadura. Mas enquanto estavam apontando suas palavras um para o outro e não recuando, um confronto de espadas era inevitável.
O garoto — Kirihara — provavelmente faria o primeiro movimento.
— Não se preocupe, Mibu. Esta é uma demonstração do clube de kendo. Vou te fazer um favor e não usar magia.
— Você acha que tem uma chance apenas com habilidades de espada? O clube de kenjutsu usa magia como uma bengala, mas o clube de kendo só tem polido suas habilidades com espadas.
— Essas são palavras grandes, Mibu. Então eu vou te mostrar! Vou te mostrar as técnicas de kenjutsu que nos permitem competir em um nível além das limitações físicas!
Aquilo foi o sinal para começar.
Kirihara de repente balançou seu shinai para baixo na cabeça desprotegida dela.
Os dois shinai soaram violentamente um contra o outro.
Os gritos da multidão vieram dois batimentos depois.
Os espectadores provavelmente não sabiam o que estava acontecendo.
Eles só podiam imaginar o quão ferozes os ataques de espada que os combatentes estavam trocando deviam ser pelos barulhos violentos de shinai se chocando, que ocasionalmente tinham até um som metálico.
— Com exceção de algumas poucas pessoas.
— O kendo dela era bem avançado. Se ela foi a segunda, quão incrível deve ser a primeira? — Tatsuya exalou em admiração pelas habilidades de espada deles — notavelmente de Sayaka.
— Não... Ela parece uma pessoa diferente da Sayaka Mibu que eu vi. Não acredito que ela melhorou tanto em apenas dois anos... — respondeu Erika, tomada de surpresa, mas também emitindo um ar de belicosidade de alguma forma, como se estivesse escondendo o rosto e lambendo os lábios.
Os dois se separaram, sua disputa de cabo de guerra parou por um momento, e cada um saltou para trás para criar distância entre eles.
As respostas dos observadores se dividiram: aqueles que estavam respirando, e aqueles que não estavam.
— Me pergunto quem vai ganhar... — ponderou Erika sob sua respiração.
— Mibu tem a vantagem, certo? — respondeu Tatsuya com um sussurro.
— Por que você acha isso?
— Kirihara está evitando acertá-la no rosto. Foi um blefe, que antecipou levar o primeiro ataque. Eles não estão suficientemente distantes para ele vencer quando não pode usar magia e está colocando outra desvantagem sobre si mesmo. Mesmo em uma luta justa, se fosse apenas um duelo de shinai, acho que as chances estariam a favor de Mibu.
— Concordo na maior parte. Mas quanto tempo Kirihara pode aguentar isso?
Ele não poderia ter ouvido o comentário de Erika, mas...
— Uohhhhh!
...pela primeira vez na batalha, Kirihara avançou com um grito de guerra.
Cada um deles balançou para baixo.
— Acertando um ao outro?
— Não, eles nem chegaram perto!
O shinai de Kirihara atingiu o braço superior esquerdo de Sayaka...
...e o shinai de Sayaka estava cravado no ombro direito de Kirihara.
— Kuh!
Kirihara afastou o shinai de Sayaka com a mão esquerda e deu um grande salto para trás.
— Derrotado porque mudou seu alvo no meio do caminho.
— Entendi, foi por isso que sua postura afrouxou. Era o momento perfeito para um golpe duplo... mas no final, ele não conseguiu encontrar em si mesmo para fazer isso.
Tatsuya e Erika não foram os únicos a ver que o duelo tinha acabado.
Os rostos dos membros do clube de kendo pareciam aliviados.
E os membros do clube de kenjutsu, o grupo que havia feito seu caminho para a frente da galeria em algum momento, e vestindo uniformes diferentes do clube de kendo, estavam com caras feias.
— Se estas fossem espadas de verdade, você estaria morto. Você nem teria chegado aos meus ossos. Admita sua derrota. — Sayaka declarou sua vitória, sua expressão digna.
Kirihara a encarou. Será que ele admitiu que ela estava correta como espadachim, embora suas emoções tentassem negar isso?
— Hah, ha-ha-ha... — Kirihara começou a rir com um riso vazio. Ele admitiu sua derrota?
Não parecia.
O nível de água do senso interno de perigo de Tatsuya subitamente disparou.
Sayaka, que ainda estava de frente para ele, provavelmente entendeu a ameaça de forma mais distinta do que ele.
Ela preparou sua espada novamente, apontou a ponta diretamente para ele, e olhou fixamente para Kirihara.
— Se estas fossem espadas de verdade? Meu corpo não foi cortado! Mibu, você quer uma luta com espadas de verdade? Então... como você deseja! Eu vou te enfrentar de verdade!
Kirihara tirou a mão direita do shinai e pressionou-a no pulso esquerdo.
Houve um grito dos espectadores.
Os espectadores cobriram os ouvidos com o som desagradável que parecia unhas arranhando vidro.
Houve alguns que empalideceram e caíram de joelhos também.
Kirihara avançou e balançou seu shinai para baixo com a mão esquerda.
Embora seu ataque com uma mão fosse rápido, não tinha o máximo de força.
Mas Sayaka não tomou o ataque — ela deu um grande salto para trás.
Não a atingiu.
No máximo, a roçou.
E ainda assim havia uma linha fina na armadura de Sayaka. Era o traço de onde o shinai a roçou.
Ele tinha usado um feitiço de combate corpo a corpo do tipo vibração chamado Lâmina de Alta Frequência para dar ao seu shinai o gume de uma espada de verdade.
— Como é, Mibu? Esta é uma espada de verdade!
>Mais uma vez, ele balançou sua espada para baixo em direção a Sayaka com uma mão só. E bem diante dos olhos dele, Tatsuya se colocou no meio deles.
Pouco antes de pular para a frente, Tatsuya havia cruzado levemente seus braços esquerdo e direito, com CADs neles, e enviado psions para eles. O fluxo psiónico firmemente concentrado—ele imaginou pressionar as teclas dos CADs com dedos feitos de psions.
Usando o interruptor sem contato, os CADs emitiram um programa de ativação. Num piscar de olhos, a onda psiónica em si, tendo sido convertida em um padrão intricado—magia sem tipo foi disparada por Tatsuya.
Dessa vez, havia alguns entre os espectadores que precisaram cobrir a boca. Sintomas não muito diferentes de enjoo surgiram radicalmente. Mas, em troca, o som agudo e desagradável desapareceu.
O shinai de Kirihara e o braço de Tatsuya se cruzaram. Não houve som de bambu atingindo carne. O que ressoou foi o som de algo caindo no chão de madeira.
E então, o que os observadores viram, libertados do ruído e da instabilidade, finalmente recuperando a habilidade de olhar e ver o que estava acontecendo...
...foi Tatsuya segurando o pulso esquerdo de Kirihara—que havia sido derrubado e jogado de costas—e pressionando seu ombro com o joelho.
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Sussurros hostis quebraram o silêncio no pequeno ginásio—na arena.
— Quem é aquele? — Nunca o vi antes. — Ele não é um aluno novo? — Olha, ele é um “Capim”. — Por que um substituto está se metendo? — Mas aquela braçadeira... — Agora que penso nisso, ouvi dizer que o comitê disciplinar escolheu um calouro do Curso 2. — Sério? Um Capim no comitê disciplinar?
A inquietação estava se espalhando, tendo o clube de kenjutsu como centro. Tanto garotos quanto garotas cochichavam sobre ele. Metade da multidão circundante lançou olhares hostis a Tatsuya. A outra metade prendia a respiração.
Sendo oprimido por uma atmosfera esmagadoramente adversa, Tatsuya, ainda mantendo Kirihara no chão, pegou a unidade de comunicação de voz de seu terminal portátil. Sua expressão calma não parecia um blefe, pelo menos tanto quanto qualquer um podia dizer. Sua postura parecia a de um vilão—acostumado a ser vaiado.
— Aqui é o segundo ginásio. Prendi uma pessoa. Ele está ferido, então, por favor, tragam uma maca, só por precaução.
Ele não havia dito isso muito alto, mas suas palavras alcançaram as bordas da multidão. Após um momento, bem quando o significado disso se estabeleceu, um dos membros do clube de kenjutsu na primeira fila gritou furiosamente para ele, confuso.
— Ei, qual é o significado disso?!
Provavelmente ele havia perdido a cabeça. Sua pergunta não fazia muito sentido. Ou talvez não fosse uma pergunta, mas uma ameaça.
— Estou pedindo que Kirihara venha comigo, porque ele usou magia de forma imprópria.
Tatsuya respondeu à sua voz irritada com honestidade. Embora seu olhar permanecesse fixo no imobilizado Kirihara. Ele não tinha levantado a cabeça, então, enquanto sua resposta poderia ter sido honesta, era difícil chamá-la de educada. Dependendo de como se olhasse, parecia que ele estava zombando.
Foi assim que o veterano do clube de kenjutsu pensou.
— Ei, seu desgraçado! Não venha com esse papo furado, seu Capim!
Ele estendeu as mãos para a gola de Tatsuya.
Tatsuya soltou Kirihara e, ainda meio abaixado, deslizou para trás. Ele manteve os olhos em Kirihara, que tinha caído no chão, com as pernas e as costas esticadas.
Ele devia estar se sentindo bastante tonto para não conseguir cair com elegância quando foi jogado para longe daquele jeito. Não haveria qualquer preocupação de ele fugir assim. Julgando isso, Tatsuya finalmente direcionou seus olhos para o veterano que se inflamava contra ele (e ainda estava inflamado contra ele, no presente).
Em resposta à atitude de Tatsuya—ele parecia nem mesmo estar prestando atenção nele—o membro do clube de kenjutsu enfrentando Tatsuya rangia os dentes com tanta força que ele pensou que poderia ouvir o ranger.
Disparos de apoio da multidão. — Por que só o Kirihara? A Mibu do clube de kendo não é culpada do mesmo crime? Ambas as partes são culpadas aqui!
Claro, era o apoio para Kirihara e para o membro do clube de kenjutsu que tentou agarrar Tatsuya, e crítica direcionada a Tatsuya.
Em resposta, Tatsuya respondeu num tom neutro, mais uma vez com honestidade.
— Acredito que disse que foi por causa do uso impróprio de magia.
Erika, atordoada, lançou-lhe um olhar que dizia que ele deveria tê-los simplesmente ignorado. Então, o que ela temia aconteceu.
— Besteira!
O veterano, agora em completo frenesi, foi tentar agarrar Tatsuya de novo.
Ele girou o corpo como um matador de touros para fugir de suas mãos. Mas tudo o que isso fez foi atiçar as chamas.
Dessa vez ele veio com um soco, mas, mais uma vez, Tatsuya o esquivou.
O membro do clube de kenjutsu lançou loucamente soco após soco, mas ele estava claramente fora de seu elemento quando se tratava de combate desarmado, e assim seus movimentos eram desleixados. Ele podia estar em frenesi, mas não precisava de alguém com as habilidades de Tatsuya para ser capaz de facilmente evitá-lo.
Ele continuou a se esquivar dos socos amplos com passos leves até que suas posições se inverteram. O veterano, cansado de atingir apenas o ar, parou, e Tatsuya parou com ele—e nesse momento...
Um segundo membro do clube de kenjutsu saiu da multidão e correu em direção às costas de Tatsuya. Sua postura, com os braços esticados de forma estranha—será que ele estava tentando aplicar um golpe de nelson completo?
Erika tentou gritar Cuidado! mas antes que as palavras saíssem...
O corpo de Tatsuya girou.
Seu braço estendido traçou um arco pelo ar e engoliu o corpo que vinha para agarrá-lo.
O segundo membro do clube de kenjutsu colidiu com o primeiro, e os dois rolaram espetacularmente no chão em uma pilha.
O silêncio os visitou novamente. Todo o barulho desapareceu da arena. Ninguém sequer tossiu.
Mas se veias saltando da cabeça das pessoas fizessem algum som, estaria perfurando os tímpanos de Tatsuya e Erika agora.
No momento seguinte...
...os membros do clube de kenjutsu atacaram Tatsuya de uma só vez.
Houve um grito. Todos, além do clube de kenjutsu—não apenas a galeria, mas até mesmo os membros do clube de kendo também—se espalharam como aranhas, com medo de serem pegos na briga.
Entre eles, apenas uma pessoa, Sayaka—que poderia ser considerada a causa deste incidente—preparou sua postura, provavelmente prestes a avançar e dar seu apoio a Tatsuya.
— Espere, Mibu!
Mas um membro sênior masculino do mesmo clube agarrou seu braço e a deteve.
— Ah, Capitão Tsukasa...
Ela tentou resistir por um momento, mas quando viu o rosto da pessoa que segurava seu braço, ela obedientemente recuou e saiu com ele. Seu rosto estava cheio de culpa, mas mesmo assim, ela não afastou a mão deste veterano—o capitão da equipe masculina de kendo, Kinoe Tsukasa.
Enquanto Sayaka era arrastada para longe da briga pelo capitão do time masculino, Tatsuya tornou-se o foco, e ele enfrentou os ataques dos membros do clube de kenjutsu. No entanto, ao encontrar os ataques, ele não contra-atacou—ele continuou a lidar com os Blooms desviando-se e esquivando-se de todos eles.
Seu porte era mais firme do que esplêndido—ou talvez o termo confiável fosse o melhor aqui. Ele se movia exatamente tanto quanto precisava. Ele tinha que ter conhecido a ordem precisa dos ataques dos veteranos, que vinham de todas as direções. Ele não estava fazendo um show disso, desviando-se de tudo por um fio de cabelo, mas sim ele se esgueirava por eles com espaço suficiente para sair do perigo. Como parte de sua tentativa coordenada de mantê-los todos ali, ele simulava ataques e causava aliados a se atingirem, ou se tornava uma parede e habilmente girava para fora em um arco, fora do alcance dos oponentes que se aproximavam dele. Apesar de dez pessoas o atacarem, o clube de kenjutsu não conseguia nem deixá-lo sem fôlego, muito menos impedi-lo de se mover.
Nem um fragmento de pressa ou inquietação apareceu em seu rosto. Nem um traço de desleixo ou estagnação apareceu em seus movimentos. O desrespeitoso Capim não contra-atacava, não porque não pudesse, mas porque não havia necessidade. Ele estava fazendo esses Blooms do clube de kenjutsu aceitarem esse fato.
No fundo do grupo, um membro furioso e de rosto vermelho do clube de kenjutsu tentou disparar magia em Tatsuya. A luz psiónica restante brilhando uma após a outra devia significar que ele tinha expandido um programa de ativação e tentado usar um feitiço.
No entanto, sua magia nunca se ativou.
Sempre que Tatsuya direcionava seu olhar para lá, junto com tremores que traziam náuseas como se fosse enjoo de movimento, os aglomerados de psions que não conseguiam formar um programa mágico se dissipavam no ar vazio.
Enquanto xingavam furiosamente, suas expressões traindo sua incompreensão, eles voltavam a atacar Tatsuya e tentavam agarrá-lo e socá-lo, continuando a acertar apenas o ar.
Sayaka não percebeu até o final que o capitão da equipe masculina estava observando tudo isso com grande interesse.