Volume 1 - Capítulo 3
The Irregular at Magic High School
Ele estava grato por eles não terem ficado com inveja ou ciúmes dele, mas ser mandado embora com um animado “Boa sorte!” meio que arruinou o clima — só o deixaria desanimado. E era ainda mais difícil porque o próprio Tatsuya não tinha empolgação alguma para começar.
Após a escola, ele arrastou-se até a sala do conselho estudantil, seus pés ainda mais pesados do que estavam na hora do almoço. A atmosfera era um tanto deprimente, mas Miyuki manteve-se em silêncio, entendendo seus sentimentos distorcidos.
Os cartões de identificação deles já estavam registrados no sistema de autenticação (ele era contra já se considerar um membro do comitê disciplinar, mas Mayumi e Mari haviam imposto suas vontades sobre ele), então entraram sem problemas.
Foram recebidos por um olhar afiado, carregado de uma hostilidade distinta. A origem estava do outro lado do console de trabalho embutido na parede. Sentado no lugar que estava vazio durante o almoço.
— Com licença.
Novamente, ele não podia se gabar disso, mas Tatsuya já estava acostumado a esse tipo de olhar e atmosfera. Isso é triste? Quando ele manteve a expressão neutra e fez uma leve reverência sem dizer uma palavra, a hostilidade dispersou-se como se nunca estivesse ali. Embora não fosse como se a hostilidade em relação a ele tivesse desaparecido — apenas mudou para interesse em Miyuki, que agora estava parada à sua frente, e ninguém precisava explicar isso para ele.
O dono do olhar levantou-se e aproximou-se dos irmãos. Não — talvez fosse mais preciso dizer que ele se aproximou de Miyuki.
Tatsuya se lembrou de seu rosto. Ele era o estudante do segundo ano que estava sentado logo atrás de Mayumi durante a cerimônia de entrada — o que significava que ele era o vice-presidente do conselho estudantil.
Sua altura era mais ou menos a mesma de Tatsuya. Sua compleição era um pouco magra.
Ele era bem-apessoado, mas seus traços não eram particularmente notáveis, e seu físico não era nada especial. Não parecia ser fisicamente forte, mas o brilho dos psions que encobriam o ar ao seu redor indicava seu excelente poder mágico.
— Sou o vice-presidente, Gyoubu Hattori. Miyuki Shiba, seja bem-vinda ao conselho estudantil. — Sua voz parecia um pouco tensa, mas considerando sua idade, ele estava exibindo um bom nível de autocontrole. Sua mão direita se mexeu — talvez considerando estendê-la para um cumprimento, mas ele se conteve.
Tatsuya não se preocupou em indagar o porquê ele se conteve.
Hattori voltou ao seu assento depois disso, ignorando completamente Tatsuya. Ele sentiu um leve toque de indignação vinda de trás de Miyuki, mas ela desapareceu instantaneamente. Ninguém além de Tatsuya, que estava logo atrás dela, teria notado. Tatsuya, em particular, colocou a mão no peito, aliviado por ela ter conseguido se controlar.
Sem se importar com sua ansiedade — embora, considerando que acabaram de se conhecer, isso era natural — eles foram recebidos por duas saudações casuais, sem tocar no ato do vice-presidente que havia causado o desconforto.
— Ah, você está aqui.
— Bem-vinda, Miyuki. E obrigado por vir também, Tatsuya.
A pessoa que acenou levemente para ele, já o tratando como um amigo, era Mari, e a que o tratava de forma natural, mas diferente, era Mayumi. Claro, nenhuma dessas atitudes o incomodava exatamente.
Tatsuya já havia chegado com a mentalidade de que preocupar-se com essas duas não o levaria a lugar algum.
— Desculpe começar já com isso, mas Ah-chan, você poderia...?
— ...Tudo bem.
Seu estado de espírito também era de resignação. Azusa abaixou os olhos por um momento, triste, depois sorriu de maneira constrangida e assentiu. Ela guiou Miyuki até o terminal na parede.
— Certo, também devemos nos mexer.
Ele sentiu que o tom de voz dela havia mudado bastante em apenas um dia, mas Tatsuya achou que isso provavelmente era algo mais característico de Mari.
— Para onde?
No entanto, Tatsuya não teve uma criação nobre e não se importava com a maneira como ela falava. Ele simplesmente respondeu ao que lhe foi dito.
— A sede do comitê disciplinar. Acho que será mais fácil se você ver tudo. É a sala logo abaixo desta. Ah, mas está conectada no meio.
Tatsuya fez uma pausa antes de responder à resposta de Mari. — ...Essa é uma estrutura estranha.
— Concordo — ela disse, levantando-se de seu assento. No entanto, antes de se levantar completamente, foi interrompida.
— Espere, Watanabe.
Quem a parou foi o vice-presidente Hattori. Mari respondeu a ele usando um nome que Tatsuya ainda não estava familiarizado.
— O que foi, vice-presidente Hanzou Gyoubu-Shoujou Hattori?
— Por favor, não me chame pelo nome completo!
Tatsuya, sem pensar, olhou para Mayumi. Ela inclinou levemente a cabeça, se perguntando por que ele fez isso. Nunca pensei que "Hanzou" fosse seu nome verdadeiro... Foi completamente inesperado.
— Certo, então vice-presidente Hanzou Hattori.
— É Gyoubu Hattori!
— Isso não é um nome; é apenas sua posição oficial. Na sua família.
De fato, o termo gyoubu-shoujou se referia a um cargo júnior do tradicional “ministro da justiça” no Japão pré-moderno.
— Não tenho classificação no momento. A escola aceitou meu nome registrado como Gyoubu Hattori! ...Mas isso não é o que eu queria dizer!
— Foi você que ficou preso nisso.
— Agora, Mari, há certas coisas nas quais Hanzou não cede — comentou Mayumi.
Todos se viraram para olhar para ela, como se dissessem: Você não é a pessoa certa para falar disso.
Mas ela não deu sinais de responder a eles.
Talvez ela nem tenha percebido.
E, por algum motivo, Hattori também não disse nada. Mas não era como se ele não soubesse como lidar com ela — Tatsuya teve um vislumbre de uma emoção diferente da que ele demonstrava com Mari, e achou aquilo bem interessante.
Na medida em que ele era apenas um observador dessa situação.
Mas ele não poderia permanecer um espectador por muito tempo. — Watanabe, o que eu queria falar era sobre a substituição no comitê disciplinar.
O sangue que havia subido ao seu rosto recuou completamente. Hattori recuperou a compostura como se fosse um vídeo em câmera acelerada.
— O quê?
— Sou contra nomear aquele calouro como membro do comitê — opinou Hattori calmamente, talvez suprimindo suas emoções.
A expressão de Mari ao ouvir aquilo não parecia ser uma atuação, necessariamente. Ele não conseguia dizer se sua expressão era de surpresa, cansaço ou alguma outra emoção. — Não seja ridículo. A presidente Saegusa foi quem nomeou Tatsuya Shiba como a escolha do conselho estudantil. Mesmo que tenha sido uma nomeação verbal, isso não muda a validade da nomeação.
— Eu ouvi que ele ainda não aceitou. Não é uma nomeação oficial até que a pessoa a aceite.
— Isso seria um problema para Tatsuya. A opinião do conselho estudantil já foi expressa pela presidente do conselho. A decisão é dele, não sua — disse Mari, olhando entre Tatsuya e Hattori.
Hattori não lançou um único olhar para Tatsuya. Ele estava deliberadamente ignorando-o.
Suzune observava os dois calmamente, Azusa estava aflita, e Mayumi mantinha um sorriso vago, enigmático. Miyuki estava quietamente junto à parede. No entanto, Tatsuya estava tenso, embora de uma forma diferente de Azusa — ele não sabia quando sua irmã poderia perder o controle novamente.
— Não há precedentes para nomear um Weed para o comitê disciplinar.
O epíteto na resposta de Hattori fez Mari levantar levemente as sobrancelhas. — Essa é uma palavra proibida, vice-presidente Hattori. O comitê disciplinar já decidiu que é um termo discriminatório. Você tem coragem de usá-lo bem na frente da líder do comitê.
Hattori não parecia intimidado por suas palavras, que poderiam ser tomadas tanto como uma repreensão quanto como um aviso, ou ambos.
— Não há por que manter as aparências, certo? Ou você pretende repreender mais de um terço dos alunos desta escola? A distinção entre Blooms e Weeds é reconhecida pela escola e está incorporada no sistema escolar. E há uma diferença de habilidade suficiente entre eles para formar a base dessa distinção. Os membros do comitê disciplinar são encarregados de usar suas habilidades reais para reprimir estudantes que não seguem as regras. A habilidade real de um Weed é inferior, e assim eles não podem servir no comitê.
Mari respondeu à declaração arrogante de Hattori com um sorriso frio. — O comitê disciplinar de fato considera a habilidade real como importante, mas existem muitos tipos de habilidade. Se precisarmos de alguém forte, temos a mim. Quer sejam dez ou vinte, posso lidar com todos sozinha. As únicas pessoas que podem lutar de igual para igual comigo são a presidente Saegusa e o presidente Juumonji, afinal. Pela sua lógica, não precisaríamos de pessoas talentosas, mas que carecem de habilidades de combate reais. Ou você quer lutar comigo, vice-presidente Hattori?
As palavras de Mari estavam respaldadas por confiança e resultados. Mas, embora Hattori tenha vacilado e perdido a batalha mental contra ela, ele não parecia ter intenção de levantar a bandeira branca. — Eu não sou o problema aqui. É uma questão de aptidão dele.
Claro, Hattori acreditava firmemente que o que estava dizendo era correto. Estudantes do Curso 2, menos poderosos, não poderiam fazer parte do comitê disciplinar, já que o comitê exigia o uso de força. Isso era provado pela realidade de que nenhum aluno do Curso 2 jamais havia sido escolhido para o comitê disciplinar.
Mas a confiança de Mari era ainda mais forte. — Eu não acabei de dizer que existem diferentes tipos de habilidade? Tatsuya tem a capacidade de prever programas de ativação enquanto estão sendo expandidos e consegue prever a magia que estão executando.
— ...O quê? — perguntou Hattori reflexivamente — ele não esperava por aquelas palavras. Talvez ele não acreditasse no que acabara de ouvir.
Prever programas de ativação. Não havia como alguém fazer isso. Isso era senso comum para ele.
— O que estou dizendo é que ele pode saber que tipo de magia alguém está tentando usar, mesmo que não a tenham ativado de fato. — Mas a resposta de Mari não mudou. Ela falou sem incerteza, como se fosse a verdade e fosse possível.
— As regras de punição da nossa escola variam com base no tipo e escala da magia que a pessoa tentou usar. Mas, se fizer como Mayumi faz e destruir o programa de ativação antes que o programa mágico seja executado, não saberemos que tipo de magia eles estavam tentando usar. Mas se deixarmos o programa de ativação se expandir, estaremos colocando a carroça na frente dos bois. Se pudermos cancelar a expansão do programa durante a fase de implantação, será mais seguro. Sempre tivemos dificuldade para decidir como punir os criminosos em tentativas de uso de magia, e às vezes temos que ser mais lenientes. Ele será uma grande ajuda nesse sentido.
— ...Mas ele seria capaz de impedir que a magia fosse executada em uma situação de crime real...? — Seu tom não conseguia ocultar seu choque, e Hattori tentou de alguma forma argumentar contra ela.
— Isso vale para os calouros do Curso 1 também. Até para os do segundo ano — quantas pessoas você acha que têm as habilidades para impedir a ativação da magia de um oponente, usando a sua própria, depois que ela já começou? — Mari rejeitou o que ele disse de forma clara, mas isso não era tudo.
— E, além disso, há outra razão pela qual quero ele no comitê.
Até Hattori não conseguiu encontrar palavras para responder imediatamente.
— Até agora, nenhum aluno do Curso 2 foi nomeado para o comitê disciplinar. Em outras palavras, os alunos do Curso 1 têm controlado as infrações relacionadas à magia cometidas por alunos do Curso 2. Como você disse, há um fosso emocional entre os alunos do Curso 1 e os do Curso 2 aqui. O sistema de alunos do Curso 1 controlando alunos do Curso 2, e não o contrário, está agravando essa situação. Como chefe do comitê, prefiro não fazer nada que promova essa atitude de discriminação.
— Uau... Isso é incrível, Mari. Você pensou em tudo isso sozinha? Eu completamente pensei que você só gostava do Tatsuya.
— Presidente, por favor.
Mayumi quase quebrou o clima, mas Suzune a conteve.
Uma lançou um olhar repreensivo.
A outra balançou a cabeça.
A primeira era Mayumi, e a segunda Suzune.
A confrontação emocional, ainda não resolvida, continuou a despejar suas toxinas.
— Presidente... Como vice-presidente, eu me oponho à eleição de Tatsuya Shiba para o comitê disciplinar. Admito que a chefe Watanabe tem um ponto, mas ainda acredito que o objetivo original do comitê disciplinar é suprimir e expor as violações das regras escolares. Um aluno do Curso 2, com habilidades mágicas inferiores, não é adequado para o cargo. Sua nomeação equivocada certamente prejudicará sua credibilidade no futuro. Peço que reconsidere.
— Espere, por favor!
Tatsuya entrou em pânico e se virou. Como ele temia, Miyuki finalmente perdeu a paciência. Ele estava tão envolvido no discurso de Mari que não conseguiu controlá-la a tempo. Ele rapidamente tentou impedi-la, mas Miyuki já havia começado a falar.
— Isso pode parecer ousado, Vice-Presidente. As notas do meu irmão em magia prática podem não ser brilhantes, mas isso se deve apenas ao fato de que a forma como avaliam o teste prático não corresponde às suas forças. Quando se trata de combate real, ninguém consegue vencê-lo.
Suas palavras estavam cheias de confiança, e Mari abriu levemente os olhos. O sorriso vago de Mayumi também desapareceu, e ela lançou um olhar sério para Miyuki e Tatsuya. Mas o olhar de Hattori não tinha muita seriedade.
— Shiba... — Hattori estava, claro, falando com Miyuki. — Magos devem ser capazes de pensar com calma e logicamente, e lidar com tudo de forma imparcial. O favoritismo por membros da família pode ser inevitável para pessoas normais, mas como aspirantes a magos, não podemos permitir que nossos olhos sejam obscurecidos pelo nepotismo. Por favor, tenha isso em mente.
Ele parecia estar tentando ser um excelente veterano, olhando pelos outros alunos do Curso 1, ainda que um pouco autoindulgente. — Neste caso, porém, parecia evidente, desde que Miyuki começou a argumentar, que sua maneira de falar teria o efeito oposto.
Como esperado, Miyuki ficou mais irritada. — Uma palavra, se me permite — meus olhos não estão obscurecidos! Se olharmos apenas para o verdadeiro poder do meu irmão —
— Miyuki! — Ele ergueu as mãos diante de Miyuki, que estava prestes a perder completamente a calma. Ela pareceu surpresa, então, envergonhada e arrependida, fechou a boca e olhou para baixo.
Tatsuya, que havia parado sua irmã com palavras e gestos, moveu-se para a frente de Hattori.
Miyuki definitivamente havia falado demais. Ela quase disse algo que jamais deveria. Mas foi Hattori quem a levou até esse ponto. Tatsuya não pretendia deixar Miyuki ser a única culpada.
— Vice-presidente Hattori, gostaria de ter um duelo simulado comigo?
— O quê...?
Hattori, o desafiado, não foi o único surpreendido pela proposta inesperada. Mayumi e Mari também encararam os dois, espantadas com o contra-ataque ousado e imprevisível.
Com os olhares de todos na sala sobre eles, o corpo de Hattori começou a tremer. — Não se atreva, seu substituto!
Alguém gritou — foi Azusa? Os outros três, como se poderia esperar de veteranos, mantiveram a calma. E, quanto ao alvo do insulto, ele estava com uma expressão preocupada, exibindo um leve sorriso forçado.
— O que é tão engraçado?!
— Magos não deveriam sempre manter a calma?
— Bah! — Ridicularizado por suas próprias palavras, Hattori soltou um grunhido de frustração.
A língua de Tatsuya não parou por aí. Ele não tinha vontade de parar. — Acho que você não entenderia minhas habilidades em combate pessoal na prática, a menos que lutasse comigo. Não é como se eu quisesse me tornar um membro do comitê disciplinar... mas se for para provar que os olhos da minha irmã não estão obscurecidos, então não tenho escolha — murmurou, como se estivesse falando consigo mesmo.
Isso só fez soar desnecessariamente provocativo para Hattori.
— ...Tudo bem por mim. Vou ensinar você a respeitar seus superiores.
Ele não deixou sua agitação durar muito tempo — prova, talvez, de que não era só conversa. Seu tom de voz controlado, no entanto, indicava a profundidade de sua raiva.
Mayumi falou sem demora. — Com o poder investido em mim como presidente do conselho estudantil, eu reconheço o duelo simulado entre Gyoubu Hattori do 2-B e Tatsuya Shiba do 1-E como um duelo oficial.
— Com base na declaração da presidente do conselho estudantil, como chefe do comitê disciplinar, reconheço este duelo como uma atividade extracurricular fundamentada nas regras escolares.
— O duelo será realizado em trinta minutos na Sala 3 de Seminário. O duelo será privado. Ambos os combatentes estão autorizados a usar CADs.
Duelo simulado era um ato de violência, e proibido pelas regras escolares — uma medida para evitar que as coisas escalassem para brigas.
Depois que Mayumi e Mari declararam solenemente que não se importavam, Azusa começou a digitar freneticamente em seu terminal.
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— Três dias e o segredo já foi revelado... — Tatsuya resmungou em frente à porta do Seminário 3. Ele havia trocado sua licença, carimbada pela presidente do conselho estudantil (esses documentos ainda eram feitos de papel), pela maleta de seu CAD.
Ele ouviu uma voz quase chorosa atrás dele. — Me desculpe tanto...
— Não há nada pelo que você precise se desculpar.
— Mas minhas ações te causaram problemas —
Ele se virou, deu meio passo à frente e estendeu a mão para a cabeça dela.
Miyuki se sobressaltou, então fechou os olhos. Mas, com a sensação de ele acariciando suavemente seu cabelo, ela ergueu a cabeça timidamente. Seus olhos pareciam prestes a derramar lágrimas a qualquer momento.
— Eu te disse no dia da cerimônia de entrada, lembra? Você sempre fica com raiva no meu lugar, já que eu não posso. Você sempre me salva... Então, não diga que está arrependida. Existem outras palavras para essa situação.
— Certo... Boa sorte — respondeu Miyuki, limpando as lágrimas e sorrindo. Tatsuya retribuiu o sorriso com um aceno e abriu a porta da sala de seminário.
— Eu não esperava isso. — Assim que ele abriu a porta, ouviu essa frase.
— Esperava o quê?
Quem o recebeu na sala de seminário foi Mari, que havia sido nomeada como árbitra.
— Que você fosse do tipo que adora uma boa briga. Eu te imaginava como alguém que não se importava com o que os outros diziam. — Embora tenha dito que não esperava, seus olhos brilhavam em antecipação.
Tatsuya usou seu controle emocional férreo — bem, talvez isso seja um exagero — para sufocar o suspiro profundo que ameaçava escapar de sua garganta.
— Achei que fosse o trabalho do comitê disciplinar impedir esse tipo de disputa pessoal. — Um comentário um tanto sarcástico saiu no lugar do suspiro, talvez inevitavelmente.
Mas Mari não pareceu responder a isso de forma alguma. — Não é pessoal. Esta é uma partida oficial. Mayumi disse isso, lembra? Nós analisamos suas habilidades em primeiro lugar, mas essa política não se aplica apenas entre alunos do Curso 1 e Curso 2 — na verdade, normalmente aplicamos isso entre dois alunos do Curso 1. Um aluno do Curso 1 e um do Curso 2 usando esse método para resolver algo é provavelmente uma novidade, no entanto.
Entendo. Isso significa que eles estão realmente incentivando resolver questões pela força quando não podem ser resolvidas com palavras. — Esses "duelos oficiais" se tornaram mais frequentes depois que você se tornou a chefe do comitê disciplinar?
— Sim, se tornaram. — Sua resposta completamente franca fez até Miyuki, que estava atrás de Tatsuya, sorrir de maneira seca. Então sua expressão de repente ficou séria, e ela se aproximou de seu rosto. — Você está confiante?
Uma pergunta sussurrada, falada tão perto que ele conseguia ouvir sua respiração.
As sobrancelhas bonitas de Miyuki se ergueram diante da distância próxima demais, mas Tatsuya, cuja visão estava dominada pelo sorriso significativo de Mari, felizmente (?) não percebeu a reação exagerada de sua irmã mais nova. Os olhos alongados de Mari o encaravam de meio palmo abaixo, e o aroma levemente doce que flutuava no ar — Tatsuya percebeu que estava se sentindo sexualmente excitado.
No momento em que percebeu, ele cortou essa sensação, convertendo-a em um simples fluxo de dados.
— Hattori está entre os cinco melhores usuários de magia da escola. Ele pode ser mais adequado para combate em grupo do que para lutas individuais, mas ainda assim, poucas pessoas conseguem vencê-lo em uma luta um a um — sussurrou Mari em um tom baixo, mas sem qualquer insinuação sensual.
— Não pretendo competir com ele diretamente. — Mas Tatsuya respondeu de forma curta e mecânica, sem mostrar qualquer sinal de inquietação.
— Você é bem calmo... Perdi um pouco de autoconfiança — ela respondeu, claramente divertida.
— Hã. — Tatsuya assentiu vagamente, sem tentar dar uma resposta diferente.
— Se você fosse fofo o suficiente para corar nessas horas, provavelmente teria mais gente disposta a te ajudar, sabia? — Ela sorriu e se afastou, indo para a linha de partida no meio da sala.
— Que irritante... — Ela deve ser do tipo que busca caos onde há ordem, e traz ordem onde há caos, pensou Tatsuya. Para aqueles que levavam vidas pacíficas, ela era apenas uma encrenqueira.
Ele soltou outro suspiro — dessa vez por causa dos relacionamentos interpessoais notavelmente problemáticos que havia estabelecido desde que entrou na escola.
Ele abriu sua maleta de CAD. Dentro da maleta preta, havia dois CADs em formato de pistola. Ele pegou um deles, descarregou o pente e o trocou por outro.
Todos, exceto Miyuki, o observavam com profundo fascínio.
— Desculpe a espera.
— Você sempre anda por aí com mais de um assim?
CADs especializados são limitados no número de programas de ativação que podem usar. CADs multifuncionais podiam armazenar noventa e nove programas de ativação, independentemente da família. Por outro lado, CADs especializados podiam armazenar apenas uma combinação de nove programas de ativação pertencentes à mesma família. Um CAD foi desenvolvido uma vez para permitir a troca do mecanismo de armazenamento de programas de ativação, para compensar essa falha, mas o tipo especializado era favorecido por magos que se especializavam em tipos específicos de programas mágicos. Não havia muita necessidade de um aumento na variação de magias. A maioria das pessoas acabaria usando apenas um tipo de magia, mesmo que carregassem mais de um dispositivo de armazenamento.
Mas a resposta de Tatsuya, dada em resposta à curiosidade óbvia de Mari, mostrava que ele fazia parte da minoria. — Sim. Não tenho capacidade mental suficiente para usar um tipo multifuncional.
Hattori, parado à sua frente, deu uma risada debochada ao ouvir isso, mas isso não fez nem uma ondulação na mente de Tatsuya.
— Certo, então vou explicar as regras. Qualquer técnica que resulte na morte do oponente, seja por ataque direto ou indireto, é proibida. Técnicas que resultem em ferimentos irreversíveis são proibidas. Técnicas que causem danos diretos à carne do oponente são proibidas. No entanto, ataques diretos que não resultem em mais do que uma torção são permitidos. O uso de armas é proibido. Ataques desarmados são permitidos. Se quiser usar chutes, tire os sapatos agora e troque pelos sapatos acolchoados da escola. A luta termina quando um dos lados admite a derrota ou quando um juiz determinar que é impossível continuar. Vocês devem recuar para as posições de início e não ativar seus CADs até que o sinal seja dado. Não seguir essas regras resultará em derrota imediata — e eu vou intervir e parar vocês eu mesma, então é melhor estarem preparados se não fizerem isso. Isso é tudo.
Tatsuya e Hattori assentiram, depois se enfrentaram nas linhas de partida, a cinco metros de distância. Nenhuma das expressões deles estava tensa, nem mostravam desprezo ou provocação. No entanto, Tatsuya captou um vislumbre de relaxamento no rosto de Hattori. Eles estavam muito distantes para que as mãos de qualquer um alcançassem o outro. Mesmo com o impulso de um jogador de futebol profissional, usar magia seria mais rápido a essa distância.
Como este era um duelo de magia, era natural que ataques usando magia fossem considerados vantajosos. Nesse tipo de duelo, quem acertasse com sua magia primeiro geralmente vencia. Mesmo que não conseguissem derrubar o oponente com um único golpe, o oponente não evitaria danos. Poucas pessoas possuíam a força mental para criar feitiços calmamente enquanto sofriam dano de magia. Assim que fosse atingido por um ataque mágico, qualquer magia que estivesse em processo de criação se dissiparia. O duelo terminaria quando o oponente pressionasse seu ataque.
E com a regra de que eles ativariam seus CADs ao mesmo tempo, Hattori estava completamente confiante de que ele, um aluno do Curso 1, não poderia perder para um pretensioso aluno novato do Curso 2. O CAD era a ferramenta de ativação mágica mais rápida. Mesmo que alguém tentasse usar algo que não fosse um CAD antes do sinal para começar, não seria rápido o suficiente para superar a velocidade do CAD. E a velocidade de execução da magia usando o CAD era o maior ponto de avaliação em termos de notas na magia prática. Isso também poderia ser considerado a maior diferença entre Blooms e Weeds.
O CAD de Tatsuya — um tipo especializado em formato de pistola.
O CAD de Hattori — um tipo multifuncional no formato ortodoxo de bracelete.
CADs especializados eram melhores em velocidade, e os multifuncionais em versatilidade. No entanto, embora os tipos especializados superassem os multifuncionais em velocidade, isso não seria o suficiente para preencher a lacuna entre um Bloom e um Weed. Isso era ainda mais verdadeiro se o oponente fosse um aluno novato.
Hattori considerou que não havia fatores que poderiam derrotá-lo — e isso não poderia ser chamado nem de arrogância nem de descuido.
Tatsuya apontou sua mão direita, segurando o CAD, para o chão...
...Hattori colocou sua mão direita diante do CAD em seu braço esquerdo...
...E ambos esperaram pelo sinal de Mari.
A sala ficou em completo silêncio.
E no exato momento em que o silêncio dominou completamente o ambiente —
— Vai!
— o duelo oficial entre Tatsuya e Hattori começou.
A mão direita de Hattori voou sobre seu CAD.
Embora ele só precisasse pressionar três teclas simples, seus movimentos foram totalmente sem hesitação. O tipo de técnica em que ele se especializava originalmente era magia de ataque em larga escala para médio alcance e além. Em uma batalha de curta distância, um contra um, ele era comparativamente pior.
Mas isso era apenas comparativamente, e no ano desde que ingressou na Primeira Escola, ele estava invicto.
Havia aqueles aos quais ele poderia ceder. Mari, que era uma especialista em combate pessoal, fosse contra uma pessoa ou um grupo. Mayumi, que usava livremente uma magia de disparo incrivelmente rápida e precisa. Juumonji, o chefe do comitê dos clubes, apelidado de Muralha de Ferro. Além desses três gigantes, ele se gabava de que nem alunos nem professores poderiam superá-lo.
Essa não era necessariamente uma opinião subjetiva.
Hattori terminou de expandir um programa de ativação simples imediatamente — ele havia priorizado a velocidade — e em um instante, começou a executar sua magia.
Um momento depois, ele quase gritou.
Seu oponente neste duelo, esse novato que não sabia seu lugar, tinha se aproximado tanto que preenchia sua visão.
Ele apressadamente corrigiu suas coordenadas e tentou disparar a magia. Era uma magia de movimento, uma das famílias fundamentais da magia. O programa mágico de Hattori havia travado no oponente, e deveria tê-lo arremessado mais de dez metros para trás, o impacto o tirando da luta.
Mas sua magia falhou.
Não era que ele tivesse falhado em processar o programa de ativação.
Seu inimigo havia desaparecido.
As coordenadas usadas por programas mágicos não exigiam muita precisão, mas quando o alvo em sua visão desaparece repentinamente — e, portanto, de sua consciência —, um erro ocorre inevitavelmente. Os corpos de psion que deveriam ter alterado o estado de movimento do alvo se dispersaram sem efeito algum.
Em pânico, Hattori olhou para os lados. Então, foi atingido por uma violenta “onda” vinda de lado.
Três delas o atingiram em sequência.
Cada onda separada se sobrepôs dentro de seu corpo, formando uma grande ondulação, e tiraram sua consciência.
O vencedor foi decidido num piscar de olhos.
O termo “morte instantânea” era extremamente apropriado — a luta não durou cinco segundos.
Na outra ponta do CAD de Tatsuya, ainda apontado, estava Hattori, caído em um monte.
— ...O vencedor é Tatsuya Shiba. — Mari hesitou ao anunciar o resultado.
Não havia alegria no rosto do vencedor. Ele parecia ter apenas feito o que precisava fazer, sem qualquer emoção.
Ele fez uma leve reverência e foi em direção à mesa onde estava sua maleta de CAD. Não estava tentando exibir-se. Era claro que não tinha interesse algum em sua vitória.
— Espere — Mari o chamou, impedindo-o de sair. — Esses movimentos... Você expandiu uma técnica de autoaceleração antecipadamente?
Diante da pergunta dela, Mayumi, Suzune e Azusa refletiram sobre o duelo que acabaram de ver. No mesmo momento em que o sinal para o duelo foi dado, o corpo de Tatsuya moveu-se imediatamente para a frente de Hattori. E no instante seguinte, seu corpo estava a alguns metros à direita de Hattori. Foi tão rápido que parecia teletransporte — um movimento que um corpo físico humano não deveria ser capaz de realizar.
>— Acho que você está em melhor posição para saber disso. — Mas era como Tatsuya havia dito.
Como árbitra, Mari estava observando atentamente para garantir que não houvesse qualquer ativação antecipada de seus CADs. Ela também havia teorizado a presença de outro CAD oculto, além do que via, e estava atenta ao fluxo de psions.
— É só que...
— Não foi magia. Foi uma técnica física, pura e simples.
— Posso confirmar isso. É a arte marcial que meu irmão usa. Ele recebe orientação de um praticante de ninjutsu chamado Yakumo Kokonoe.
Mari prendeu a respiração.
Ela era excelente em combate corpo a corpo e conhecia bem o nome de Yakumo Kokonoe. Até Mayumi e Suzune, que não conheciam Yakumo tão bem quanto Mari, não conseguiam esconder a surpresa diante da profundidade das artes antigas, que permitiam alcançar movimentos no nível de ações assistidas por magia usando apenas técnicas físicas.
Claro, elas não estavam apenas surpresas.
Mayumi ofereceu uma nova pergunta, do ponto de vista de alguém que estudava magia.
— Então a magia que você usou para atacar também era ninjutsu? Tudo que eu vi foi você disparando algo que parecia ser apenas uma onda de psions, nada mais. — Ainda assim, sua voz e escolha de palavras eram rígidas e formais, possivelmente por causa do espanto que ela não conseguia esconder.
Era falta de educação para magos tentar investigar como as técnicas exclusivas de outros magos funcionavam. Mas Mayumi, que podia facilmente disparar balas de psions como sua magia especial, não conseguia conter seu interesse nos mecanismos usados por Tatsuya, cuja técnica parecia usar psions — partículas sem função física — como arma, causando dano a Hattori.
— Não é ninjutsu, mas você está certa que foi uma onda de psions. Foi um feitiço básico de vibração. Eu só criei ondas de psions.
— Mas isso não explica por que Hanzou desmaiou...
— Ele ficou enjoado.
— Enjoado? Do quê, exatamente?
Tomando cuidado para não parecer exasperado com a confusão de Mayumi, Tatsuya continuou sua explicação de maneira calma. — Magos podem detectar psions da mesma maneira que detectam raios de luz visíveis e ondas sonoras audíveis. Essa é uma habilidade indispensável para o uso de magia. No entanto, como efeito colateral, magos expostos a ondas de psions inesperadas sentem como se seus corpos estivessem sendo sacudidos. Foi o que ele sentiu, e isso teve um efeito no corpo físico. É o mesmo mecanismo da hipnose, em que se você sugere que alguém ficou queimado de sol, surgem bolhas de verdade. Neste caso, por causa dessa sensação de balanço, ele essencialmente ficou com um forte enjoo, como o de um caso grave de enjoo do mar.
— Não acredito... Magos são expostos a ondas de psions o tempo todo. Ele deveria estar acostumado. Magia sem tipo, programas de ativação e de magia também são tipos de ondas de psions. Então, como você conseguiu criar uma onda forte o suficiente para fazer um mago perder o equilíbrio...?
Quem respondeu à pergunta de Mayumi foi Suzune. — Entendo. Interferência construtiva.
— Rin? — Até a sagaz Mayumi não conseguiu entender o que ela queria dizer apenas com isso.
Claro, Suzune não havia terminado sua explicação. — Ele criou três ondas de psions com frequências diferentes, configurou-as para que se combinassem exatamente onde Hattori estava, e produziu uma onda triangular forte. Estou impressionada que você consiga fazer cálculos tão precisos.
— Você é muito perceptiva, Ichihara.
Suzune ficou sem palavras diante das habilidades de cálculo de Tatsuya, mas ele pensou que ela era ainda mais incrível por perceber isso apenas vendo uma vez.
No entanto, parecia que a pergunta real de Suzune seguia outro caminho. — Ainda assim, como você ativou três ondas mágicas em um período de tempo tão curto? Com esse nível de rendimento, sua avaliação prática não deveria ser tão baixa.
Tatsuya não pôde evitar dar um sorriso irônico ao ouvir diretamente que suas notas eram ruins.
Em vez disso, Azusa, que estava olhando inquieta para as mãos de Tatsuya já há algum tempo, sugeriu timidamente uma resposta. — Hm, seu CAD poderia ser o Silver Horn?
— Silver Horn? Silver — você quer dizer o engenheiro mágico misterioso e genial, Taurus Silver?
Perguntada por Mayumi, a expressão de Azusa imediatamente se iluminou. Azusa, às vezes provocada como uma "nerd de dispositivos", começou a falar animadamente.
— Isso mesmo! O engenheiro de CADs milagroso que trabalha para a Four Leaves Technology, cujo nome real, aparência e perfil são todos envoltos em mistério! O programador genial, o primeiro no mundo a implementar o Sistema de Loop Cast!
— Ah, o Sistema de Loop Cast é, bem. Normalmente, seu programa de ativação é apagado toda vez que você ativa a magia, e para executar a mesma técnica novamente, o programa de ativação precisa ser reexpandido pelo CAD, mas o loop cast é um programa de ativação em que você adiciona a capacidade de pegar o programa de ativação na fase final e fazer uma cópia dele na sua região de cálculo mágico, o que permite ao mago continuar ativando a mesma magia enquanto sua capacidade de cálculo permitir, o que, teoricamente, sempre foi possível, mas nunca conseguiram distribuir a capacidade de cálculo bem o suficiente para lidar com a execução da magia e a duplicação do programa de ativação, então —
— Tá bom, tá bom! Nós sabemos o que é o loop casting.
— É mesmo...? De qualquer forma, o Silver Horn é o nome de um modelo de CAD especializado totalmente personalizado por Taurus Silver! Obviamente, ele é otimizado para o loop casting, e até sua capacidade de ativar magia suavemente com a menor quantidade de poder mágico recebeu ótimas críticas, e, em particular, é superpopular entre a polícia! Tanto que, apesar de ser um modelo em produção, ele já apareceu em muitos negócios premium! E esse é um modelo de edição limitada, com o cano mais longo que um Silver Horn normal, não é? Onde você conseguiu isso?
— Ah-chan, se acalme um pouco, tá?
Seu peito subia e descia pesadamente — será que ela ficou sem fôlego? — e seus olhos estavam em formato de corações enquanto ela olhava para as mãos de Tatsuya. Se Mayumi não a tivesse repreendido, talvez ela tivesse chegado tão perto a ponto de pressionar o rosto contra ele.
Por outro lado, a cabeça de Mayumi se inclinou novamente com uma nova pergunta. — Mas, Rin, ainda assim é estranho, não é? Seu CAD pode ser altamente eficiente e otimizado para o loop casting, mas o loop casting, em primeiro lugar, é...
Suzune inclinou sua própria cabeça também, quando esse assunto foi mencionado, em vez de acenar em concordância. — Sim, é estranho. O loop casting é usado puramente para ativar a mesma magia várias vezes. Ele pode ter usado magia de vibração nas três vezes, mas o loop casting automaticamente continua criando o que o mago configurou. Não poderia ter criado várias ondas com frequências diferentes necessárias para essa interferência construtiva. Você provavelmente pode criar ondas de frequência diferente em sequência com o mesmo programa de ativação se fizer com que a parte que determina a frequência seja uma variável, mas se você tiver que tornar isso uma variável junto com as coordenadas, intensidade e duração... Está me dizendo que conseguiu fazer tudo isso?
Dessa vez, Suzune realmente tropeçou nas palavras. Tatsuya casualmente afastou o olhar dela. — Múltiplas variáveis não fazem parte da avaliação de velocidade de processamento, escopo de cálculo ou intensidade de interferência, afinal. — Mayumi e Mari o encararam fixamente, e Tatsuya respondeu se gabando com o mesmo tom de voz indiferente de antes.
— ...A avaliação do poder mágico de alguém durante o exame prático é determinada pela rapidez com que ativa a magia, o escopo do programa mágico e a intensidade com que sobrepõe as informações do alvo. Entendo — acho que esse é outro exemplo de como os testes não medem as verdadeiras habilidades de alguém...
A resposta foi um lamento que veio de Hattori, que havia se sentado no chão.
— Hanzou, você está bem? — Mayumi inclinou-se um pouco e se aproximou dele, olhando em sua direção.
— Estou bem! — Hattori levantou-se apressadamente, como se quisesse se afastar de seu rosto subitamente próximo.
— Tenho certeza. Você esteve acordado o tempo todo, afinal. — As palavras de Hattori não poderiam ter sido ditas se ele não tivesse ouvido o que as meninas estavam conversando. Mayumi endireitou-se e assentiu, convencida.
Hattori respondeu a ela. — Não, na verdade eu não estava consciente no começo!
Seu rosto ficou vermelho, e ele urgentemente começou a se explicar novamente. — Mesmo depois de acordar, tudo estava confuso... Só recuperei o controle do meu corpo agora!
Ele parecia muito — como dizer? — Tatsuya podia facilmente prever o tipo de emoção que ele estava sentindo.
— Entendo... Mesmo assim, parece que você entendeu tudo o que estávamos conversando.
— ...Quero dizer, mesmo que estivesse confuso, ainda deu para ouvir, eu acho...
E parecia que a própria Mayumi estava totalmente ciente das emoções que Hattori dirigia a ela.
Ela é má?
Mas havia algo fora do lugar entre a imagem evocada pela palavra "má" e a atmosfera que ela transmitia, então Tatsuya parou de pensar nisso. Ele também percebeu que não importava tanto assim. Voltou a fazer o que estava fazendo antes de Mari o interromper.
...Embora não fosse nada exagerado — ele estava apenas guardando seu CAD na maleta. Ele fingiu não notar o olhar esperançoso de Azusa em suas mãos. E ignorou o olhar de sua irmã, que tentava ajudá-lo.
Porque Miyuki não era muito boa com máquinas.
Ela não era completamente avessa à tecnologia nem nada disso, mas como o CAD dele era ajustado de forma muito específica, não era algo com o qual um estudante normal do ensino médio poderia lidar. (Por outro lado, CADs que recebiam apenas ajustes mínimos, como os práticos usados na escola, não permitiriam que Tatsuya exibisse totalmente suas habilidades.) Mesmo que Miyuki ajudasse, a verdade era que isso só faria com que demorasse mais.
Enquanto Tatsuya mexia em sua maleta, redefinindo a segurança e trocando o cartucho, ouviu passos e sentiu uma presença se aproximando por trás. Parecia que suas desculpas haviam acabado.
Ele não se importava em deixar o que estava fazendo para depois, mas ainda assim não se virou.
— Shiba...
— Sim? — respondeu Miyuki com um tom evasivo.
Havia apenas dois homens nesta sala, e um deles era Tatsuya. Mesmo que o tom de voz de Hattori fizesse parecer outra pessoa, não havia como confundir quem estava falando.
— Sobre antes, bem... Eu disse algumas coisas rudes, como você ter favoritismo.
E não havia dúvidas sobre para quem a voz estava se dirigindo.
— Não, meus olhos estavam nublados. Espero que possa me perdoar.
— Não, eu disse algumas coisas bastante arrogantes. Por favor, me perdoe.
Ele sabia, mesmo de costas, que Hattori estava fazendo uma reverência profunda.
Tatsuya trancou sua maleta, sorrindo com o comportamento adulto de Miyuki. Quem era o irmão mais velho aqui, afinal?
Então, ele deliberadamente se virou.
O rosto de Hattori vacilou por um momento, mas ele rapidamente recuperou sua expressão confiante.
Seria esse intervalo uma preparação para uma trégua ou o prenúncio de uma revanche?
Essas possibilidades desapareceram sem se realizarem. No fim, Hattori e Tatsuya simplesmente se encararam, e o primeiro virou-se de costas e foi embora.
Ele sentiu que Miyuki ao seu lado estava um pouco irritada, então ele a tocou suavemente no ombro.
Ela trabalharia com Hattori no conselho estudantil a partir de hoje, então não seria bom para ela deixar que isso criasse uma má impressão. Como se entendesse a intenção de Tatsuya, ela rapidamente se acalmou.
— Vamos voltar para a sala do conselho estudantil — sugeriu Mayumi. Com isso, todos os presentes começaram a se mover.
Enquanto Suzune, Azusa e Hattori a seguiam, Mayumi parecia querer reclamar de algo.
Mari vinha atrás deles. Quando percebeu que Tatsuya a observava, deu de ombros para ele, sem que os outros quatro vissem.
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Depois que Tatsuya devolveu seu CAD para o escritório, ele voltou para a sala do conselho estudantil. Assim que chegou, Mari de repente agarrou seu braço.
Miyuki, que estava sendo ensinada por Azusa a usar o terminal de trabalho na parede, olhou para ele e arqueou as sobrancelhas. Ele tentou enviar uma mensagem com os olhos de *não pude fazer nada a respeito*... mas duvidava que ela tivesse entendido. Ele pode ter tido um lapso momentâneo ao forçar seu corpo a não reagir automaticamente jogando Mari longe, mas a garota parecia ter um nível bastante alto de habilidade marcial.
— Certo, aconteceram muitas coisas inesperadas, mas vamos para a sala do comitê. Esse era o plano original, afinal. — Sem se importar com os pensamentos internos de Tatsuya (que eram, na maior parte, de perplexidade), Mari puxou seu braço.
Depois de ver Tatsuya fazer uma cara de quem não queria cooperar, Miyuki finalmente voltou sua atenção ao terminal — embora relutantemente.
Hattori não levantou os olhos do que estava fazendo nem uma vez desde que Tatsuya entrou na sala. Parecia que ele havia se conformado com suas emoções e decidido ignorá-lo. Isso era algo pelo qual Tatsuya também era grato.
Mayumi estava acenando para ele distraidamente apenas com a mão. O que ela queria fazer — ou dizer...? Provavelmente era a pessoa mais enigmática que ele havia conhecido ali.
Mas isso também ficaria para depois. Ele lutou (bem, fingiu lutar) para soltar seu braço do de Mari, depois a seguiu obedientemente.
Havia uma escada direta descendo até a sede do comitê disciplinar nos fundos da sala, onde normalmente haveria uma saída de emergência.
— Eles estão ignorando as normas de segurança contra incêndio? — pensou Tatsuya, mas, apesar de os estudantes serem apenas isso — em treinamento, futuros magos —, não havia muito sentido em seguir as leis de incêndio em um lugar cheio de magos superiores. Era possível extinguir o fogo usando magia de vibração e desaceleração, e a fumaça poderia ser eliminada com magia composta de ligação e movimento. Na realidade, grandes incêndios em superarranha-céus eram uma das arenas mais espetaculares para os magos.
Ele mudou de ideia — supôs que poderia deixar isso passar, desde que não fosse um elevador.
Ele a seguiu pela porta dos fundos e entrou na sede. Mari indicou as cadeiras em frente a uma mesa comprida.
— Está um pouco bagunçado, mas pode se sentar onde quiser.
— Um pouco?
Certamente, não estava tão bagunçado a ponto de não poder se mover pelo chão ou não poder se sentar por causa de coisas empilhadas nas cadeiras. Mas, vindo da sala do conselho estudantil, extremamente arrumada e organizada, ele não pôde deixar de sentir um pouco de resistência em chamar isso de "um pouco bagunçado".
Documentos, livros, terminais portáteis, CADs — havia de tudo enterrando a superfície da longa mesa. Havia uma cadeira meio puxada, então ele foi até lá e se sentou.
— O comitê disciplinar é como uma casa cheia de homens. Eu continuo dizendo a eles para manterem tudo em ordem aqui, mas...
— Se ninguém estiver aqui, nunca vai ficar limpo. — O comentário de Tatsuya poderia ser interpretado como sarcasmo ou conforto — a sobrancelha de Mari se contraiu.
— ...Bem, patrulhar o terreno da escola é o nosso principal trabalho. Não podemos evitar que a sala fique vazia.
Os dois eram atualmente os únicos ali. O comitê disciplinar tinha nove membros, mas aquela sala deserta parecia grande o suficiente para o dobro disso. Isso fazia a bagunça amplificar a sensação de caos no ambiente. Claro, Tatsuya não estava prestando atenção ao estado geral da sala, mas sim aos diversos itens espalhados pela mesa.
— De qualquer forma, presidente, posso organizar essas coisas?
— O quê...? — O pedido repentino de Tatsuya fez Mari arquear uma sobrancelha, surpresa.
— Contrário às suas expectativas, ela parecia ser do tipo dramático.
— Como alguém que aspira ser engenheiro de magia, é difícil para mim ver CADs em um estado tão desordenado. E parece que há terminais aqui que foram deixados em modo de hibernação.
Ainda assim, isso não mudou a resposta de Tatsuya.
— Engenheiro de magia? Mesmo com habilidades de combate pessoal como as suas? — Mari parecia realmente confusa com o que ele disse. O duelo anterior havia terminado de forma simples e fácil, mas habilidades de combate pessoal de alto nível, que poderiam ser descritas como "insanas", foram usadas nele.
— Com meus talentos, eu não conseguiria mais do que uma licença de Classe C, por mais que me esforçasse.
No entanto, quando Mari tentou argumentar contra sua resposta autodepreciativa, que ele deu como se não fosse algo importante, ela ficou surpresa ao perceber que não conseguia encontrar palavras para isso.
Em muitos países, os magos eram regulamentados por um sistema de licenças. Muitos desses lugares haviam introduzido um padrão nacional de emissão de licenças, e este país era um deles. Quer fosse para trabalhar em uma corporação, em um cargo público ou para abrir seu próprio negócio, era necessário possuir uma licença específica para realizar trabalhos de acordo com sua dificuldade. O sistema era estruturado para que aqueles com licenças de classificação mais alta recebessem recompensas maiores. Havia cinco níveis no sistema internacional de licenciamento, de A a E. Ser escolhido para uma licença era baseado na velocidade, escala e nível de interferência na construção e execução de programas mágicos, assim como a avaliação de habilidades práticas nas escolas. Na verdade, os padrões de avaliação de habilidades nas escolas foram criados para se alinharem com os padrões de avaliação de licenças internacionais.
Havia alguns lugares que usavam padrões especiais, como as forças policiais e militares, mas, nesses casos, você seria avaliado apenas como oficial ou soldado, não como mago.
— ...De qualquer forma, posso arrumar a mesa?
— Hm? Ah, claro. Vou ajudar também. Posso te explicar as coisas enquanto trabalhamos. — Ela se levantou apressadamente. Talvez fosse uma pessoa mais atenciosa do que parecia.
No entanto, talvez Tatsuya, que já havia começado a organizar os documentos à sua frente, fosse o mais atrevido por ainda estar sentado.
Claro, o fato de que sentimentos e resultados nem sempre coincidiam era apenas como o mundo funcionava. A velocidade com que eles trabalhavam era a mesma, mas por algum motivo, em contraste com Tatsuya, que estava criando um espaço ao redor de suas mãos de forma constante, Mari ainda não conseguia ver a superfície da mesa longa à sua frente.
Tatsuya olhou para ela.
Então suspirou um pouco.
Mari desistiu e parou. — Desculpa. Não importa o quanto eu tente, sou péssima nisso.
Tatsuya pensou consigo mesmo que talvez o estado atual da sala fosse em grande parte responsabilidade dela. Mas ele era maduro o suficiente para não dizer o que pensava.
— Você realmente parece saber o que está fazendo.
— Com o quê?
— Arquivando papéis. Achei que você estava apenas empilhando tudo ao acaso, mas está tudo devidamente organizado e classificado.
— ...Desculpa, mas poderia não fazer isso...? — Talvez ficando séria agora, Mari estava de olho nele enquanto ele folheava as pilhas de papéis, prestes a se apoiar na mesa e se sentar no espaço que ele havia desocupado. A bainha de sua saia quase tocou o braço dele. Suas pernas longas e esguias se estendiam para fora da saia, que escondia sutilmente suas coxas. Ele não conseguia ver sua pele através das meias-calças, mas ainda podia ver suas formas — e isso já era o suficiente para ser indesejável para sua saúde mental.
— Ah, desculpa.
Ela não parecia nem um pouco arrependida, mas isso também era algo que ele não precisava apontar. — Se ela estava fazendo isso de propósito, obviamente teve o efeito oposto, e, como dizem, o silêncio é de ouro.
Tatsuya moveu silenciosamente sua cadeira e começou a trabalhar na próxima área. Ele desenterrou alguns suportes de livros das pilhas de papéis e começou a colocar os livros em pé neles. Tanto livros de papel quanto suportes de livros eram itens raros nos dias de hoje. Ainda mais se por acaso fossem grimórios.
— A razão pela qual te recrutei — pensando bem, acho que já expliquei a maior parte, né? Tornar as punições para tentativas de crime mais apropriadas e melhorar nossa imagem em relação aos alunos do Curso 2.
— Eu lembro, mas, sobre a parte da imagem, isso não teria o efeito oposto? — Terminando de arrumar os livros, ele começou a trabalhar nos terminais. — ...Posso dar uma olhada nesses?
Seu pedido de permissão para olhar os dados em andamento foi concedido com um aceno afirmativo. Ele ligou os terminais que estavam em hibernação, depois os desligou, deixando-os em seus estados fechados e reunindo-os todos em um só lugar.
— Por que você acha isso?
— Nunca pudemos interferir antes. Se de repente você estivesse sob o controle de outro aluno mais novo, que você pensava estar na mesma situação, não acharia isso muito engraçado.
Ele se levantou da cadeira e começou a remexer em um armário na parede. Enquanto empilhava os terminais na prateleira vazia, ouviu a resposta irresponsável de — Acho que isso é verdade.
— Acho que os outros alunos do Curso 1 receberiam bem, no entanto. Você pelo menos comentou com seus colegas, né?
— Bem, eu comentei, mas... — Depois de terminar de alinhar os terminais, ele continuou remexendo em outro armário. — Acho que isso causaria o dobro de animosidade do que aceitação.
Ele encontrou o que procurava. Endireitou-se e girou os ombros, tirando o paletó e arregaçando as mangas da camisa.
— Bem, eles vão sentir animosidade. Mas eles só entraram há alguns dias. Acho que ainda não foram tão contaminados por pensamentos discriminatórios.
— Eu me pergunto sobre isso. — Tatsuya continuou remexendo nos itens dentro do armário, e suas mãos voltaram segurando uma maleta de CAD. — Já recebi uma dessas declarações de *eu não te aceito* ontem, afinal.
Ele enrolou o pulso exposto em uma pulseira de aterramento e estendeu a mão para o grande monte de CADs.
— Você carrega algo assim? ...Está falando de Morisaki?
— Na verdade, é bem útil... Você conhece ele?
— Ele vai fazer parte do comitê — é a recomendação dos professores.
— O quê—?
A força esvaiu-se de suas mãos enquanto verificava o estado dos CADs. Ele apressadamente agarrou-o novamente antes que caísse de volta na mesa.
— Hã, acho que até você se surpreende.
— Bem, sim! — Mari começou a sorrir, e Tatsuya respondeu com um suspiro. Ele desejava que ela parasse com esse estranho senso de rivalidade.
— Ele causou um problema ontem, então posso conseguir que revoguem a recomendação. Eu planejava fazer isso, mas você também não está completamente isento dessa questão.
— Sou uma parte envolvida.
— É. Eu recrutei alguém que afirma estar envolvido, então seria difícil recusá-lo.
— Por que não simplesmente deixar os dois de fora?
— Você não quer entrar?
Tatsuya parou de trabalhar novamente com a pergunta repentina e direta.
Por enquanto, ele colocou o CAD que segurava dentro da maleta, depois olhou para cima. Mari estava sentada na mesa, olhando para ele de cima. Ela não estava sorrindo. Estava lhe lançando um olhar penetrante, com os olhos semicerrados.
— ...Sendo bem honesto, acho que vai ser um incômodo.
— Hmph... E?
— Vai ser um incômodo, mas também acho que não posso recuar a essa altura.
Um sorriso malicioso e satisfeito apareceu no rosto de Mari novamente. Sua curvatura trouxe 20% a mais de sua beleza afiada.
— Você também tem suas dificuldades, não é...?
— E você também é bem distorcida.
Infelizmente, Tatsuya teve que admitir que ela o pegou nessa.
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— …Esta é a sede do comitê disciplinar, certo? — Essa foi a primeira coisa que saiu da boca de Mayumi quando ela desceu as escadas.
— Isso é o que você chama de saudação?
— Quero dizer, o que aconteceu, Mari? Não importa o quanto Rin te avise, não importa o quanto Ah-chan implore, você nunca tentou limpar antes!
— Eu me oponho firmemente a essa calúnia infundada, Mayumi! Não é que eu nunca tentei; é que eu nunca de fato limpei!
— Para uma garota, isso parece ainda mais preocupante. — Mayumi lançou um olhar estreito e enviesado, e Mari imediatamente virou o rosto para o lado.
— Isso realmente não importa... Mas sim, é assim que é. — Depois de olhar para Tatsuya, que estava inspecionando a escotilha de manutenção de um terminal fixo, Mayumi assentiu, convencida.
— Então ele já está se mostrando útil.
— Bem, isso deve resolver. — Ele respondeu ainda de costas para elas. Fechou a escotilha e se virou. — Presidente, terminei a inspeção. Troquei algumas peças que pareciam danificadas, então não devem haver mais problemas.
— Muito obrigada. — Mari assentiu, relaxada, mas de alguma forma parecia que havia um pouco de suor se formando em sua têmpora. Um suor frio.
— Entendi... Como ele te chamou de presidente, deve ter conseguido recrutá-lo com sucesso — disse Mayumi em um tom despreocupado, cheio de entendimento e aceitação. Ela exibiu um sorriso malicioso.
Tatsuya respondeu sem olhar para ela. — Não acho que realmente tinha o direito de recusar em primeiro lugar...
Mayumi não pareceu apreciar a atitude. Colocou uma mão no quadril, apontou o dedo indicador para ele com a outra, inflou uma bochecha e o encarou com um olhar de falsa birra. Pelo que ele podia perceber, tudo aquilo era um grande teatro. Ela argumentou, — Tatsuya, sou como sua irmã mais velha aqui. Não acha que deveria me tratar com um pouco mais de carinho?
...Tatsuya imediatamente quis dizer que não tinha irmã mais velha. Sentia que dizer isso só pioraria sua situação, então se conteve. Ela era tão estereotipada em tudo o que fazia que não havia nada de criativo nisso.
Tatsuya secretamente pensou consigo mesmo que ela deveria ser a única a tratá-lo com um pouco mais de respeito.
Ele tinha essa impressão flutuando no ar o tempo todo... mas agora, por algum motivo, era algo que ele não sentia vontade de ignorar.
— Presidente, só para esclarecer, mas há algo que eu gostaria de saber.
— Hm? O que é?
— Nós nunca nos encontramos antes do dia da cerimônia de entrada, certo? — Tatsuya perguntou, com a intenção de "você não está sendo familiar demais comigo?" nos olhos. Mayumi arregalou os olhos.
No entanto, eles rapidamente voltaram ao tamanho normal, e, à medida que se estreitaram ainda mais, seu sorriso, que só poderia ser descrito como "malicioso", tomou conta de seu rosto encantador.
Tatsuya percebeu que tinha acabado de tomar uma decisão extremamente ruim.
Ele se lembrou de quando Mari havia dado o mesmo tipo de sorriso. *Entendo — pássaros da mesma plumagem realmente voam juntos*, pensou, tentando escapar da realidade.
— Ah, entendi, entendi como é... Heh-heh-heh-heh...
A palavra "travessa" descrevia seu sorriso perfeitamente.
— Tatsuya, você acha que na verdade nos conhecemos antes disso, não é? Que nosso encontro no dia da cerimônia de entrada foi o destino!
— Não, hum, presidente?
O que ela estava tão animada?
— Talvez tenhamos nos encontrado muito tempo atrás. Duas pessoas, separadas pelo destino, reunidas por ele novamente!
Se ela realmente estivesse encantada por essa ideia, isso a tornaria uma pessoa muito perigosa. Mas o fato de ela estar fazendo questão de que ele percebesse que era uma encenação consciente a tornava ainda pior.
— ...Infelizmente, no entanto, essa foi definitivamente nossa primeira reunião.
— ...Achei que fosse.
— Mm! Você sentiu como se fosse destino? Sentiu?
Ela fez punhos diante do peito e começou a se aproximar dele, olhando para seu rosto. Ela estava animada. Ah, como ela era astuta. E combinava tão bem com ela... Ela era verdadeiramente maliciosa.
— ...Desculpe. Por que está se divertindo tanto? — Ele respondeu sua pergunta com outra, mas ainda assim não obteve resposta. Ela apenas continuou a olhá-lo, cheia de expectativa.
*Ela é uma sádica*, observou Tatsuya para si mesmo.
De qualquer forma, ele provavelmente precisava responder. Tatsuya suspirou, quase como se estivesse soltando fumaça, e respondeu depois de um momento.
— ...Se isso é destino, então não é destino — é condenação, com certeza.
Sua resposta fez o rosto de Mayumi se nublar, e ela se virou. Um murmúrio solitário de "Ah..." alcançou os ouvidos de Tatsuya. Sua forma, vista de costas, irradiava tristeza.
Tatsuya estava ciente de que havia dito algo bastante brutal. Ele havia dito isso porque julgou que Mayumi estava totalmente brincando. Mas se mesmo um pouquinho do que ela estava fazendo fosse real, ele decidiu que precisaria se desculpar.
No entanto. Seu senso de culpa não durou muito tempo — quer fosse uma sorte ou um azar. Nesse caso, o fato de ele não saber imediatamente o que fazer rendeu bons frutos.
— ...Droga.
Algo escapou de sua boca como se ela tivesse sido vencida, seus ombros caindo em desânimo.
Dessa vez, foi a vez de Tatsuya arregalar os olhos. Era muito fraco, mas certamente não era algo muito refinado de se dizer — será que ela acabou de xingar?
— Hum, presidente?
— Sim, o que foi? — Quando ela se virou novamente, seu rosto exibia o sorriso refinado que encantava todos os novos alunos do sexo masculino.
— ...Sinto que estou começando a te entender melhor.
Diante do exausto Tatsuya, Mayumi havia removido sua máscara falsa e mostrado seu verdadeiro rosto.
Em outras palavras, seu sorriso malicioso.
— Vamos parar com as brincadeiras, sim? Tatsuya não parece lidar bem com isso. — Mayumi, sem um pingo de culpa, declarou que tudo havia sido uma piada.
— Não vai ser como foi com o Hattori, Mayumi. Parece que seu charme não funciona com ele — disse Mari provocativamente, no momento certo.
Mayumi não podia deixar isso passar. Ela fez uma cara irritada e respondeu, — Por favor, não diga algo tão escandaloso. Parece que estou brincando com qualquer aluno mais novo que encontro.
Arrependido por ter feito uma pergunta descuidada, Tatsuya começou a tentar colocar as coisas nos trilhos novamente. Se essas duas o envenenassem ainda mais, seriam seus próprios defeitos que estariam em evidência desta vez. — Hum, bem. O que eu queria perguntar era —
— A atitude diferente da Mayumi em relação a você é um sinal de que ela te aprova, Tatsuya. Provavelmente ela sentiu que vocês dois têm algo em comum. Essa garota finge inocência o tempo todo. Ela não consegue mostrar sua verdadeira face, exceto para as pessoas que aprova. — A expressão de Mari de repente ficou séria, e Tatsuya sentiu um certo desequilíbrio nisso.
— Não confie em nada do que Mari diz, Tatsuya! Mas acho que é verdade que eu te aprovo. Você não parece realmente um estranho. Talvez eu seja a única que sentiu que era destino. — Você não poderia odiar aquele rosto, tão travesso que ela poderia ter mostrado a língua. Isso o tirou ainda mais do eixo.
Parece que não tenho muita chance de vencer contra essas duas de frente, ele pensou.
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Mayumi havia descido as escadas para avisar que estava fechando a sala do conselho estudantil para o dia. E, embora parecesse uma desculpa para verificar como Tatsuya estava se saindo, provavelmente esse era o verdadeiro propósito de sua visita.
Eles estiveram ocupados com várias coisas logo após a cerimônia de entrada e finalmente chegaram a um ponto onde podiam fazer uma pausa.
— Certo, então vejo vocês lá em cima! — Mayumi acenou e voltou para a sala do conselho estudantil.
A partir de amanhã, as coisas ficariam agitadas por causa do concurso de recrutamento de novos membros que todos os clubes participariam. Como o comitê disciplinar começaria a ter mais trabalho por causa disso, até Tatsuya e Mari estavam discutindo sobre encerrar o dia por ali.
Os sistemas de informação modernos não exigiam mais o tempo de inicialização e desligamento de antigamente. Bastava desligá-los — e eles podiam ficar no chão por meses sem nenhum problema. Mesmo que alguém esquecesse de desligá-los, eles entrariam automaticamente em modo de hibernação. Tatsuya já havia organizado completamente os terminais, então tudo o que restava era configurar os recursos de segurança.
Mas, nesse exato momento, com um timing perfeito — ou talvez ruim — dois estudantes do sexo masculino entraram na sede do comitê disciplinar.
— Bom dia!
— Bom dia!
As vozes assertivas e enérgicas ecoaram pela sala.
— Opa, grande irmã, você está aqui?
*Onde estou e em que época estamos?* — pensou Tatsuya.
O cara de cabelo curto, que não era muito alto, mas tinha uma constituição incrivelmente robusta — do tipo que uma faixa na cabeça faria sentido — chamou alguém de *Ane-san*, como se estivesse muito acostumado a fazê-lo.
Devem estar falando de Watanabe... Tatsuya olhou para a pessoa em questão, e ela parecia levemente envergonhada. Ele sentiu um alívio, ainda que deslocado, ao ver que ela tinha sensibilidades normais, por menores que fossem.
— Presidente, terminamos nossas patrulhas para o dia! Nenhuma prisão foi feita!
O outro parecia mais normal, tanto em aparência quanto na maneira de falar, mas sua postura era excessivamente rígida.
Seu relatório, feito em posição de sentido, dava a impressão de um soldado, policial ou talvez apenas um garoto que ainda não havia superado sua fase energética.
— ...Você limpou a sala, grande irmã?
O primeiro cara olhou em volta para o estado completamente diferente da sala, suspeito, e começou a caminhar em direção ao atônito Tatsuya. Ele não parecia tão pesado, mas estranhamente, o termo *pesado* se encaixava em seu andar.
Assim que viu Mari se colocar no caminho dele com indiferença —
— Ai!
*Pof!*
Houve um barulho satisfatório, e o cara estava agachado no chão segurando a cabeça.
Na mão de Mari havia um caderno firmemente enrolado, que ela havia pego em algum momento.
De onde ela tirou isso?
— Não me chame de *grande irmã*! Quantas vezes preciso te dizer antes que você entenda?! Sua cabeça é só decoração, Koutarou?! — gritou Mari, furiosa com o estudante, que agora estava acariciando a cabeça, completamente ignorante das perguntas de Tatsuya.
— Por favor, pare de me bater assim, Bi... quer dizer, Presidente. A propósito, quem é ele? Um novo recruta? — resmungou o estudante chamado Koutarou, sem parecer sentir muita dor. Ele rapidamente corrigiu a maneira como se dirigia a ela quando ela apontou o caderno para o rosto dele com uma velocidade impressionante.
Os ombros de Mari caíram diante do rosto rígido de nervosismo de Koutarou, e ela suspirou. — Sim, ele é um novo recruta. Tatsuya Shiba, do 1-E. Ele está aqui como indicado do conselho estudantil.
— Hã... Você é um sem brasão? — Koutarou olhou com fascinação para o blazer de Tatsuya e depois deu uma boa olhada em sua figura.
— Tatsumi, essa expressão está na fronteira de termos proibidos! Acho que você deve chamá-lo de estudante do Curso 2 neste caso! — Embora Koutarou parecesse estar avaliando Tatsuya, o outro estudante não tentou advertir sua atitude em si.
— Sabe, ele vai te surpreender se subestimá-lo. Isso é só entre nós, mas o Hattori acabou de voltar depois de ter sido surpreendido. — Mas Mari contou a verdade com um sorriso, como se estivesse provocando-os, e suas expressões imediatamente ficaram mais sérias.
— ...Você quer dizer que esse cara venceu o Hattori?
— Sim. Em um duelo oficial.
— Incrível! Hattori, invicto desde que entrou aqui, perdeu para um novato?
— Não grite assim, Sawaki. Eu te disse que isso é entre nós, lembra?
Era extremamente desconfortável ser olhado tão atentamente, mas eles pareciam ser veteranos e seus superiores no comitê disciplinar. Sua única opção era aguentar.
— Isso é bem tranquilizador!
— Então ele tem talento, Presidente?
Suas expressões mudaram de forma tão simples que era quase anticlimático.
A velocidade com que mudaram — ele queria chamar de admirável.
— Não esperava por isso, né? —
— Hã?
Foi tudo tão repentino, e ele não entendeu o que havia sido perguntado. Felizmente, Mari não parecia esperar uma resposta quando fez a pergunta.
— Esta escola está cheia de pessoas se vangloriando de superioridade e se afogando em inferioridade por causa dos títulos estúpidos de Bloom e Weed. Honestamente, estou cansada disso. Então, a partida de hoje foi uma experiência bem emocionante, devo dizer. Felizmente, Mayumi e Juumonji sabem como sou. O conselho estudantil e a associação de clubes só escolhem pessoas que têm relativamente menos desse sentimento. Eles não conseguem pessoas que tenham zero senso de superioridade, mas são todos indivíduos com grande habilidade real. Infelizmente, isso não se aplica à terceira pessoa — indicada pelos professores —, mas para você, esse deve ser um lugar bem confortável.
— Sou Koutarou Tatsumi, do 3-C. Prazer em trabalhar com você, Shiba. Vamos receber qualquer um habilidoso de braços abertos.
— Sou Midori Sawaki, do 2-D. Bem-vindo ao clube, Shiba!
Koutarou e Sawaki estenderam as mãos para um aperto.
Como Mari havia dito, não havia sinal de desprezo ou desdém em seus rostos.
Agora ele sabia que eles o estavam avaliando por sua habilidade real desde o começo e não se importavam nem um pouco se ele era um aluno do Curso 1 ou Curso 2.
Foi, de fato, um pouco inesperado. E certamente não era uma atmosfera ruim.
Ele cumprimentou-os e apertou a mão de Sawaki. Mas, por algum motivo, Sawaki não soltou.
— Juumonji é o presidente do comitê de supervisão das atividades extracurriculares, ou comitê de clubes, para encurtar.
Era para ele lhe dizer isso? Mas ele poderia ter soltado a mão se fosse só isso.
— Ah, me chame pelo sobrenome — Sawaki.
A força que ele aplicou no aperto fez Tatsuya voltar à realidade. Ele estava apertando tão forte que poderia ter rangido como uma tábua, e Tatsuya não conseguiu conter sua surpresa.
Parecia que os estudantes com excelência em mais do que apenas magia haviam se reunido nesta escola.
— Por favor, tome cuidado para não me chamar pelo primeiro nome.
Isso parecia ser um aviso.
Ele não precisava ser tão indireto — Tatsuya não tinha o hábito de chamar seus veteranos pelo primeiro nome, mas ainda assim tinha que devolver o cumprimento educadamente.
— Vou me lembrar disso — respondeu, torcendo levemente a mão direita e puxando-a da de Sawaki.
A demonstração de habilidade marcial de Tatsuya trouxe mais surpresa ao rosto de Koutarou do que ao de Sawaki. — Ei, você é bom, não é? O aperto do Sawaki chega a quase cem quilos.
— ...Sim, certamente não é a força de um mago — ele respondeu levemente, deixando a si mesmo de lado.
No mínimo, sentia que conseguiria se dar bem com esses dois.